Professor emérito da USP, ex-ministro das Relações Exteriores (1992 e 2001-2002) e presidente da Fapesp, Celso Lafer escreve mensalmente na seção Espaço Aberto

Opinião|Biden e a ciência


Ele quer mobilizar o conhecimento em prol da sociedade americana, no presente e no futuro

Por Celso Lafer

É atributo da liderança a capacidade de indicar rumos na lida com a crescente complexidade das coisas. Na perspectiva da política, é assegurar o sentido de direção que sustenta e amplia a governança dos caminhos de uma sociedade. Joe Biden, neste início de gestão, vem indicando abrangente sentido de direção, até mesmo em matéria de ciência e conhecimento.

“Conhecimento é poder”, enunciou Francis Bacon. Antiga afirmação que retém plena atualidade. Esta resulta da crescente velocidade com que a ciência e a pesquisa expandem as fronteiras do conhecimento, trazendo mudanças que alteram as condições de vida em escala planetária. Empoderamento digital e vacinas eficazes para conter a covid-19 são duas ilustrações do alcance da afirmação de Bacon.

Robert Zoellick, no recente livro America in the World, dedicado à análise da diplomacia na construção do poderio dos Estados Unidos, tem um capítulo dedicado a Vannevar Bush, o “inventor do futuro”. Bush foi assessor de Roosevelt e de Truman. É o autor de Science: The Endless Frontier, que inspirou os proponentes da criação da Fapesp e me impressionou quando li a documentação da instituição, que tive a honra de presidir. O relatório mereceu importante apresentação em artigo de 2014 de Carlos Henrique de Brito Cruz, então diretor científico da Fapesp.

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Bush concebeu o sistema americano de ciência, tecnologia e inovação pós-2.ª Guerra, levando em conta a complementaridade e os distintos papéis do governo federal, da indústria, de uma comunidade científica e universitária livre e independente e das empresas privadas. Criou, como observa Zoellick, um modelo de inovação que eclipsou o sistema soviético estatal. Esse foi um dos dados que levaram ao sucesso dos Estados Unidos na sua competição com a então União Soviética. Hoje a tensão predominante no sistema internacional passa pelas aspirações de hegemonia que caracterizam o relacionamento de Estados Unidos e China.

Trata-se de um embate que tem um dos seus grandes focos na competição científico-tecnológica. Transita pela concorrência entre os modelos de pesquisa e inovação dos Estados Unidos e o que vem sendo construído, com sucesso, pela China. Basta mencionar o papel da China em matéria de vacinas para a covid-19, a relevância da sua atuação em fármacos e a densidade do repertório da Huawei para a implantação da tecnologia 5G.

Foi com isso em mente que Biden em 15 de janeiro escreveu para Eric Lander, do Broad Institute do MIT e Harvard. Destaca a importância do relatório de Bush e do papel que teve em assegurar a liderança dos Estados Unidos no avanço do conhecimento. Registra as mudanças ocorridas na natureza das descobertas científicas, das quais deflui o imperativo de revigorar estratégias da ciência e tecnologia dos Estados Unidos.

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É nesse contexto que atribui a Lander a missão de mobilizar as lideranças científicas do país para propor recomendações voltadas para novas estratégias gerais, ações específicas e estruturas aptas a mobilizar o conhecimento em prol da sociedade americana, no presente e no futuro.

Na sua carta, Biden aponta que a China vem eclipsando a liderança científica e tecnológica dos Estados Unidos e que o futuro do seu país depende da sua capacidade de enfrentar seus concorrentes nos campos que definirão a economia do amanhã. Esse é o cerne de sua terceira questão para Lander. Ela é antecedida e sucedida por outras que indicam a sua sensibilidade para outros temas que vão além dos desafios da afirmação de uma hegemonia no plano internacional.

A primeira questão, instigada pelo drama humano da covid-19, indaga o que é possível alcançar pelo conhecimento para atender aos imperativos da saúde pública e lidar com o bem-estar da sociedade.

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A segunda diz respeito ao meio ambiente, um dos seus temas recorrentes no plano interno e internacional, que ele almeja enfrentar com o lastro adensado do conhecimento. Indaga como as inovações da ciência e da tecnologia podem encontrar novas e construtivas soluções para enfrentar a mudança climática.

A quarta questão diz respeito à equidade e indaga como se pode garantir que os frutos da ciência e da tecnologia sejam plenamente compartilhados por todos os americanos.

Finalmente, a quinta e última questão é como assegurar a sustentabilidade em longo prazo da ciência e da tecnologia nos Estados Unidos. Essa questão está voltada para os meios de reposicionar, nas circunstâncias atuais, o modelo, inspirado por Bush, que foi tão bem-sucedido e trouxe tão bons resultados.

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Como estudioso das instituições e da História americanas, cabe registrar, com admiração, como Biden revela sentido de direção e indica rumos em relação a uma variável crítica configuradora do destino das sociedades, como é a ciência e a inovação, e o seu papel no desenho de políticas públicas.

Em contraste, como brasileiro, só posso lamentar que o presidente Bolsonaro, por seus pensamentos, palavras e obras, também nesta área careça de sentido de direção.

