Nas duas últimas semanas, dois manifestos distintos foram publicados cobrando limites para a inteligência artificial (IA). O primeiro, assinado pelo historiador israelense Yuval Noah Harari e os ativistas digitais Tristan Harris e Aza Raskin. O segundo por tecnólogos como Elon Musk e o co-fundador da Apple, Steve Wozniak. Há algo quase extraordinário quando intelectuais e pessoas dedicadas ao avanço tecnológico pedem uma moratória. Cobram que o mundo pare e pense.
A história do avanço da humanidade é uma de constante busca pelo novo, pela criação do que antes parecia impossível. Toda filosofia que sustenta nossas democracias modernas é uma voltada para que o conhecimento possa avançar com liberdade. Aqueles que passamos a considerar nossos direitos mais sagrados são, todos, voltados à procura de criar algo original. São as liberdades de expressão e pensamento, de que podemos nos reunir com quem quisermos mesmo que em espaço público. É por isso que tem de surpreender quando tecnólogos e pensadores liberais pedem uma pausa no avanço.
Mas Harari e Harris têm razão num ponto fundamental. A primeira geração de IA, embutida em nossas redes, criou um ambiente gerador de conflitos políticos. O contato em massa com esta tecnologia cindiu em dois o processo eleitoral, ao tornar o debate de ideias inviável.
A IA que apenas começa a se popularizar, que gera conteúdo, é a de terceira geração. E como ela tende a melhorar, vai avançar em sua capacidade de criação. O que eles pedem, portanto, é simples: será que não é hora de dar uma pausa e pensar em quais são as regras que desejamos adotar?
Ainda assim, o pedido de socorro de quem está acompanhando esta revolução de perto não é trivial. EUA e China estão engatados numa nova Guerra Fria. E a principal luta é por domínio tecnológico justamente em IA.
Como, nessas circunstâncias, o governo americano poderia pedir às empresas do país que parem de criar novos produtos? A China faria o mesmo? Se ambos se comprometessem a fazê-lo, como um pode ter certeza de que o outro está mesmo fazendo?
É inútil cobrar que o Congresso Nacional, aqui no Brasil, se debruce a sério sobre o problema. O jogo, em Brasília, é outro – o das chantagens de Arthur Lira. No Executivo seria possível? Talvez. Mas a disputa ideológica lá ainda não deixou o século 20.
O Brasil não vai assumir as rédeas de seu futuro neste processo, seguirá a reboque do que os outros decidirem.