A morte de um papa que acreditou na razão


Bento XVI rejeitou, como poucos, as causas progressistas. Mas suas convicções não o impediram de dialogar. Suas reflexões trazem luzes importantes sobre o mundo atual

Por Notas & Informações

Mesmo antes de ser papa, Bento XVI foi sempre uma figura controvertida. No início de sua vida, era considerado um professor progressista, em razão de suas abordagens teológicas, muito diferentes das do pensamento católico tradicional. Foi um defensor da renovação trazida pelo Concílio Vaticano II (1962-1965). Depois, especialmente após assumir em 1981, no pontificado de João Paulo II, a chefia da Congregação para a Doutrina da Fé – órgão do Vaticano responsável por defender a integridade da doutrina católica, cujo fruto mais conhecido foi a Inquisição –, ele ganhou outra reputação. O então cardeal Joseph Ratzinger passou a ser visto como o grande perseguidor das “heresias” do mundo moderno, muito em razão de seu enfrentamento com a chamada “teologia da libertação”, que propunha uma releitura do Evangelho a partir de categorias marxistas.

Eleito papa em 2005, Joseph Ratzinger viu sua fama de conservador consolidar-se ainda mais intensamente. Ao longo dos anos, rejeitou todas as tentativas de mudança na doutrina moral da Igreja Católica. Entre outros temas, defendeu o direito à vida desde a concepção, a indissolubilidade do matrimônio, o celibato dos padres e o sexo exclusivamente dentro do casamento. Bento XVI opôs-se a todas as causas consideradas progressistas, inclusive a união civil entre pessoas do mesmo sexo.

Aos olhos contemporâneos, sua compreensão de ser humano e de sociedade parecia ancorada em outra época, em outra lógica, em outro mundo. Ao mesmo tempo, Joseph Ratzinger nunca se negou a dialogar com quem divergia de suas ideias. Com uma concepção abrangente de racionalidade, defendia a capacidade humana de conhecer, ainda que limitadamente, a realidade. Exemplos especialmente significativos desse empenho pelo diálogo são as obras Dialética da secularização: sobre razão e religião, elaborada em conjunto com Jürgen Habermas, na qual conversam sobre as bases morais pré-políticas do Estado Democrático, e Europa: os seus fundamentos hoje e amanhã, em que Joseph Ratzinger defende as raízes espirituais não apenas do continente europeu, mas do mundo ocidental tal como o conhecemos.

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Em 2013, Bento XVI surpreendeu o mundo ao renunciar ao papado. Foi um gesto insólito, especialmente para quem era considerado o grande guardião da tradição. A última vez que isso havia acontecido na Igreja Católica tinha sido em 1415, com Gregório XII, que abdicou do cargo durante o Concílio de Constança (Alemanha). No entanto, por mais surpreendente que tenha sido, o ato de renúncia de Ratzinger estava em consonância com seu modo de encarar a fé e a razão, como realidades complementares e não opostas: acreditar na proteção divina sobre a Igreja não o eximia de pensar objetivamente sobre suas capacidades humanas.

Desde a renúncia, Bento XVI recolheu-se num mosteiro, aparecendo em público poucas vezes. Em fevereiro de 2022, voltou ao noticiário. Após um relatório independente acusá-lo de inação perante os abusos sexuais cometidos por religiosos enquanto era arcebispo de Munique, o papa emérito fez um pedido de desculpas. “Só posso expressar a todas as vítimas de abuso sexual minha profunda vergonha, minha grande dor e meu sincero pedido de perdão”, disse, reafirmando, no entanto, que nunca encobriu esses ataques no exercício de seus diferentes cargos na Igreja Católica.

A carta de desculpas menciona a proximidade com a morte, numa sinceridade um tanto desconcertante. “Em breve, estarei diante do juiz final da minha vida. Embora possa ter muitos motivos de temor e medo quando olho para trás em minha longa vida, ainda assim me sinto feliz”, disse há menos de um ano.

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Em tempos de agressividade no debate público e de racionalidade frágil – como se a liberdade de opinião autorizasse a rejeitar as evidências empíricas, em um negacionismo que tudo relativiza –, as reflexões serenas de Bento XVI, sempre respeitando o interlocutor, podem ser muito oportunas. Não é preciso concordar com suas ideias para reconhecer: foi um intelectual inquieto, em constante diálogo sobre a verdade.