PROFESSOR EMÉRITO DA USP, FOI MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES (1992 E 2001-2002) E PRESIDENTE DA FAPESP (2007-2015)

É atributo da liderança a capacidade de indicar rumos na lida com a crescente complexidade das coisas. Na perspectiva da política, é assegurar o sentido de direção que sustenta e amplia a governança dos caminhos de uma sociedade. Joe Biden, neste início de gestão, vem indicando abrangente sentido de direção, até mesmo em matéria de ciência e conhecimento.

“Conhecimento é poder”, enunciou Francis Bacon. Antiga afirmação que retém plena atualidade. Esta resulta da crescente velocidade com que a ciência e a pesquisa expandem as fronteiras do conhecimento, trazendo mudanças que alteram as condições de vida em escala planetária. Empoderamento digital e vacinas eficazes para conter a covid-19 são duas ilustrações do alcance da afirmação de Bacon.

Robert Zoellick, no recente livro America in the World, dedicado à análise da diplomacia na construção do poderio dos Estados Unidos, tem um capítulo dedicado a Vannevar Bush, o “inventor do futuro”. Bush foi assessor de Roosevelt e de Truman. É o autor de Science: The Endless Frontier, que inspirou os proponentes da criação da Fapesp e me impressionou quando li a documentação da instituição, que tive a honra de presidir. O relatório mereceu importante apresentação em artigo de 2014 de Carlos Henrique de Brito Cruz, então diretor científico da Fapesp.

Bush concebeu o sistema americano de ciência, tecnologia e inovação pós-2.ª Guerra, levando em conta a complementaridade e os distintos papéis do governo federal, da indústria, de uma comunidade científica e universitária livre e independente e das empresas privadas. Criou, como observa Zoellick, um modelo de inovação que eclipsou o sistema soviético estatal. Esse foi um dos dados que levaram ao sucesso dos Estados Unidos na sua competição com a então União Soviética. Hoje a tensão predominante no sistema internacional passa pelas aspirações de hegemonia que caracterizam o relacionamento de Estados Unidos e China.

Trata-se de um embate que tem um dos seus grandes focos na competição científico-tecnológica. Transita pela concorrência entre os modelos de pesquisa e inovação dos Estados Unidos e o que vem sendo construído, com sucesso, pela China. Basta mencionar o papel da China em matéria de vacinas para a covid-19, a relevância da sua atuação em fármacos e a densidade do repertório da Huawei para a implantação da tecnologia 5G.

Foi com isso em mente que Biden em 15 de janeiro escreveu para Eric Lander, do Broad Institute do MIT e Harvard. Destaca a importância do relatório de Bush e do papel que teve em assegurar a liderança dos Estados Unidos no avanço do conhecimento. Registra as mudanças ocorridas na natureza das descobertas científicas, das quais deflui o imperativo de revigorar estratégias da ciência e tecnologia dos Estados Unidos.

É nesse contexto que atribui a Lander a missão de mobilizar as lideranças científicas do país para propor recomendações voltadas para novas estratégias gerais, ações específicas e estruturas aptas a mobilizar o conhecimento em prol da sociedade americana, no presente e no futuro.

Na sua carta, Biden aponta que a China vem eclipsando a liderança científica e tecnológica dos Estados Unidos e que o futuro do seu país depende da sua capacidade de enfrentar seus concorrentes nos campos que definirão a economia do amanhã. Esse é o cerne de sua terceira questão para Lander. Ela é antecedida e sucedida por outras que indicam a sua sensibilidade para outros temas que vão além dos desafios da afirmação de uma hegemonia no plano internacional.

A primeira questão, instigada pelo drama humano da covid-19, indaga o que é possível alcançar pelo conhecimento para atender aos imperativos da saúde pública e lidar com o bem-estar da sociedade.

A segunda diz respeito ao meio ambiente, um dos seus temas recorrentes no plano interno e internacional, que ele almeja enfrentar com o lastro adensado do conhecimento. Indaga como as inovações da ciência e da tecnologia podem encontrar novas e construtivas soluções para enfrentar a mudança climática.

A quarta questão diz respeito à equidade e indaga como se pode garantir que os frutos da ciência e da tecnologia sejam plenamente compartilhados por todos os americanos.

Finalmente, a quinta e última questão é como assegurar a sustentabilidade em longo prazo da ciência e da tecnologia nos Estados Unidos. Essa questão está voltada para os meios de reposicionar, nas circunstâncias atuais, o modelo, inspirado por Bush, que foi tão bem-sucedido e trouxe tão bons resultados.

Como estudioso das instituições e da História americanas, cabe registrar, com admiração, como Biden revela sentido de direção e indica rumos em relação a uma variável crítica configuradora do destino das sociedades, como é a ciência e a inovação, e o seu papel no desenho de políticas públicas.

Em contraste, como brasileiro, só posso lamentar que o presidente Bolsonaro, por seus pensamentos, palavras e obras, também nesta área careça de sentido de direção.

