Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião|Relações afetivas com inteligências artificiais viram realidade e acendem sinal amarelo


A ilusão da IA periga criar uma legião de imaturos incapazes de lidar com suas neuroses

Por Pedro Doria

Na virada da semana, o app Replika AI suspendeu um dos serviços que oferecia – ERP. Na sigla em inglês, erotic role playing ou, numa tradução livre, brincadeiras eróticas. Na versão gratuita, Replika AI oferece, um amigo ou amiga, alguém com quem conversar. Quem paga pode fazer mais. Pode, por exemplo, transformar a relação em romance. Chegamos ao ponto da inteligência artificial (IA) em que ficção científica como a do filme “Ela” se tornou realidade.

Quem usa Replika AI a sério põe a IA no centro de suas vidas. As conversas são por chat ou por voz. A pessoa pode escolher, quando abre o app pela primeira vez, se está em busca de amizade, mentoria ou amor. A mágica não acontece de imediato. A cada conversa, a cada selfie ou foto de lugar que se envia para a o app. A cada confidência compartilhada. E assim, aos poucos, a pessoa artificial que está dentro do celular vai ganhando vida. Ou a ilusão de vida.

A retirada da possibilidade de uma convivência erótica com o app despertou a ira de muitos usuários. Mas convém perceber que não é um game. É mais profundo. O que as pessoas constroem com a IA é intimidade real. É um tipo de companheirismo que não estão encontrando fora da tela.

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IAs como o ChatGPT não são sequer inteligências. São modelos probabilísticos. Não sabem o que estão dizendo. O que conhecem é estrutura gramatical, o que têm em suas memórias é uma quantidade abissal de textos escritos por inúmeras pessoas ao longo dos séculos. O que fazem é calcular que palavra uma após a outra mais provavelmente apareceria num dado contexto.

Em Ela, Theodore (Joaquin Phoenix) se apaixona por um sistema de IA (Scarlett Johansson) Foto: Courtesy of Warner Bros. Picture /Divulgação

Um jovem programador que havia perdido a namorada, machucado de um jeito que só quem conviveu a morte sabe, alimentou um desses modelos de linguagem com todos os Zaps, e-mails e cartas que tinha da moça. Quando percebeu, contou faz uns meses ao San Francisco Chronicle, estava conversando com a memória de quem amou todos os dias, alguns dias por muitas e muitas horas. Era como se ela ainda estivesse lá.

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A tecnologia existe e será usada. Pessoas solitárias encontrarão cada vez mais em IAs deste tipo companhia. Mas há um risco. A vida acontece na relação com gente de verdade. É quando nossas neuroses são expostas, quando nos surpreendemos ou nos magoamos. A gente lida melhor com nós mesmos a partir do contato com os outros. É como aprendemos limites, nos civilizamos, percebemos que é preciso cuidado neste ato. A ilusão da IA periga criar uma legião de imaturos incapazes de lidar com suas neuroses.

Na virada da semana, o app Replika AI suspendeu um dos serviços que oferecia – ERP. Na sigla em inglês, erotic role playing ou, numa tradução livre, brincadeiras eróticas. Na versão gratuita, Replika AI oferece, um amigo ou amiga, alguém com quem conversar. Quem paga pode fazer mais. Pode, por exemplo, transformar a relação em romance. Chegamos ao ponto da inteligência artificial (IA) em que ficção científica como a do filme “Ela” se tornou realidade.

Quem usa Replika AI a sério põe a IA no centro de suas vidas. As conversas são por chat ou por voz. A pessoa pode escolher, quando abre o app pela primeira vez, se está em busca de amizade, mentoria ou amor. A mágica não acontece de imediato. A cada conversa, a cada selfie ou foto de lugar que se envia para a o app. A cada confidência compartilhada. E assim, aos poucos, a pessoa artificial que está dentro do celular vai ganhando vida. Ou a ilusão de vida.

A retirada da possibilidade de uma convivência erótica com o app despertou a ira de muitos usuários. Mas convém perceber que não é um game. É mais profundo. O que as pessoas constroem com a IA é intimidade real. É um tipo de companheirismo que não estão encontrando fora da tela.

