A startup pernambucana de motos elétricas Voltz anuncia nesta segunda, 24, que recebeu um aporte de R$ 100 milhões em rodada liderada pela Creditas e pelo Grupo Ultra, controladora dos postos Ipiranga, por meio do seu braço de investimentos, o UVC.
"Esse é um investimento estratégico. A venda de motos no Brasil depende de crédito, e a Creditas aparece bem posicionada para isso. Já o Grupo Ultra nos vê como uma janela para o futuro de seus negócios", conta ao Estadão Renato Villar, fundador da empresa. Embora rejeite o rótulo de "Tesla de Pernambuco", a startup se inspira bastante montadora de Elon Musk.
A empresa faz as as vendas exclusivamente por canais digitais, além de oferecer uma rede de serviços por seus aplicativos. Entre eles estão o monitoramento da moto, mapeamento de outros usuários de motos Voltz e troca de bateria em caso de pane seca. A ideia é que todos esses recursos possam evitar que o motociclista fique sem combustível, já que redes de abastecimento de veículos elétricos são quase inexistentes no País.
A aproximação com o Grupo Ultra visa a uma eventual parceria para transformar os postos da rede Ipiranga em pontos de abastecimento elétrico para as motos. A curto prazo, a rede servirá como showroom dos equipamentos da Voltz. Atualmente, a empresa conta com duas 'lojas-conceito', em Recife e em São Paulo, e outros 33 showrooms de franqueados espalhados pelo País. Após o aporte, a Voltz espera implementar outros 40 showrooms, além de trabalhar a possibilidade de outras lojas próprias.
De fato, expansão parece ser o principal tema ligado ao investimento. Isso envolve também trazer parte da produção das moto para Manaus. Atualmente, elas são produzidas integralmente na China, o que mostrou algumas desvantagens durante a pandemia. "Tivemos interrupções na produção no último ano, e queremos trazer parte dela para o Brasil para evitar a dependência", explica Villar. A mudança poderia gerar até 500 empregos diretos no País, diz ele.
A chegada ao País de parte da linha de produção poderia amenizar um problema que, durante anos, atormentou Elon Musk na Tesla: a capacidade de zerar a fila de pedidos. Atualmente, a empresa tem fila de espera de 2,1 mil veículos, metade das encomendas feitas desde 2019, ano da fundação da Voltz. O projeto de produção nacional ampliaria a capacidade para 15 mil veículos por mês.
Seria um salto e tanto para empresa. Atualmente, os números de vendas de motos elétricas são tão baixos que não são registrados por entidades como a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo). Uma comparação com motos movidas à combustão na categoria "scooter", principal foco da Voltz, dá uma ideia de como a empresa pode brigar. Em abril de 2021, foram emplacadas 8.533 motos do tipo scooter, equivalente a 9% do mercado. A Voltz quer entregar por mês quase o dobro de unidades com instalação da base em Manaus.
Além do investimento da Creditas, a Voltz mira uma parceria com outra startup gigante do País. Villar diz que a empresa está desenvolvendo um projeto com o iFood para vender motos para entregadores do aplicativo. Na parceria, a Voltz ofereceria descontos maiores e o iFood disponibilizaria crédito mais barato. A empresa prepara para setembro o lançamento da versão profissional da EVS, sua moto, com maior autonomia de bateria.
Com todos os projetos, a startup espera crescer de 55 funcionários para 250 até o final do ano.
Com um projeto que parece estar se estruturando com apoio de gigantes do ecossistema nacional de startups, é inevitável não pensar em Villar como uma espécie de Elon Musk do Recife. Mas isso ele desconversa. "Elon Musk do Recife? É nada...".