Professor de Filosofia na UFRGS, Denis Lerrer Rosenfield escreve quinzenalmente na seção Espaço Aberto

Opinião|Farsa e narrativa


O Lula politicamente intuitivo e astuto do primeiro mandato dá lugar a um presidente incoerente, dominado ideologicamente e politicamente desorientado

Por Denis Lerrer Rosenfield

No mundo de Lula, alhures, fatos não são fatos, o que significa dizer que tortura não é tortura, repressão não é repressão, direitos humanos não são direitos humanos, Estado Democrático de Direito não é Estado Democrático de Direito. Tudo se torna uma mera questão de narrativa, uma sendo substituída por outra, como se a verdade não existisse em lugar nenhum. Aliás, como ele e o seu partido advogaram por uma Comissão da Verdade em relação ao Brasil, se a verdade não existe e tudo é uma simples questão de narrativa?

A acolhida de Lula ao ditador Nicolás Maduro, pária em nível internacional, recepcionado como chefe de Estado de um regime “democrático”, foi estarrecedora, mesmo para aqueles que começam a se acostumar com o festival de besteiras do novo governo, que nada deve neste quesito ao anterior. Se Stanislaw Ponte Preta ainda vivesse, teria material inesgotável para um novo livro, talvez ainda mais hilário do que o anterior.

Ao afirmar que a realidade repressiva bolivariana – a do tal “socialismo do século 21″ (pobre socialismo, a isso reduzido) – é uma mera questão de narrativa, servindo aos propósitos dos EUA, ou seja, do imperialismo e do Ocidente, Lula procurou velar o que lá se passa. Isso porque o “amigo” é um “companheiro”, seguindo os comunistas soviéticos que, no passado, se tratavam entre si como “camaradas”. Entre eles, tudo era permitido, inclusive o crime, a violência, a tortura e a invasão de países tidos por “inimigos”. A esbórnia com as palavras era mais um atentado ao vernáculo.

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Agora, numa suposta cúpula latino-americana, planejada como uma forma preliminar de união entre países ideologicamente próximos, visando a ressuscitar o projeto chavista da Unasul, eis que uma nova pérola política surge. O Brasil passaria a defender a “democracia” chavista/madurista, que teria sido deturpada por uma narrativa ocidental, que teria sido apropriada pela mídia internacional. Haveria, aqui, o resgate de uma vítima, Maduro, que teria sido denegrido pela imprensa internacional. A serviço, certamente, do “Ocidente”, do “imperialismo” ou de algo que o valha.

Os 7 milhões de refugiados venezuelanos espalhados pelo mundo, sobretudo na América Latina, inclusive no Brasil, poderiam ser escutados. Voz deveria ser dada a eles. São os pobres, os oprimidos, os violentados. Não é esta, aliás, a bandeira das esquerdas, inclusive do PT? Em vez disso, voz é dada ao ditador, ao que mantém seu povo sob o jugo da violência. Vejam só: o ditador torna-se a vítima!

Felizmente, presidentes sensatos estavam presentes na cúpula, com especial menção ao presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou, e ao do Chile, Gabriel Boric. Ambos se insurgiram com veemência contra as declarações do presidente Lula. O primeiro, de centro-direita, mostrou que a defesa dos direitos humanos transcende posições ideológicas, visto que esses direitos são universais, valendo para qualquer país, independentemente de questões de ordem política. O segundo, de esquerda, seguiu na mesma linha. No caso de Boric, não deixa de ser surpreendente, pois, sendo de formação comunista, defensor de pautas identitárias, ele não se alinhou ao seu “companheiro” de esquerda, conferindo a essa conotação política uma dimensão universal.

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É deveras preocupante que o presidente Lula exiba tal manifesto desprezo pelos direitos humanos e pelo Estado Democrático de Direito. O ditador Maduro, na esteira de seu predecessor, suprimiu a liberdade de imprensa, perseguindo com afinco qualquer voz discordante. Fraudou sistematicamente o resultado das eleições, exercendo férreo controle sobre as oposições. Inclusive, decidindo sobre quem poderia ou não disputar as eleições, redesenhando, segundo suas conveniências, as circunscrições eleitorais. Forças militares, policiais, paramilitares e parapoliciais reprimem com força os cidadãos, eliminando fisicamente opositores, além da prática da tortura, há muito denunciada. O Congresso e o Judiciário foram amordaçados, deixando de ser Poderes independentes. É essa a “democracia” almejada para o Brasil?

