A corrosão da poupança


Retrato de uma população endividada, cadernetas têm mais saques do que depósitos há 3 anos

Por Notas & Informações

Pelo terceiro ano consecutivo o volume de saques em cadernetas de poupança superou o de depósitos no País. O resultado líquido negativo, que havia duas décadas não se estendia por um ciclo tão longo, espelha o alto nível de endividamento das famílias brasileiras. Mais do que um investimento financeiro, a poupança se notabilizou como uma espécie de fundo de reserva, uma garantia de recursos para eventuais emergências. Ocorre que, nos últimos tempos, essas situações urgentes têm se traduzido no pagamento de despesas cotidianas.

Obviamente, a alta taxa de juros, que tornou menos rentável a aplicação, e o acesso facilitado a outros investimentos de renda fixa também pesaram nas retiradas. Mas o perfil dos poupadores, a situação persistente de superendividamento da população e o esforço para equilibrar o orçamento sugerem que o dinheiro que saiu das cadernetas não migrou majoritariamente para outros produtos financeiros, mas sim para o abatimento de dívidas.

O próprio Banco Central, no Relatório de Estabilidade Financeira, divulgado semestralmente, advertiu em novembro do ano passado que, além da perda de competitividade, o movimento de queda da poupança, iniciado em 2021, é motivado “pela saída de recursos para gastos correntes”. Uma conclusão bastante óbvia, levando em conta que a massa dos poupadores é formada por pessoas de renda mais baixa, geralmente com um objetivo definido, como a aquisição de um bem ou o suporte de emergência.

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Isenção tributária e resgate instantâneo atraem esse público extremamente conservador, que consegue guardar uma parte dos seus rendimentos, ainda que mínima. O comprometimento maior da renda e os juros que escalam dívidas, no entanto, estão levando ao enxugamento dessa reserva. No ano passado, o saque líquido foi de R$ 87,819 bilhões, o segundo pior resultado da série histórica iniciada em 1995. Só não superou o recorde negativo de 2022, que registrou saída de R$ 103,237 bilhões.

É uma situação que preocupa. A direção da Caixa, que lidera o financiamento ao crédito imobiliário, alertou que a sequência de resgates ameaça o ritmo de novas concessões. Sessenta e cinco por cento do saldo da poupança vai obrigatoriamente para esse tipo de financiamento.

É possível que a renegociação de dívidas do programa Desenrola contribua para estancar a sangria. O ciclo de afrouxamento monetário, iniciado em agosto do ano passado, também tende a arrefecer a retirada de recursos. Mas a queda na taxa Selic, atualmente em 11,75% ao ano, segue um processo gradualista. Pelas normas estabelecidas em 2021, somente com juros abaixo de 8,5% – o que não é esperado para este ano – a remuneração da caderneta alcançará um patamar mais atraente.

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Mexer novamente nas regras da caderneta de poupança seria insensatez. Mais razoável será apostar em soluções mais estruturais, mesmo que demoradas, como o reforço a medidas de redução do endividamento e o aumento da renda acompanhando a queda do desemprego. A partir daí se pode começar a pensar no estímulo à cultura da poupança.

Pelo terceiro ano consecutivo o volume de saques em cadernetas de poupança superou o de depósitos no País. O resultado líquido negativo, que havia duas décadas não se estendia por um ciclo tão longo, espelha o alto nível de endividamento das famílias brasileiras. Mais do que um investimento financeiro, a poupança se notabilizou como uma espécie de fundo de reserva, uma garantia de recursos para eventuais emergências. Ocorre que, nos últimos tempos, essas situações urgentes têm se traduzido no pagamento de despesas cotidianas.

Obviamente, a alta taxa de juros, que tornou menos rentável a aplicação, e o acesso facilitado a outros investimentos de renda fixa também pesaram nas retiradas. Mas o perfil dos poupadores, a situação persistente de superendividamento da população e o esforço para equilibrar o orçamento sugerem que o dinheiro que saiu das cadernetas não migrou majoritariamente para outros produtos financeiros, mas sim para o abatimento de dívidas.

O próprio Banco Central, no Relatório de Estabilidade Financeira, divulgado semestralmente, advertiu em novembro do ano passado que, além da perda de competitividade, o movimento de queda da poupança, iniciado em 2021, é motivado “pela saída de recursos para gastos correntes”. Uma conclusão bastante óbvia, levando em conta que a massa dos poupadores é formada por pessoas de renda mais baixa, geralmente com um objetivo definido, como a aquisição de um bem ou o suporte de emergência.