PROFESSOR EMÉRITO DA USP, FOI MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES (1992 E 2001-2002) E PRESIDENTE DA FAPESP (2007-2015)

É atributo da liderança a capacidade de indicar rumos na lida com a crescente complexidade das coisas. Na perspectiva da política, é assegurar o sentido de direção que sustenta e amplia a governança dos caminhos de uma sociedade. Joe Biden, neste início de gestão, vem indicando abrangente sentido de direção, até mesmo em matéria de ciência e conhecimento.

“Conhecimento é poder”, enunciou Francis Bacon. Antiga afirmação que retém plena atualidade. Esta resulta da crescente velocidade com que a ciência e a pesquisa expandem as fronteiras do conhecimento, trazendo mudanças que alteram as condições de vida em escala planetária. Empoderamento digital e vacinas eficazes para conter a covid-19 são duas ilustrações do alcance da afirmação de Bacon.

Robert Zoellick, no recente livro America in the World, dedicado à análise da diplomacia na construção do poderio dos Estados Unidos, tem um capítulo dedicado a Vannevar Bush, o “inventor do futuro”. Bush foi assessor de Roosevelt e de Truman. É o autor de Science: The Endless Frontier, que inspirou os proponentes da criação da Fapesp e me impressionou quando li a documentação da instituição, que tive a honra de presidir. O relatório mereceu importante apresentação em artigo de 2014 de Carlos Henrique de Brito Cruz, então diretor científico da Fapesp.

Bush concebeu o sistema americano de ciência, tecnologia e inovação pós-2.ª Guerra, levando em conta a complementaridade e os distintos papéis do governo federal, da indústria, de uma comunidade científica e universitária livre e independente e das empresas privadas. Criou, como observa Zoellick, um modelo de inovação que eclipsou o sistema soviético estatal. Esse foi um dos dados que levaram ao sucesso dos Estados Unidos na sua competição com a então União Soviética. Hoje a tensão predominante no sistema internacional passa pelas aspirações de hegemonia que caracterizam o relacionamento de Estados Unidos e China.

Trata-se de um embate que tem um dos seus grandes focos na competição científico-tecnológica. Transita pela concorrência entre os modelos de pesquisa e inovação dos Estados Unidos e o que vem sendo construído, com sucesso, pela China. Basta mencionar o papel da China em matéria de vacinas para a covid-19, a relevância da sua atuação em fármacos e a densidade do repertório da Huawei para a implantação da tecnologia 5G.

Foi com isso em mente que Biden em 15 de janeiro escreveu para Eric Lander, do Broad Institute do MIT e Harvard. Destaca a importância do relatório de Bush e do papel que teve em assegurar a liderança dos Estados Unidos no avanço do conhecimento. Registra as mudanças ocorridas na natureza das descobertas científicas, das quais deflui o imperativo de revigorar estratégias da ciência e tecnologia dos Estados Unidos.

É nesse contexto que atribui a Lander a missão de mobilizar as lideranças científicas do país para propor recomendações voltadas para novas estratégias gerais, ações específicas e estruturas aptas a mobilizar o conhecimento em prol da sociedade americana, no presente e no futuro.

Na sua carta, Biden aponta que a China vem eclipsando a liderança científica e tecnológica dos Estados Unidos e que o futuro do seu país depende da sua capacidade de enfrentar seus concorrentes nos campos que definirão a economia do amanhã. Esse é o cerne de sua terceira questão para Lander. Ela é antecedida e sucedida por outras que indicam a sua sensibilidade para outros temas que vão além dos desafios da afirmação de uma hegemonia no plano internacional.

A primeira questão, instigada pelo drama humano da covid-19, indaga o que é possível alcançar pelo conhecimento para atender aos imperativos da saúde pública e lidar com o bem-estar da sociedade.

A segunda diz respeito ao meio ambiente, um dos seus temas recorrentes no plano interno e internacional, que ele almeja enfrentar com o lastro adensado do conhecimento. Indaga como as inovações da ciência e da tecnologia podem encontrar novas e construtivas soluções para enfrentar a mudança climática.

A quarta questão diz respeito à equidade e indaga como se pode garantir que os frutos da ciência e da tecnologia sejam plenamente compartilhados por todos os americanos.

Finalmente, a quinta e última questão é como assegurar a sustentabilidade em longo prazo da ciência e da tecnologia nos Estados Unidos. Essa questão está voltada para os meios de reposicionar, nas circunstâncias atuais, o modelo, inspirado por Bush, que foi tão bem-sucedido e trouxe tão bons resultados.

Como estudioso das instituições e da História americanas, cabe registrar, com admiração, como Biden revela sentido de direção e indica rumos em relação a uma variável crítica configuradora do destino das sociedades, como é a ciência e a inovação, e o seu papel no desenho de políticas públicas.

Em contraste, como brasileiro, só posso lamentar que o presidente Bolsonaro, por seus pensamentos, palavras e obras, também nesta área careça de sentido de direção.

PROFESSOR EMÉRITO DA USP, FOI MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES (1992 E 2001-2002) E PRESIDENTE DA FAPESP (2007-2015)

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