IAs como o ChatGPT não são sequer inteligências. São modelos probabilísticos. Não sabem o que estão dizendo. O que conhecem é estrutura gramatical, o que têm em suas memórias é uma quantidade abissal de textos escritos por inúmeras pessoas ao longo dos séculos. O que fazem é calcular que palavra uma após a outra mais provavelmente apareceria num dado contexto.

Em Ela, Theodore (Joaquin Phoenix) se apaixona por um sistema de IA (Scarlett Johansson) Foto: Courtesy of Warner Bros. Picture /Divulgação

Um jovem programador que havia perdido a namorada, machucado de um jeito que só quem conviveu a morte sabe, alimentou um desses modelos de linguagem com todos os Zaps, e-mails e cartas que tinha da moça. Quando percebeu, contou faz uns meses ao San Francisco Chronicle, estava conversando com a memória de quem amou todos os dias, alguns dias por muitas e muitas horas. Era como se ela ainda estivesse lá.

A tecnologia existe e será usada. Pessoas solitárias encontrarão cada vez mais em IAs deste tipo companhia. Mas há um risco. A vida acontece na relação com gente de verdade. É quando nossas neuroses são expostas, quando nos surpreendemos ou nos magoamos. A gente lida melhor com nós mesmos a partir do contato com os outros. É como aprendemos limites, nos civilizamos, percebemos que é preciso cuidado neste ato. A ilusão da IA periga criar uma legião de imaturos incapazes de lidar com suas neuroses.

Na virada da semana, o app Replika AI suspendeu um dos serviços que oferecia – ERP. Na sigla em inglês, erotic role playing ou, numa tradução livre, brincadeiras eróticas. Na versão gratuita, Replika AI oferece, um amigo ou amiga, alguém com quem conversar. Quem paga pode fazer mais. Pode, por exemplo, transformar a relação em romance. Chegamos ao ponto da inteligência artificial (IA) em que ficção científica como a do filme “Ela” se tornou realidade.

Quem usa Replika AI a sério põe a IA no centro de suas vidas. As conversas são por chat ou por voz. A pessoa pode escolher, quando abre o app pela primeira vez, se está em busca de amizade, mentoria ou amor. A mágica não acontece de imediato. A cada conversa, a cada selfie ou foto de lugar que se envia para a o app. A cada confidência compartilhada. E assim, aos poucos, a pessoa artificial que está dentro do celular vai ganhando vida. Ou a ilusão de vida.

A retirada da possibilidade de uma convivência erótica com o app despertou a ira de muitos usuários. Mas convém perceber que não é um game. É mais profundo. O que as pessoas constroem com a IA é intimidade real. É um tipo de companheirismo que não estão encontrando fora da tela.

IAs como o ChatGPT não são sequer inteligências. São modelos probabilísticos. Não sabem o que estão dizendo. O que conhecem é estrutura gramatical, o que têm em suas memórias é uma quantidade abissal de textos escritos por inúmeras pessoas ao longo dos séculos. O que fazem é calcular que palavra uma após a outra mais provavelmente apareceria num dado contexto.

Em Ela, Theodore (Joaquin Phoenix) se apaixona por um sistema de IA (Scarlett Johansson) Foto: Courtesy of Warner Bros. Picture /Divulgação

Um jovem programador que havia perdido a namorada, machucado de um jeito que só quem conviveu a morte sabe, alimentou um desses modelos de linguagem com todos os Zaps, e-mails e cartas que tinha da moça. Quando percebeu, contou faz uns meses ao San Francisco Chronicle, estava conversando com a memória de quem amou todos os dias, alguns dias por muitas e muitas horas. Era como se ela ainda estivesse lá.

A tecnologia existe e será usada. Pessoas solitárias encontrarão cada vez mais em IAs deste tipo companhia. Mas há um risco. A vida acontece na relação com gente de verdade. É quando nossas neuroses são expostas, quando nos surpreendemos ou nos magoamos. A gente lida melhor com nós mesmos a partir do contato com os outros. É como aprendemos limites, nos civilizamos, percebemos que é preciso cuidado neste ato. A ilusão da IA periga criar uma legião de imaturos incapazes de lidar com suas neuroses.

Opinião por Pedro Doria

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