Empreendedores de tecnologia foram pegos de surpresa no domingo à tarde ao serem avisados por Facebook que a partir desta segunda-feira, 30, o escritório do Seed (Startups and Entrepreneurship Ecosystem Development), programa de apoio a startups criado pelo governo de Minas Gerais, estaria fechado.
As empresas que utilizavam o escritório colaborativo do programa em Belo Horizonte foram comunicadas apenas que deveriam comparecer no local e retirar seus pertences, sem mais detalhes sobre o motivo do fechamento ou futuro do programa.
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Considerado uma das principais iniciativas de fomento de novas startups do País e responsável por colocar no mercado 73 novas empresas de tecnologia que, juntas, faturaram R$ 23 milhões até o fim do ano passado, o Seed entrou em reavaliação no início do ano, quando o governador Fernando Pimentel (PT) assumiu o governo de Minas Gerais.
O programa oferecia para as startups selecionadas aulas de empreendedorismo, um escritório compartilhado e investimento de até R$ 80 mil e chegou a ter destaque na imprensa internacional, em publicações como a revista The Economist e o site The Next Web.
"Não sabemos o que vai acontecer. Teremos que antecipar o processo de criar um escritório próprio, um investimento que não estava nos nossos planos agora", diz o empreendedor Cláudio Meinberg, da startup AceitaFácil, que participou da primeira turma do programa.
Já Luiz Gomes, da startup Lotebox, tinha deixado há poucos dias o escritório do Seed para instalar sua empresa em São Paulo. "A última notícia oficial que tínhamos era sobre uma suspensão do programa, mas sem muitas explicações ou expectativas de retorno", diz.
O aviso aos empreendedores veio de dois ex-gestores do programa que foram exonerados pelo governo de Minas Gerais. Eles faziam parte do Escritório de Prioridades Estratégicas, que foi oficialmente extinto e era responsável pelo Seed. A equipe do programa foi pega de surpresa pela exoneração no sábado, já que a expectativa era de que seriam absorvidos para trabalhar na Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede), a qual o programa Seed agora está subordinado. No entanto, o governo encerrou o cargo de empreendedor público, criado durante a gestão anterior e dispensou os membros da equipe do programa.
O Link apurou que nem os integrantes do Conselho do programa sabiam sobre o fechamento do escritório do Seed. Pelo menos um deles atualizou o LinkedIn dizendo que não faz mais parte do programa. Procurados pela reportagem, eles não quiseram se manifestar sobre o caso.
Continuidade
A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Sede) negou ao Link que o Seed corra o risco de ser encerrado e disse que o fechamento do escritório faz parte do processo de reavaliação de todas as políticas públicas da administração estadual executada pelo novo Governo de Minas Gerais. "Alguns contratos de gestão, segurança, de manutenção e de aluguel do imóvel do programa foram encerrados. Por causa disso, a casa que abriga as atividades do Seed junto aos empreendedores foi fechada", diz trecho da nota.
No fim de fevereiro, o Link já havia procurado o governo mineiro para questionar sobre boatos de fechamento do programa, e foi informado por meio de nota oficial que "o Seed não corria qualquer risco de ser suspenso ou interrompido".
Segundo o governo mineiro o fechamento é temporário, mas não há garantias de que o programa volte a funcionar no mesmo local nem com o mesmo formato de antes. O contrato de aluguel do imóvel do Seed, por exemplo, vence no dia 1 e o espaço será devolvido. Um novo investimento vai depender do novo orçamento do Estado, aprovado na última quinta-feira.
O governo de Minas terá cerca de R$ 68 bilhões, com um déficit de R$ 7 bilhões. O Orçamento 2015 está em redação final na Assembleia, para posteriormente ser sancionado pelo Poder Executivo, o que espera-se que aconteça nesta semana.
A intenção de continuar o programa faria sentido já que o apoio a startups é uma ação prevista no programa TI Maior, do governo federal, que também é o responsável pelo programa Start-Up Brasil, a principal iniciativa governamental em prol de startups no País.
Disputa?
Uma fonte próxima ao programa diz que uma disputa interna entre o Secretário de Ciências e Tecnologia de Minas Gerais, Miguel Corrêa (PT), e o Secretário de Desenvolvimento, Altamir Rôso (PMDB), pela gestão do Seed estaria por trás da paralisação do programa. Ao Link, a assessoria da Sede negou a informação de que exista qualquer tipo de disputa interna e disse que não há chances de o Seed ser subordinado a outra secretaria.
O Orçamento aprovado para a Sede contempla um montante a ser destinado ao Seed. Entre os empreendedores de Minas Gerais, porém, é grande a desconfiança de que o programa seja encerrado, já que o governo pode não executar esse orçamento. Uma fonte próxima ao programa diz que há descrença sobre o futuro do Seed, já que o imóvel onde o programa funciona será devolvido, os móveis terão que ser recolhidos pelo governo e a equipe que formatou o programa foi exonerada, o que deve dificultar a retomada da iniciativa uma vez que o conhecimento gerado seria perdido. "Não existe uma equipe para o Seed. A nota oficial divulgada pelo governo é empurrar com a barriga", disse a fonte, sob condição de anonimato.
Os empreendedores de Belo Horizonte, cidade conhecida por ser um dos principais polos de startups do Brasil (veja reportagem recente do Link sobre a cena de startups de BH), onde fica San Pedro Valley, já estão discutindo formas de pleitear a continuidade do programa.
Origens
O Seed foi criado em 2013 pelo governo de Antonio Anastasia (PSDB), que hoje é um dos investigados na Operação Lava-Jato. O programa foi estruturado a partir de um investimento R$ 9,5 milhões para montagem da sua estrutura física e financiamento de duas turmas de startups e, até hoje, apoiou 73 projetos de 12 países que, juntos, faturaram R$ 23 milhões, geraram 145 empregos e captaram R$ 10 milhões em investimento privado.
Um dos motivos para o Seed ganhar destaque foi seu modelo, que não exigia que uma startup estivesse constituída para participar do programa. Pessoas físicas apenas com uma ideia de negócio também podiam participar do programa e criar uma startup com a ajuda de outros empreendedores experientes.
(Matéria publicada também na versão impressa do jornal O Estado de S. Paulo no caderno Economia & Negócios de 31/03/2015)