A hidra do crime organizado


O poder público tem de aprimorar a repressão a operações como a vista em Arujá, na Grande SP

Por Notas & Informações

São alarmantes os sinais de que facções criminosas estão diversificando seus negócios e se infiltrando no poder público. Como mostrou reportagem do Estado sobre uma investigação da Polícia Civil de São Paulo, o Primeiro Comando da Capital (PCC) dominou o setor de saúde e coleta de lixo de Arujá, na Grande São Paulo, com métodos que se assemelham cada vez mais aos da máfia.

Segundo a Polícia, em 2016 o líder local do PCC ofereceu ao atual vice-prefeito, Márcio Oliveira, dinheiro para a campanha do hoje prefeito José Luiz Monteiro (MDB), em troca de controle dos serviços de saúde e coleta de lixo. As licitações da prefeitura passaram então a ser fraudadas e direcionadas a empresas ligadas a laranjas do PCC.

“Não é exagero algum dizer que a organização criminosa é dona da saúde de Arujá”, afirma o relatório da Polícia. Os hospitais foram cooptados para obter insumos necessários para batizar cocaína e os policiais encontraram ainda indícios de superfaturamento dos contratos da saúde e de lixo na cidade em cerca de 50%. “Nunca havia visto nada parecido”, afirmou o promotor Lincoln Gakiya, que investiga as atividades do PCC há mais de 15 anos. O grupo teria recebido R$ 77 milhões em contratos com a prefeitura.

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A operação em Arujá vem à tona num momento particularmente cruel de crise sanitária. As unidades administradas por indicados do PCC são marcadas por má gestão, falta de manutenção de equipamentos, desvio de recursos, atraso no pagamento de funcionários e fornecimento de comida estragada. Mas não se trata de um caso isolado.

Em Itanhaém, a cidade paulista atualmente mais exposta à violência segundo o índice do Instituto Sou da Paz, há indícios de que o crime organizado se mobilizou para apoiar candidatos à prefeitura e à Câmara dos vereadores mediante a promessa de arrefecimento da fiscalização do transporte clandestino. Ao mesmo tempo, o PCC está se internacionalizando. Em janeiro, a organização promoveu a maior fuga carcerária da história do Paraguai.

Todas estas operações estão ligadas à principal atividade do grupo: o narcotráfico. Gakiya estima que só no Brasil o PCC movimente mais de R$ 500 milhões por ano com a venda de drogas. Mas esse montante tem sido velozmente acrescido pelos lucros cada vez maiores vindos da Europa. Segundo reportagem da Reuters, em pouco menos de uma década o Brasil passou de uma origem insignificante da cocaína no mercado europeu para uma das principais.

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Com isso, duas demandas se tornaram urgentes para facções como o PCC: a disputa pelas rotas do tráfico e a lavagem de dinheiro. A primeira está na raiz de carnificinas como as que ocorreram nos presídios do Amazonas e Pará em 2019. A segunda explica operações como a que foi desbaratada em Arujá.

A pandemia agravou este quadro. As medidas de contenção inviabilizaram boa parte do narcotráfico internacional, levando os criminosos a buscar outras fontes de renda. O plantio de maconha no Nordeste e na Amazônia está se expandindo rapidamente. Recentemente, Ourinhos e Botucatu, no interior de São Paulo, foram vitimadas por uma bateria de assaltos a banco provavelmente orquestrados pelo PCC.

A pandemia trouxe ainda outro efeito colateral. Em muitas comunidades o narcotráfico e as milícias têm aproveitado a omissão do poder público para estender sua influência e domínio. Em locais como Rio de Janeiro, Distrito Federal ou Recife, há territórios há tempos dominados, nos quais a polícia não consegue atuar. Em São Paulo a situação ainda não se agravou a este ponto. Mas há indícios, por exemplo, de que o PCC está consolidando operações em loteamentos clandestinos nas zonas da Mata Atlântica paulistana e, em Itanhaém, tudo indica que uma das zonas da cidade foi dominada pela facção.

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Se o poder público não aprimorar a repressão a estas operações de domínio territorial, internacionalização e diversificação das organizações criminosas, não só estará expondo a sociedade civil à violência, mas, como mostra o caso de Arujá, se exporá ele mesmo à corrupção, arriscando-se a se tornar um braço da criminalidade. 

