O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, disse estar “convicto” de que o caso do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, ocorrido em 2018, será concluído até o fim de março. Não há dúvida de que esse é um desfecho aguardado ansiosamente pelo País, ainda chocado não só com o crime em si, mas com a demora para responsabilizar todos os envolvidos. Mas a indiscrição do chefe da PF, inapropriada para um inquérito que corre em segredo de Justiça, chama a atenção para a instrumentalização do caso Marielle – e, por extensão, da própria PF – pelo governo de Lula da Silva para fins políticos.
Recorde-se que o País ficou escandalizado, com razão, quando o antecessor de Lula, Jair Bolsonaro, interferiu diretamente na Polícia Federal justamente no momento em que esta investigava um dos filhos do presidente. Portanto, é o caso de reiterar que a Polícia Federal não é órgão a serviço do governo, mas do Estado brasileiro.
O governo de Lula da Silva está fazendo de tudo para caracterizar a entrada da Polícia Federal no caso Marielle como decisiva para que se encontrassem finalmente os mandantes do crime. Inventaram-se pretextos para que a PF pudesse participar das investigações, uma vez que o crime nada tem de federal, e agora o governo se jacta de estar bem perto de solucionar o caso.
Esse roteiro parece servir a diversos propósitos, mormente o de levantar a suspeita de que a polícia do Rio de Janeiro, comandada por um governo bolsonarista, teria feito corpo mole para chegar aos mandantes do crime. Desde sempre se insinua, nos discursos petistas, que o crime envolveria milicianos de alguma forma relacionados à grei de Bolsonaro.
“É importante dizer que estamos há um ano à frente de uma investigação de um crime que aconteceu há cinco anos, com a convicção de que ainda neste primeiro trimestre a Polícia Federal dará uma resposta final do caso Marielle”, disse o diretor da PF à Rádio CBN, mal disfarçando o objetivo político de sua fala. Em outras palavras, Andrei Rodrigues quis dizer que o caso só está para ser solucionado porque a PF nele interferiu e que o fez rapidamente, em evidente contraste com a lentidão da polícia do Rio.
Pode até ser verdade, e no limite é evidente que a única coisa que realmente importa para o País é que se conheçam todos os envolvidos no assassinato da vereadora Marielle Franco o mais rápido possível, mas é desconfortável observar de que maneira a Polícia Federal e o Ministério da Justiça vêm se prestando a alimentar o discurso político antibolsonarista do presidente Lula da Silva.
Logo no dia de sua posse como ministro da Justiça, em 2 de janeiro de 2023, Flávio Dino anunciou, para efusivos aplausos da plateia, que uma de suas prioridades era colocar a Polícia Federal no caso Marielle, “para que esse crime seja desvendado definitivamente”. Dino declarou que se tratava de uma “questão de honra”. Até aquele momento, a família de Marielle era contra a federalização das investigações, por compreensível desconfiança da PF sob Bolsonaro, mas passou a ser favorável depois que o PT chegou ao governo, acreditando, não sem razão, que a PF sob Lula – ocupada pelo ex-chefe da segurança do petista na campanha eleitoral – seria mais confiável para seus propósitos. De um jeito ou de outro, tem-se o retrato de uma PF sem verdadeira autonomia, vista como submetida a interesses partidários, e não republicanos – e isso é evidentemente péssimo para o País.
Infelizmente, seria ingênuo esperar que o novo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, por suas sólidas relações com o lulopetismo, atue de modo muito diferente do que seu antecessor. No entanto, roga-se ao menos que Lewandowski faça do seu perfil mais discreto um padrão na sua pasta e que isso se traduza numa chefia da Polícia Federal menos verbosa e menos militante. Já terá sido um avanço.