Na quarta de manhã, Elon Musk entrou na sede do Twitter carregando uma pia de louça nas mãos. “Let that sink in”, escreveu. Literalmente, ‘deixe esta pia entrar’ – embora, em inglês, a frase também possa ser lida como ‘deixa essa ficha cair’. Enquanto publicava o vídeo, modificou sua autodescrição para “Chief Twit”. Ao mesmo tempo, os funcionários da empresa receberam um e-mail geral. “Elon Musk está circulando pelo prédio, aproveitem para dizer ‘oi’.”
Domingo temos a eleição mais importante desde que Tancredo Neves foi eleito. E cá o colunista está falando de Musk comprando o Twitter. Ocorre que o foco habitual deste espaço é o encontro de tecnologia, sociedade e política. Ocorre que a maneira pela qual a informação que circula entre nós foi corrompida pelas redes é diretamente responsável pela eleição de tipos como Jair Bolsonaro. O assunto está no centro do drama que continuaremos a enfrentar.
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Musk já age como dono do Twitter. Até o fechamento da coluna, a aquisição não estava confirmada. Mas ele tem prazo estabelecido por juiz: fechar o negócio até sexta, 28. Se não pagar o preço com o qual havia se comprometido em abril, será levado à Corte, obrigado a falar coisas que não deseja dizer em público e, ao fim, será forçado a cumprir o compromisso. A hipótese de que a compra não seja fechada é remota.
A vantagem de fechar o capital é que o CEO não tem de prestar contas a respeito dos lucros, guinadas estratégicas violentas se tornam possíveis. E o negócio das redes sociais precisa ser reinventado. Musk, em carta dirigida aos anunciantes do Twitter disse que imagina a plataforma como uma praça pública, na qual o diálogo seja possível, na qual os extremistas não tenham voz.
As redes já são uma praça pública. O problema é que, neste espaço comum, não é o diálogo que os algoritmos incentivam. É a desinformação e são os cancelamentos. Os atores políticos que não têm pudores de usar esses recursos crescem. Os outros perdem a voz. Não é surpresa que o Brasil elegeu, este ano, um Congresso no qual o pior da Direita foi eleito e o Centro desapareceu.
Musk também vem recebendo pressão para trazer de volta vozes banidas por radicalismo ou desinformação. O problema, porém, não é o que é dito. O problema é o que o Twitter – ou o Face, ou o YouTube – escolhem ampliar. Um antissemita como Kanye West falando para si mesmo não causa dano. O problema está quando um app decide que sua voz deve chegar a milhões. Domingo temos eleições. Não é a única decisão que definirá o futuro da democracia.