Professor de Filosofia na UFRGS, Denis Lerrer Rosenfield escreve quinzenalmente na seção Espaço Aberto

Opinião|Amadurecimento democrático


Se olharmos as administrações estaduais, observaremos a preocupação com a responsabilidade fiscal, o cuidado com a educação, a confiança nas eleições

Por Denis Lerrer Rosenfield

Lula da Silva não foi eleito por suas ideias e projetos, aliás inexistentes, mas por ter se colocado como alternativa a Jair Bolsonaro. Chegou a encarnar, a despeito das convicções nada democráticas de seu partido, sendo o apoio à fraude eleitoral de Nicolás Maduro o seu exemplo mais escandaloso, uma frente “democrática”. Os cidadãos que o elegeram o fizeram por ter podido se apresentar como a concretização do “não”. Foi eleito por ser anti o presidente de então, e não por ter algo a propor.

Bolsonaro perdeu as eleições por falar demais, não saber silenciar em momentos cruciais, pela falta de empatia com as vítimas da covid e por ter enveredado para um ataque às instituições democráticas. Sua contestação das urnas eletrônicas foi um exemplo de até onde poderia ir, embora tenha sido freado de ir mais além. Se mais moderado tivesse sido, muito provavelmente teria ganhado a eleição. Um eleitorado de centro, não petista, terminou por abandoná-lo. Não soube ter a cautela que o momento exigia.

Acontece que um e outro vivem do discurso do não, um necessitando do outro para se posicionar. Eles se amam e se odeiam, mas não podem viver um sem o outro. Lula continua expondo Bolsonaro como seu opositor, apesar de o ex-presidente estar inelegível. Sem ele, sua demagogia perde sustentação. Bolsonaro, por sua vez, apresenta-se como se fosse um candidato potencial, visto que a sua narrativa própria é a de ser anti alguma coisa, sendo Lula e o petismo os seus alvos preferenciais. Ambos se consideram como inimigos, um procurando eliminar o outro, como se, fora da polarização deles, nada mais existisse. Com sinais semelhantes, embora trocados, é o lema lulista do “nós contra eles”. São em igualdade de condições responsáveis por esta polarização na qual está imerso o País.

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No entanto, os eleitores brasileiros não sucumbiram a essa polarização no que diz respeito às eleições do Senado e da Câmara dos Deputados, tampouco na escolha dos governadores, em que figuras mais moderadas, diria mais democráticas, terminaram tendo um maior protagonismo.

No Congresso Nacional, parlamentares de centro vieram a formar maioria, tendo o partido de Bolsonaro conquistado significativa bancada, sendo hoje lá uma força importante. O PT e seus aliados mais tradicionais da esquerda possuem atualmente uma fraca representação parlamentar, nada podendo fazer sozinhos nas diferentes votações do Senado e da Câmara dos Deputados. Tornaram-se meros figurantes. Ou seja, a polarização existente nas eleições presidenciais não se duplicou nas eleições legislativas. Que o Senado e a Câmara estejam agora exibindo um mau exemplo de corporativismo e de defesa de interesses paroquiais por intermédio das emendas parlamentares, adentrando-se no âmbito das políticas públicas do Executivo, em nada altera o fato de que estejam comprometidos com as instituições democráticas. Aliás, delas dependem para manter um status quo que lhes é favorável.

Nas eleições para governadores, esse fenômeno se fez presente de uma maneira semelhante. Via de regra, os eleitores escolheram políticos voltados para a administração de seus Estados, evitando qualquer polarização apesar de suas preferências partidárias. A safra de governadores, por assim dizer, é muito boa, alguns se colocando, desde já, como alternativas para as eleições presidenciais. Podem contar com o apoio do atual e do ex-presidente, apesar de não poderem ser considerados como marionetes. Trata-se aí do jogo eleitoral. O que importa ressaltar, contudo, é que esses governadores são democratas, avessos aos extremismos e excelentes administradores.

