A hora da verdade para o Brasil na Venezuela


Os pretextos de Lula para sustentar sua ambiguidade estão se evaporando. Não interessa ao Brasil romper com a Venezuela, mas nem por isso precisa reconhecer um governo ilegítimo

Por Notas & Informações

O governo brasileiro ingressa na terceira semana de crise na Venezuela mantendo seu posicionamento ambivalente. No palco internacional, adota uma posição de cautela. Em contraste com vários governos latino-americanos, o Brasil não reconheceu a vitória do candidato de oposição Edmundo González Urrutia e tampouco denunciou (como o governo de esquerda do Chile) a fraude nas eleições. Junto aos governos esquerdistas de México e Colômbia, o Brasil cobra a apresentação das atas eleitorais antes de se manifestar. Por outro lado, essa atitude tem servido de pretexto para sustentar a indisfarçável simpatia do presidente Lula pelo regime bolivariano. Se não bastassem os contorcionismos de Lula para equiparar as alegações do governo e da oposição sobre um processo eleitoral que ele declarou “normal”, a nota entusiástica do PT – que, como se sabe, não pronuncia uma vírgula sem o aval do chefe – celebrando a “vitória” de Nicolás Maduro menos de 24 horas após o pleito escancara essa simpatia.

Se o pragmatismo é um álibi tão eficaz para a cumplicidade, é porque ele tem uma razão de ser. De fato, o Brasil tem interesses a preservar em relação a Caracas e há o risco de um “banho de sangue” prometido por Maduro. Romper relações, como fez agora o presidente argentino, Javier Milei, e no passado o então presidente Jair Bolsonaro, já se provou contraproducente tanto para esses interesses quanto para a pacificação na Venezuela.

O próprio governo dos EUA não declarou González o presidente eleito e tem promovido negociações sigilosas oferecendo anistia a Maduro e seus correligionários em troca de uma transição do poder. A opção pela diplomacia ao invés da punição é pertinente. A “pressão máxima” através de sanções econômicas se mostrou ineficaz, e o governo de Maduro tem vulnerabilidades que podem ser exploradas para uma solução de compromisso.

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Todo regime autocrático depende de dois pilares para se sustentar: alimentar o povo e arregimentar as Forças Armadas. O primeiro pilar desmoronou na Venezuela. No passado, Maduro contou com o tempo e a repressão para esvaziar os protestos civis. Mas hoje a oposição está mais organizada. O governo depende totalmente do apoio dos militares. Na superfície, esse apoio é sólido. Mas há fissuras evidentes.

A lealdade dos militares tem um custo. Sob uma economia em deterioração, é cada vez mais difícil a Maduro financiar a sua rede de corrupção clientelista. As receitas do narcotráfico não bastam. O apoio geopolítico de China e Rússia é inequívoco; já o econômico, nem tanto. A Rússia quer manter os preços do petróleo altos e não tem interesse em colaborar com a Venezuela para impulsionar a oferta global. A China não porá mais dinheiro num país que já lhe deve bilhões. Além do empobrecimento das famílias dos militares, a humilhação ante os oficiais cubanos a serviço de Maduro e as prisões de soldados contribuem para aumentar o ressentimento nos quartéis. A combinação norte-americana de promessas de anistia a dissidentes e ameaças de sanções aos apoiadores do regime é projetada para ampliar essas fissuras.

O Brasil pode pouco neste jogo de forças, mas pode algo, e a hora de pôr em prática – ou não – aquilo que pode se aproxima. Uma vez que as tais atas eleitorais, para a surpresa de ninguém, não serão disponibilizadas (ou, se forem, dificilmente serão críveis), os pretextos de Lula se dissolverão. O Brasil não precisa romper com a Venezuela, mas nem por isso precisa reconhecer a vitória de Maduro.

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O povo da Venezuela exprimiu sua vontade nas urnas e a maioria insatisfeita tem dado mostras de coragem e resiliência nas ruas. Está agendada para esta semana uma conversa entre Lula e os presidentes de Colômbia e México com Maduro. Um presidente brasileiro comprometido com os valores democráticos e os direitos dos venezuelanos deveria deixar claro que o Brasil apoiará a suspensão da Venezuela nos foros dos quais faz parte e, eventualmente, sanções dirigidas aos perpetradores da tirania. A questão é se Lula é presidente o suficiente para isso. A retórica do pragmatismo tem-lhe permitido se esquivar da resposta. Mas a hora da verdade está chegando.

