A Câmara dos Comuns sangra


Por Redação

Quais são as semelhanças entre o deputado britânico Peter Viggers e, por exemplo, o brasileiro Edmar Moreira? Viggers foi reembolsado por ter gasto o equivalente a R$ 100 mil do auxílio-moradia - a que ele e seus 645 colegas da Câmara dos Comuns têm direito - com serviços de jardinagem e mordomias assemelhadas, incluindo, ao custo de cerca de R$ 5 mil, a construção de uma ilha flutuante e de um castelo em miniatura para servir de abrigo aos patos que alegram uma de suas casas. Moreira, que escondia ser dono de um castelo de verdade em Minas Gerais, avaliado em R$ 25 milhões, foi reembolsado por ter alegadamente gasto R$ 230,6 mil da verba indenizatória - a que ele e seus 512 colegas da Câmara Federal têm direito - com serviços de segurança pessoal que não teriam sido prestados, pois as firmas citadas nas respectivas notas fiscais são de sua propriedade. E quais são as diferenças entre os dois políticos? No caso de Moreira, as suspeitas levaram à abertura de um processo contra ele no Conselho de Ética da Casa, mas é improvável que seja punido com a perda do mandato, mesmo depois do afastamento do relator do caso, aquele que disse que estava se "lixando" para a opinião pública. No caso de Viggers, com a exposição do seu deleite com a natureza à custa do contribuinte, o Partido Conservador pelo qual se elegeu o proibiu de disputar um novo mandato em 2010. Isso significa que ele foi banido da política, pois não se concebe que ele possa se candidatar por outra legenda. Moreira, é bem verdade, foi desfiliado pelo DEM tão logo veio à tona a história do castelo, mas não lhe será difícil abrigar-se em outra sigla para participar do próximo pleito, também em 2010. Viggers e Moreira encarnam o contraste entre a Grã-Bretanha e o Brasil no trato com as maracutaias de seus mandatários. Lá e cá, escândalos e política são termos geminados. A mais antiga instituição legislativa do globo e o governo com a qual se confunde, no regime parlamentarista, não estão imunes a negócios turvos com financiadores de campanhas, abusos no manejo dos recursos públicos, favorecimentos e outros vexames com os quais nós outros, brasileiros, somos sobejamente familiarizados. Também lá os políticos fazem o que sabem para acobertar os seus ilícitos. Mas eles não ficam impunes para sempre nem, muito menos, conseguem enganar os eleitores o tempo todo. Em 1997, a corrupção ajudou a acabar com duas décadas de reinado conservador em Westminster. No ano que vem, deverá pôr fim a mais de um decênio de hegemonia trabalhista. Não porque o partido do primeiro-ministro Gordon Brown seja mais frouxo com a ética do que o resto do establishment político da ilha. Mas porque no seu turno acaba de rebentar o escândalo que levou ao paroxismo o desgosto dos britânicos com os seus políticos. Há duas semanas, o jornal londrino Daily Telegraph começou a sangrar o Parlamento com revelações a conta-gotas de documentos mostrando o que integrantes seus - 170, ou perto de 1 em cada 4, pelas contas mais recentes - andaram aprontando com as ajudas de custo recebidas (o correspondente às verbas indenizatórias do Congresso Nacional). Houve de tudo: da compra de filmes pornográficos ao suposto pagamento de danos residenciais cobertos por seguro; de rações para cães a embelezamento de banheiros; de esterco de cavalo à imaginária quitação da hipoteca de um imóvel já pago. O cinismo dos políticos chocou a população mais até do que os montantes malversados. Diante do furor redobrado a cada novidade, vieram as cenas de arrependimento, anúncios de reparação, demissões de autoridades - e a histórica renúncia do presidente da Câmara dos Comuns, o trabalhista Michael Martin, a primeira do gênero em 314 anos. Ele, pessoalmente, não foi alvo de nenhuma denúncia. Ainda assim, por ter-se oposto à divulgação dos documentos que, afinal, chegaram à imprensa e pela conivência corporativa com as irregularidades de que tinha conhecimento, foi apontado como o símbolo por excelência da instituição cuja conduta o premiê Gordon Brown comparou, no seu pedido de desculpas com a promessa de reformar o sistema, ao de um "clube de cavalheiros". Agora, a atmosfera no clube é de expiação - e de medo do que espera os seus sócios. Enquanto isso, no Congresso Nacional em Brasília...

