O personagem Buscapé, o menino que se tornou fotógrafo no filme Cidade de Deus, estará de volta em um curta-metragem, mas sem sua câmera. Isso porque, 20 anos depois do lançamento do clássico do cinema nacional, o personagem do filme volta à favela para registrar a realidade local. Agora, ele vai usar telefone celular e uma conexão 5G.
Na companhia de colegas de elenco e de parte da equipe original do longa, o ator Alexandre Rodrigues dará vida ao fotojornalista da Cidade de Deus nas telonas – desta vez, em uma campanha publicitária em parceria da Vivo com a Motorola. O curta Buscapé foi criado pela agência VMLY&R e produzido pela O2 Filmes, que tem o cineasta Fernando Meirelles (indicado ao Oscar por Cidade de Deus) como sócio. Dirigido pelo cineasta Fred Luz, o projeto será lançado nesta segunda-feira, 12, em uma sala de cinema na capital paulista e divulgado em seguida nas redes sociais das duas marcas.
De volta à Cidade de Deus como jornalista profissional, Buscapé chega à comunidade para a cobertura de um evento, mas acaba mudando de planos diante da sua investigação jornalística. É nesse contexto que Vivo e Motorola usam o filme para posicionar suas marcas – uma com a conexão 5G e a outra com o aparelho Edge30 Ultra.
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Conteúdo de marca ou apenas conteúdo?
Na avaliação do vice-presidente global da VLMY&R, Rafael Pitanguy, esse tipo de ação, com um conteúdo forte e que bebe em uma fonte consagrada, mostra que o limite entre o que é branded content (conteúdo patrocinado) e o que é simplesmente um bom conteúdo está cada vez mais tênue. “Esse projeto é mais uma prova da sinergia entre marcas e conteúdo”, avalia o executivo.
Fernando Meirelles, cineasta
Para o especialista em marcas Eduardo Tomiya, da TM20 Branding, campanhas como o curta Buscapé, que não necessariamente tentam vender um produto ao público, cumprem um papel importante no relacionamento e na forma como os consumidores veem as companhias. “Para construção de valor de marca, esta pode ser uma estratégia muito interessante, pois a empresa se vincula a um conteúdo muito relevante para todo o público”, diz.
Apesar de o lançamento ocorrer exatos 20 anos após a estreia de Cidade de Deus nos cinemas, a produção começou antes mesmo da pandemia de covid-19, diz a diretora de marca e comunicação da Vivo Brasil, Marina Daineze. “Nós queríamos lançar em março de 2020, mas aí veio a covid e tivemos de postergar. Ficamos muito surpresos que toda a equipe do filme estava engajada com o projeto mesmo depois de dois anos.”
Assista ao curta.
O curta publicitário também tem a participação da equipe original do filme indicado ao Oscar e a “benção” do diretor Fernando Meirelles, que assina a produção executiva do projeto. “A grande sacada desse curta é a gente ter feito uma atualização do que é a Cidade de Deus. Antigamente esse era um local da carência, hoje é um lugar de potência”, diz Meirelles.
Viviane Elias Moreira, especialista em diversidade, equidade, inclusão e inovação
Investimento em temas sociais
Esta não é a primeira vez que a Vivo aposta suas fichas em temas sociais e relacionados a questões raciais. Em maio, durante o festival Lollapalooza, a companhia decidiu posicionar sua comunicação em torno da nova tecnologia de internet rápida com foco na estética afrofuturista, negra e periférica.
Na ocasião, todos os convidados da companhia para o festival de música eram funcionários e influenciadores pretos. Para a executiva da Vivo, o curta é uma continuação da estratégia da empresa e se conecta à ação no Lollapalooza. “Nós acreditamos que apoiar causas sociais faz parte da construção da nossa marca.”
Segundo Viviane Elias Moreira, especialista em diversidade, equidade, inclusão e inovação, a volta do personagem Buscapé é oportunidade de reduzir estigmas ligados ao imaginário coletivo sobre as favelas. “Esse filme é a prova de que o desenvolvimento do Brasil precisa de uma conexão com a periferia”, diz.
Em comparação ao trabalho do personagem principal do filme, que usa tecnologia para produzir suas reportagens, Viviane pontua que jovens periféricos no País também utilizam acesso à internet rápida e ao smartphone para, por exemplo, denunciar casos de racismo.