A farsa parece desconhecer limites. Se Lula planeja se tornar um grande líder internacional, um mediador de conflitos como na guerra empreendida pela Rússia contra a Ucrânia, o seu caminho não poderia ser pior. Está rapidamente dilapidando seu capital internacional conquistado ao ganhar as eleições defendendo a “democracia” e a pauta ambiental, ambas caras ao Ocidente, tão desprezado em suas declarações. Seu posicionamento junto de párias internacionais em nada contribui para o seu projeto. A pauta ambiental começa, igualmente, a passar para segundo plano. O Lula astuto e politicamente intuitivo do seu primeiro mandato está dando lugar a um presidente incoerente, dominado ideologicamente e politicamente desorientado.

Que tal Lula advogar por uma Comissão da Verdade para investigar os crimes de Maduro e de seu entorno, mantendo ao menos um mínimo de coerência em relação a atitudes suas no passado?

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PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS. E-MAIL: DENISROSENFIELD@TERRA.COM.BR

No mundo de Lula, alhures, fatos não são fatos, o que significa dizer que tortura não é tortura, repressão não é repressão, direitos humanos não são direitos humanos, Estado Democrático de Direito não é Estado Democrático de Direito. Tudo se torna uma mera questão de narrativa, uma sendo substituída por outra, como se a verdade não existisse em lugar nenhum. Aliás, como ele e o seu partido advogaram por uma Comissão da Verdade em relação ao Brasil, se a verdade não existe e tudo é uma simples questão de narrativa?

A acolhida de Lula ao ditador Nicolás Maduro, pária em nível internacional, recepcionado como chefe de Estado de um regime “democrático”, foi estarrecedora, mesmo para aqueles que começam a se acostumar com o festival de besteiras do novo governo, que nada deve neste quesito ao anterior. Se Stanislaw Ponte Preta ainda vivesse, teria material inesgotável para um novo livro, talvez ainda mais hilário do que o anterior.

Ao afirmar que a realidade repressiva bolivariana – a do tal “socialismo do século 21″ (pobre socialismo, a isso reduzido) – é uma mera questão de narrativa, servindo aos propósitos dos EUA, ou seja, do imperialismo e do Ocidente, Lula procurou velar o que lá se passa. Isso porque o “amigo” é um “companheiro”, seguindo os comunistas soviéticos que, no passado, se tratavam entre si como “camaradas”. Entre eles, tudo era permitido, inclusive o crime, a violência, a tortura e a invasão de países tidos por “inimigos”. A esbórnia com as palavras era mais um atentado ao vernáculo.

Agora, numa suposta cúpula latino-americana, planejada como uma forma preliminar de união entre países ideologicamente próximos, visando a ressuscitar o projeto chavista da Unasul, eis que uma nova pérola política surge. O Brasil passaria a defender a “democracia” chavista/madurista, que teria sido deturpada por uma narrativa ocidental, que teria sido apropriada pela mídia internacional. Haveria, aqui, o resgate de uma vítima, Maduro, que teria sido denegrido pela imprensa internacional. A serviço, certamente, do “Ocidente”, do “imperialismo” ou de algo que o valha.

Os 7 milhões de refugiados venezuelanos espalhados pelo mundo, sobretudo na América Latina, inclusive no Brasil, poderiam ser escutados. Voz deveria ser dada a eles. São os pobres, os oprimidos, os violentados. Não é esta, aliás, a bandeira das esquerdas, inclusive do PT? Em vez disso, voz é dada ao ditador, ao que mantém seu povo sob o jugo da violência. Vejam só: o ditador torna-se a vítima!

