O candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, só terá alguma chance de vencer a disputa em segundo turno contra o atual prefeito, Ricardo Nunes, candidato à reeleição pelo MDB, se questionar a capacidade administrativa do alcaide, apresentando-se como mais capaz de resolver os diversos e profundos problemas da cidade. Aparentemente, contudo, Boulos – talvez porque não tenha mesmo como se mostrar melhor que Nunes – preferiu investir na polarização entre Lula da Silva, padrinho de sua candidatura, e Jair Bolsonaro, que supostamente apoia o prefeito. É um investimento de risco, porque a lógica eleitoral sugere que o antipetismo fará boa parte dos votos dados aos demais candidatos no primeiro turno migrar naturalmente para Nunes. Ou seja, quanto mais Boulos se vincular a Lula e ao discurso esquerdista para se diferenciar de seu adversário, mais votos provavelmente deixará de conquistar no segundo turno.
É certo que o antibolsonarismo também é forte em São Paulo, razão pela qual a campanha de Nunes dá sinais de que pretende calibrar o apoio de Bolsonaro para não dar a sensação de que sua candidatura é bolsonarista raiz. Mas a situação do prefeito, nesse aspecto, parece bem mais confortável, porque o contingente de eleitores que rejeitam Boulos, em razão de sua vinculação a Lula e por causa de seu passado de agitador esquerdista, é bastante significativo e pode decidir a eleição em favor de Nunes.
Boulos, no entanto, parece convicto de que não tem alternativa senão partir para a ignorância. Em seu discurso logo depois da divulgação dos resultados do primeiro turno, o psolista enfatizou que, enquanto Nunes é apoiado por Bolsonaro, sua campanha mobiliza “um time que ajudou a resguardar a democracia no Brasil” – como se a eventual reeleição de Nunes representasse algum risco, remoto que seja, de ruptura democrática, e como se o voto no PSOL e no lulopetismo, notórios defensores de ditaduras como a da Venezuela e a de Cuba, realmente fosse salvar a democracia brasileira.
E Boulos mostrou que está disposto a manter baixo o nível de uma campanha marcada pelas baixarias. O psolista publicou em suas redes sociais um vídeo em que resgata o hoje famoso boletim de ocorrência registrado pela mulher de Nunes em 2011 acusando-o de violência. Para Boulos, trata-se de “um tema que os eleitores precisam saber”. A reação foi imediata. Seus seguidores na internet não ficaram nada satisfeitos. Entre os comentários, há pedidos para que o candidato pare de agredir o adversário e apresente suas propostas à cidade. E a Justiça mandou tirar o vídeo do ar, sob o argumento de que o mesmíssimo ataque motivou punição semelhante a Pablo Marçal (PRTB) no primeiro turno. A Justiça já concedeu direitos de resposta à campanha de Nunes nas redes sociais de Boulos.
Esperava-se de Boulos mais comedimento e respeito, pois ele foi o candidato que sofreu o ataque mais vil do primeiro turno, quando Marçal forjou um documento para acusá-lo de uso de drogas. Por isso, tinha que partir dele a iniciativa de elevar o nível dos debates no segundo turno. Mas o baderneiro convertido a político moderado nem sempre consegue esconder sua natureza.