Pesquisador em Educação e doutor em Economia pela Universidade Vanderbilt (EUA), Claudio de Moura e Castro escreve mensalmente na seção Espaço Aberto

Opinião|A promessa da Moral e Cívica e das escolas militares


Dar bom exemplo no cotidiano é tudo, é mais central do que ensinar verbos irregulares

Por Claudio de Moura Castro

Kenneth Arrow, Prêmio Nobel de Economia, achava que o grande empecilho ao progresso é a falta de confiança de uns nos outros. De fato, podemos ser enganados, passarem-nos a perna, o acordado não se cumprir e ser mentira o que ouvimos. Tudo isso aplica um “freio de mão” no desenvolvimento.

Em nosso país, mal lapidado – acomodando grupos sociais pouco afeitos à cultura da modernidade –, são endêmicos os comportamentos ao arrepio dos princípios éticos. Isso atrapalha muito e reduz a confiança de uns nos outros. Daí a busca de fórmulas para instilar as crenças e os comportamentos que trazem uma convivência pacífica e produtiva.

Como resposta aos desafios de uma moral claudicante, aparecem duas sugestões: exumar as disciplinas de Educação Moral e Cívica e multiplicar as escolas militares.

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Para entender os cursos de educação cívica, voltemos aos filósofos escoceses, como Locke, Hume e Adam Smith. Para eles, nascemos com um sentido do certo e do errado. Uma pessoa de bem não tem dificuldades para deslindar um do outro. Essa competência é parte do nosso equipamento de fábrica. Justifica-se, ipso facto, o Direito Natural, pai da Common Law, cuja tradição é confiar no julgamento de pessoas respeitadas. Até hoje é possível ser juiz na Inglaterra sem haver feito curso de Direito.

Curioso lembrar uma pesquisa recente, com bebês de 2 anos. Num teatrinho, participam três bonecos. Um tenta subir numa escada, um segundo atrapalha e um terceiro ajuda. Após a cena são oferecidos os bonecos aos bebês. Sistematicamente, escolhem o que ajuda. Sua opção não refletiria um julgamento moral?

Entra em cena Robert Cole, professor de Harvard e psicólogo clínico. Por décadas tratou de jovens delinquentes. Em livro ele relata que os jovens cujo comportamento feria as leis tinham plena consciência de que estavam agindo errado. Ou seja, cometiam atos antissociais ou ilegais com amplo conhecimento de causa. Eram sua forma de protestar contra a hipocrisia da família ou da sociedade.

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Isso sugere que uma disciplina de Moral e Cívica (ou que nome se lhe dê) vai chover no molhado. Vai dizer, de forma chata e antipática, o que os alunos já sabem. Se agem errado, não é por não saberem. Pela mesma razão, são perfeitamente inócuos os sermões e mandamentos.

De fato, pesquisas internacionais mostram que disciplinas de civismo informam sobre as leis e o funcionamento do governo. Contudo não mudam as crenças e comportamentos dos alunos. Como forma de combate à incivilidade, pouco ajudam.

Em contraste, as narrativas funcionam. A velha “contação de histórias” continua eficaz. As mais canônicas são os sermões de Jesus Cristo e as fábulas. Contam uma história, pode ser de fariseus no templo ou uvas altas na parreira. O enredo cativa, mobiliza o hemisfério direito do cérebro, o da emoção. Mas por trás da história está a sua “moral”. Em fim de contas, a mensagem está endereçada ao hemisfério esquerdo, o da razão. Mas é pela sinergia entre os dois que elas calam.

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Cursos eficazes de Ética não são aulas sobre Kant ou os gregos. E ainda menos de catecismo. O que funciona é examinar casos concretos, alguns podem até ser tirados de jornais. Ao discutir essas situações, os alunos entram profundamente na essência dos dilemas da vida, tirando suas lições.

E as escolas militares? Entendamos como se desenvolve o nosso comportamento ético (ou antiético). O que mais determina o equipamento moral de um jovem é a observação das pessoas e instituições do seu entorno. Crescem tendo os pais como role models. E logo entram em cena os professores e escolas, com enorme poder de moldar valores. Mas não importam as grandiloquentes pregações da escola ou dos pais, o que conta é como agem, na prática. No seu funcionamento cotidiano, a escola está ensinando tolerância, justiça, generosidade, diligência ou respeito pelas regras? Ou dizem uma coisa e fazem outra – criando uma dissonância emocional e cognitiva, em parte culpada pela revolta dos alunos?