Felizmente, presidentes sensatos estavam presentes na cúpula, com especial menção ao presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou, e ao do Chile, Gabriel Boric. Ambos se insurgiram com veemência contra as declarações do presidente Lula. O primeiro, de centro-direita, mostrou que a defesa dos direitos humanos transcende posições ideológicas, visto que esses direitos são universais, valendo para qualquer país, independentemente de questões de ordem política. O segundo, de esquerda, seguiu na mesma linha. No caso de Boric, não deixa de ser surpreendente, pois, sendo de formação comunista, defensor de pautas identitárias, ele não se alinhou ao seu “companheiro” de esquerda, conferindo a essa conotação política uma dimensão universal.

É deveras preocupante que o presidente Lula exiba tal manifesto desprezo pelos direitos humanos e pelo Estado Democrático de Direito. O ditador Maduro, na esteira de seu predecessor, suprimiu a liberdade de imprensa, perseguindo com afinco qualquer voz discordante. Fraudou sistematicamente o resultado das eleições, exercendo férreo controle sobre as oposições. Inclusive, decidindo sobre quem poderia ou não disputar as eleições, redesenhando, segundo suas conveniências, as circunscrições eleitorais. Forças militares, policiais, paramilitares e parapoliciais reprimem com força os cidadãos, eliminando fisicamente opositores, além da prática da tortura, há muito denunciada. O Congresso e o Judiciário foram amordaçados, deixando de ser Poderes independentes. É essa a “democracia” almejada para o Brasil?

A farsa parece desconhecer limites. Se Lula planeja se tornar um grande líder internacional, um mediador de conflitos como na guerra empreendida pela Rússia contra a Ucrânia, o seu caminho não poderia ser pior. Está rapidamente dilapidando seu capital internacional conquistado ao ganhar as eleições defendendo a “democracia” e a pauta ambiental, ambas caras ao Ocidente, tão desprezado em suas declarações. Seu posicionamento junto de párias internacionais em nada contribui para o seu projeto. A pauta ambiental começa, igualmente, a passar para segundo plano. O Lula astuto e politicamente intuitivo do seu primeiro mandato está dando lugar a um presidente incoerente, dominado ideologicamente e politicamente desorientado.

Que tal Lula advogar por uma Comissão da Verdade para investigar os crimes de Maduro e de seu entorno, mantendo ao menos um mínimo de coerência em relação a atitudes suas no passado?

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PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS. E-MAIL: DENISROSENFIELD@TERRA.COM.BR

No mundo de Lula, alhures, fatos não são fatos, o que significa dizer que tortura não é tortura, repressão não é repressão, direitos humanos não são direitos humanos, Estado Democrático de Direito não é Estado Democrático de Direito. Tudo se torna uma mera questão de narrativa, uma sendo substituída por outra, como se a verdade não existisse em lugar nenhum. Aliás, como ele e o seu partido advogaram por uma Comissão da Verdade em relação ao Brasil, se a verdade não existe e tudo é uma simples questão de narrativa?

A acolhida de Lula ao ditador Nicolás Maduro, pária em nível internacional, recepcionado como chefe de Estado de um regime “democrático”, foi estarrecedora, mesmo para aqueles que começam a se acostumar com o festival de besteiras do novo governo, que nada deve neste quesito ao anterior. Se Stanislaw Ponte Preta ainda vivesse, teria material inesgotável para um novo livro, talvez ainda mais hilário do que o anterior.

Ao afirmar que a realidade repressiva bolivariana – a do tal “socialismo do século 21″ (pobre socialismo, a isso reduzido) – é uma mera questão de narrativa, servindo aos propósitos dos EUA, ou seja, do imperialismo e do Ocidente, Lula procurou velar o que lá se passa. Isso porque o “amigo” é um “companheiro”, seguindo os comunistas soviéticos que, no passado, se tratavam entre si como “camaradas”. Entre eles, tudo era permitido, inclusive o crime, a violência, a tortura e a invasão de países tidos por “inimigos”. A esbórnia com as palavras era mais um atentado ao vernáculo.