Mesmo antes de ser papa, Bento XVI foi sempre uma figura controvertida. No início de sua vida, era considerado um professor progressista, em razão de suas abordagens teológicas, muito diferentes das do pensamento católico tradicional. Foi um defensor da renovação trazida pelo Concílio Vaticano II (1962-1965). Depois, especialmente após assumir em 1981, no pontificado de João Paulo II, a chefia da Congregação para a Doutrina da Fé – órgão do Vaticano responsável por defender a integridade da doutrina católica, cujo fruto mais conhecido foi a Inquisição –, ele ganhou outra reputação. O então cardeal Joseph Ratzinger passou a ser visto como o grande perseguidor das “heresias” do mundo moderno, muito em razão de seu enfrentamento com a chamada “teologia da libertação”, que propunha uma releitura do Evangelho a partir de categorias marxistas.

Eleito papa em 2005, Joseph Ratzinger viu sua fama de conservador consolidar-se ainda mais intensamente. Ao longo dos anos, rejeitou todas as tentativas de mudança na doutrina moral da Igreja Católica. Entre outros temas, defendeu o direito à vida desde a concepção, a indissolubilidade do matrimônio, o celibato dos padres e o sexo exclusivamente dentro do casamento. Bento XVI opôs-se a todas as causas consideradas progressistas, inclusive a união civil entre pessoas do mesmo sexo.

Aos olhos contemporâneos, sua compreensão de ser humano e de sociedade parecia ancorada em outra época, em outra lógica, em outro mundo. Ao mesmo tempo, Joseph Ratzinger nunca se negou a dialogar com quem divergia de suas ideias. Com uma concepção abrangente de racionalidade, defendia a capacidade humana de conhecer, ainda que limitadamente, a realidade. Exemplos especialmente significativos desse empenho pelo diálogo são as obras Dialética da secularização: sobre razão e religião, elaborada em conjunto com Jürgen Habermas, na qual conversam sobre as bases morais pré-políticas do Estado Democrático, e Europa: os seus fundamentos hoje e amanhã, em que Joseph Ratzinger defende as raízes espirituais não apenas do continente europeu, mas do mundo ocidental tal como o conhecemos.

Em 2013, Bento XVI surpreendeu o mundo ao renunciar ao papado. Foi um gesto insólito, especialmente para quem era considerado o grande guardião da tradição. A última vez que isso havia acontecido na Igreja Católica tinha sido em 1415, com Gregório XII, que abdicou do cargo durante o Concílio de Constança (Alemanha). No entanto, por mais surpreendente que tenha sido, o ato de renúncia de Ratzinger estava em consonância com seu modo de encarar a fé e a razão, como realidades complementares e não opostas: acreditar na proteção divina sobre a Igreja não o eximia de pensar objetivamente sobre suas capacidades humanas.

Desde a renúncia, Bento XVI recolheu-se num mosteiro, aparecendo em público poucas vezes. Em fevereiro de 2022, voltou ao noticiário. Após um relatório independente acusá-lo de inação perante os abusos sexuais cometidos por religiosos enquanto era arcebispo de Munique, o papa emérito fez um pedido de desculpas. “Só posso expressar a todas as vítimas de abuso sexual minha profunda vergonha, minha grande dor e meu sincero pedido de perdão”, disse, reafirmando, no entanto, que nunca encobriu esses ataques no exercício de seus diferentes cargos na Igreja Católica.

A carta de desculpas menciona a proximidade com a morte, numa sinceridade um tanto desconcertante. “Em breve, estarei diante do juiz final da minha vida. Embora possa ter muitos motivos de temor e medo quando olho para trás em minha longa vida, ainda assim me sinto feliz”, disse há menos de um ano.

Em tempos de agressividade no debate público e de racionalidade frágil – como se a liberdade de opinião autorizasse a rejeitar as evidências empíricas, em um negacionismo que tudo relativiza –, as reflexões serenas de Bento XVI, sempre respeitando o interlocutor, podem ser muito oportunas. Não é preciso concordar com suas ideias para reconhecer: foi um intelectual inquieto, em constante diálogo sobre a verdade.

