A tragédia das crianças sem saneamento


Estudo do Instituto Trata Brasil mostra que a renda futura de crianças sem acesso a água e esgoto tratados é 46,1% menor, pois sua formação básica é brutalmente prejudicada

Por Notas & Informações

A falta de saneamento básico no Brasil faz com que 6,6 milhões de crianças de zero a seis anos, a chamada primeira infância, afastem-se de suas atividades, de acordo com o estudo Futuro em risco: efeitos da falta de saneamento na vida de grávidas, crianças e adolescentes, divulgado recentemente pelo Instituto Trata Brasil. Esse contingente de crianças, que equivale à população do Paraguai, segue sendo negligenciado na fase da vida que é, segundo múltiplas evidências nacionais e internacionais, determinante para um futuro digno.

Sem acesso a esgoto tratado e a creches, ou às vezes sem poder frequentar a creche, quando esta existe, justamente porque falta saneamento na região em que vivem, parte significativa das crianças brasileiras cresce com uma herança nefasta, traduzida por uma renda 46,1% menor na idade adulta, de acordo com o estudo. Considerando-se um período de 35 anos de atuação profissional, a diferença de renda entre quem conta e quem não conta com saneamento básico é de mais de R$ 126 mil, montante nada trivial em um país tão desigual quanto o Brasil. Eis o preço do eterno descaso brasileiro com o saneamento: a renda futura de quem não conta com saneamento básico nos primeiros anos de vida é significativamente menor do que a daqueles que simplesmente têm, ora vejam, o básico.

O estudo do Trata Brasil radiografa uma série de efeitos nefastos que vão se acumulando na vida de quem não conta com saneamento na primeira infância. Sem água tratada ou banheiro, crianças de 11 anos têm dificuldade para identificar as horas em um relógio ou para calcular o valor de um troco, habilidades básicas e extremamente necessárias no dia a dia. E esse é apenas um exemplo do quanto a falta do mínimo trava a capacidade de aprendizado e, por consequência, de ascensão social. Crianças que viveram a primeira infância em condições precárias de saneamento chegam à segunda infância (7 a 11 anos) com sequelas no desenvolvimento e têm notas sensivelmente mais baixas em avaliações como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Não é surpresa, então, que jovens de 19 anos sem acesso a saneamento tenham, em média, atraso de 1,8 ano na escolaridade.

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Garantir acesso a água e esgoto tratados, bem como a educação, é o melhor investimento que o País pode fazer em nome do bem-estar da população brasileira e de seu próprio futuro. Sem esgoto tratado, milhões de brasileiros estão expostos a enfermidades que deveriam pertencer ao passado, sobrecarregando e onerando o sistema de saúde, faltam às aulas (quando e se há escola), aprendem pouco ou quase nada, como demonstram indicadores nacionais e internacionais de educação, e tornam-se adultos despreparados e dependentes de ajuda governamental.

Por não fazer o básico, o Brasil lega a uma parcela significativa da população um futuro medíocre e de dependência, que ademais custa caríssimo ao País; manter programas sociais para quem deles não dependeria houvesse saneamento e educação básica é extremamente deletério para a economia brasileira, que se autocondena a um permanente atraso em relação aos países nos quais as crianças conseguem desenvolver suas habilidades e se tornarem adultos capazes por terem acesso a esgoto tratado e creche.

Nada indica, porém, que essa realidade vai mudar. Em relação ao saneamento especificamente, mesmo quando há avanços, anda-se para trás. Aprovado pelo Congresso em 2020, o Marco do Saneamento estabeleceu que, até o fim de 2033, 99% da população terá de ser atendida com água potável e 90% deverão ter coleta e tratamento de esgoto. No entanto, diferentes associações estimam que, no ritmo atual de investimentos, as metas de universalização serão atingidas, na melhor das hipóteses, apenas em 2046.

