Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião|Celular Seguro: app não resolve tudo e informações pessoais ainda ficam expostas; leia análise


Redes sociais, fotografias e mensagens ficam expostas para bandidos, que praticam pornografia de vingança e todo tipo de crime

Por Pedro Doria
Atualização:

O app Celular Seguro, lançado pelo governo federal é, simultaneamente, uma boa iniciativa, uma confissão de fracasso e insuficiente. É bom, porque de fato facilita a vida da pessoa que teve o celular roubado. É um fracasso, porque quer dizer que o Estado brasileiro — não só o governo federal — está se vendo incapaz de lidar com roubos e furtos de celulares. E é insuficiente, porque o app só resolve uma parte das dores de cabeça de quando o aparelho está nas mãos de quem não devia.

Algo de importante aconteceu neste período pós-pandemia — e aqui vai o depoimento pessoal de um carioca que já morou em São Paulo, gosta da cidade e circula por ela pelo menos uma vez por mês. Pela primeira vez em mais de duas décadas, a sensação de insegurança é maior nos Jardins do que no Leblon.

Sensação não nasce dos números dos índices de criminalidade. É aquilo que as pessoas sentem. A ação de passar de bicicleta ou moto e pegar um celular no repente, como acontece nas ruas, não se tornou apenas um crime comum. É um crime que deixou o paulistano hipersensível. Saque o aparelho na rua e logo alguém dirá: “Cuidado que roubam”. A terrível deterioração do Centro, com o mar de dependentes químicos andando a esmo, simultaneamente frágeis e ameaçadores, só piora a percepção de que São Paulo está doente. O carioca de hoje não tem o medo do paulistano. E medo move votos.

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No app do governo federal, o usuário configura o número telefônico, o IMEI do aparelho — é o código único que cada celular tem — mais CPF. A partir daí, no instante em que o roubo ocorre, já é possível fazer o registro. O sistema avisa todos os bancos, a operadora de celular e faz o boletim de ocorrência policial na cidade em que o crime aconteceu.

Será que o app Celular Seguro é mesmo seguro? Foto: REUTERS/Andrew Kelly

O Estado brasileiro é realmente curioso. É muito ruim de internet na hora de dar informação. Mas, na parte de infraestrutura digital, é muito capaz. O brasileiro faz há décadas sua declaração de imposto de renda num sistema simples, foi posto de pé em poucos meses um sistema para acompanhar a vacinação de Covid de todos, o PIX é um feito que países menores têm dificuldade de implementar e ano que vem teremos o Real digital com contratos inteligentes. É por conta desta capacidade que este app Celular Seguro pode ser produzido.

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Ocorre que ele não resolve tudo. Criminosos ainda terão acesso aos documentos pessoais, às fotografias, às redes sociais de cada pessoa. Destes roubos sai chantagem pelas mensagens da vida particular, pela pornografia de vingança e por toda sorte de informação delicada que quadrilhas especializadas sabem muito bem explorar.

Este crime, o do roubo do celular direto da mão de quem espera um Uber, é um crime brasileiro. O app dá uma ajuda. Mas é hora de encararmos o fato de que a Nova República ergueu o SUS, universalizou o ensino público mas tem um grande fracasso na sua conta. Segurança pública piorou. E muito.

O app Celular Seguro, lançado pelo governo federal é, simultaneamente, uma boa iniciativa, uma confissão de fracasso e insuficiente. É bom, porque de fato facilita a vida da pessoa que teve o celular roubado. É um fracasso, porque quer dizer que o Estado brasileiro — não só o governo federal — está se vendo incapaz de lidar com roubos e furtos de celulares. E é insuficiente, porque o app só resolve uma parte das dores de cabeça de quando o aparelho está nas mãos de quem não devia.

Algo de importante aconteceu neste período pós-pandemia — e aqui vai o depoimento pessoal de um carioca que já morou em São Paulo, gosta da cidade e circula por ela pelo menos uma vez por mês. Pela primeira vez em mais de duas décadas, a sensação de insegurança é maior nos Jardins do que no Leblon.

Sensação não nasce dos números dos índices de criminalidade. É aquilo que as pessoas sentem. A ação de passar de bicicleta ou moto e pegar um celular no repente, como acontece nas ruas, não se tornou apenas um crime comum. É um crime que deixou o paulistano hipersensível. Saque o aparelho na rua e logo alguém dirá: “Cuidado que roubam”. A terrível deterioração do Centro, com o mar de dependentes químicos andando a esmo, simultaneamente frágeis e ameaçadores, só piora a percepção de que São Paulo está doente. O carioca de hoje não tem o medo do paulistano. E medo move votos.