Mesmo antes de ser papa, Bento XVI foi sempre uma figura controvertida. No início de sua vida, era considerado um professor progressista, em razão de suas abordagens teológicas, muito diferentes das do pensamento católico tradicional. Foi um defensor da renovação trazida pelo Concílio Vaticano II (1962-1965). Depois, especialmente após assumir em 1981, no pontificado de João Paulo II, a chefia da Congregação para a Doutrina da Fé – órgão do Vaticano responsável por defender a integridade da doutrina católica, cujo fruto mais conhecido foi a Inquisição –, ele ganhou outra reputação. O então cardeal Joseph Ratzinger passou a ser visto como o grande perseguidor das “heresias” do mundo moderno, muito em razão de seu enfrentamento com a chamada “teologia da libertação”, que propunha uma releitura do Evangelho a partir de categorias marxistas.

Eleito papa em 2005, Joseph Ratzinger viu sua fama de conservador consolidar-se ainda mais intensamente. Ao longo dos anos, rejeitou todas as tentativas de mudança na doutrina moral da Igreja Católica. Entre outros temas, defendeu o direito à vida desde a concepção, a indissolubilidade do matrimônio, o celibato dos padres e o sexo exclusivamente dentro do casamento. Bento XVI opôs-se a todas as causas consideradas progressistas, inclusive a união civil entre pessoas do mesmo sexo.

Aos olhos contemporâneos, sua compreensão de ser humano e de sociedade parecia ancorada em outra época, em outra lógica, em outro mundo. Ao mesmo tempo, Joseph Ratzinger nunca se negou a dialogar com quem divergia de suas ideias. Com uma concepção abrangente de racionalidade, defendia a capacidade humana de conhecer, ainda que limitadamente, a realidade. Exemplos especialmente significativos desse empenho pelo diálogo são as obras Dialética da secularização: sobre razão e religião, elaborada em conjunto com Jürgen Habermas, na qual conversam sobre as bases morais pré-políticas do Estado Democrático, e Europa: os seus fundamentos hoje e amanhã, em que Joseph Ratzinger defende as raízes espirituais não apenas do continente europeu, mas do mundo ocidental tal como o conhecemos.

Em 2013, Bento XVI surpreendeu o mundo ao renunciar ao papado. Foi um gesto insólito, especialmente para quem era considerado o grande guardião da tradição. A última vez que isso havia acontecido na Igreja Católica tinha sido em 1415, com Gregório XII, que abdicou do cargo durante o Concílio de Constança (Alemanha). No entanto, por mais surpreendente que tenha sido, o ato de renúncia de Ratzinger estava em consonância com seu modo de encarar a fé e a razão, como realidades complementares e não opostas: acreditar na proteção divina sobre a Igreja não o eximia de pensar objetivamente sobre suas capacidades humanas.

Desde a renúncia, Bento XVI recolheu-se num mosteiro, aparecendo em público poucas vezes. Em fevereiro de 2022, voltou ao noticiário. Após um relatório independente acusá-lo de inação perante os abusos sexuais cometidos por religiosos enquanto era arcebispo de Munique, o papa emérito fez um pedido de desculpas. “Só posso expressar a todas as vítimas de abuso sexual minha profunda vergonha, minha grande dor e meu sincero pedido de perdão”, disse, reafirmando, no entanto, que nunca encobriu esses ataques no exercício de seus diferentes cargos na Igreja Católica.

A carta de desculpas menciona a proximidade com a morte, numa sinceridade um tanto desconcertante. “Em breve, estarei diante do juiz final da minha vida. Embora possa ter muitos motivos de temor e medo quando olho para trás em minha longa vida, ainda assim me sinto feliz”, disse há menos de um ano.

Em tempos de agressividade no debate público e de racionalidade frágil – como se a liberdade de opinião autorizasse a rejeitar as evidências empíricas, em um negacionismo que tudo relativiza –, as reflexões serenas de Bento XVI, sempre respeitando o interlocutor, podem ser muito oportunas. Não é preciso concordar com suas ideias para reconhecer: foi um intelectual inquieto, em constante diálogo sobre a verdade.