As escolas militares tendem a ser eficazes, seja no plano acadêmico, seja ao inculcar valores funcionais na sociedade de hoje. Mas não é por marchar ou hastear a bandeira. Simplesmente têm normas explícitas e há clara atribuição de autoridade. As regras são cumpridas e as rotinas fluem como previsto. O contraste é flagrante com as escolas públicas.

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No fundo, não é por serem militares que dão certo, mas por oferecerem ao aluno um clima de respeito, estabilidade e previsibilidade. Fazem o mesmo papel as boas escolas religiosas ou leigas. Aliás, a típica escola europeia ou asiática é tão ou mais rigorosa na disciplina que as escolas militares.

Ensinar Ética em cursos bem concebidos faz todo o sentido. Porém as lições que mais calam não estão escritas nos livros-texto. O que conta é um currículo oculto que se manifesta na forma de a escola operar. Dar o bom exemplo no seu funcionamento cotidiano é tudo. É mais central do que seu papel de ensinar verbos irregulares ou o nome da plantinha.

M.A., PH.D., É PESQUISADOR EM EDUCAÇÃO

Kenneth Arrow, Prêmio Nobel de Economia, achava que o grande empecilho ao progresso é a falta de confiança de uns nos outros. De fato, podemos ser enganados, passarem-nos a perna, o acordado não se cumprir e ser mentira o que ouvimos. Tudo isso aplica um “freio de mão” no desenvolvimento.

Em nosso país, mal lapidado – acomodando grupos sociais pouco afeitos à cultura da modernidade –, são endêmicos os comportamentos ao arrepio dos princípios éticos. Isso atrapalha muito e reduz a confiança de uns nos outros. Daí a busca de fórmulas para instilar as crenças e os comportamentos que trazem uma convivência pacífica e produtiva.

Como resposta aos desafios de uma moral claudicante, aparecem duas sugestões: exumar as disciplinas de Educação Moral e Cívica e multiplicar as escolas militares.

Para entender os cursos de educação cívica, voltemos aos filósofos escoceses, como Locke, Hume e Adam Smith. Para eles, nascemos com um sentido do certo e do errado. Uma pessoa de bem não tem dificuldades para deslindar um do outro. Essa competência é parte do nosso equipamento de fábrica. Justifica-se, ipso facto, o Direito Natural, pai da Common Law, cuja tradição é confiar no julgamento de pessoas respeitadas. Até hoje é possível ser juiz na Inglaterra sem haver feito curso de Direito.

Curioso lembrar uma pesquisa recente, com bebês de 2 anos. Num teatrinho, participam três bonecos. Um tenta subir numa escada, um segundo atrapalha e um terceiro ajuda. Após a cena são oferecidos os bonecos aos bebês. Sistematicamente, escolhem o que ajuda. Sua opção não refletiria um julgamento moral?

Entra em cena Robert Cole, professor de Harvard e psicólogo clínico. Por décadas tratou de jovens delinquentes. Em livro ele relata que os jovens cujo comportamento feria as leis tinham plena consciência de que estavam agindo errado. Ou seja, cometiam atos antissociais ou ilegais com amplo conhecimento de causa. Eram sua forma de protestar contra a hipocrisia da família ou da sociedade.

Isso sugere que uma disciplina de Moral e Cívica (ou que nome se lhe dê) vai chover no molhado. Vai dizer, de forma chata e antipática, o que os alunos já sabem. Se agem errado, não é por não saberem. Pela mesma razão, são perfeitamente inócuos os sermões e mandamentos.

De fato, pesquisas internacionais mostram que disciplinas de civismo informam sobre as leis e o funcionamento do governo. Contudo não mudam as crenças e comportamentos dos alunos. Como forma de combate à incivilidade, pouco ajudam.

Em contraste, as narrativas funcionam. A velha “contação de histórias” continua eficaz. As mais canônicas são os sermões de Jesus Cristo e as fábulas. Contam uma história, pode ser de fariseus no templo ou uvas altas na parreira. O enredo cativa, mobiliza o hemisfério direito do cérebro, o da emoção. Mas por trás da história está a sua “moral”. Em fim de contas, a mensagem está endereçada ao hemisfério esquerdo, o da razão. Mas é pela sinergia entre os dois que elas calam.