São alarmantes os sinais de que facções criminosas estão diversificando seus negócios e se infiltrando no poder público. Como mostrou reportagem do Estado sobre uma investigação da Polícia Civil de São Paulo, o Primeiro Comando da Capital (PCC) dominou o setor de saúde e coleta de lixo de Arujá, na Grande São Paulo, com métodos que se assemelham cada vez mais aos da máfia.

Segundo a Polícia, em 2016 o líder local do PCC ofereceu ao atual vice-prefeito, Márcio Oliveira, dinheiro para a campanha do hoje prefeito José Luiz Monteiro (MDB), em troca de controle dos serviços de saúde e coleta de lixo. As licitações da prefeitura passaram então a ser fraudadas e direcionadas a empresas ligadas a laranjas do PCC.

“Não é exagero algum dizer que a organização criminosa é dona da saúde de Arujá”, afirma o relatório da Polícia. Os hospitais foram cooptados para obter insumos necessários para batizar cocaína e os policiais encontraram ainda indícios de superfaturamento dos contratos da saúde e de lixo na cidade em cerca de 50%. “Nunca havia visto nada parecido”, afirmou o promotor Lincoln Gakiya, que investiga as atividades do PCC há mais de 15 anos. O grupo teria recebido R$ 77 milhões em contratos com a prefeitura.

A operação em Arujá vem à tona num momento particularmente cruel de crise sanitária. As unidades administradas por indicados do PCC são marcadas por má gestão, falta de manutenção de equipamentos, desvio de recursos, atraso no pagamento de funcionários e fornecimento de comida estragada. Mas não se trata de um caso isolado.

Em Itanhaém, a cidade paulista atualmente mais exposta à violência segundo o índice do Instituto Sou da Paz, há indícios de que o crime organizado se mobilizou para apoiar candidatos à prefeitura e à Câmara dos vereadores mediante a promessa de arrefecimento da fiscalização do transporte clandestino. Ao mesmo tempo, o PCC está se internacionalizando. Em janeiro, a organização promoveu a maior fuga carcerária da história do Paraguai.

Todas estas operações estão ligadas à principal atividade do grupo: o narcotráfico. Gakiya estima que só no Brasil o PCC movimente mais de R$ 500 milhões por ano com a venda de drogas. Mas esse montante tem sido velozmente acrescido pelos lucros cada vez maiores vindos da Europa. Segundo reportagem da Reuters, em pouco menos de uma década o Brasil passou de uma origem insignificante da cocaína no mercado europeu para uma das principais.

Com isso, duas demandas se tornaram urgentes para facções como o PCC: a disputa pelas rotas do tráfico e a lavagem de dinheiro. A primeira está na raiz de carnificinas como as que ocorreram nos presídios do Amazonas e Pará em 2019. A segunda explica operações como a que foi desbaratada em Arujá.

A pandemia agravou este quadro. As medidas de contenção inviabilizaram boa parte do narcotráfico internacional, levando os criminosos a buscar outras fontes de renda. O plantio de maconha no Nordeste e na Amazônia está se expandindo rapidamente. Recentemente, Ourinhos e Botucatu, no interior de São Paulo, foram vitimadas por uma bateria de assaltos a banco provavelmente orquestrados pelo PCC.

A pandemia trouxe ainda outro efeito colateral. Em muitas comunidades o narcotráfico e as milícias têm aproveitado a omissão do poder público para estender sua influência e domínio. Em locais como Rio de Janeiro, Distrito Federal ou Recife, há territórios há tempos dominados, nos quais a polícia não consegue atuar. Em São Paulo a situação ainda não se agravou a este ponto. Mas há indícios, por exemplo, de que o PCC está consolidando operações em loteamentos clandestinos nas zonas da Mata Atlântica paulistana e, em Itanhaém, tudo indica que uma das zonas da cidade foi dominada pela facção.

Se o poder público não aprimorar a repressão a estas operações de domínio territorial, internacionalização e diversificação das organizações criminosas, não só estará expondo a sociedade civil à violência, mas, como mostra o caso de Arujá, se exporá ele mesmo à corrupção, arriscando-se a se tornar um braço da criminalidade. 

