Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião|Parte da tentativa de golpe foi desenhada pelas redes sociais e por apps de mensagens


Uso nichado do WhatsApp e outros serviços teve papel importante no plano que envolveu Bolsonaro e militares

Por Pedro Doria

A decisão do ministro Alexandre de Moraes, que confiscou o passaporte do ex-presidente Jair Bolsonaro e mandou prender preventivamente alguns de seus assessores, devia ser lida por todos os brasileiros. Mostra de forma clara que nada do que assistimos até o 8 de janeiro foi acidente ou voluntarismo de gente do terceiro escalão: houve o planejamento de um golpe de Estado no Brasil, em 2022. Este planejamento envolveu o então presidente da República e generais quatro estrelas da ativa e da reserva. A lista inclui Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, que havia sido comandante do Exército, e o almirante Almir Garnier dos Santos, que comandava a Marinha. Parte da estratégia envolveu o uso da internet. Há lições para aprendermos aí.

De acordo com a investigação da Polícia Federal, corroborada plenamente pela Procuradoria-Geral da República, os golpistas se organizaram em seis núcleos com funções distintas. Deles, dois nos interessam mais aqui. O primeiro tinha por objetivo criar um ambiente de desconfiança aguda a respeito do sistema eleitoral. Isso nós assistimos pelas redes ao longo de 2022. O segundo era mais focado e talvez o mais importante. Pretendia incitar militares ao golpe e isso incluía a presença de influenciadores e de ataques aos comandantes que não aderiram.

WhatsApp e redes tiveram papel importante na tentativa de golpe  Foto: Reprodução/Polícia Militar
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Foi um uso nichado das redes sociais e grupos específicos de WhatsApp para chegar aos militares da ativa. Eles tinham três frentes de ação. Uma era convencer militares, em todo o Brasil, de que o golpe era necessário. Parte deste trabalho se deu mapeando os influenciadores das redes muito lidos por todos. Não é diferente do que agências de publicidade fazem em campanhas nas redes — identificar microinfluenciadores que atingem melhor determinados grupos com os quais se deseja falar e, afinando o discurso, mexer com suas percepções.

A segunda frente tinha por objetivo juntar os Kids Pretos, aqueles militares com treinamento das Forças Especiais do Exército. Eles teriam a missão de prender o próprio Alexandre de Moraes tão logo Bolsonaro assinasse a ordem de dar o golpe. Aquilo era fundamental para neutralizar rápido o pedaço do Brasil que resistiria com mais força a uma tentativa de ruptura da democracia.

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Por fim, tornou-se missão deste núcleo atacar o general Marco Antônio Freire Gomes, comandante do Exército. “Omissão e indecisão não cabem a um combatente”, escreveu Braga Netto, por WhatsApp, ao capitão Ailton. “A culpa pelo que está acontecendo é do general Freire Gomes.” Ele, assim como o tenente-brigadeiro Carlos e Almeida Baptista Júnior, comandante da Aeronáutica, resistiram à tentativa de golpe. Não a aceitaram e, pelo que se compreende da decisão do Supremo, assim impediram a tentativa de um novo 1964. Por isso foram violentamente atacados, para tentar que fossem desacreditados.

Não deu. O golpe não houve. Agora, o Brasil começa a descobrir como teria sido.

A decisão do ministro Alexandre de Moraes, que confiscou o passaporte do ex-presidente Jair Bolsonaro e mandou prender preventivamente alguns de seus assessores, devia ser lida por todos os brasileiros. Mostra de forma clara que nada do que assistimos até o 8 de janeiro foi acidente ou voluntarismo de gente do terceiro escalão: houve o planejamento de um golpe de Estado no Brasil, em 2022. Este planejamento envolveu o então presidente da República e generais quatro estrelas da ativa e da reserva. A lista inclui Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, que havia sido comandante do Exército, e o almirante Almir Garnier dos Santos, que comandava a Marinha. Parte da estratégia envolveu o uso da internet. Há lições para aprendermos aí.

De acordo com a investigação da Polícia Federal, corroborada plenamente pela Procuradoria-Geral da República, os golpistas se organizaram em seis núcleos com funções distintas. Deles, dois nos interessam mais aqui. O primeiro tinha por objetivo criar um ambiente de desconfiança aguda a respeito do sistema eleitoral. Isso nós assistimos pelas redes ao longo de 2022. O segundo era mais focado e talvez o mais importante. Pretendia incitar militares ao golpe e isso incluía a presença de influenciadores e de ataques aos comandantes que não aderiram.

