A área da educação foi, de longe, a mais prejudicada pelos efeitos socioeconômicos da pandemia de covid-19. Em nenhum país do mundo as escolas ficaram fechadas por tanto tempo como no Brasil, como mostrou um relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) publicado em setembro do ano passado. Além de privar milhões de crianças e adolescentes das aulas por tempo demasiado longo, o fechamento das escolas, em muitos casos, também os privou de comida, agravando a angústia das famílias. Para muitos alunos, a refeição feita na escola é a única do dia, ou ao menos a principal.
É evidente que o risco sanitário impôs a necessidade de fechar as escolas por determinados períodos em 2020 e 2021. Mas o ponto é que a nenhum outro segmento ou atividade econômica foram impostas tantas restrições quanto às instituições de ensino. Talvez por despreparo de muitos administradores, agravado pela falta de planejamento e coordenação para uma volta às aulas segura – o Ministério da Educação simplesmente se omitiu, fazendo de conta que a solução do problema não era responsabilidade da pasta –, não seria absurdo supor que muitos gestores decidiram manter as escolas fechadas simplesmente porque não sabiam o que fazer, ou como fazer, para garantir a segurança de alunos, professores e funcionários nos momentos mais difíceis da pandemia.
Essa justificativa pode ter sido útil no passado. Hoje, é totalmente descabida. Já se sabe o que fazer para garantir a integridade de todos no ambiente escolar. A primeira medida, obviamente, é a adesão à campanha de vacinação. Há vacinas disponíveis para todos no Brasil, inclusive para as crianças a partir de 5 anos. As vacinas são seguras e eficazes contra o coronavírus. Epidemiologistas e especialistas em educação concordam que, tomados os devidos cuidados, a volta às aulas presenciais não só é possível, como necessária. “O que sabemos é que a contaminação das crianças se dá em casa ou em atividades sociais, não na escola, desde que todos os cuidados sejam tomados: higiene, máscaras, ventilação”, disse ao Estadão o coordenador de saúde escolar do Hospital Sírio-Libanês, Ricardo Fonseca.
No primeiro dia de aulas na rede estadual, o secretário de Educação de São Paulo, Rossieli Soares, afirmou que a orientação do governo do Estado é de “não fechar mais turmas por um ou dois casos de covid-19”, e avaliar se haverá ou não surto. É o caminho correto: cuidados, observação e ação pontual, sem mais prejuízos para milhões de pessoas – alunos, pais, professores e funcionários.
Todos os esforços dos governos nas três esferas da administração e da sociedade devem estar voltados para a reabertura imediata das escolas de forma segura e responsável. Nem mais um dia de escolas fechadas. Já foi perdido tempo demais, causando um enorme prejuízo individual para os alunos, do ponto de vista cognitivo, cultural e econômico e, sobretudo, para o desenvolvimento do País, que tem seu futuro diretamente atrelado à qualidade da educação de seus jovens.