O governo brasileiro ingressa na terceira semana de crise na Venezuela mantendo seu posicionamento ambivalente. No palco internacional, adota uma posição de cautela. Em contraste com vários governos latino-americanos, o Brasil não reconheceu a vitória do candidato de oposição Edmundo González Urrutia e tampouco denunciou (como o governo de esquerda do Chile) a fraude nas eleições. Junto aos governos esquerdistas de México e Colômbia, o Brasil cobra a apresentação das atas eleitorais antes de se manifestar. Por outro lado, essa atitude tem servido de pretexto para sustentar a indisfarçável simpatia do presidente Lula pelo regime bolivariano. Se não bastassem os contorcionismos de Lula para equiparar as alegações do governo e da oposição sobre um processo eleitoral que ele declarou “normal”, a nota entusiástica do PT – que, como se sabe, não pronuncia uma vírgula sem o aval do chefe – celebrando a “vitória” de Nicolás Maduro menos de 24 horas após o pleito escancara essa simpatia.

Se o pragmatismo é um álibi tão eficaz para a cumplicidade, é porque ele tem uma razão de ser. De fato, o Brasil tem interesses a preservar em relação a Caracas e há o risco de um “banho de sangue” prometido por Maduro. Romper relações, como fez agora o presidente argentino, Javier Milei, e no passado o então presidente Jair Bolsonaro, já se provou contraproducente tanto para esses interesses quanto para a pacificação na Venezuela.

O próprio governo dos EUA não declarou González o presidente eleito e tem promovido negociações sigilosas oferecendo anistia a Maduro e seus correligionários em troca de uma transição do poder. A opção pela diplomacia ao invés da punição é pertinente. A “pressão máxima” através de sanções econômicas se mostrou ineficaz, e o governo de Maduro tem vulnerabilidades que podem ser exploradas para uma solução de compromisso.

Todo regime autocrático depende de dois pilares para se sustentar: alimentar o povo e arregimentar as Forças Armadas. O primeiro pilar desmoronou na Venezuela. No passado, Maduro contou com o tempo e a repressão para esvaziar os protestos civis. Mas hoje a oposição está mais organizada. O governo depende totalmente do apoio dos militares. Na superfície, esse apoio é sólido. Mas há fissuras evidentes.

A lealdade dos militares tem um custo. Sob uma economia em deterioração, é cada vez mais difícil a Maduro financiar a sua rede de corrupção clientelista. As receitas do narcotráfico não bastam. O apoio geopolítico de China e Rússia é inequívoco; já o econômico, nem tanto. A Rússia quer manter os preços do petróleo altos e não tem interesse em colaborar com a Venezuela para impulsionar a oferta global. A China não porá mais dinheiro num país que já lhe deve bilhões. Além do empobrecimento das famílias dos militares, a humilhação ante os oficiais cubanos a serviço de Maduro e as prisões de soldados contribuem para aumentar o ressentimento nos quartéis. A combinação norte-americana de promessas de anistia a dissidentes e ameaças de sanções aos apoiadores do regime é projetada para ampliar essas fissuras.

O Brasil pode pouco neste jogo de forças, mas pode algo, e a hora de pôr em prática – ou não – aquilo que pode se aproxima. Uma vez que as tais atas eleitorais, para a surpresa de ninguém, não serão disponibilizadas (ou, se forem, dificilmente serão críveis), os pretextos de Lula se dissolverão. O Brasil não precisa romper com a Venezuela, mas nem por isso precisa reconhecer a vitória de Maduro.

O povo da Venezuela exprimiu sua vontade nas urnas e a maioria insatisfeita tem dado mostras de coragem e resiliência nas ruas. Está agendada para esta semana uma conversa entre Lula e os presidentes de Colômbia e México com Maduro. Um presidente brasileiro comprometido com os valores democráticos e os direitos dos venezuelanos deveria deixar claro que o Brasil apoiará a suspensão da Venezuela nos foros dos quais faz parte e, eventualmente, sanções dirigidas aos perpetradores da tirania. A questão é se Lula é presidente o suficiente para isso. A retórica do pragmatismo tem-lhe permitido se esquivar da resposta. Mas a hora da verdade está chegando.

