Professor de Filosofia na UFRGS, Denis Lerrer Rosenfield escreve quinzenalmente na seção Espaço Aberto

Opinião|Governar para quem?


Uma minoria petista tenta impor ao governo, ao Parlamento e à sociedade ideias ultrapassadas de uma esquerda que há muito morreu no mundo, salvo em países moribundos

Por Denis Lerrer Rosenfield

Passados quatro meses da posse do novo governo, não se sabe bem se há governo e a quem ele se destina. Governo significaria um conjunto de ideias e metas coerentes entre si e voltado para o bem do País, para além das clivagens partidárias e ideológicas. Ora, o que se tem visto é o novo presidente fazendo declarações, uma atrás da outra, sem nenhuma coerência, como se estivesse ainda num palanque eleitoral. O seu discurso oscila segundo as circunstâncias e conforme certas ideias – se é que se pode considerar como ideias manifestações que em muito se diferenciam de seu primeiro mandato e, inclusive, de seu segundo. O resultado é que seu governo está sem destino e o País, sem rumo.

Se podemos considerar seu primeiro mandato com tendo primado pela responsabilidade, apesar de certas falas suas se dissociarem do que fazia, agora a situação é completamente distinta, visto que seus discursos só produzem irresponsabilidades, seja na condução da política fiscal, seja no respeito aos contratos, seja na desconsideração da propriedade privada. Muitos liberais e democratas optaram pelo PT não por qualquer adesão a suas ideias, mas simplesmente porque pretendiam se desvencilhar do governo Bolsonaro, que se caracterizou por seu desrespeito à democracia, procurando de todas as maneiras miná-la. Entretanto, não o fizeram para pôr em seu lugar um outro tipo de autoritarismo e arbítrio.

Mesmo assim, Lula ganhou por estreita margem: 1,8% dos votos. Isso já implicaria por si só o humilde reconhecimento de que ele era um desaguadouro de insatisfação generalizada. Deveria buscar traduzir em sua conduta a “Frente Democrática” que dizia representar, tendo sido acreditado por muitos. O programa do PT não foi vitorioso nas urnas, haja vista a minguada representação parlamentar que conquistou no Senado e na Câmara. Com essa representação, não consegue aprovar nada. Deveria, isso sim, realizar em seus atos ideias que deem satisfação a todos os que votaram contra o ex-presidente Bolsonaro.

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Todavia, o que estamos testemunhando? Uma minoria petista tentando impor ao governo, ao Parlamento e à sociedade ideias ultrapassadas de uma esquerda que há muito morreu em todo o mundo, salvo em países moribundos do “socialismo do século 21″, como na Venezuela, na Nicarágua, em Cuba ou em outros países latino-americanos como Argentina. Num vocabulário assaz estranho, são ditos “progressistas”. É esse o nosso espelho?

Isso sem falar dos flertes ideológicos e geopolíticos com a extrema direita russa com Vladimir Putin (será que ele é considerado um comunista?) e com a China comunista, tudo em nome, evidentemente, de uma luta – fictícia – contra a hegemonia do Norte e contra o imperialismo americano. Em todas essas atitudes impera um nítido espírito anticapitalista.

Talvez, na política interna, a manifestação desse espírito resida no revival do MST, que renasce das cinzas graças ao apoio do governo. A recente feira em São Paulo deste movimento, linha auxiliar do PT, contou com forte presença governamental, mostrando todo o seu prestígio entre os novos governantes. O setor mais pujante da economia, o do agronegócio, foi simplesmente desconsiderado, tendo sido colocado, em seu lugar, o pleito por uma “reforma agrária” há muito superada pelas novas condições sociais e econômicas e pela modernização da agricultura, da pecuária, do agronegócio, da agroindústria e das cooperativas.

