O autoproclamado “imbrochável”, “incomível” e “imorrível”, ora vejam, dá inúmeros sinais de que está morrendo de medo de seu futuro acerto de contas com a Justiça. Para alguém que se jactou mais de uma vez de estar disposto a “dar a própria vida em nome da nossa liberdade”, Jair Bolsonaro sucumbiu rápido ao desespero após ter sido indiciado pela Polícia Federal (PF) por suspeita de ter praticado tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa.
Se antes negava até mesmo a existência de um complô para dar um golpe de Estado e impedir a posse de Lula da Silva na Presidência, embora haja carradas de evidências de que houve um, Bolsonaro agora admite que até pode ter havido uma conspirata, mas mandou seu advogado dizer que ele mesmo seria vítima da trama, supostamente arquitetada, segundo essa delirante tese, por militares que queriam tomar o poder.
“Quem seria o grande beneficiado (pelo golpe)?”, questionou o tal causídico, Paulo Cunha Bueno, em entrevista recente à GloboNews. “Segundo o plano do general Mário Fernandes, seria uma junta a ser criada após a ação do plano Punhal Verde e Amarelo, e nessa junta não estava incluído o nome de Bolsonaro.”
Mais uma vez, como faz desde seus tempos de mau militar, Bolsonaro pretende fazer todos de idiotas. No relatório da PF, está claro que a tal “junta” seria na verdade um “gabinete de gestão de crise”, coalhado de militares golpistas, que existiria para “assessorar o então presidente da República, Jair Bolsonaro, na administração dos fatos decorrentes da ruptura institucional”.
Ou seja, ao perceber que a cadeia é uma perspectiva cada vez mais real, o valentão que infelizmente um dia ocupou a Presidência da República mostrou toda a sua pusilanimidade ao jogar a responsabilidade pela urdidura do golpe de Estado aos militares que lhe devotavam religiosa lealdade – e, pior, ao se dizer vítima deles.
Na hora do aperto, Bolsonaro não hesita em lançar companheiros ao mar. Isso nunca foi novidade para ninguém, mas os militares golpistas, por razões insondáveis, acharam que o espírito de corpo militar falaria mais alto. Estavam, obviamente, enganados e agora pagarão o preço não só por terem tramado um golpe, mas por acreditarem que Bolsonaro, malgrado seu histórico, teria coragem de liderá-los até o fim, mesmo ao custo da liberdade pessoal.
Bolsonaro tem trabalhado freneticamente para salvar a própria pele. Há poucos dias, em entrevista à Revista Oeste, apelou ao presidente Lula da Silva e ao STF pela concessão de uma descabida anistia, malgrado ainda nem sequer ser réu. Segundo ele, a tal anistia serviria para “zerar o jogo daqui para frente”, para “pacificarmos o Brasil”. Ora, o Brasil não está conflagrado, pelo menos não a ponto de constranger o Congresso e o Judiciário a deixar livres os envolvidos na conspiração para acabar com a democracia no País. Ao contrário, o jogo só será “zerado” de vez quando os liberticidas pagarem por seus crimes.
No front externo, Bolsonaro alimenta a ilusão delirante de que o futuro presidente dos EUA, Donald Trump, virá em seu socorro. Em declaração ao The Wall Street Journal, Bolsonaro disse esperar que Trump imponha sanções ao Brasil até que seus direitos políticos sejam restabelecidos. Eis aí o “patriota” que brada “Brasil acima de tudo” ao mesmo tempo que defende uma intervenção norte-americana no País e não esconde sua sabujice em relação a um presidente estrangeiro.
Se a situação já é constrangedora em si mesma, fica ainda pior quando se compara o comportamento de Bolsonaro com o de sua nêmesis, Lula da Silva. Recorde-se que Lula, quando foi condenado à prisão, embora jurasse inocência tal como Bolsonaro, não jogou a responsabilidade nos companheiros, não tentou fugir nem se refugiar numa embaixada, e tampouco apelou a algum líder estrangeiro para prejudicar o Brasil a fim de ajudá-lo a se livrar da cadeia. Apenas se entregou.