Já era esperado, e agora se confirmou. A Terra registrou em 2024 o seu ano mais quente, e a temperatura média global ultrapassou pela primeira vez o limite para o aquecimento global neste século em relação aos níveis pré-industriais. O planeta esquentou 1,6°C, acima do 1,5°C estabelecido pelo Acordo de Paris. Segundo o Observatório Copernicus, da Comissão Europeia, a temperatura média chegou a 15,1°C e superou em 0,12°C o até então recorde de 2023.
Preocupa a rapidez dessa escalada da temperatura. A explicação para essa alta, porém, é simples, de acordo com os cientistas: são os chamados gases de efeito estufa acumulados na atmosfera que empurram os marcadores dos termômetros para cima. É a queima de carvão, petróleo e gás, os combustíveis fósseis, que impacta o mundo.
E o que está ruim pode piorar. A última década representou os dez anos mais quentes já registrados pelo Copernicus, segundo Samantha Burgess, uma das dirigentes do observatório, em comunicado, e provavelmente foi o período mais quente em 125 mil anos. Há praticamente consenso na comunidade científica de que a Terra continuará a ferver. Mas, diante de dados negativos, por vezes anunciados em tom catastrofista, recomenda-se cautela. Como bem disse à Associated Press a cientista americana Jennifer Francis, “as sirenes de alarme relacionadas às mudanças climáticas têm tocado quase constantemente”, e isso pode fazer com que “o público se torne insensível à urgência, como (é insensível) às sirenes da polícia na cidade de Nova York”.
O problema é que não se pode banalizar um fenômeno de tamanha gravidade e consequências tão extremas. Segundo relatório da empresa de seguros Munich Re, as perdas causadas por desastres relacionados ao clima chegaram a US$ 140 bilhões em 2024. E não só cifras deveriam preocupar, mas principalmente as vidas que se perderam e as que se perderão em razão da fúria da natureza.
O momento é delicado. Ainda assim, mesmo com as temperaturas acima do limite do Acordo de Paris, restam até 20 anos, de acordo com especialistas, para que se chegue a um ponto de não retorno. Logo, há tempo para tomar providências – e em alguma medida elas estão sendo tomadas, ainda que não na dimensão requerida.
Como afirmou Carlo Buontempo, diretor do Copernicus, em entrevista coletiva, “estamos enfrentando um clima muito novo e desafios climáticos para os quais nossa sociedade não está preparada”. Já passou da hora de preparar a sociedade para enfrentar esse novo mundo e esses desafios climáticos, a começar por ações efetivas de comunicação sobre a gravidade do aquecimento global, de modo a não banalizar seus riscos.
São necessários, portanto, planos e medidas efetivas. Nesse sentido, o Brasil, que em 2024 registrou calor recorde, com temperatura média de 25,02°C, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), poderia liderar esse esforço, mas o que se vê, infelizmente, é um governo perdido entre a demagogia do presidente Lula da Silva e a inação de sua ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
Em 2024, as queimadas no Pantanal, no Cerrado e na Amazônia assustaram o Brasil, e o governo, letárgico em combater as chamas, jogou a culpa na mudança climática, como se não fosse justamente a mudança do clima um fenômeno a exigir planejamento para mitigar seus efeitos. Além disso, a tal “Autoridade Climática” – que ninguém sabe para que servirá – segue uma promessa de campanha, se é que um dia existirá.
Até agora o mundo não conhece o presidente da Conferência do Clima (COP-30), a ser realizada em novembro em Belém, que, segundo Lula, com sua típica política ambiental de gogó, será a “última chance de evitar uma ruptura irreversível no sistema climático”. Trata-se de um evidente exagero retórico, típico de Lula, mas, se fosse mesmo como o presidente diz, então o Brasil já teria que ter quase tudo pronto para a COP, o que está muito longe de ser o caso.
Faltam ações, sobra palavrório. E as palavras de Lula soam como as sirenes de Nova York.