Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião|Novo governo Lula precisa entender que a origem da riqueza do País é a educação básica


Não são mais as mãos de operários que produzem a riqueza do mundo, como foram nos últimos dois séculos e meio

Por Pedro Doria

O pesadelo nacional durou quatro anos e se encerra neste domingo com a posse de um novo presidente. Um presidente que, pouco importam seus defeitos, construiu a sua carreira política a partir da democracia. Estivemos muito próximos de perdê-la, mais próximos do que muitos se dão conta. Muitos não se dão conta, tampouco, que Jair Bolsonaro recebeu, neste último segundo turno, mais votos do que teve para elegê-lo em 2018. O eleitorado de Bolsonaro não diminuiu, ele aumentou ao longo de seu mandato destrutivo, iliberal, anti-iluminista. E é daí que nasceu o principal desafio para o governo que entra: lidar com a angústia que leva à busca pelo populismo autoritário.

Porque é fácil gritar “fascista” ou ver com desdém a massa que fez da camisa da Seleção a versão contemporânea do uniforme verde escuro com a braçadeira do Sigma. Por trás de todo este comportamento está a angústia com um mundo em rápida transformação.

Não vivemos mais na Era Industrial. Não são mais as mãos de operários que produzem a riqueza do mundo, como foram nos últimos dois séculos e meio. Num planeta em que as grandes empresas não são mais petroleiras, bancos e a GE — que dominaram o século 20 —, a origem da riqueza é outra. São cérebros educados com alta sofisticação. E nunca matemática foi tão importante.

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Não é política industrial que será capaz de tirar o Brasil deste lugar menor que ocupamos na economia do planeta. A política industrial poderá ser boa ou ruim, mais ou menos intervencionista, mas dependerá fundamentalmente da quantidade de gente, aqui, apta a trabalhar com o digital, com genética ou com energia. Tudo é matemática.

Mais de um estudo sugere que algo como 20% da proficiência em matemática depende da genética que herdamos. É um rolar de dados. Eu, filho de matemático, suo frio de fazer uma conta de soma de três dígitos sem o auxílio de papel ou calculadora. A genética não me foi generosa, mas há outra coisa que sabemos a respeito dela. Não escolhe CEP, cor de pele ou profissão do pai. Os outros 80% da capacidade matemática dependem de expor a criança ao conhecimento desde cedo, desafiá-la a aprender, incitá-la a descobrir prazer no cálculo.

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Como não fazemos isso com a massa de brasileiros que nascem nas periferias urbanas, jogamos gente fora todos os anos. Gente é riqueza no século 21.

Se queremos uma chance daqui a dez ou vinte anos, precisamos resolver o problema da educação básica de massas neste governo. É a coisa mais importante que Lula 3 precisará fazer — e, isso, numa lista não pequena de tarefas importantes.

Todo mundo sabe que sua profissão mudou muito nos últimos vinte anos. Que as habilidades que eram antes necessárias, hoje são outras. Todos somos tocados a toda hora por mudanças, mudanças que não param, que geram uma profunda incerteza sobre o futuro. E sem alguém que desenhe que futuro será este, que aponte tranquilo para as possibilidades do que virá e mostre como diminuir as dores, os impactos da transformação contínua, sem este alguém estamos lascados.

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Este autoritarismo reacionário, nostálgico com um passado que não mais retornará, seguirá vivo enquanto tivermos motivos para temer o futuro.

O pesadelo nacional durou quatro anos e se encerra neste domingo com a posse de um novo presidente. Um presidente que, pouco importam seus defeitos, construiu a sua carreira política a partir da democracia. Estivemos muito próximos de perdê-la, mais próximos do que muitos se dão conta. Muitos não se dão conta, tampouco, que Jair Bolsonaro recebeu, neste último segundo turno, mais votos do que teve para elegê-lo em 2018. O eleitorado de Bolsonaro não diminuiu, ele aumentou ao longo de seu mandato destrutivo, iliberal, anti-iluminista. E é daí que nasceu o principal desafio para o governo que entra: lidar com a angústia que leva à busca pelo populismo autoritário.

Porque é fácil gritar “fascista” ou ver com desdém a massa que fez da camisa da Seleção a versão contemporânea do uniforme verde escuro com a braçadeira do Sigma. Por trás de todo este comportamento está a angústia com um mundo em rápida transformação.

Não vivemos mais na Era Industrial. Não são mais as mãos de operários que produzem a riqueza do mundo, como foram nos últimos dois séculos e meio. Num planeta em que as grandes empresas não são mais petroleiras, bancos e a GE — que dominaram o século 20 —, a origem da riqueza é outra. São cérebros educados com alta sofisticação. E nunca matemática foi tão importante.