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Nesse sentido, alguns já se apresentam como presidenciáveis. Concretizando-se esse processo, poderão oferecer, enfim, uma outra alternativa ao Brasil, para além da polarização reinante. Talvez tenhamos uma oportunidade única nas próximas eleições. Ronaldo Caiado, de Goiás, Tarcísio de Freitas, de São Paulo, Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, Romeu Zema, de Minas Gerais, e Ratinho Júnior, do Paraná, são nomes que, nessa perspectiva, se destacam. Friso aqui apenas os que estão sendo cogitados como nomes para as eleições de 2026, sem demérito de outros excelentes governadores, como Eduardo Riedel, de Mato Grosso do Sul, e Helder Barbalho, do Pará. Trata-se do embarras du choix, o embaraço da escolha.

Se olharmos as administrações estaduais, em suas diferenças próprias, observaremos a preocupação com a responsabilidade fiscal, a segurança dos cidadãos, a realização de projetos de infraestrutura, o cuidado com a educação, a habilidade nas negociações com os respectivos Parlamentos, a confiança nas eleições e o respeito às instituições democráticas. Todos se movem com cautela, tendo em vista o tempo que ainda temos para as eleições de 2026. Todavia, convém ressaltar com antecedência que há motivo de otimismo, qualquer que seja o eleito.

O Brasil amadureceu politicamente.

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PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS. E-MAIL: DENISROSENFIELD@TERRA.COM.BR

Lula da Silva não foi eleito por suas ideias e projetos, aliás inexistentes, mas por ter se colocado como alternativa a Jair Bolsonaro. Chegou a encarnar, a despeito das convicções nada democráticas de seu partido, sendo o apoio à fraude eleitoral de Nicolás Maduro o seu exemplo mais escandaloso, uma frente “democrática”. Os cidadãos que o elegeram o fizeram por ter podido se apresentar como a concretização do “não”. Foi eleito por ser anti o presidente de então, e não por ter algo a propor.

Bolsonaro perdeu as eleições por falar demais, não saber silenciar em momentos cruciais, pela falta de empatia com as vítimas da covid e por ter enveredado para um ataque às instituições democráticas. Sua contestação das urnas eletrônicas foi um exemplo de até onde poderia ir, embora tenha sido freado de ir mais além. Se mais moderado tivesse sido, muito provavelmente teria ganhado a eleição. Um eleitorado de centro, não petista, terminou por abandoná-lo. Não soube ter a cautela que o momento exigia.

Acontece que um e outro vivem do discurso do não, um necessitando do outro para se posicionar. Eles se amam e se odeiam, mas não podem viver um sem o outro. Lula continua expondo Bolsonaro como seu opositor, apesar de o ex-presidente estar inelegível. Sem ele, sua demagogia perde sustentação. Bolsonaro, por sua vez, apresenta-se como se fosse um candidato potencial, visto que a sua narrativa própria é a de ser anti alguma coisa, sendo Lula e o petismo os seus alvos preferenciais. Ambos se consideram como inimigos, um procurando eliminar o outro, como se, fora da polarização deles, nada mais existisse. Com sinais semelhantes, embora trocados, é o lema lulista do “nós contra eles”. São em igualdade de condições responsáveis por esta polarização na qual está imerso o País.

No entanto, os eleitores brasileiros não sucumbiram a essa polarização no que diz respeito às eleições do Senado e da Câmara dos Deputados, tampouco na escolha dos governadores, em que figuras mais moderadas, diria mais democráticas, terminaram tendo um maior protagonismo.

No Congresso Nacional, parlamentares de centro vieram a formar maioria, tendo o partido de Bolsonaro conquistado significativa bancada, sendo hoje lá uma força importante. O PT e seus aliados mais tradicionais da esquerda possuem atualmente uma fraca representação parlamentar, nada podendo fazer sozinhos nas diferentes votações do Senado e da Câmara dos Deputados. Tornaram-se meros figurantes. Ou seja, a polarização existente nas eleições presidenciais não se duplicou nas eleições legislativas. Que o Senado e a Câmara estejam agora exibindo um mau exemplo de corporativismo e de defesa de interesses paroquiais por intermédio das emendas parlamentares, adentrando-se no âmbito das políticas públicas do Executivo, em nada altera o fato de que estejam comprometidos com as instituições democráticas. Aliás, delas dependem para manter um status quo que lhes é favorável.