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É bem verdade que certas entidades representativas desses setores se alinharam politicamente ao bolsonarismo, quando, institucionalmente, não o deveriam ter feito. São representantes de um setor perante qualquer governo, de direita ou de esquerda, não devendo engajar-se politicamente. Contudo, nada disso justifica o viés contra todo este setor moderno e condutor da economia.

Outra manifestação importante deste mesmo espírito, em outras de suas facetas, é a irresponsabilidade fiscal. O novo governo assumiu conseguindo fazer aprovar a PEC da Gastança, que em muito prejudicou a economia brasileira. Depois, prometeu um arcabouço fiscal, substitutivo à Lei do Teto dos Gastos, para corrigir o rombo por ele mesmo criado. E o fez sem nenhuma preocupação com corte de gastos e avaliação dos projetos em execução nos diferentes ministérios, tendo como único alicerce o aumento dos impostos. Nessa confusão generalizada, todo “gasto”, num passe de mágica, passou a ser considerado “investimento”. A mudança de palavras não muda a realidade, que logo cobrará o seu preço. E, mesmo assim, setores do PT estão descontentes com este arremedo fiscal, que só é aceito por alguns por medo de algo pior.

Procurando desresponsabilizar-se por seus próprios erros e ausência de ideias, Lula e seu governo investem pesadamente contra o Banco Central e, em particular, o seu presidente, numa nítida confusão de causa com efeito. Se juros são altos, isso se deve à política do novo governo, incapaz de produzir qualquer expectativa segura quanto ao futuro. É um anticapitalismo pueril!

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É PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS. E-MAIL: DENISROSENFIELD@TERRA.COM.BR

Passados quatro meses da posse do novo governo, não se sabe bem se há governo e a quem ele se destina. Governo significaria um conjunto de ideias e metas coerentes entre si e voltado para o bem do País, para além das clivagens partidárias e ideológicas. Ora, o que se tem visto é o novo presidente fazendo declarações, uma atrás da outra, sem nenhuma coerência, como se estivesse ainda num palanque eleitoral. O seu discurso oscila segundo as circunstâncias e conforme certas ideias – se é que se pode considerar como ideias manifestações que em muito se diferenciam de seu primeiro mandato e, inclusive, de seu segundo. O resultado é que seu governo está sem destino e o País, sem rumo.

Se podemos considerar seu primeiro mandato com tendo primado pela responsabilidade, apesar de certas falas suas se dissociarem do que fazia, agora a situação é completamente distinta, visto que seus discursos só produzem irresponsabilidades, seja na condução da política fiscal, seja no respeito aos contratos, seja na desconsideração da propriedade privada. Muitos liberais e democratas optaram pelo PT não por qualquer adesão a suas ideias, mas simplesmente porque pretendiam se desvencilhar do governo Bolsonaro, que se caracterizou por seu desrespeito à democracia, procurando de todas as maneiras miná-la. Entretanto, não o fizeram para pôr em seu lugar um outro tipo de autoritarismo e arbítrio.

Mesmo assim, Lula ganhou por estreita margem: 1,8% dos votos. Isso já implicaria por si só o humilde reconhecimento de que ele era um desaguadouro de insatisfação generalizada. Deveria buscar traduzir em sua conduta a “Frente Democrática” que dizia representar, tendo sido acreditado por muitos. O programa do PT não foi vitorioso nas urnas, haja vista a minguada representação parlamentar que conquistou no Senado e na Câmara. Com essa representação, não consegue aprovar nada. Deveria, isso sim, realizar em seus atos ideias que deem satisfação a todos os que votaram contra o ex-presidente Bolsonaro.

Todavia, o que estamos testemunhando? Uma minoria petista tentando impor ao governo, ao Parlamento e à sociedade ideias ultrapassadas de uma esquerda que há muito morreu em todo o mundo, salvo em países moribundos do “socialismo do século 21″, como na Venezuela, na Nicarágua, em Cuba ou em outros países latino-americanos como Argentina. Num vocabulário assaz estranho, são ditos “progressistas”. É esse o nosso espelho?