Não é política industrial que será capaz de tirar o Brasil deste lugar menor que ocupamos na economia do planeta. A política industrial poderá ser boa ou ruim, mais ou menos intervencionista, mas dependerá fundamentalmente da quantidade de gente, aqui, apta a trabalhar com o digital, com genética ou com energia. Tudo é matemática.

Mais de um estudo sugere que algo como 20% da proficiência em matemática depende da genética que herdamos. É um rolar de dados. Eu, filho de matemático, suo frio de fazer uma conta de soma de três dígitos sem o auxílio de papel ou calculadora. A genética não me foi generosa, mas há outra coisa que sabemos a respeito dela. Não escolhe CEP, cor de pele ou profissão do pai. Os outros 80% da capacidade matemática dependem de expor a criança ao conhecimento desde cedo, desafiá-la a aprender, incitá-la a descobrir prazer no cálculo.

Como não fazemos isso com a massa de brasileiros que nascem nas periferias urbanas, jogamos gente fora todos os anos. Gente é riqueza no século 21.

Se queremos uma chance daqui a dez ou vinte anos, precisamos resolver o problema da educação básica de massas neste governo. É a coisa mais importante que Lula 3 precisará fazer — e, isso, numa lista não pequena de tarefas importantes.

Todo mundo sabe que sua profissão mudou muito nos últimos vinte anos. Que as habilidades que eram antes necessárias, hoje são outras. Todos somos tocados a toda hora por mudanças, mudanças que não param, que geram uma profunda incerteza sobre o futuro. E sem alguém que desenhe que futuro será este, que aponte tranquilo para as possibilidades do que virá e mostre como diminuir as dores, os impactos da transformação contínua, sem este alguém estamos lascados.

Este autoritarismo reacionário, nostálgico com um passado que não mais retornará, seguirá vivo enquanto tivermos motivos para temer o futuro.

O pesadelo nacional durou quatro anos e se encerra neste domingo com a posse de um novo presidente. Um presidente que, pouco importam seus defeitos, construiu a sua carreira política a partir da democracia. Estivemos muito próximos de perdê-la, mais próximos do que muitos se dão conta. Muitos não se dão conta, tampouco, que Jair Bolsonaro recebeu, neste último segundo turno, mais votos do que teve para elegê-lo em 2018. O eleitorado de Bolsonaro não diminuiu, ele aumentou ao longo de seu mandato destrutivo, iliberal, anti-iluminista. E é daí que nasceu o principal desafio para o governo que entra: lidar com a angústia que leva à busca pelo populismo autoritário.

Porque é fácil gritar “fascista” ou ver com desdém a massa que fez da camisa da Seleção a versão contemporânea do uniforme verde escuro com a braçadeira do Sigma. Por trás de todo este comportamento está a angústia com um mundo em rápida transformação.

Não vivemos mais na Era Industrial. Não são mais as mãos de operários que produzem a riqueza do mundo, como foram nos últimos dois séculos e meio. Num planeta em que as grandes empresas não são mais petroleiras, bancos e a GE — que dominaram o século 20 —, a origem da riqueza é outra. São cérebros educados com alta sofisticação. E nunca matemática foi tão importante.

Não é política industrial que será capaz de tirar o Brasil deste lugar menor que ocupamos na economia do planeta. A política industrial poderá ser boa ou ruim, mais ou menos intervencionista, mas dependerá fundamentalmente da quantidade de gente, aqui, apta a trabalhar com o digital, com genética ou com energia. Tudo é matemática.

Mais de um estudo sugere que algo como 20% da proficiência em matemática depende da genética que herdamos. É um rolar de dados. Eu, filho de matemático, suo frio de fazer uma conta de soma de três dígitos sem o auxílio de papel ou calculadora. A genética não me foi generosa, mas há outra coisa que sabemos a respeito dela. Não escolhe CEP, cor de pele ou profissão do pai. Os outros 80% da capacidade matemática dependem de expor a criança ao conhecimento desde cedo, desafiá-la a aprender, incitá-la a descobrir prazer no cálculo.

Como não fazemos isso com a massa de brasileiros que nascem nas periferias urbanas, jogamos gente fora todos os anos. Gente é riqueza no século 21.

Se queremos uma chance daqui a dez ou vinte anos, precisamos resolver o problema da educação básica de massas neste governo. É a coisa mais importante que Lula 3 precisará fazer — e, isso, numa lista não pequena de tarefas importantes.

Todo mundo sabe que sua profissão mudou muito nos últimos vinte anos. Que as habilidades que eram antes necessárias, hoje são outras. Todos somos tocados a toda hora por mudanças, mudanças que não param, que geram uma profunda incerteza sobre o futuro. E sem alguém que desenhe que futuro será este, que aponte tranquilo para as possibilidades do que virá e mostre como diminuir as dores, os impactos da transformação contínua, sem este alguém estamos lascados.

Este autoritarismo reacionário, nostálgico com um passado que não mais retornará, seguirá vivo enquanto tivermos motivos para temer o futuro.

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