Nas eleições para governadores, esse fenômeno se fez presente de uma maneira semelhante. Via de regra, os eleitores escolheram políticos voltados para a administração de seus Estados, evitando qualquer polarização apesar de suas preferências partidárias. A safra de governadores, por assim dizer, é muito boa, alguns se colocando, desde já, como alternativas para as eleições presidenciais. Podem contar com o apoio do atual e do ex-presidente, apesar de não poderem ser considerados como marionetes. Trata-se aí do jogo eleitoral. O que importa ressaltar, contudo, é que esses governadores são democratas, avessos aos extremismos e excelentes administradores.

Nesse sentido, alguns já se apresentam como presidenciáveis. Concretizando-se esse processo, poderão oferecer, enfim, uma outra alternativa ao Brasil, para além da polarização reinante. Talvez tenhamos uma oportunidade única nas próximas eleições. Ronaldo Caiado, de Goiás, Tarcísio de Freitas, de São Paulo, Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, Romeu Zema, de Minas Gerais, e Ratinho Júnior, do Paraná, são nomes que, nessa perspectiva, se destacam. Friso aqui apenas os que estão sendo cogitados como nomes para as eleições de 2026, sem demérito de outros excelentes governadores, como Eduardo Riedel, de Mato Grosso do Sul, e Helder Barbalho, do Pará. Trata-se do embarras du choix, o embaraço da escolha.

Se olharmos as administrações estaduais, em suas diferenças próprias, observaremos a preocupação com a responsabilidade fiscal, a segurança dos cidadãos, a realização de projetos de infraestrutura, o cuidado com a educação, a habilidade nas negociações com os respectivos Parlamentos, a confiança nas eleições e o respeito às instituições democráticas. Todos se movem com cautela, tendo em vista o tempo que ainda temos para as eleições de 2026. Todavia, convém ressaltar com antecedência que há motivo de otimismo, qualquer que seja o eleito.

O Brasil amadureceu politicamente.

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Lula da Silva não foi eleito por suas ideias e projetos, aliás inexistentes, mas por ter se colocado como alternativa a Jair Bolsonaro. Chegou a encarnar, a despeito das convicções nada democráticas de seu partido, sendo o apoio à fraude eleitoral de Nicolás Maduro o seu exemplo mais escandaloso, uma frente “democrática”. Os cidadãos que o elegeram o fizeram por ter podido se apresentar como a concretização do “não”. Foi eleito por ser anti o presidente de então, e não por ter algo a propor.

Bolsonaro perdeu as eleições por falar demais, não saber silenciar em momentos cruciais, pela falta de empatia com as vítimas da covid e por ter enveredado para um ataque às instituições democráticas. Sua contestação das urnas eletrônicas foi um exemplo de até onde poderia ir, embora tenha sido freado de ir mais além. Se mais moderado tivesse sido, muito provavelmente teria ganhado a eleição. Um eleitorado de centro, não petista, terminou por abandoná-lo. Não soube ter a cautela que o momento exigia.

Acontece que um e outro vivem do discurso do não, um necessitando do outro para se posicionar. Eles se amam e se odeiam, mas não podem viver um sem o outro. Lula continua expondo Bolsonaro como seu opositor, apesar de o ex-presidente estar inelegível. Sem ele, sua demagogia perde sustentação. Bolsonaro, por sua vez, apresenta-se como se fosse um candidato potencial, visto que a sua narrativa própria é a de ser anti alguma coisa, sendo Lula e o petismo os seus alvos preferenciais. Ambos se consideram como inimigos, um procurando eliminar o outro, como se, fora da polarização deles, nada mais existisse. Com sinais semelhantes, embora trocados, é o lema lulista do “nós contra eles”. São em igualdade de condições responsáveis por esta polarização na qual está imerso o País.

No entanto, os eleitores brasileiros não sucumbiram a essa polarização no que diz respeito às eleições do Senado e da Câmara dos Deputados, tampouco na escolha dos governadores, em que figuras mais moderadas, diria mais democráticas, terminaram tendo um maior protagonismo.