Agora, numa suposta cúpula latino-americana, planejada como uma forma preliminar de união entre países ideologicamente próximos, visando a ressuscitar o projeto chavista da Unasul, eis que uma nova pérola política surge. O Brasil passaria a defender a “democracia” chavista/madurista, que teria sido deturpada por uma narrativa ocidental, que teria sido apropriada pela mídia internacional. Haveria, aqui, o resgate de uma vítima, Maduro, que teria sido denegrido pela imprensa internacional. A serviço, certamente, do “Ocidente”, do “imperialismo” ou de algo que o valha.

Os 7 milhões de refugiados venezuelanos espalhados pelo mundo, sobretudo na América Latina, inclusive no Brasil, poderiam ser escutados. Voz deveria ser dada a eles. São os pobres, os oprimidos, os violentados. Não é esta, aliás, a bandeira das esquerdas, inclusive do PT? Em vez disso, voz é dada ao ditador, ao que mantém seu povo sob o jugo da violência. Vejam só: o ditador torna-se a vítima!

Felizmente, presidentes sensatos estavam presentes na cúpula, com especial menção ao presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou, e ao do Chile, Gabriel Boric. Ambos se insurgiram com veemência contra as declarações do presidente Lula. O primeiro, de centro-direita, mostrou que a defesa dos direitos humanos transcende posições ideológicas, visto que esses direitos são universais, valendo para qualquer país, independentemente de questões de ordem política. O segundo, de esquerda, seguiu na mesma linha. No caso de Boric, não deixa de ser surpreendente, pois, sendo de formação comunista, defensor de pautas identitárias, ele não se alinhou ao seu “companheiro” de esquerda, conferindo a essa conotação política uma dimensão universal.

É deveras preocupante que o presidente Lula exiba tal manifesto desprezo pelos direitos humanos e pelo Estado Democrático de Direito. O ditador Maduro, na esteira de seu predecessor, suprimiu a liberdade de imprensa, perseguindo com afinco qualquer voz discordante. Fraudou sistematicamente o resultado das eleições, exercendo férreo controle sobre as oposições. Inclusive, decidindo sobre quem poderia ou não disputar as eleições, redesenhando, segundo suas conveniências, as circunscrições eleitorais. Forças militares, policiais, paramilitares e parapoliciais reprimem com força os cidadãos, eliminando fisicamente opositores, além da prática da tortura, há muito denunciada. O Congresso e o Judiciário foram amordaçados, deixando de ser Poderes independentes. É essa a “democracia” almejada para o Brasil?

A farsa parece desconhecer limites. Se Lula planeja se tornar um grande líder internacional, um mediador de conflitos como na guerra empreendida pela Rússia contra a Ucrânia, o seu caminho não poderia ser pior. Está rapidamente dilapidando seu capital internacional conquistado ao ganhar as eleições defendendo a “democracia” e a pauta ambiental, ambas caras ao Ocidente, tão desprezado em suas declarações. Seu posicionamento junto de párias internacionais em nada contribui para o seu projeto. A pauta ambiental começa, igualmente, a passar para segundo plano. O Lula astuto e politicamente intuitivo do seu primeiro mandato está dando lugar a um presidente incoerente, dominado ideologicamente e politicamente desorientado.

Que tal Lula advogar por uma Comissão da Verdade para investigar os crimes de Maduro e de seu entorno, mantendo ao menos um mínimo de coerência em relação a atitudes suas no passado?

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PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS. E-MAIL: DENISROSENFIELD@TERRA.COM.BR

No mundo de Lula, alhures, fatos não são fatos, o que significa dizer que tortura não é tortura, repressão não é repressão, direitos humanos não são direitos humanos, Estado Democrático de Direito não é Estado Democrático de Direito. Tudo se torna uma mera questão de narrativa, uma sendo substituída por outra, como se a verdade não existisse em lugar nenhum. Aliás, como ele e o seu partido advogaram por uma Comissão da Verdade em relação ao Brasil, se a verdade não existe e tudo é uma simples questão de narrativa?

A acolhida de Lula ao ditador Nicolás Maduro, pária em nível internacional, recepcionado como chefe de Estado de um regime “democrático”, foi estarrecedora, mesmo para aqueles que começam a se acostumar com o festival de besteiras do novo governo, que nada deve neste quesito ao anterior. Se Stanislaw Ponte Preta ainda vivesse, teria material inesgotável para um novo livro, talvez ainda mais hilário do que o anterior.