Cursos eficazes de Ética não são aulas sobre Kant ou os gregos. E ainda menos de catecismo. O que funciona é examinar casos concretos, alguns podem até ser tirados de jornais. Ao discutir essas situações, os alunos entram profundamente na essência dos dilemas da vida, tirando suas lições.

E as escolas militares? Entendamos como se desenvolve o nosso comportamento ético (ou antiético). O que mais determina o equipamento moral de um jovem é a observação das pessoas e instituições do seu entorno. Crescem tendo os pais como role models. E logo entram em cena os professores e escolas, com enorme poder de moldar valores. Mas não importam as grandiloquentes pregações da escola ou dos pais, o que conta é como agem, na prática. No seu funcionamento cotidiano, a escola está ensinando tolerância, justiça, generosidade, diligência ou respeito pelas regras? Ou dizem uma coisa e fazem outra – criando uma dissonância emocional e cognitiva, em parte culpada pela revolta dos alunos?

As escolas militares tendem a ser eficazes, seja no plano acadêmico, seja ao inculcar valores funcionais na sociedade de hoje. Mas não é por marchar ou hastear a bandeira. Simplesmente têm normas explícitas e há clara atribuição de autoridade. As regras são cumpridas e as rotinas fluem como previsto. O contraste é flagrante com as escolas públicas.

No fundo, não é por serem militares que dão certo, mas por oferecerem ao aluno um clima de respeito, estabilidade e previsibilidade. Fazem o mesmo papel as boas escolas religiosas ou leigas. Aliás, a típica escola europeia ou asiática é tão ou mais rigorosa na disciplina que as escolas militares.

Ensinar Ética em cursos bem concebidos faz todo o sentido. Porém as lições que mais calam não estão escritas nos livros-texto. O que conta é um currículo oculto que se manifesta na forma de a escola operar. Dar o bom exemplo no seu funcionamento cotidiano é tudo. É mais central do que seu papel de ensinar verbos irregulares ou o nome da plantinha.

M.A., PH.D., É PESQUISADOR EM EDUCAÇÃO

Kenneth Arrow, Prêmio Nobel de Economia, achava que o grande empecilho ao progresso é a falta de confiança de uns nos outros. De fato, podemos ser enganados, passarem-nos a perna, o acordado não se cumprir e ser mentira o que ouvimos. Tudo isso aplica um “freio de mão” no desenvolvimento.

Em nosso país, mal lapidado – acomodando grupos sociais pouco afeitos à cultura da modernidade –, são endêmicos os comportamentos ao arrepio dos princípios éticos. Isso atrapalha muito e reduz a confiança de uns nos outros. Daí a busca de fórmulas para instilar as crenças e os comportamentos que trazem uma convivência pacífica e produtiva.

Como resposta aos desafios de uma moral claudicante, aparecem duas sugestões: exumar as disciplinas de Educação Moral e Cívica e multiplicar as escolas militares.

Para entender os cursos de educação cívica, voltemos aos filósofos escoceses, como Locke, Hume e Adam Smith. Para eles, nascemos com um sentido do certo e do errado. Uma pessoa de bem não tem dificuldades para deslindar um do outro. Essa competência é parte do nosso equipamento de fábrica. Justifica-se, ipso facto, o Direito Natural, pai da Common Law, cuja tradição é confiar no julgamento de pessoas respeitadas. Até hoje é possível ser juiz na Inglaterra sem haver feito curso de Direito.

Curioso lembrar uma pesquisa recente, com bebês de 2 anos. Num teatrinho, participam três bonecos. Um tenta subir numa escada, um segundo atrapalha e um terceiro ajuda. Após a cena são oferecidos os bonecos aos bebês. Sistematicamente, escolhem o que ajuda. Sua opção não refletiria um julgamento moral?

Entra em cena Robert Cole, professor de Harvard e psicólogo clínico. Por décadas tratou de jovens delinquentes. Em livro ele relata que os jovens cujo comportamento feria as leis tinham plena consciência de que estavam agindo errado. Ou seja, cometiam atos antissociais ou ilegais com amplo conhecimento de causa. Eram sua forma de protestar contra a hipocrisia da família ou da sociedade.

Isso sugere que uma disciplina de Moral e Cívica (ou que nome se lhe dê) vai chover no molhado. Vai dizer, de forma chata e antipática, o que os alunos já sabem. Se agem errado, não é por não saberem. Pela mesma razão, são perfeitamente inócuos os sermões e mandamentos.