No Congresso Nacional, parlamentares de centro vieram a formar maioria, tendo o partido de Bolsonaro conquistado significativa bancada, sendo hoje lá uma força importante. O PT e seus aliados mais tradicionais da esquerda possuem atualmente uma fraca representação parlamentar, nada podendo fazer sozinhos nas diferentes votações do Senado e da Câmara dos Deputados. Tornaram-se meros figurantes. Ou seja, a polarização existente nas eleições presidenciais não se duplicou nas eleições legislativas. Que o Senado e a Câmara estejam agora exibindo um mau exemplo de corporativismo e de defesa de interesses paroquiais por intermédio das emendas parlamentares, adentrando-se no âmbito das políticas públicas do Executivo, em nada altera o fato de que estejam comprometidos com as instituições democráticas. Aliás, delas dependem para manter um status quo que lhes é favorável.

Nas eleições para governadores, esse fenômeno se fez presente de uma maneira semelhante. Via de regra, os eleitores escolheram políticos voltados para a administração de seus Estados, evitando qualquer polarização apesar de suas preferências partidárias. A safra de governadores, por assim dizer, é muito boa, alguns se colocando, desde já, como alternativas para as eleições presidenciais. Podem contar com o apoio do atual e do ex-presidente, apesar de não poderem ser considerados como marionetes. Trata-se aí do jogo eleitoral. O que importa ressaltar, contudo, é que esses governadores são democratas, avessos aos extremismos e excelentes administradores.

Nesse sentido, alguns já se apresentam como presidenciáveis. Concretizando-se esse processo, poderão oferecer, enfim, uma outra alternativa ao Brasil, para além da polarização reinante. Talvez tenhamos uma oportunidade única nas próximas eleições. Ronaldo Caiado, de Goiás, Tarcísio de Freitas, de São Paulo, Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, Romeu Zema, de Minas Gerais, e Ratinho Júnior, do Paraná, são nomes que, nessa perspectiva, se destacam. Friso aqui apenas os que estão sendo cogitados como nomes para as eleições de 2026, sem demérito de outros excelentes governadores, como Eduardo Riedel, de Mato Grosso do Sul, e Helder Barbalho, do Pará. Trata-se do embarras du choix, o embaraço da escolha.

Se olharmos as administrações estaduais, em suas diferenças próprias, observaremos a preocupação com a responsabilidade fiscal, a segurança dos cidadãos, a realização de projetos de infraestrutura, o cuidado com a educação, a habilidade nas negociações com os respectivos Parlamentos, a confiança nas eleições e o respeito às instituições democráticas. Todos se movem com cautela, tendo em vista o tempo que ainda temos para as eleições de 2026. Todavia, convém ressaltar com antecedência que há motivo de otimismo, qualquer que seja o eleito.

O Brasil amadureceu politicamente.

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Lula da Silva não foi eleito por suas ideias e projetos, aliás inexistentes, mas por ter se colocado como alternativa a Jair Bolsonaro. Chegou a encarnar, a despeito das convicções nada democráticas de seu partido, sendo o apoio à fraude eleitoral de Nicolás Maduro o seu exemplo mais escandaloso, uma frente “democrática”. Os cidadãos que o elegeram o fizeram por ter podido se apresentar como a concretização do “não”. Foi eleito por ser anti o presidente de então, e não por ter algo a propor.

Bolsonaro perdeu as eleições por falar demais, não saber silenciar em momentos cruciais, pela falta de empatia com as vítimas da covid e por ter enveredado para um ataque às instituições democráticas. Sua contestação das urnas eletrônicas foi um exemplo de até onde poderia ir, embora tenha sido freado de ir mais além. Se mais moderado tivesse sido, muito provavelmente teria ganhado a eleição. Um eleitorado de centro, não petista, terminou por abandoná-lo. Não soube ter a cautela que o momento exigia.

Acontece que um e outro vivem do discurso do não, um necessitando do outro para se posicionar. Eles se amam e se odeiam, mas não podem viver um sem o outro. Lula continua expondo Bolsonaro como seu opositor, apesar de o ex-presidente estar inelegível. Sem ele, sua demagogia perde sustentação. Bolsonaro, por sua vez, apresenta-se como se fosse um candidato potencial, visto que a sua narrativa própria é a de ser anti alguma coisa, sendo Lula e o petismo os seus alvos preferenciais. Ambos se consideram como inimigos, um procurando eliminar o outro, como se, fora da polarização deles, nada mais existisse. Com sinais semelhantes, embora trocados, é o lema lulista do “nós contra eles”. São em igualdade de condições responsáveis por esta polarização na qual está imerso o País.