Ao afirmar que a realidade repressiva bolivariana – a do tal “socialismo do século 21″ (pobre socialismo, a isso reduzido) – é uma mera questão de narrativa, servindo aos propósitos dos EUA, ou seja, do imperialismo e do Ocidente, Lula procurou velar o que lá se passa. Isso porque o “amigo” é um “companheiro”, seguindo os comunistas soviéticos que, no passado, se tratavam entre si como “camaradas”. Entre eles, tudo era permitido, inclusive o crime, a violência, a tortura e a invasão de países tidos por “inimigos”. A esbórnia com as palavras era mais um atentado ao vernáculo.

Agora, numa suposta cúpula latino-americana, planejada como uma forma preliminar de união entre países ideologicamente próximos, visando a ressuscitar o projeto chavista da Unasul, eis que uma nova pérola política surge. O Brasil passaria a defender a “democracia” chavista/madurista, que teria sido deturpada por uma narrativa ocidental, que teria sido apropriada pela mídia internacional. Haveria, aqui, o resgate de uma vítima, Maduro, que teria sido denegrido pela imprensa internacional. A serviço, certamente, do “Ocidente”, do “imperialismo” ou de algo que o valha.

Os 7 milhões de refugiados venezuelanos espalhados pelo mundo, sobretudo na América Latina, inclusive no Brasil, poderiam ser escutados. Voz deveria ser dada a eles. São os pobres, os oprimidos, os violentados. Não é esta, aliás, a bandeira das esquerdas, inclusive do PT? Em vez disso, voz é dada ao ditador, ao que mantém seu povo sob o jugo da violência. Vejam só: o ditador torna-se a vítima!

Felizmente, presidentes sensatos estavam presentes na cúpula, com especial menção ao presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou, e ao do Chile, Gabriel Boric. Ambos se insurgiram com veemência contra as declarações do presidente Lula. O primeiro, de centro-direita, mostrou que a defesa dos direitos humanos transcende posições ideológicas, visto que esses direitos são universais, valendo para qualquer país, independentemente de questões de ordem política. O segundo, de esquerda, seguiu na mesma linha. No caso de Boric, não deixa de ser surpreendente, pois, sendo de formação comunista, defensor de pautas identitárias, ele não se alinhou ao seu “companheiro” de esquerda, conferindo a essa conotação política uma dimensão universal.

É deveras preocupante que o presidente Lula exiba tal manifesto desprezo pelos direitos humanos e pelo Estado Democrático de Direito. O ditador Maduro, na esteira de seu predecessor, suprimiu a liberdade de imprensa, perseguindo com afinco qualquer voz discordante. Fraudou sistematicamente o resultado das eleições, exercendo férreo controle sobre as oposições. Inclusive, decidindo sobre quem poderia ou não disputar as eleições, redesenhando, segundo suas conveniências, as circunscrições eleitorais. Forças militares, policiais, paramilitares e parapoliciais reprimem com força os cidadãos, eliminando fisicamente opositores, além da prática da tortura, há muito denunciada. O Congresso e o Judiciário foram amordaçados, deixando de ser Poderes independentes. É essa a “democracia” almejada para o Brasil?

A farsa parece desconhecer limites. Se Lula planeja se tornar um grande líder internacional, um mediador de conflitos como na guerra empreendida pela Rússia contra a Ucrânia, o seu caminho não poderia ser pior. Está rapidamente dilapidando seu capital internacional conquistado ao ganhar as eleições defendendo a “democracia” e a pauta ambiental, ambas caras ao Ocidente, tão desprezado em suas declarações. Seu posicionamento junto de párias internacionais em nada contribui para o seu projeto. A pauta ambiental começa, igualmente, a passar para segundo plano. O Lula astuto e politicamente intuitivo do seu primeiro mandato está dando lugar a um presidente incoerente, dominado ideologicamente e politicamente desorientado.

Que tal Lula advogar por uma Comissão da Verdade para investigar os crimes de Maduro e de seu entorno, mantendo ao menos um mínimo de coerência em relação a atitudes suas no passado?

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