Isenção tributária e resgate instantâneo atraem esse público extremamente conservador, que consegue guardar uma parte dos seus rendimentos, ainda que mínima. O comprometimento maior da renda e os juros que escalam dívidas, no entanto, estão levando ao enxugamento dessa reserva. No ano passado, o saque líquido foi de R$ 87,819 bilhões, o segundo pior resultado da série histórica iniciada em 1995. Só não superou o recorde negativo de 2022, que registrou saída de R$ 103,237 bilhões.

É uma situação que preocupa. A direção da Caixa, que lidera o financiamento ao crédito imobiliário, alertou que a sequência de resgates ameaça o ritmo de novas concessões. Sessenta e cinco por cento do saldo da poupança vai obrigatoriamente para esse tipo de financiamento.

É possível que a renegociação de dívidas do programa Desenrola contribua para estancar a sangria. O ciclo de afrouxamento monetário, iniciado em agosto do ano passado, também tende a arrefecer a retirada de recursos. Mas a queda na taxa Selic, atualmente em 11,75% ao ano, segue um processo gradualista. Pelas normas estabelecidas em 2021, somente com juros abaixo de 8,5% – o que não é esperado para este ano – a remuneração da caderneta alcançará um patamar mais atraente.

Mexer novamente nas regras da caderneta de poupança seria insensatez. Mais razoável será apostar em soluções mais estruturais, mesmo que demoradas, como o reforço a medidas de redução do endividamento e o aumento da renda acompanhando a queda do desemprego. A partir daí se pode começar a pensar no estímulo à cultura da poupança.

Pelo terceiro ano consecutivo o volume de saques em cadernetas de poupança superou o de depósitos no País. O resultado líquido negativo, que havia duas décadas não se estendia por um ciclo tão longo, espelha o alto nível de endividamento das famílias brasileiras. Mais do que um investimento financeiro, a poupança se notabilizou como uma espécie de fundo de reserva, uma garantia de recursos para eventuais emergências. Ocorre que, nos últimos tempos, essas situações urgentes têm se traduzido no pagamento de despesas cotidianas.

Obviamente, a alta taxa de juros, que tornou menos rentável a aplicação, e o acesso facilitado a outros investimentos de renda fixa também pesaram nas retiradas. Mas o perfil dos poupadores, a situação persistente de superendividamento da população e o esforço para equilibrar o orçamento sugerem que o dinheiro que saiu das cadernetas não migrou majoritariamente para outros produtos financeiros, mas sim para o abatimento de dívidas.

O próprio Banco Central, no Relatório de Estabilidade Financeira, divulgado semestralmente, advertiu em novembro do ano passado que, além da perda de competitividade, o movimento de queda da poupança, iniciado em 2021, é motivado “pela saída de recursos para gastos correntes”. Uma conclusão bastante óbvia, levando em conta que a massa dos poupadores é formada por pessoas de renda mais baixa, geralmente com um objetivo definido, como a aquisição de um bem ou o suporte de emergência.

Isenção tributária e resgate instantâneo atraem esse público extremamente conservador, que consegue guardar uma parte dos seus rendimentos, ainda que mínima. O comprometimento maior da renda e os juros que escalam dívidas, no entanto, estão levando ao enxugamento dessa reserva. No ano passado, o saque líquido foi de R$ 87,819 bilhões, o segundo pior resultado da série histórica iniciada em 1995. Só não superou o recorde negativo de 2022, que registrou saída de R$ 103,237 bilhões.

É uma situação que preocupa. A direção da Caixa, que lidera o financiamento ao crédito imobiliário, alertou que a sequência de resgates ameaça o ritmo de novas concessões. Sessenta e cinco por cento do saldo da poupança vai obrigatoriamente para esse tipo de financiamento.

É possível que a renegociação de dívidas do programa Desenrola contribua para estancar a sangria. O ciclo de afrouxamento monetário, iniciado em agosto do ano passado, também tende a arrefecer a retirada de recursos. Mas a queda na taxa Selic, atualmente em 11,75% ao ano, segue um processo gradualista. Pelas normas estabelecidas em 2021, somente com juros abaixo de 8,5% – o que não é esperado para este ano – a remuneração da caderneta alcançará um patamar mais atraente.

Mexer novamente nas regras da caderneta de poupança seria insensatez. Mais razoável será apostar em soluções mais estruturais, mesmo que demoradas, como o reforço a medidas de redução do endividamento e o aumento da renda acompanhando a queda do desemprego. A partir daí se pode começar a pensar no estímulo à cultura da poupança.

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