De fato, pesquisas internacionais mostram que disciplinas de civismo informam sobre as leis e o funcionamento do governo. Contudo não mudam as crenças e comportamentos dos alunos. Como forma de combate à incivilidade, pouco ajudam.

Em contraste, as narrativas funcionam. A velha “contação de histórias” continua eficaz. As mais canônicas são os sermões de Jesus Cristo e as fábulas. Contam uma história, pode ser de fariseus no templo ou uvas altas na parreira. O enredo cativa, mobiliza o hemisfério direito do cérebro, o da emoção. Mas por trás da história está a sua “moral”. Em fim de contas, a mensagem está endereçada ao hemisfério esquerdo, o da razão. Mas é pela sinergia entre os dois que elas calam.

Cursos eficazes de Ética não são aulas sobre Kant ou os gregos. E ainda menos de catecismo. O que funciona é examinar casos concretos, alguns podem até ser tirados de jornais. Ao discutir essas situações, os alunos entram profundamente na essência dos dilemas da vida, tirando suas lições.

E as escolas militares? Entendamos como se desenvolve o nosso comportamento ético (ou antiético). O que mais determina o equipamento moral de um jovem é a observação das pessoas e instituições do seu entorno. Crescem tendo os pais como role models. E logo entram em cena os professores e escolas, com enorme poder de moldar valores. Mas não importam as grandiloquentes pregações da escola ou dos pais, o que conta é como agem, na prática. No seu funcionamento cotidiano, a escola está ensinando tolerância, justiça, generosidade, diligência ou respeito pelas regras? Ou dizem uma coisa e fazem outra – criando uma dissonância emocional e cognitiva, em parte culpada pela revolta dos alunos?

As escolas militares tendem a ser eficazes, seja no plano acadêmico, seja ao inculcar valores funcionais na sociedade de hoje. Mas não é por marchar ou hastear a bandeira. Simplesmente têm normas explícitas e há clara atribuição de autoridade. As regras são cumpridas e as rotinas fluem como previsto. O contraste é flagrante com as escolas públicas.

No fundo, não é por serem militares que dão certo, mas por oferecerem ao aluno um clima de respeito, estabilidade e previsibilidade. Fazem o mesmo papel as boas escolas religiosas ou leigas. Aliás, a típica escola europeia ou asiática é tão ou mais rigorosa na disciplina que as escolas militares.

Ensinar Ética em cursos bem concebidos faz todo o sentido. Porém as lições que mais calam não estão escritas nos livros-texto. O que conta é um currículo oculto que se manifesta na forma de a escola operar. Dar o bom exemplo no seu funcionamento cotidiano é tudo. É mais central do que seu papel de ensinar verbos irregulares ou o nome da plantinha.

M.A., PH.D., É PESQUISADOR EM EDUCAÇÃO

Kenneth Arrow, Prêmio Nobel de Economia, achava que o grande empecilho ao progresso é a falta de confiança de uns nos outros. De fato, podemos ser enganados, passarem-nos a perna, o acordado não se cumprir e ser mentira o que ouvimos. Tudo isso aplica um “freio de mão” no desenvolvimento.

Em nosso país, mal lapidado – acomodando grupos sociais pouco afeitos à cultura da modernidade –, são endêmicos os comportamentos ao arrepio dos princípios éticos. Isso atrapalha muito e reduz a confiança de uns nos outros. Daí a busca de fórmulas para instilar as crenças e os comportamentos que trazem uma convivência pacífica e produtiva.

Como resposta aos desafios de uma moral claudicante, aparecem duas sugestões: exumar as disciplinas de Educação Moral e Cívica e multiplicar as escolas militares.

Para entender os cursos de educação cívica, voltemos aos filósofos escoceses, como Locke, Hume e Adam Smith. Para eles, nascemos com um sentido do certo e do errado. Uma pessoa de bem não tem dificuldades para deslindar um do outro. Essa competência é parte do nosso equipamento de fábrica. Justifica-se, ipso facto, o Direito Natural, pai da Common Law, cuja tradição é confiar no julgamento de pessoas respeitadas. Até hoje é possível ser juiz na Inglaterra sem haver feito curso de Direito.

Curioso lembrar uma pesquisa recente, com bebês de 2 anos. Num teatrinho, participam três bonecos. Um tenta subir numa escada, um segundo atrapalha e um terceiro ajuda. Após a cena são oferecidos os bonecos aos bebês. Sistematicamente, escolhem o que ajuda. Sua opção não refletiria um julgamento moral?