O governo brasileiro ingressa na terceira semana de crise na Venezuela mantendo seu posicionamento ambivalente. No palco internacional, adota uma posição de cautela. Em contraste com vários governos latino-americanos, o Brasil não reconheceu a vitória do candidato de oposição Edmundo González Urrutia e tampouco denunciou (como o governo de esquerda do Chile) a fraude nas eleições. Junto aos governos esquerdistas de México e Colômbia, o Brasil cobra a apresentação das atas eleitorais antes de se manifestar. Por outro lado, essa atitude tem servido de pretexto para sustentar a indisfarçável simpatia do presidente Lula pelo regime bolivariano. Se não bastassem os contorcionismos de Lula para equiparar as alegações do governo e da oposição sobre um processo eleitoral que ele declarou “normal”, a nota entusiástica do PT – que, como se sabe, não pronuncia uma vírgula sem o aval do chefe – celebrando a “vitória” de Nicolás Maduro menos de 24 horas após o pleito escancara essa simpatia.

Se o pragmatismo é um álibi tão eficaz para a cumplicidade, é porque ele tem uma razão de ser. De fato, o Brasil tem interesses a preservar em relação a Caracas e há o risco de um “banho de sangue” prometido por Maduro. Romper relações, como fez agora o presidente argentino, Javier Milei, e no passado o então presidente Jair Bolsonaro, já se provou contraproducente tanto para esses interesses quanto para a pacificação na Venezuela.

O próprio governo dos EUA não declarou González o presidente eleito e tem promovido negociações sigilosas oferecendo anistia a Maduro e seus correligionários em troca de uma transição do poder. A opção pela diplomacia ao invés da punição é pertinente. A “pressão máxima” através de sanções econômicas se mostrou ineficaz, e o governo de Maduro tem vulnerabilidades que podem ser exploradas para uma solução de compromisso.

Todo regime autocrático depende de dois pilares para se sustentar: alimentar o povo e arregimentar as Forças Armadas. O primeiro pilar desmoronou na Venezuela. No passado, Maduro contou com o tempo e a repressão para esvaziar os protestos civis. Mas hoje a oposição está mais organizada. O governo depende totalmente do apoio dos militares. Na superfície, esse apoio é sólido. Mas há fissuras evidentes.

A lealdade dos militares tem um custo. Sob uma economia em deterioração, é cada vez mais difícil a Maduro financiar a sua rede de corrupção clientelista. As receitas do narcotráfico não bastam. O apoio geopolítico de China e Rússia é inequívoco; já o econômico, nem tanto. A Rússia quer manter os preços do petróleo altos e não tem interesse em colaborar com a Venezuela para impulsionar a oferta global. A China não porá mais dinheiro num país que já lhe deve bilhões. Além do empobrecimento das famílias dos militares, a humilhação ante os oficiais cubanos a serviço de Maduro e as prisões de soldados contribuem para aumentar o ressentimento nos quartéis. A combinação norte-americana de promessas de anistia a dissidentes e ameaças de sanções aos apoiadores do regime é projetada para ampliar essas fissuras.

O Brasil pode pouco neste jogo de forças, mas pode algo, e a hora de pôr em prática – ou não – aquilo que pode se aproxima. Uma vez que as tais atas eleitorais, para a surpresa de ninguém, não serão disponibilizadas (ou, se forem, dificilmente serão críveis), os pretextos de Lula se dissolverão. O Brasil não precisa romper com a Venezuela, mas nem por isso precisa reconhecer a vitória de Maduro.

O povo da Venezuela exprimiu sua vontade nas urnas e a maioria insatisfeita tem dado mostras de coragem e resiliência nas ruas. Está agendada para esta semana uma conversa entre Lula e os presidentes de Colômbia e México com Maduro. Um presidente brasileiro comprometido com os valores democráticos e os direitos dos venezuelanos deveria deixar claro que o Brasil apoiará a suspensão da Venezuela nos foros dos quais faz parte e, eventualmente, sanções dirigidas aos perpetradores da tirania. A questão é se Lula é presidente o suficiente para isso. A retórica do pragmatismo tem-lhe permitido se esquivar da resposta. Mas a hora da verdade está chegando.

