Em artigo publicado no Estadão (Por que o mundo precisa de mais, e não menos, petróleo – 23/9/2023), o secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), Haitham Al Ghais, defende que fortes investimentos em energia renovável sejam acompanhados de outros, igualmente pesados, na exploração de petróleo. Segundo ele, o “subinvestimento crônico” na indústria petrolífera precisa ser corrigido rapidamente, sob pena de o mundo amargar um déficit de 16 milhões de barris/dia no setor no curto espaço de cinco anos.
Em que pese o fato de Al Ghais – que virá ao Brasil em outubro – ser a voz dos grandes produtores, há que considerar os argumentos que apresenta. O principal deles é a alta dependência mundial de petróleo, atestada por instituições e consultorias independentes, que se manteve na faixa de 80% nos últimos 30 anos. Pode-se imaginar os efeitos catastróficos que a adesão a um ritmo muito acelerado de queda na produção – ou mesmo a interrupção abrupta, como defendem radicais mais exaltados – causaria à economia mundial.
Por se tratar de empreitada complexa, a transição energética demanda planejamento e execução longos. São décadas de iniciativas, e não significa que, ao final, a geração fóssil seja extinta – mesmo porque, como enfatiza o secretário-geral da Opep, nenhuma modalidade de geração tem condições, sozinha, de responder ao crescimento da demanda mundial por energia. Renunciar a qualquer modelo de produção é contratar uma crise energética futura.
Nesse contexto, o Brasil encontra-se, como já dissemos neste espaço, em um momento limite para a tomada de decisão que definirá a posição que o País ocupará ao fim da transição energética que, segundo especialistas, virá somente após a década de 2050. Integrante da categoria dos países em desenvolvimento, tem a vantagem de abrigar volumosos reservatórios de petróleo em áreas marinhas ultraprofundas e detém a expertise necessária para explorá-las ao menor custo.
O mercado brasileiro é também uma grande promessa na produção sustentável de hidrogênio verde e avança rapidamente na geração eólica e solar. Tem as condições necessárias de planejar o desenvolvimento em praticamente todas as frentes energéticas. Elevar a dependência da importação de petróleo e derivados em razão de uma política equivocada de impedir a exploração das novas fronteiras de petróleo da Margem Equatorial vai custar muito caro.
Conter a crise climática é uma obrigação mundial. As vias para mitigar os efeitos do clima, porém, não se resumem à busca de novas alternativas de geração. É importante também encontrar formas de tornar menos poluente a geração fóssil. No Brasil, a Petrobras reportou recentemente a redução de 39% de gases causadores do efeito estufa nos últimos cinco anos. Somente na atividade de exploração e produção, as emissões foram reduzidas à metade ao longo de 13 anos, de 2009 a 2022.
De acordo com dados da Opep, a procura global por energia aumentará 23% até 2045. A era do petróleo ainda está longe do fim, com estimativas de recorde de demanda neste ano e no próximo. Exigências de descarbonização da atividade de exploração, produção e refino são mais plausíveis do que a pregação cega pela interrupção dos trabalhos exploratórios em novas jazidas.
A exploração segura e menos poluente da Margem Equatorial tem potencial de fazer a economia brasileira dar um salto de qualidade nos próximos anos. O incentivo à produção de hidrogênio verde em alta escala – o que só ocorrerá por meio de subsídios que reduzam custos – pode colocar o País em posição privilegiada na geração sustentável. A multiplicação de parques eólicos e solares, além da produção de etanol e biocombustível, completa o quadro de diversificação energética brasileira.
Desconsiderar qualquer uma dessas atividades será um tropeço lamentável num momento em que o jogo econômico mundial está em pleno deslocamento. O Brasil tem os instrumentos para atuar em todas as frentes.