São alarmantes os sinais de que facções criminosas estão diversificando seus negócios e se infiltrando no poder público. Como mostrou reportagem do Estado sobre uma investigação da Polícia Civil de São Paulo, o Primeiro Comando da Capital (PCC) dominou o setor de saúde e coleta de lixo de Arujá, na Grande São Paulo, com métodos que se assemelham cada vez mais aos da máfia.

Segundo a Polícia, em 2016 o líder local do PCC ofereceu ao atual vice-prefeito, Márcio Oliveira, dinheiro para a campanha do hoje prefeito José Luiz Monteiro (MDB), em troca de controle dos serviços de saúde e coleta de lixo. As licitações da prefeitura passaram então a ser fraudadas e direcionadas a empresas ligadas a laranjas do PCC.

“Não é exagero algum dizer que a organização criminosa é dona da saúde de Arujá”, afirma o relatório da Polícia. Os hospitais foram cooptados para obter insumos necessários para batizar cocaína e os policiais encontraram ainda indícios de superfaturamento dos contratos da saúde e de lixo na cidade em cerca de 50%. “Nunca havia visto nada parecido”, afirmou o promotor Lincoln Gakiya, que investiga as atividades do PCC há mais de 15 anos. O grupo teria recebido R$ 77 milhões em contratos com a prefeitura.

A operação em Arujá vem à tona num momento particularmente cruel de crise sanitária. As unidades administradas por indicados do PCC são marcadas por má gestão, falta de manutenção de equipamentos, desvio de recursos, atraso no pagamento de funcionários e fornecimento de comida estragada. Mas não se trata de um caso isolado.

Em Itanhaém, a cidade paulista atualmente mais exposta à violência segundo o índice do Instituto Sou da Paz, há indícios de que o crime organizado se mobilizou para apoiar candidatos à prefeitura e à Câmara dos vereadores mediante a promessa de arrefecimento da fiscalização do transporte clandestino. Ao mesmo tempo, o PCC está se internacionalizando. Em janeiro, a organização promoveu a maior fuga carcerária da história do Paraguai.

Todas estas operações estão ligadas à principal atividade do grupo: o narcotráfico. Gakiya estima que só no Brasil o PCC movimente mais de R$ 500 milhões por ano com a venda de drogas. Mas esse montante tem sido velozmente acrescido pelos lucros cada vez maiores vindos da Europa. Segundo reportagem da Reuters, em pouco menos de uma década o Brasil passou de uma origem insignificante da cocaína no mercado europeu para uma das principais.

Com isso, duas demandas se tornaram urgentes para facções como o PCC: a disputa pelas rotas do tráfico e a lavagem de dinheiro. A primeira está na raiz de carnificinas como as que ocorreram nos presídios do Amazonas e Pará em 2019. A segunda explica operações como a que foi desbaratada em Arujá.

A pandemia agravou este quadro. As medidas de contenção inviabilizaram boa parte do narcotráfico internacional, levando os criminosos a buscar outras fontes de renda. O plantio de maconha no Nordeste e na Amazônia está se expandindo rapidamente. Recentemente, Ourinhos e Botucatu, no interior de São Paulo, foram vitimadas por uma bateria de assaltos a banco provavelmente orquestrados pelo PCC.

A pandemia trouxe ainda outro efeito colateral. Em muitas comunidades o narcotráfico e as milícias têm aproveitado a omissão do poder público para estender sua influência e domínio. Em locais como Rio de Janeiro, Distrito Federal ou Recife, há territórios há tempos dominados, nos quais a polícia não consegue atuar. Em São Paulo a situação ainda não se agravou a este ponto. Mas há indícios, por exemplo, de que o PCC está consolidando operações em loteamentos clandestinos nas zonas da Mata Atlântica paulistana e, em Itanhaém, tudo indica que uma das zonas da cidade foi dominada pela facção.

Se o poder público não aprimorar a repressão a estas operações de domínio territorial, internacionalização e diversificação das organizações criminosas, não só estará expondo a sociedade civil à violência, mas, como mostra o caso de Arujá, se exporá ele mesmo à corrupção, arriscando-se a se tornar um braço da criminalidade. 

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