Mesmo antes de ser papa, Bento XVI foi sempre uma figura controvertida. No início de sua vida, era considerado um professor progressista, em razão de suas abordagens teológicas, muito diferentes das do pensamento católico tradicional. Foi um defensor da renovação trazida pelo Concílio Vaticano II (1962-1965). Depois, especialmente após assumir em 1981, no pontificado de João Paulo II, a chefia da Congregação para a Doutrina da Fé – órgão do Vaticano responsável por defender a integridade da doutrina católica, cujo fruto mais conhecido foi a Inquisição –, ele ganhou outra reputação. O então cardeal Joseph Ratzinger passou a ser visto como o grande perseguidor das “heresias” do mundo moderno, muito em razão de seu enfrentamento com a chamada “teologia da libertação”, que propunha uma releitura do Evangelho a partir de categorias marxistas.

Eleito papa em 2005, Joseph Ratzinger viu sua fama de conservador consolidar-se ainda mais intensamente. Ao longo dos anos, rejeitou todas as tentativas de mudança na doutrina moral da Igreja Católica. Entre outros temas, defendeu o direito à vida desde a concepção, a indissolubilidade do matrimônio, o celibato dos padres e o sexo exclusivamente dentro do casamento. Bento XVI opôs-se a todas as causas consideradas progressistas, inclusive a união civil entre pessoas do mesmo sexo.

Aos olhos contemporâneos, sua compreensão de ser humano e de sociedade parecia ancorada em outra época, em outra lógica, em outro mundo. Ao mesmo tempo, Joseph Ratzinger nunca se negou a dialogar com quem divergia de suas ideias. Com uma concepção abrangente de racionalidade, defendia a capacidade humana de conhecer, ainda que limitadamente, a realidade. Exemplos especialmente significativos desse empenho pelo diálogo são as obras Dialética da secularização: sobre razão e religião, elaborada em conjunto com Jürgen Habermas, na qual conversam sobre as bases morais pré-políticas do Estado Democrático, e Europa: os seus fundamentos hoje e amanhã, em que Joseph Ratzinger defende as raízes espirituais não apenas do continente europeu, mas do mundo ocidental tal como o conhecemos.

Em 2013, Bento XVI surpreendeu o mundo ao renunciar ao papado. Foi um gesto insólito, especialmente para quem era considerado o grande guardião da tradição. A última vez que isso havia acontecido na Igreja Católica tinha sido em 1415, com Gregório XII, que abdicou do cargo durante o Concílio de Constança (Alemanha). No entanto, por mais surpreendente que tenha sido, o ato de renúncia de Ratzinger estava em consonância com seu modo de encarar a fé e a razão, como realidades complementares e não opostas: acreditar na proteção divina sobre a Igreja não o eximia de pensar objetivamente sobre suas capacidades humanas.

Desde a renúncia, Bento XVI recolheu-se num mosteiro, aparecendo em público poucas vezes. Em fevereiro de 2022, voltou ao noticiário. Após um relatório independente acusá-lo de inação perante os abusos sexuais cometidos por religiosos enquanto era arcebispo de Munique, o papa emérito fez um pedido de desculpas. “Só posso expressar a todas as vítimas de abuso sexual minha profunda vergonha, minha grande dor e meu sincero pedido de perdão”, disse, reafirmando, no entanto, que nunca encobriu esses ataques no exercício de seus diferentes cargos na Igreja Católica.

A carta de desculpas menciona a proximidade com a morte, numa sinceridade um tanto desconcertante. “Em breve, estarei diante do juiz final da minha vida. Embora possa ter muitos motivos de temor e medo quando olho para trás em minha longa vida, ainda assim me sinto feliz”, disse há menos de um ano.

Em tempos de agressividade no debate público e de racionalidade frágil – como se a liberdade de opinião autorizasse a rejeitar as evidências empíricas, em um negacionismo que tudo relativiza –, as reflexões serenas de Bento XVI, sempre respeitando o interlocutor, podem ser muito oportunas. Não é preciso concordar com suas ideias para reconhecer: foi um intelectual inquieto, em constante diálogo sobre a verdade.

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