Se a história da fotografia manipulada de Catherine Middleton, a princesa de Gales, parece matéria para sites de fofoca, não é. Vivemos o tempo dos deep fakes, das imagens falsificadas, da desinformação. Se a Coroa britânica às vezes engana, tem cara de matéria para tabloides e não coisa para gente séria, ela segue sendo uma instituição do Estado britânico.
Uma instituição que dá seu retorno em sedução diplomática, dinheiro de turismo e habilidade de mobilização civil. A família Windsor é paga pelo Estado para botar roupas bacanas, emanar fantasia e ser fotografada por onde anda, enquanto compõe a ideia do que é ser britânico. É muito poderosa essa ferramenta de representar a essência de um país. Este é o papel dos Windsor e, aos trancos e barrancos, eles o exercem.
A princesa não é vista em público desde o Natal, no dia 25 de dezembro. Em meados janeiro, deu entrada em um hospital para uma “cirurgia abdominal”. Nunca mais apareceu até que, na sexta-feira da semana passada, foi divulgada uma fotografia sua com os três filhos. As agências de notícias fizeram seu trabalho disparando o registro para jornais, revistas e sites em todo mundo. Algumas horas depois, a retiraram.
O quanto se pode manipular uma fotografia? Em geral há tolerância com um corte, desde que não retire algum elemento que tenha relevância. Dá para manipular contraste, atenuar ou reforçar a intensidade das cores — mas não a ponto de fazer um céu azul parecer nublado. Em essência, mexer um pouco pode, mas não a ponto de descaracterizar a cena. Para ser jornalística, uma foto precisa retratar com fidelidade um instante que de fato ocorreu.
Mas a manga da princesinha estava apagada, um zíper no casaco de Lady Kate sumia de repente, e sua mão abraçando um dos filhos estava sem foco. Eram tantos indícios de manipulação que não dá para afirmar que a cena ocorreu. Alguém ou algum detalhe relevante pode ter sido retirado da imagem, ela pode ser uma colagem de momentos diversos.
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A primeira e mais óbvia conclusão que se pode tirar do incidente é de que todo mundo está prestando atenção. As agências distribuíram a foto e logo a retiraram. É mostra de que tem muita gente de olho e imagens que trazem algum tipo de informação relevante passam por escrutínio. Por enquanto, falsificações estão sendo percebidas.
Não é uma mentirinha. A Casa Real é uma instituição de Estado, essa instituição levou à imprensa notícia falsa porque deseja esconder algo. É legítimo perguntar porque mente o Estado, quando a mentira é óbvia.
E fica a lição para quem usa falsificação digital para mentir. Quando a falsificação é descoberta, o problema aumenta. Antes, só quem sabia que Catherine Middleton está sumida há três meses são aqueles fissurados que sabem tudo da família real. Hoje, o assunto virou tema corrente no mundo. Má ideia.