A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, que talvez esteja com bastante tempo livre, resolveu se ocupar da tragédia climática e humanitária do Rio Grande do Sul, mas não para confortar os gaúchos, e sim para fazer proselitismo político ordinário. Numa rede social, a pretexto de enfatizar “a importância do voto” – de resto, uma obviedade –, a sra. Anielle insinuou que os gaúchos talvez devessem escolher melhor seus representantes políticos no futuro caso não queiram passar outra vez pelas agruras de que padecem no momento.
“Amanhã (dia 8/5) é o último dia para regularizar ou tirar o título de eleitor para votar nestas eleições”, escreveu a ministra no X. “Se você ainda não fez isso ou conhece quem não tenha feito, corre para fazer. Votar em quem atua em prol da vida das pessoas e do povo brasileiro é o que faz a realidade mudar”, concluiu. Antes, Anielle alardeou que, “diante da tragédia do Rio Grande do Sul, nosso governo investiu mais de R$ 1,5 bilhão” em supostas ações de saúde pública e auxílio à população “que só um governo que se preocupa com as pessoas faz”.
Decerto alertada por algum assessor sobre a barbaridade do que havia escrito, Anielle apagou a postagem. O que é impossível de ser apagado, no entanto, é o fato de a ministra ser absolutamente desqualificada para o serviço público – se não à luz desse deserto programático em que se converteu a pasta que comanda, por sua inequívoca demonstração de oportunismo rasteiro aliado à falta de empatia com seus concidadãos gaúchos. Quem se presta a exercer cargo público deveria saber que não há interesse político, partidário ou ideológico que, numa sociedade que se pretende civilizada, se sobreponha a imperativos morais e humanitários.
Nesse sentido, Anielle não decepciona. Afinal, ela não foi escolhida para integrar o governo Lula da Silva por seu histórico de realizações na promoção da igualdade racial. Lá está como um agrado do presidente da República a uma parcela da militância dita progressista mais ligada aos movimentos identitários. Não por acaso, a única ideia que a ministra foi capaz de conceber para atuar em meio às enchentes que maltratam todo o povo do Rio Grande do Sul foi priorizar “o povo cigano e os quilombolas” na entrega da água e dos alimentos que têm sido enviados ao Estado pelo Brasil, num surto identitário que mal esconde a desumanidade.
Ao que parece, ao se lançar de forma tão desabrida à propaganda política num momento de dor e união nacional, não passou pela cabeça da ministra que o fenômeno climático, na escala em que se desdobrou no Estado, surpreenderia até o mais precavido e diligente dos governantes.
Talvez nem Lula espere muita coisa de Anielle Franco à frente pasta da Igualdade Racial. Mas, em política, o comportamento das autoridades tem uma dimensão simbólica tão ou mais importante do que suas realizações práticas, sobretudo ministros de um governo que serve a todos os cidadãos, não a seus nichos de apoio. Com poucas palavras, Anielle demonstrou não ter nem uma coisa nem outra a apresentar à Nação.