Quais são as semelhanças entre o deputado britânico Peter Viggers e, por exemplo, o brasileiro Edmar Moreira? Viggers foi reembolsado por ter gasto o equivalente a R$ 100 mil do auxílio-moradia - a que ele e seus 645 colegas da Câmara dos Comuns têm direito - com serviços de jardinagem e mordomias assemelhadas, incluindo, ao custo de cerca de R$ 5 mil, a construção de uma ilha flutuante e de um castelo em miniatura para servir de abrigo aos patos que alegram uma de suas casas. Moreira, que escondia ser dono de um castelo de verdade em Minas Gerais, avaliado em R$ 25 milhões, foi reembolsado por ter alegadamente gasto R$ 230,6 mil da verba indenizatória - a que ele e seus 512 colegas da Câmara Federal têm direito - com serviços de segurança pessoal que não teriam sido prestados, pois as firmas citadas nas respectivas notas fiscais são de sua propriedade. E quais são as diferenças entre os dois políticos? No caso de Moreira, as suspeitas levaram à abertura de um processo contra ele no Conselho de Ética da Casa, mas é improvável que seja punido com a perda do mandato, mesmo depois do afastamento do relator do caso, aquele que disse que estava se "lixando" para a opinião pública. No caso de Viggers, com a exposição do seu deleite com a natureza à custa do contribuinte, o Partido Conservador pelo qual se elegeu o proibiu de disputar um novo mandato em 2010. Isso significa que ele foi banido da política, pois não se concebe que ele possa se candidatar por outra legenda. Moreira, é bem verdade, foi desfiliado pelo DEM tão logo veio à tona a história do castelo, mas não lhe será difícil abrigar-se em outra sigla para participar do próximo pleito, também em 2010. Viggers e Moreira encarnam o contraste entre a Grã-Bretanha e o Brasil no trato com as maracutaias de seus mandatários. Lá e cá, escândalos e política são termos geminados. A mais antiga instituição legislativa do globo e o governo com a qual se confunde, no regime parlamentarista, não estão imunes a negócios turvos com financiadores de campanhas, abusos no manejo dos recursos públicos, favorecimentos e outros vexames com os quais nós outros, brasileiros, somos sobejamente familiarizados. Também lá os políticos fazem o que sabem para acobertar os seus ilícitos. Mas eles não ficam impunes para sempre nem, muito menos, conseguem enganar os eleitores o tempo todo. Em 1997, a corrupção ajudou a acabar com duas décadas de reinado conservador em Westminster. No ano que vem, deverá pôr fim a mais de um decênio de hegemonia trabalhista. Não porque o partido do primeiro-ministro Gordon Brown seja mais frouxo com a ética do que o resto do establishment político da ilha. Mas porque no seu turno acaba de rebentar o escândalo que levou ao paroxismo o desgosto dos britânicos com os seus políticos. Há duas semanas, o jornal londrino Daily Telegraph começou a sangrar o Parlamento com revelações a conta-gotas de documentos mostrando o que integrantes seus - 170, ou perto de 1 em cada 4, pelas contas mais recentes - andaram aprontando com as ajudas de custo recebidas (o correspondente às verbas indenizatórias do Congresso Nacional). Houve de tudo: da compra de filmes pornográficos ao suposto pagamento de danos residenciais cobertos por seguro; de rações para cães a embelezamento de banheiros; de esterco de cavalo à imaginária quitação da hipoteca de um imóvel já pago. O cinismo dos políticos chocou a população mais até do que os montantes malversados. Diante do furor redobrado a cada novidade, vieram as cenas de arrependimento, anúncios de reparação, demissões de autoridades - e a histórica renúncia do presidente da Câmara dos Comuns, o trabalhista Michael Martin, a primeira do gênero em 314 anos. Ele, pessoalmente, não foi alvo de nenhuma denúncia. Ainda assim, por ter-se oposto à divulgação dos documentos que, afinal, chegaram à imprensa e pela conivência corporativa com as irregularidades de que tinha conhecimento, foi apontado como o símbolo por excelência da instituição cuja conduta o premiê Gordon Brown comparou, no seu pedido de desculpas com a promessa de reformar o sistema, ao de um "clube de cavalheiros". Agora, a atmosfera no clube é de expiação - e de medo do que espera os seus sócios. Enquanto isso, no Congresso Nacional em Brasília...