Isso sem falar dos flertes ideológicos e geopolíticos com a extrema direita russa com Vladimir Putin (será que ele é considerado um comunista?) e com a China comunista, tudo em nome, evidentemente, de uma luta – fictícia – contra a hegemonia do Norte e contra o imperialismo americano. Em todas essas atitudes impera um nítido espírito anticapitalista.

Talvez, na política interna, a manifestação desse espírito resida no revival do MST, que renasce das cinzas graças ao apoio do governo. A recente feira em São Paulo deste movimento, linha auxiliar do PT, contou com forte presença governamental, mostrando todo o seu prestígio entre os novos governantes. O setor mais pujante da economia, o do agronegócio, foi simplesmente desconsiderado, tendo sido colocado, em seu lugar, o pleito por uma “reforma agrária” há muito superada pelas novas condições sociais e econômicas e pela modernização da agricultura, da pecuária, do agronegócio, da agroindústria e das cooperativas.

É bem verdade que certas entidades representativas desses setores se alinharam politicamente ao bolsonarismo, quando, institucionalmente, não o deveriam ter feito. São representantes de um setor perante qualquer governo, de direita ou de esquerda, não devendo engajar-se politicamente. Contudo, nada disso justifica o viés contra todo este setor moderno e condutor da economia.

Outra manifestação importante deste mesmo espírito, em outras de suas facetas, é a irresponsabilidade fiscal. O novo governo assumiu conseguindo fazer aprovar a PEC da Gastança, que em muito prejudicou a economia brasileira. Depois, prometeu um arcabouço fiscal, substitutivo à Lei do Teto dos Gastos, para corrigir o rombo por ele mesmo criado. E o fez sem nenhuma preocupação com corte de gastos e avaliação dos projetos em execução nos diferentes ministérios, tendo como único alicerce o aumento dos impostos. Nessa confusão generalizada, todo “gasto”, num passe de mágica, passou a ser considerado “investimento”. A mudança de palavras não muda a realidade, que logo cobrará o seu preço. E, mesmo assim, setores do PT estão descontentes com este arremedo fiscal, que só é aceito por alguns por medo de algo pior.

Procurando desresponsabilizar-se por seus próprios erros e ausência de ideias, Lula e seu governo investem pesadamente contra o Banco Central e, em particular, o seu presidente, numa nítida confusão de causa com efeito. Se juros são altos, isso se deve à política do novo governo, incapaz de produzir qualquer expectativa segura quanto ao futuro. É um anticapitalismo pueril!

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É PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS. E-MAIL: DENISROSENFIELD@TERRA.COM.BR

Passados quatro meses da posse do novo governo, não se sabe bem se há governo e a quem ele se destina. Governo significaria um conjunto de ideias e metas coerentes entre si e voltado para o bem do País, para além das clivagens partidárias e ideológicas. Ora, o que se tem visto é o novo presidente fazendo declarações, uma atrás da outra, sem nenhuma coerência, como se estivesse ainda num palanque eleitoral. O seu discurso oscila segundo as circunstâncias e conforme certas ideias – se é que se pode considerar como ideias manifestações que em muito se diferenciam de seu primeiro mandato e, inclusive, de seu segundo. O resultado é que seu governo está sem destino e o País, sem rumo.

Se podemos considerar seu primeiro mandato com tendo primado pela responsabilidade, apesar de certas falas suas se dissociarem do que fazia, agora a situação é completamente distinta, visto que seus discursos só produzem irresponsabilidades, seja na condução da política fiscal, seja no respeito aos contratos, seja na desconsideração da propriedade privada. Muitos liberais e democratas optaram pelo PT não por qualquer adesão a suas ideias, mas simplesmente porque pretendiam se desvencilhar do governo Bolsonaro, que se caracterizou por seu desrespeito à democracia, procurando de todas as maneiras miná-la. Entretanto, não o fizeram para pôr em seu lugar um outro tipo de autoritarismo e arbítrio.