Entra em cena Robert Cole, professor de Harvard e psicólogo clínico. Por décadas tratou de jovens delinquentes. Em livro ele relata que os jovens cujo comportamento feria as leis tinham plena consciência de que estavam agindo errado. Ou seja, cometiam atos antissociais ou ilegais com amplo conhecimento de causa. Eram sua forma de protestar contra a hipocrisia da família ou da sociedade.

Isso sugere que uma disciplina de Moral e Cívica (ou que nome se lhe dê) vai chover no molhado. Vai dizer, de forma chata e antipática, o que os alunos já sabem. Se agem errado, não é por não saberem. Pela mesma razão, são perfeitamente inócuos os sermões e mandamentos.

De fato, pesquisas internacionais mostram que disciplinas de civismo informam sobre as leis e o funcionamento do governo. Contudo não mudam as crenças e comportamentos dos alunos. Como forma de combate à incivilidade, pouco ajudam.

Em contraste, as narrativas funcionam. A velha “contação de histórias” continua eficaz. As mais canônicas são os sermões de Jesus Cristo e as fábulas. Contam uma história, pode ser de fariseus no templo ou uvas altas na parreira. O enredo cativa, mobiliza o hemisfério direito do cérebro, o da emoção. Mas por trás da história está a sua “moral”. Em fim de contas, a mensagem está endereçada ao hemisfério esquerdo, o da razão. Mas é pela sinergia entre os dois que elas calam.

Cursos eficazes de Ética não são aulas sobre Kant ou os gregos. E ainda menos de catecismo. O que funciona é examinar casos concretos, alguns podem até ser tirados de jornais. Ao discutir essas situações, os alunos entram profundamente na essência dos dilemas da vida, tirando suas lições.

E as escolas militares? Entendamos como se desenvolve o nosso comportamento ético (ou antiético). O que mais determina o equipamento moral de um jovem é a observação das pessoas e instituições do seu entorno. Crescem tendo os pais como role models. E logo entram em cena os professores e escolas, com enorme poder de moldar valores. Mas não importam as grandiloquentes pregações da escola ou dos pais, o que conta é como agem, na prática. No seu funcionamento cotidiano, a escola está ensinando tolerância, justiça, generosidade, diligência ou respeito pelas regras? Ou dizem uma coisa e fazem outra – criando uma dissonância emocional e cognitiva, em parte culpada pela revolta dos alunos?

As escolas militares tendem a ser eficazes, seja no plano acadêmico, seja ao inculcar valores funcionais na sociedade de hoje. Mas não é por marchar ou hastear a bandeira. Simplesmente têm normas explícitas e há clara atribuição de autoridade. As regras são cumpridas e as rotinas fluem como previsto. O contraste é flagrante com as escolas públicas.

No fundo, não é por serem militares que dão certo, mas por oferecerem ao aluno um clima de respeito, estabilidade e previsibilidade. Fazem o mesmo papel as boas escolas religiosas ou leigas. Aliás, a típica escola europeia ou asiática é tão ou mais rigorosa na disciplina que as escolas militares.

Ensinar Ética em cursos bem concebidos faz todo o sentido. Porém as lições que mais calam não estão escritas nos livros-texto. O que conta é um currículo oculto que se manifesta na forma de a escola operar. Dar o bom exemplo no seu funcionamento cotidiano é tudo. É mais central do que seu papel de ensinar verbos irregulares ou o nome da plantinha.

M.A., PH.D., É PESQUISADOR EM EDUCAÇÃO

Kenneth Arrow, Prêmio Nobel de Economia, achava que o grande empecilho ao progresso é a falta de confiança de uns nos outros. De fato, podemos ser enganados, passarem-nos a perna, o acordado não se cumprir e ser mentira o que ouvimos. Tudo isso aplica um “freio de mão” no desenvolvimento.

Em nosso país, mal lapidado – acomodando grupos sociais pouco afeitos à cultura da modernidade –, são endêmicos os comportamentos ao arrepio dos princípios éticos. Isso atrapalha muito e reduz a confiança de uns nos outros. Daí a busca de fórmulas para instilar as crenças e os comportamentos que trazem uma convivência pacífica e produtiva.