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Por trás de tanta morosidade, sobra cálculo político. Diz o conhecido adágio eleitoral que “cano enterrado não dá voto”, razão pela qual se investe pouco em saneamento. Ademais, crianças também não votam, e assim o Brasil segue condenando seu futuro, desde cedo, à dependência.

A falta de saneamento básico no Brasil faz com que 6,6 milhões de crianças de zero a seis anos, a chamada primeira infância, afastem-se de suas atividades, de acordo com o estudo Futuro em risco: efeitos da falta de saneamento na vida de grávidas, crianças e adolescentes, divulgado recentemente pelo Instituto Trata Brasil. Esse contingente de crianças, que equivale à população do Paraguai, segue sendo negligenciado na fase da vida que é, segundo múltiplas evidências nacionais e internacionais, determinante para um futuro digno.

Sem acesso a esgoto tratado e a creches, ou às vezes sem poder frequentar a creche, quando esta existe, justamente porque falta saneamento na região em que vivem, parte significativa das crianças brasileiras cresce com uma herança nefasta, traduzida por uma renda 46,1% menor na idade adulta, de acordo com o estudo. Considerando-se um período de 35 anos de atuação profissional, a diferença de renda entre quem conta e quem não conta com saneamento básico é de mais de R$ 126 mil, montante nada trivial em um país tão desigual quanto o Brasil. Eis o preço do eterno descaso brasileiro com o saneamento: a renda futura de quem não conta com saneamento básico nos primeiros anos de vida é significativamente menor do que a daqueles que simplesmente têm, ora vejam, o básico.

O estudo do Trata Brasil radiografa uma série de efeitos nefastos que vão se acumulando na vida de quem não conta com saneamento na primeira infância. Sem água tratada ou banheiro, crianças de 11 anos têm dificuldade para identificar as horas em um relógio ou para calcular o valor de um troco, habilidades básicas e extremamente necessárias no dia a dia. E esse é apenas um exemplo do quanto a falta do mínimo trava a capacidade de aprendizado e, por consequência, de ascensão social. Crianças que viveram a primeira infância em condições precárias de saneamento chegam à segunda infância (7 a 11 anos) com sequelas no desenvolvimento e têm notas sensivelmente mais baixas em avaliações como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Não é surpresa, então, que jovens de 19 anos sem acesso a saneamento tenham, em média, atraso de 1,8 ano na escolaridade.

Garantir acesso a água e esgoto tratados, bem como a educação, é o melhor investimento que o País pode fazer em nome do bem-estar da população brasileira e de seu próprio futuro. Sem esgoto tratado, milhões de brasileiros estão expostos a enfermidades que deveriam pertencer ao passado, sobrecarregando e onerando o sistema de saúde, faltam às aulas (quando e se há escola), aprendem pouco ou quase nada, como demonstram indicadores nacionais e internacionais de educação, e tornam-se adultos despreparados e dependentes de ajuda governamental.

Por não fazer o básico, o Brasil lega a uma parcela significativa da população um futuro medíocre e de dependência, que ademais custa caríssimo ao País; manter programas sociais para quem deles não dependeria houvesse saneamento e educação básica é extremamente deletério para a economia brasileira, que se autocondena a um permanente atraso em relação aos países nos quais as crianças conseguem desenvolver suas habilidades e se tornarem adultos capazes por terem acesso a esgoto tratado e creche.

Nada indica, porém, que essa realidade vai mudar. Em relação ao saneamento especificamente, mesmo quando há avanços, anda-se para trás. Aprovado pelo Congresso em 2020, o Marco do Saneamento estabeleceu que, até o fim de 2033, 99% da população terá de ser atendida com água potável e 90% deverão ter coleta e tratamento de esgoto. No entanto, diferentes associações estimam que, no ritmo atual de investimentos, as metas de universalização serão atingidas, na melhor das hipóteses, apenas em 2046.

Por trás de tanta morosidade, sobra cálculo político. Diz o conhecido adágio eleitoral que “cano enterrado não dá voto”, razão pela qual se investe pouco em saneamento. Ademais, crianças também não votam, e assim o Brasil segue condenando seu futuro, desde cedo, à dependência.

