A Unico, startup especializada em identidade digital (IDtech) e que integra o time dos “unicórnios” (com avaliação de mercado superior a US$ 1 bilhão), realizou o corte de 10,5% da força de trabalho nesta terça-feira, 17 - a empresa confirmou a informação ao Estadão. O número representa cerca de 105 pessoas da companhia.
Os cortes atingiram as áreas de design, produto, engenharia e marketing, segundo apurou a reportagem. Em nota, a Unico frisa que vai manter as contratações para o time de tecnologia “e outras posições-chave”. Os funcionários demitidos devem receber extensão do plano de saúde, odontológico e seguro de vida por até seis meses, afirma a startup.
Segundo a companhia, os cortes se devem ao momento do mercado, que pressiona as startups por mais eficiência em meio à escassez de capital. Por isso, a empresa afirma investir na “seniorização” das equipes e altera “estruturas e processos” internos.
Em outubro passado, a Unico havia feito outra rodada de demissões, cortando 50 pessoas da área de vendas. À época, a startup afirmou que o objetivo das dispensas eram “garantir maior eficiência e clareza de atuação” no mercado e eliminar posições sobrepostas.
Do ramo de “identidade digital” (idtech), a Unico, fundada em 2007 sob o nome de Acesso Digital, cria soluções que atestem de forma segura a admissão de pessoas em plataformas digitais. Hoje, o negócio inclui três frentes: solução antifraude, que utiliza biometria facial para confirmar credenciais na internet; um departamento de RH digital, com admissão e assinatura eletrônica; e uma plataforma para acelerar a compra e venda de automóveis, em que é possível fazer a gestão de contratos e de documentos.
Avaliada em US$ 2,6 bilhões em abril de 2022, quando levantou US$ 100 milhões, a Unico fornece serviços para diversas empresas, como Mercado Livre, Latam e Santander. Hoje, possui 850 companhias no portfólio, entre eles “os 4 dos 5 maiores bancos” e “9 dos 10 maiores varejistas” do Brasil, diz o site.
Mau momento para as startups
Ao contrário do período visto até 2021, as empresas de tecnologia vêm sofrendo pressão com a alta dos juros e o cenário inflacionário, que forçam os negócios de startups a se tornar mais eficientes e rentáveis diante de investidores avessos ao risco. Por isso, com objetivo de enxugar custos, demissões tornaram-se comuns em um mercado conhecido por contratar milhares de pessoas para manter o alto ritmo de crescimento.
Segundo levantamento do Estadão, somente no Brasil, cerca de 4 mil demissões em massa foram realizadas entre startups “unicórnios”, clube de elite do mercado que diz respeito a pequenas empresas de tecnologia de capital fechado com avaliação superior a US$ 1 bilhão. Entre as 24 startups nacionais, 18 realizaram grandes cortes com fins de enxugamento de custos.
O quadro, porém, também atinge o mercado de startups de modo geral, sem incluir os unicórnios. A healthtech Alice cortou mais de 170 pessoas até dezembro de 2022, enquanto a Buser enxugou em 30% o pessoal, cerca de 165 funcionários, e a Pier dispensou 111 pessoas. Esses números, no entanto, não compõem o levantamento do Estadão.
Para 2023, especialistas apontam que a tendência de austeridade vista em 2022 deve continuar. Além disso, sem capital necessário para continuar operando, os negócios insustentáveis devem quebrar ou fechar as portas, dizem.