A startups entraram na luta para combater as mudanças climáticas, em esforço que une tecnologia, inovação e preocupação ambiental com o Planeta. No Brasil, essas greentechs e climatetechs, como são chamadas as empresas de tecnologia do ramo verde, estão em diversas áreas econômicas, de pecuária e agricultura a combustíveis e mercado de carbono.
Responsável por 25% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, a agropecuária é um dos focos das startups brasileiras: esse setor corresponde, sozinho, à maior parte das emissões de gases de efeito estufa, com quase 75%, segundo o Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg). Por isso, negócios focados em tornar o pasto e o cultivo da vegetação mais eficientes, com redução de desperdícios, surgiram em nomes como JetBov (de digitalização dos negócios no pasto) ou a Cowmed (que trabalha para deixar as “vacas felizes”).
Já a busca por substitutos dos combustíveis fósseis, por exemplo, é onde as startups brasileiras podem também sair na frente. Os biocombustíveis são uma das principais apostas, principalmente por conta do mercado de etanol no País. Mas, para as startups S.Oleum e Acros, a palmeira macaúba, nativa das Américas Central e do Sul, é o foco, por causa do alto valor energético e de reaproveitamento da árvore.
Outros setores estão na mira, como hidrogênio verde, onde usos na indústria e transportes, e mineração, reduzindo ineficiências do processo.
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Vacas felizes
A startup Cowmed, fundada em 2010 em Santa Maria (RS), criou o selo “vaca feliz” para designar as ruminantes que seguem um padrão de qualidade de vida nas fazendas brasileiras. Similar ao selo “galinha feliz” na avicultura, a ideia da empresa é promover o bem-estar desses animais da indústria leiteira.
Para cravar se uma vaca é “feliz”, a Cowmed monitora hábitos do animal, como alimentação, banho de sol, movimentação. Essa observação é feita por meio de uma coleira inteligente, que é inserida nos pescoços das ruminantes – a peça, desenvolvida pela própria startup, é similar a um smartwatch vestido por humanos.
Raios cósmicos na mineração
A startup Konker utiliza a física para tornar a mineração mais sustentável. Nascida em 2021, a empresa utiliza raios cósmicos vindos do espaço para calcular tridimensionalmente a pilha de minérios de ferro sob a terra, diminuindo a necessidade de escavação e com alta eficácia no cálculo.
O feito acontece por meio da muografia, que, grosso modo, é como um raio-x de múons, partículas subatômicas que caem sobre a Terra e são inofensivas para humanos e a natureza. Em 2016, a técnica foi utilizada para encontrar túneis subterrâneos inéditos nas Pirâmides do Egito. Agora, tem serventia para uma mineração mais verde.
Mercado de carbono
Na área do mercado de carbono, além da captação desse gás por meio de florestas erguidas, startups apostam em medições, com softwares de ponta para calcular a “pegada” de cada firma, e de compensação, propondo soluções para reduzir as emissões de gases de efeito estufa na cadeia.
É o caso da startup Compensa, criada em 2021 para medir o impacto ambiental de cada empresa. A empresa utiliza tecnologia de dados e a literatura científica para calcular o quanto de CO2 (o gás carbônico) foi emitido por uma empresa. Com isso, empresas podem começar a traçar planos de redução da “pegada” de carbono, cumprindo metas nacionais e internacionais.
Macaúba, a planta do futuro
A alta eficiência energética da palmeira macaúba, nativa das Américas Central e do Sul, promete tornar essa planta uma das principais matérias-primas de biocombustíveis, com alta produção de óleo e fácil adaptação ao clima brasileiro.
No País, algumas startups começam a focar nessa palmeira, como a S.Oleum e a Acros. Ambas apostam na domesticação da planta, com expectativa de plantio em larga escala a partir de 2027 e colheita a partir da próxima década.
Carcaça de animais
O descarte de resíduos animais de abatedouros e frigoríficos, que inclui também sangue, gorduras e lodo, pode virar matéria-prima para o diesel verde. É esse o negócio da Haka Bioprocessos, nascida em 2021.
A startup pretende aproveitar a estrutura de frigoríficos do Brasil para reduzir o desperdício dessa indústria. Com o diesel verde produzido, é possível vender o combustível para as empresas dessa mesma cadeia, promovendo a circularidade na economia sustentável e, com isso, reduzindo custos e aumentando reaproveitamentos.
‘Made in Brazil’
A startup Hitech Electric, nascida em 2017, criou um veículo elétrico “made in Brazil” – mais especificamente, feito em Campo Largo, no Paraná.
Por preços que partem de R$ 124,4 mil, a empresa vende veículos para empresas de “última milha”, ramo da logística que vai da loja até a casa do consumidor, isto é, a etapa final da entrega. Segundo a startup, diferentemente de veículos pesados ou automóveis, o carro foi criado para circular em grandes cidades, com mercadorias leves e com frequência diária.
Hidrogênio verde
O hidrogênio verde (H2V) é considerado uma das fontes de energia principais para a descarbonização da economia mundial. Porque a matriz energética brasileira é limpa, a produção desse combustível para exportação, além do consumo interno, torna-se um dos pontos fortes do País na corrida mundial.
Startups estão de olho nisso e querem entrar nesse mercado. A Xield, que surgiu em 2019, desenvolve um reformador que converte etanol em hidrogênio verde, solução ainda mais limpa que a cana de açúcar. A Protium Dynamics, de 2018, criou um torque para veículos pesados que converte água em hidrogênio verde, reduzindo a dependência de diesel. Já a Eidee utiliza um eletrolisador portátil, que pode ser aplicado em qualquer lugar, como condomínios ou fazendas.
Lixo vira energia
No ramo de biocombustíveis, o lixo em aterros sanitários pode ser matéria-prima da Zeg Biogás, fundada em 2018. No processo, os gases metano e carbônico emitido dos materiais orgânicos não queimados pelos aterros, mas sim transformados em biogás e biometano, oriundos de fontes limpas.
A startup brasileira também trabalha com a vinhaça, resíduo da cana de açúcar. No processo, o chorume não é descartado e pode ser transformado em biogás ou em um rico fertilizante natural para o solo. Em média, para cada litro do álcool da cana de açúcar, são produzidos 12 litros de vinhaça – o que indica o alto potencial do País na produção desse biocombustível.
Rastreabilidade
As cleantechs e greentechs também se dedicam a uma área importante da economia verde: rastreabilidade de itens, atestando a origem sustentável de produtos e matérias-primas em toda a cadeia produtiva.
É o que faz a Ecotrace, que surgiu em 2018 para monitorar a indústria de carne bovina. Se o animal veio de procedência legal e amiga do meio ambiente, pode-se dizer que se trata de “carne verde”. Projeto similar faz a startup Certimine, nascida no mesmo ano com o intuito de atestar a origem do ouro e de outros minérios.
Eletropostos da Ezvolt
A substituição dos veículos movidos a combustíveis fósseis por soluções elétricas tem sido uma das principais mudanças na indústria automativa em décadas. Mas, além dos automóveis e caminhões movendo-se a bateria elétrica, é preciso montar uma rede de infraestrutura de abastecimento, bem como fornecer equipamentos para o carregamento dos carros.
Esse é o trabalho da Ezvolt, fundada em 2019 no Rio de Janeiro, que possui uma rede própria de eletropostos em 600 pontos espalhados por 40 cidades do Brasil. A startup cobra pela recarga dos automóveis em estradas, ruas e condomínios residenciais, com preços que variam a depender da cidade e da voltagem escolhida pelo cliente.