Como resposta aos desafios de uma moral claudicante, aparecem duas sugestões: exumar as disciplinas de Educação Moral e Cívica e multiplicar as escolas militares.

Para entender os cursos de educação cívica, voltemos aos filósofos escoceses, como Locke, Hume e Adam Smith. Para eles, nascemos com um sentido do certo e do errado. Uma pessoa de bem não tem dificuldades para deslindar um do outro. Essa competência é parte do nosso equipamento de fábrica. Justifica-se, ipso facto, o Direito Natural, pai da Common Law, cuja tradição é confiar no julgamento de pessoas respeitadas. Até hoje é possível ser juiz na Inglaterra sem haver feito curso de Direito.

Curioso lembrar uma pesquisa recente, com bebês de 2 anos. Num teatrinho, participam três bonecos. Um tenta subir numa escada, um segundo atrapalha e um terceiro ajuda. Após a cena são oferecidos os bonecos aos bebês. Sistematicamente, escolhem o que ajuda. Sua opção não refletiria um julgamento moral?

Entra em cena Robert Cole, professor de Harvard e psicólogo clínico. Por décadas tratou de jovens delinquentes. Em livro ele relata que os jovens cujo comportamento feria as leis tinham plena consciência de que estavam agindo errado. Ou seja, cometiam atos antissociais ou ilegais com amplo conhecimento de causa. Eram sua forma de protestar contra a hipocrisia da família ou da sociedade.

Isso sugere que uma disciplina de Moral e Cívica (ou que nome se lhe dê) vai chover no molhado. Vai dizer, de forma chata e antipática, o que os alunos já sabem. Se agem errado, não é por não saberem. Pela mesma razão, são perfeitamente inócuos os sermões e mandamentos.

De fato, pesquisas internacionais mostram que disciplinas de civismo informam sobre as leis e o funcionamento do governo. Contudo não mudam as crenças e comportamentos dos alunos. Como forma de combate à incivilidade, pouco ajudam.

Em contraste, as narrativas funcionam. A velha “contação de histórias” continua eficaz. As mais canônicas são os sermões de Jesus Cristo e as fábulas. Contam uma história, pode ser de fariseus no templo ou uvas altas na parreira. O enredo cativa, mobiliza o hemisfério direito do cérebro, o da emoção. Mas por trás da história está a sua “moral”. Em fim de contas, a mensagem está endereçada ao hemisfério esquerdo, o da razão. Mas é pela sinergia entre os dois que elas calam.

Cursos eficazes de Ética não são aulas sobre Kant ou os gregos. E ainda menos de catecismo. O que funciona é examinar casos concretos, alguns podem até ser tirados de jornais. Ao discutir essas situações, os alunos entram profundamente na essência dos dilemas da vida, tirando suas lições.

E as escolas militares? Entendamos como se desenvolve o nosso comportamento ético (ou antiético). O que mais determina o equipamento moral de um jovem é a observação das pessoas e instituições do seu entorno. Crescem tendo os pais como role models. E logo entram em cena os professores e escolas, com enorme poder de moldar valores. Mas não importam as grandiloquentes pregações da escola ou dos pais, o que conta é como agem, na prática. No seu funcionamento cotidiano, a escola está ensinando tolerância, justiça, generosidade, diligência ou respeito pelas regras? Ou dizem uma coisa e fazem outra – criando uma dissonância emocional e cognitiva, em parte culpada pela revolta dos alunos?

As escolas militares tendem a ser eficazes, seja no plano acadêmico, seja ao inculcar valores funcionais na sociedade de hoje. Mas não é por marchar ou hastear a bandeira. Simplesmente têm normas explícitas e há clara atribuição de autoridade. As regras são cumpridas e as rotinas fluem como previsto. O contraste é flagrante com as escolas públicas.

No fundo, não é por serem militares que dão certo, mas por oferecerem ao aluno um clima de respeito, estabilidade e previsibilidade. Fazem o mesmo papel as boas escolas religiosas ou leigas. Aliás, a típica escola europeia ou asiática é tão ou mais rigorosa na disciplina que as escolas militares.

Ensinar Ética em cursos bem concebidos faz todo o sentido. Porém as lições que mais calam não estão escritas nos livros-texto. O que conta é um currículo oculto que se manifesta na forma de a escola operar. Dar o bom exemplo no seu funcionamento cotidiano é tudo. É mais central do que seu papel de ensinar verbos irregulares ou o nome da plantinha.

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