A falta de saneamento básico no Brasil faz com que 6,6 milhões de crianças de zero a seis anos, a chamada primeira infância, afastem-se de suas atividades, de acordo com o estudo Futuro em risco: efeitos da falta de saneamento na vida de grávidas, crianças e adolescentes, divulgado recentemente pelo Instituto Trata Brasil. Esse contingente de crianças, que equivale à população do Paraguai, segue sendo negligenciado na fase da vida que é, segundo múltiplas evidências nacionais e internacionais, determinante para um futuro digno.

Sem acesso a esgoto tratado e a creches, ou às vezes sem poder frequentar a creche, quando esta existe, justamente porque falta saneamento na região em que vivem, parte significativa das crianças brasileiras cresce com uma herança nefasta, traduzida por uma renda 46,1% menor na idade adulta, de acordo com o estudo. Considerando-se um período de 35 anos de atuação profissional, a diferença de renda entre quem conta e quem não conta com saneamento básico é de mais de R$ 126 mil, montante nada trivial em um país tão desigual quanto o Brasil. Eis o preço do eterno descaso brasileiro com o saneamento: a renda futura de quem não conta com saneamento básico nos primeiros anos de vida é significativamente menor do que a daqueles que simplesmente têm, ora vejam, o básico.

O estudo do Trata Brasil radiografa uma série de efeitos nefastos que vão se acumulando na vida de quem não conta com saneamento na primeira infância. Sem água tratada ou banheiro, crianças de 11 anos têm dificuldade para identificar as horas em um relógio ou para calcular o valor de um troco, habilidades básicas e extremamente necessárias no dia a dia. E esse é apenas um exemplo do quanto a falta do mínimo trava a capacidade de aprendizado e, por consequência, de ascensão social. Crianças que viveram a primeira infância em condições precárias de saneamento chegam à segunda infância (7 a 11 anos) com sequelas no desenvolvimento e têm notas sensivelmente mais baixas em avaliações como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Não é surpresa, então, que jovens de 19 anos sem acesso a saneamento tenham, em média, atraso de 1,8 ano na escolaridade.

Garantir acesso a água e esgoto tratados, bem como a educação, é o melhor investimento que o País pode fazer em nome do bem-estar da população brasileira e de seu próprio futuro. Sem esgoto tratado, milhões de brasileiros estão expostos a enfermidades que deveriam pertencer ao passado, sobrecarregando e onerando o sistema de saúde, faltam às aulas (quando e se há escola), aprendem pouco ou quase nada, como demonstram indicadores nacionais e internacionais de educação, e tornam-se adultos despreparados e dependentes de ajuda governamental.

Por não fazer o básico, o Brasil lega a uma parcela significativa da população um futuro medíocre e de dependência, que ademais custa caríssimo ao País; manter programas sociais para quem deles não dependeria houvesse saneamento e educação básica é extremamente deletério para a economia brasileira, que se autocondena a um permanente atraso em relação aos países nos quais as crianças conseguem desenvolver suas habilidades e se tornarem adultos capazes por terem acesso a esgoto tratado e creche.

Nada indica, porém, que essa realidade vai mudar. Em relação ao saneamento especificamente, mesmo quando há avanços, anda-se para trás. Aprovado pelo Congresso em 2020, o Marco do Saneamento estabeleceu que, até o fim de 2033, 99% da população terá de ser atendida com água potável e 90% deverão ter coleta e tratamento de esgoto. No entanto, diferentes associações estimam que, no ritmo atual de investimentos, as metas de universalização serão atingidas, na melhor das hipóteses, apenas em 2046.

Por trás de tanta morosidade, sobra cálculo político. Diz o conhecido adágio eleitoral que “cano enterrado não dá voto”, razão pela qual se investe pouco em saneamento. Ademais, crianças também não votam, e assim o Brasil segue condenando seu futuro, desde cedo, à dependência.

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