No entanto, os eleitores brasileiros não sucumbiram a essa polarização no que diz respeito às eleições do Senado e da Câmara dos Deputados, tampouco na escolha dos governadores, em que figuras mais moderadas, diria mais democráticas, terminaram tendo um maior protagonismo.

No Congresso Nacional, parlamentares de centro vieram a formar maioria, tendo o partido de Bolsonaro conquistado significativa bancada, sendo hoje lá uma força importante. O PT e seus aliados mais tradicionais da esquerda possuem atualmente uma fraca representação parlamentar, nada podendo fazer sozinhos nas diferentes votações do Senado e da Câmara dos Deputados. Tornaram-se meros figurantes. Ou seja, a polarização existente nas eleições presidenciais não se duplicou nas eleições legislativas. Que o Senado e a Câmara estejam agora exibindo um mau exemplo de corporativismo e de defesa de interesses paroquiais por intermédio das emendas parlamentares, adentrando-se no âmbito das políticas públicas do Executivo, em nada altera o fato de que estejam comprometidos com as instituições democráticas. Aliás, delas dependem para manter um status quo que lhes é favorável.

Nas eleições para governadores, esse fenômeno se fez presente de uma maneira semelhante. Via de regra, os eleitores escolheram políticos voltados para a administração de seus Estados, evitando qualquer polarização apesar de suas preferências partidárias. A safra de governadores, por assim dizer, é muito boa, alguns se colocando, desde já, como alternativas para as eleições presidenciais. Podem contar com o apoio do atual e do ex-presidente, apesar de não poderem ser considerados como marionetes. Trata-se aí do jogo eleitoral. O que importa ressaltar, contudo, é que esses governadores são democratas, avessos aos extremismos e excelentes administradores.

Nesse sentido, alguns já se apresentam como presidenciáveis. Concretizando-se esse processo, poderão oferecer, enfim, uma outra alternativa ao Brasil, para além da polarização reinante. Talvez tenhamos uma oportunidade única nas próximas eleições. Ronaldo Caiado, de Goiás, Tarcísio de Freitas, de São Paulo, Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, Romeu Zema, de Minas Gerais, e Ratinho Júnior, do Paraná, são nomes que, nessa perspectiva, se destacam. Friso aqui apenas os que estão sendo cogitados como nomes para as eleições de 2026, sem demérito de outros excelentes governadores, como Eduardo Riedel, de Mato Grosso do Sul, e Helder Barbalho, do Pará. Trata-se do embarras du choix, o embaraço da escolha.

Se olharmos as administrações estaduais, em suas diferenças próprias, observaremos a preocupação com a responsabilidade fiscal, a segurança dos cidadãos, a realização de projetos de infraestrutura, o cuidado com a educação, a habilidade nas negociações com os respectivos Parlamentos, a confiança nas eleições e o respeito às instituições democráticas. Todos se movem com cautela, tendo em vista o tempo que ainda temos para as eleições de 2026. Todavia, convém ressaltar com antecedência que há motivo de otimismo, qualquer que seja o eleito.

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Lula da Silva não foi eleito por suas ideias e projetos, aliás inexistentes, mas por ter se colocado como alternativa a Jair Bolsonaro. Chegou a encarnar, a despeito das convicções nada democráticas de seu partido, sendo o apoio à fraude eleitoral de Nicolás Maduro o seu exemplo mais escandaloso, uma frente “democrática”. Os cidadãos que o elegeram o fizeram por ter podido se apresentar como a concretização do “não”. Foi eleito por ser anti o presidente de então, e não por ter algo a propor.