Quais são as semelhanças entre o deputado britânico Peter Viggers e, por exemplo, o brasileiro Edmar Moreira? Viggers foi reembolsado por ter gasto o equivalente a R$ 100 mil do auxílio-moradia - a que ele e seus 645 colegas da Câmara dos Comuns têm direito - com serviços de jardinagem e mordomias assemelhadas, incluindo, ao custo de cerca de R$ 5 mil, a construção de uma ilha flutuante e de um castelo em miniatura para servir de abrigo aos patos que alegram uma de suas casas. Moreira, que escondia ser dono de um castelo de verdade em Minas Gerais, avaliado em R$ 25 milhões, foi reembolsado por ter alegadamente gasto R$ 230,6 mil da verba indenizatória - a que ele e seus 512 colegas da Câmara Federal têm direito - com serviços de segurança pessoal que não teriam sido prestados, pois as firmas citadas nas respectivas notas fiscais são de sua propriedade. E quais são as diferenças entre os dois políticos? No caso de Moreira, as suspeitas levaram à abertura de um processo contra ele no Conselho de Ética da Casa, mas é improvável que seja punido com a perda do mandato, mesmo depois do afastamento do relator do caso, aquele que disse que estava se "lixando" para a opinião pública. No caso de Viggers, com a exposição do seu deleite com a natureza à custa do contribuinte, o Partido Conservador pelo qual se elegeu o proibiu de disputar um novo mandato em 2010. Isso significa que ele foi banido da política, pois não se concebe que ele possa se candidatar por outra legenda. Moreira, é bem verdade, foi desfiliado pelo DEM tão logo veio à tona a história do castelo, mas não lhe será difícil abrigar-se em outra sigla para participar do próximo pleito, também em 2010. Viggers e Moreira encarnam o contraste entre a Grã-Bretanha e o Brasil no trato com as maracutaias de seus mandatários. Lá e cá, escândalos e política são termos geminados. A mais antiga instituição legislativa do globo e o governo com a qual se confunde, no regime parlamentarista, não estão imunes a negócios turvos com financiadores de campanhas, abusos no manejo dos recursos públicos, favorecimentos e outros vexames com os quais nós outros, brasileiros, somos sobejamente familiarizados. Também lá os políticos fazem o que sabem para acobertar os seus ilícitos. Mas eles não ficam impunes para sempre nem, muito menos, conseguem enganar os eleitores o tempo todo. Em 1997, a corrupção ajudou a acabar com duas décadas de reinado conservador em Westminster. No ano que vem, deverá pôr fim a mais de um decênio de hegemonia trabalhista. Não porque o partido do primeiro-ministro Gordon Brown seja mais frouxo com a ética do que o resto do establishment político da ilha. Mas porque no seu turno acaba de rebentar o escândalo que levou ao paroxismo o desgosto dos britânicos com os seus políticos. Há duas semanas, o jornal londrino Daily Telegraph começou a sangrar o Parlamento com revelações a conta-gotas de documentos mostrando o que integrantes seus - 170, ou perto de 1 em cada 4, pelas contas mais recentes - andaram aprontando com as ajudas de custo recebidas (o correspondente às verbas indenizatórias do Congresso Nacional). Houve de tudo: da compra de filmes pornográficos ao suposto pagamento de danos residenciais cobertos por seguro; de rações para cães a embelezamento de banheiros; de esterco de cavalo à imaginária quitação da hipoteca de um imóvel já pago. O cinismo dos políticos chocou a população mais até do que os montantes malversados. Diante do furor redobrado a cada novidade, vieram as cenas de arrependimento, anúncios de reparação, demissões de autoridades - e a histórica renúncia do presidente da Câmara dos Comuns, o trabalhista Michael Martin, a primeira do gênero em 314 anos. Ele, pessoalmente, não foi alvo de nenhuma denúncia. Ainda assim, por ter-se oposto à divulgação dos documentos que, afinal, chegaram à imprensa e pela conivência corporativa com as irregularidades de que tinha conhecimento, foi apontado como o símbolo por excelência da instituição cuja conduta o premiê Gordon Brown comparou, no seu pedido de desculpas com a promessa de reformar o sistema, ao de um "clube de cavalheiros". Agora, a atmosfera no clube é de expiação - e de medo do que espera os seus sócios. Enquanto isso, no Congresso Nacional em Brasília...

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