No app do governo federal, o usuário configura o número telefônico, o IMEI do aparelho — é o código único que cada celular tem — mais CPF. A partir daí, no instante em que o roubo ocorre, já é possível fazer o registro. O sistema avisa todos os bancos, a operadora de celular e faz o boletim de ocorrência policial na cidade em que o crime aconteceu.

Será que o app Celular Seguro é mesmo seguro? Foto: REUTERS/Andrew Kelly

O Estado brasileiro é realmente curioso. É muito ruim de internet na hora de dar informação. Mas, na parte de infraestrutura digital, é muito capaz. O brasileiro faz há décadas sua declaração de imposto de renda num sistema simples, foi posto de pé em poucos meses um sistema para acompanhar a vacinação de Covid de todos, o PIX é um feito que países menores têm dificuldade de implementar e ano que vem teremos o Real digital com contratos inteligentes. É por conta desta capacidade que este app Celular Seguro pode ser produzido.

Ocorre que ele não resolve tudo. Criminosos ainda terão acesso aos documentos pessoais, às fotografias, às redes sociais de cada pessoa. Destes roubos sai chantagem pelas mensagens da vida particular, pela pornografia de vingança e por toda sorte de informação delicada que quadrilhas especializadas sabem muito bem explorar.

Este crime, o do roubo do celular direto da mão de quem espera um Uber, é um crime brasileiro. O app dá uma ajuda. Mas é hora de encararmos o fato de que a Nova República ergueu o SUS, universalizou o ensino público mas tem um grande fracasso na sua conta. Segurança pública piorou. E muito.

O app Celular Seguro, lançado pelo governo federal é, simultaneamente, uma boa iniciativa, uma confissão de fracasso e insuficiente. É bom, porque de fato facilita a vida da pessoa que teve o celular roubado. É um fracasso, porque quer dizer que o Estado brasileiro — não só o governo federal — está se vendo incapaz de lidar com roubos e furtos de celulares. E é insuficiente, porque o app só resolve uma parte das dores de cabeça de quando o aparelho está nas mãos de quem não devia.

Algo de importante aconteceu neste período pós-pandemia — e aqui vai o depoimento pessoal de um carioca que já morou em São Paulo, gosta da cidade e circula por ela pelo menos uma vez por mês. Pela primeira vez em mais de duas décadas, a sensação de insegurança é maior nos Jardins do que no Leblon.

Sensação não nasce dos números dos índices de criminalidade. É aquilo que as pessoas sentem. A ação de passar de bicicleta ou moto e pegar um celular no repente, como acontece nas ruas, não se tornou apenas um crime comum. É um crime que deixou o paulistano hipersensível. Saque o aparelho na rua e logo alguém dirá: “Cuidado que roubam”. A terrível deterioração do Centro, com o mar de dependentes químicos andando a esmo, simultaneamente frágeis e ameaçadores, só piora a percepção de que São Paulo está doente. O carioca de hoje não tem o medo do paulistano. E medo move votos.

No app do governo federal, o usuário configura o número telefônico, o IMEI do aparelho — é o código único que cada celular tem — mais CPF. A partir daí, no instante em que o roubo ocorre, já é possível fazer o registro. O sistema avisa todos os bancos, a operadora de celular e faz o boletim de ocorrência policial na cidade em que o crime aconteceu.

Será que o app Celular Seguro é mesmo seguro? Foto: REUTERS/Andrew Kelly

O Estado brasileiro é realmente curioso. É muito ruim de internet na hora de dar informação. Mas, na parte de infraestrutura digital, é muito capaz. O brasileiro faz há décadas sua declaração de imposto de renda num sistema simples, foi posto de pé em poucos meses um sistema para acompanhar a vacinação de Covid de todos, o PIX é um feito que países menores têm dificuldade de implementar e ano que vem teremos o Real digital com contratos inteligentes. É por conta desta capacidade que este app Celular Seguro pode ser produzido.

Ocorre que ele não resolve tudo. Criminosos ainda terão acesso aos documentos pessoais, às fotografias, às redes sociais de cada pessoa. Destes roubos sai chantagem pelas mensagens da vida particular, pela pornografia de vingança e por toda sorte de informação delicada que quadrilhas especializadas sabem muito bem explorar.

Este crime, o do roubo do celular direto da mão de quem espera um Uber, é um crime brasileiro. O app dá uma ajuda. Mas é hora de encararmos o fato de que a Nova República ergueu o SUS, universalizou o ensino público mas tem um grande fracasso na sua conta. Segurança pública piorou. E muito.

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