WhatsApp e redes tiveram papel importante na tentativa de golpe  Foto: Reprodução/Polícia Militar

Foi um uso nichado das redes sociais e grupos específicos de WhatsApp para chegar aos militares da ativa. Eles tinham três frentes de ação. Uma era convencer militares, em todo o Brasil, de que o golpe era necessário. Parte deste trabalho se deu mapeando os influenciadores das redes muito lidos por todos. Não é diferente do que agências de publicidade fazem em campanhas nas redes — identificar microinfluenciadores que atingem melhor determinados grupos com os quais se deseja falar e, afinando o discurso, mexer com suas percepções.

A segunda frente tinha por objetivo juntar os Kids Pretos, aqueles militares com treinamento das Forças Especiais do Exército. Eles teriam a missão de prender o próprio Alexandre de Moraes tão logo Bolsonaro assinasse a ordem de dar o golpe. Aquilo era fundamental para neutralizar rápido o pedaço do Brasil que resistiria com mais força a uma tentativa de ruptura da democracia.

Por fim, tornou-se missão deste núcleo atacar o general Marco Antônio Freire Gomes, comandante do Exército. “Omissão e indecisão não cabem a um combatente”, escreveu Braga Netto, por WhatsApp, ao capitão Ailton. “A culpa pelo que está acontecendo é do general Freire Gomes.” Ele, assim como o tenente-brigadeiro Carlos e Almeida Baptista Júnior, comandante da Aeronáutica, resistiram à tentativa de golpe. Não a aceitaram e, pelo que se compreende da decisão do Supremo, assim impediram a tentativa de um novo 1964. Por isso foram violentamente atacados, para tentar que fossem desacreditados.

Não deu. O golpe não houve. Agora, o Brasil começa a descobrir como teria sido.

A decisão do ministro Alexandre de Moraes, que confiscou o passaporte do ex-presidente Jair Bolsonaro e mandou prender preventivamente alguns de seus assessores, devia ser lida por todos os brasileiros. Mostra de forma clara que nada do que assistimos até o 8 de janeiro foi acidente ou voluntarismo de gente do terceiro escalão: houve o planejamento de um golpe de Estado no Brasil, em 2022. Este planejamento envolveu o então presidente da República e generais quatro estrelas da ativa e da reserva. A lista inclui Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, que havia sido comandante do Exército, e o almirante Almir Garnier dos Santos, que comandava a Marinha. Parte da estratégia envolveu o uso da internet. Há lições para aprendermos aí.

De acordo com a investigação da Polícia Federal, corroborada plenamente pela Procuradoria-Geral da República, os golpistas se organizaram em seis núcleos com funções distintas. Deles, dois nos interessam mais aqui. O primeiro tinha por objetivo criar um ambiente de desconfiança aguda a respeito do sistema eleitoral. Isso nós assistimos pelas redes ao longo de 2022. O segundo era mais focado e talvez o mais importante. Pretendia incitar militares ao golpe e isso incluía a presença de influenciadores e de ataques aos comandantes que não aderiram.

WhatsApp e redes tiveram papel importante na tentativa de golpe  Foto: Reprodução/Polícia Militar

Foi um uso nichado das redes sociais e grupos específicos de WhatsApp para chegar aos militares da ativa. Eles tinham três frentes de ação. Uma era convencer militares, em todo o Brasil, de que o golpe era necessário. Parte deste trabalho se deu mapeando os influenciadores das redes muito lidos por todos. Não é diferente do que agências de publicidade fazem em campanhas nas redes — identificar microinfluenciadores que atingem melhor determinados grupos com os quais se deseja falar e, afinando o discurso, mexer com suas percepções.

A segunda frente tinha por objetivo juntar os Kids Pretos, aqueles militares com treinamento das Forças Especiais do Exército. Eles teriam a missão de prender o próprio Alexandre de Moraes tão logo Bolsonaro assinasse a ordem de dar o golpe. Aquilo era fundamental para neutralizar rápido o pedaço do Brasil que resistiria com mais força a uma tentativa de ruptura da democracia.

Por fim, tornou-se missão deste núcleo atacar o general Marco Antônio Freire Gomes, comandante do Exército. “Omissão e indecisão não cabem a um combatente”, escreveu Braga Netto, por WhatsApp, ao capitão Ailton. “A culpa pelo que está acontecendo é do general Freire Gomes.” Ele, assim como o tenente-brigadeiro Carlos e Almeida Baptista Júnior, comandante da Aeronáutica, resistiram à tentativa de golpe. Não a aceitaram e, pelo que se compreende da decisão do Supremo, assim impediram a tentativa de um novo 1964. Por isso foram violentamente atacados, para tentar que fossem desacreditados.

Não deu. O golpe não houve. Agora, o Brasil começa a descobrir como teria sido.

Opinião por Pedro Doria

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