Bolsonaro perdeu as eleições por falar demais, não saber silenciar em momentos cruciais, pela falta de empatia com as vítimas da covid e por ter enveredado para um ataque às instituições democráticas. Sua contestação das urnas eletrônicas foi um exemplo de até onde poderia ir, embora tenha sido freado de ir mais além. Se mais moderado tivesse sido, muito provavelmente teria ganhado a eleição. Um eleitorado de centro, não petista, terminou por abandoná-lo. Não soube ter a cautela que o momento exigia.

Acontece que um e outro vivem do discurso do não, um necessitando do outro para se posicionar. Eles se amam e se odeiam, mas não podem viver um sem o outro. Lula continua expondo Bolsonaro como seu opositor, apesar de o ex-presidente estar inelegível. Sem ele, sua demagogia perde sustentação. Bolsonaro, por sua vez, apresenta-se como se fosse um candidato potencial, visto que a sua narrativa própria é a de ser anti alguma coisa, sendo Lula e o petismo os seus alvos preferenciais. Ambos se consideram como inimigos, um procurando eliminar o outro, como se, fora da polarização deles, nada mais existisse. Com sinais semelhantes, embora trocados, é o lema lulista do “nós contra eles”. São em igualdade de condições responsáveis por esta polarização na qual está imerso o País.

No entanto, os eleitores brasileiros não sucumbiram a essa polarização no que diz respeito às eleições do Senado e da Câmara dos Deputados, tampouco na escolha dos governadores, em que figuras mais moderadas, diria mais democráticas, terminaram tendo um maior protagonismo.

No Congresso Nacional, parlamentares de centro vieram a formar maioria, tendo o partido de Bolsonaro conquistado significativa bancada, sendo hoje lá uma força importante. O PT e seus aliados mais tradicionais da esquerda possuem atualmente uma fraca representação parlamentar, nada podendo fazer sozinhos nas diferentes votações do Senado e da Câmara dos Deputados. Tornaram-se meros figurantes. Ou seja, a polarização existente nas eleições presidenciais não se duplicou nas eleições legislativas. Que o Senado e a Câmara estejam agora exibindo um mau exemplo de corporativismo e de defesa de interesses paroquiais por intermédio das emendas parlamentares, adentrando-se no âmbito das políticas públicas do Executivo, em nada altera o fato de que estejam comprometidos com as instituições democráticas. Aliás, delas dependem para manter um status quo que lhes é favorável.

Nas eleições para governadores, esse fenômeno se fez presente de uma maneira semelhante. Via de regra, os eleitores escolheram políticos voltados para a administração de seus Estados, evitando qualquer polarização apesar de suas preferências partidárias. A safra de governadores, por assim dizer, é muito boa, alguns se colocando, desde já, como alternativas para as eleições presidenciais. Podem contar com o apoio do atual e do ex-presidente, apesar de não poderem ser considerados como marionetes. Trata-se aí do jogo eleitoral. O que importa ressaltar, contudo, é que esses governadores são democratas, avessos aos extremismos e excelentes administradores.

Nesse sentido, alguns já se apresentam como presidenciáveis. Concretizando-se esse processo, poderão oferecer, enfim, uma outra alternativa ao Brasil, para além da polarização reinante. Talvez tenhamos uma oportunidade única nas próximas eleições. Ronaldo Caiado, de Goiás, Tarcísio de Freitas, de São Paulo, Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, Romeu Zema, de Minas Gerais, e Ratinho Júnior, do Paraná, são nomes que, nessa perspectiva, se destacam. Friso aqui apenas os que estão sendo cogitados como nomes para as eleições de 2026, sem demérito de outros excelentes governadores, como Eduardo Riedel, de Mato Grosso do Sul, e Helder Barbalho, do Pará. Trata-se do embarras du choix, o embaraço da escolha.

Se olharmos as administrações estaduais, em suas diferenças próprias, observaremos a preocupação com a responsabilidade fiscal, a segurança dos cidadãos, a realização de projetos de infraestrutura, o cuidado com a educação, a habilidade nas negociações com os respectivos Parlamentos, a confiança nas eleições e o respeito às instituições democráticas. Todos se movem com cautela, tendo em vista o tempo que ainda temos para as eleições de 2026. Todavia, convém ressaltar com antecedência que há motivo de otimismo, qualquer que seja o eleito.

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