O governo brasileiro ingressa na terceira semana de crise na Venezuela mantendo seu posicionamento ambivalente. No palco internacional, adota uma posição de cautela. Em contraste com vários governos latino-americanos, o Brasil não reconheceu a vitória do candidato de oposição Edmundo González Urrutia e tampouco denunciou (como o governo de esquerda do Chile) a fraude nas eleições. Junto aos governos esquerdistas de México e Colômbia, o Brasil cobra a apresentação das atas eleitorais antes de se manifestar. Por outro lado, essa atitude tem servido de pretexto para sustentar a indisfarçável simpatia do presidente Lula pelo regime bolivariano. Se não bastassem os contorcionismos de Lula para equiparar as alegações do governo e da oposição sobre um processo eleitoral que ele declarou “normal”, a nota entusiástica do PT – que, como se sabe, não pronuncia uma vírgula sem o aval do chefe – celebrando a “vitória” de Nicolás Maduro menos de 24 horas após o pleito escancara essa simpatia.

Se o pragmatismo é um álibi tão eficaz para a cumplicidade, é porque ele tem uma razão de ser. De fato, o Brasil tem interesses a preservar em relação a Caracas e há o risco de um “banho de sangue” prometido por Maduro. Romper relações, como fez agora o presidente argentino, Javier Milei, e no passado o então presidente Jair Bolsonaro, já se provou contraproducente tanto para esses interesses quanto para a pacificação na Venezuela.

O próprio governo dos EUA não declarou González o presidente eleito e tem promovido negociações sigilosas oferecendo anistia a Maduro e seus correligionários em troca de uma transição do poder. A opção pela diplomacia ao invés da punição é pertinente. A “pressão máxima” através de sanções econômicas se mostrou ineficaz, e o governo de Maduro tem vulnerabilidades que podem ser exploradas para uma solução de compromisso.

Todo regime autocrático depende de dois pilares para se sustentar: alimentar o povo e arregimentar as Forças Armadas. O primeiro pilar desmoronou na Venezuela. No passado, Maduro contou com o tempo e a repressão para esvaziar os protestos civis. Mas hoje a oposição está mais organizada. O governo depende totalmente do apoio dos militares. Na superfície, esse apoio é sólido. Mas há fissuras evidentes.

A lealdade dos militares tem um custo. Sob uma economia em deterioração, é cada vez mais difícil a Maduro financiar a sua rede de corrupção clientelista. As receitas do narcotráfico não bastam. O apoio geopolítico de China e Rússia é inequívoco; já o econômico, nem tanto. A Rússia quer manter os preços do petróleo altos e não tem interesse em colaborar com a Venezuela para impulsionar a oferta global. A China não porá mais dinheiro num país que já lhe deve bilhões. Além do empobrecimento das famílias dos militares, a humilhação ante os oficiais cubanos a serviço de Maduro e as prisões de soldados contribuem para aumentar o ressentimento nos quartéis. A combinação norte-americana de promessas de anistia a dissidentes e ameaças de sanções aos apoiadores do regime é projetada para ampliar essas fissuras.

O Brasil pode pouco neste jogo de forças, mas pode algo, e a hora de pôr em prática – ou não – aquilo que pode se aproxima. Uma vez que as tais atas eleitorais, para a surpresa de ninguém, não serão disponibilizadas (ou, se forem, dificilmente serão críveis), os pretextos de Lula se dissolverão. O Brasil não precisa romper com a Venezuela, mas nem por isso precisa reconhecer a vitória de Maduro.

O povo da Venezuela exprimiu sua vontade nas urnas e a maioria insatisfeita tem dado mostras de coragem e resiliência nas ruas. Está agendada para esta semana uma conversa entre Lula e os presidentes de Colômbia e México com Maduro. Um presidente brasileiro comprometido com os valores democráticos e os direitos dos venezuelanos deveria deixar claro que o Brasil apoiará a suspensão da Venezuela nos foros dos quais faz parte e, eventualmente, sanções dirigidas aos perpetradores da tirania. A questão é se Lula é presidente o suficiente para isso. A retórica do pragmatismo tem-lhe permitido se esquivar da resposta. Mas a hora da verdade está chegando.

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