Mesmo assim, Lula ganhou por estreita margem: 1,8% dos votos. Isso já implicaria por si só o humilde reconhecimento de que ele era um desaguadouro de insatisfação generalizada. Deveria buscar traduzir em sua conduta a “Frente Democrática” que dizia representar, tendo sido acreditado por muitos. O programa do PT não foi vitorioso nas urnas, haja vista a minguada representação parlamentar que conquistou no Senado e na Câmara. Com essa representação, não consegue aprovar nada. Deveria, isso sim, realizar em seus atos ideias que deem satisfação a todos os que votaram contra o ex-presidente Bolsonaro.

Todavia, o que estamos testemunhando? Uma minoria petista tentando impor ao governo, ao Parlamento e à sociedade ideias ultrapassadas de uma esquerda que há muito morreu em todo o mundo, salvo em países moribundos do “socialismo do século 21″, como na Venezuela, na Nicarágua, em Cuba ou em outros países latino-americanos como Argentina. Num vocabulário assaz estranho, são ditos “progressistas”. É esse o nosso espelho?

Isso sem falar dos flertes ideológicos e geopolíticos com a extrema direita russa com Vladimir Putin (será que ele é considerado um comunista?) e com a China comunista, tudo em nome, evidentemente, de uma luta – fictícia – contra a hegemonia do Norte e contra o imperialismo americano. Em todas essas atitudes impera um nítido espírito anticapitalista.

Talvez, na política interna, a manifestação desse espírito resida no revival do MST, que renasce das cinzas graças ao apoio do governo. A recente feira em São Paulo deste movimento, linha auxiliar do PT, contou com forte presença governamental, mostrando todo o seu prestígio entre os novos governantes. O setor mais pujante da economia, o do agronegócio, foi simplesmente desconsiderado, tendo sido colocado, em seu lugar, o pleito por uma “reforma agrária” há muito superada pelas novas condições sociais e econômicas e pela modernização da agricultura, da pecuária, do agronegócio, da agroindústria e das cooperativas.

É bem verdade que certas entidades representativas desses setores se alinharam politicamente ao bolsonarismo, quando, institucionalmente, não o deveriam ter feito. São representantes de um setor perante qualquer governo, de direita ou de esquerda, não devendo engajar-se politicamente. Contudo, nada disso justifica o viés contra todo este setor moderno e condutor da economia.

Outra manifestação importante deste mesmo espírito, em outras de suas facetas, é a irresponsabilidade fiscal. O novo governo assumiu conseguindo fazer aprovar a PEC da Gastança, que em muito prejudicou a economia brasileira. Depois, prometeu um arcabouço fiscal, substitutivo à Lei do Teto dos Gastos, para corrigir o rombo por ele mesmo criado. E o fez sem nenhuma preocupação com corte de gastos e avaliação dos projetos em execução nos diferentes ministérios, tendo como único alicerce o aumento dos impostos. Nessa confusão generalizada, todo “gasto”, num passe de mágica, passou a ser considerado “investimento”. A mudança de palavras não muda a realidade, que logo cobrará o seu preço. E, mesmo assim, setores do PT estão descontentes com este arremedo fiscal, que só é aceito por alguns por medo de algo pior.

Procurando desresponsabilizar-se por seus próprios erros e ausência de ideias, Lula e seu governo investem pesadamente contra o Banco Central e, em particular, o seu presidente, numa nítida confusão de causa com efeito. Se juros são altos, isso se deve à política do novo governo, incapaz de produzir qualquer expectativa segura quanto ao futuro. É um anticapitalismo pueril!

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É PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS. E-MAIL: DENISROSENFIELD@TERRA.COM.BR

Passados quatro meses da posse do novo governo, não se sabe bem se há governo e a quem ele se destina. Governo significaria um conjunto de ideias e metas coerentes entre si e voltado para o bem do País, para além das clivagens partidárias e ideológicas. Ora, o que se tem visto é o novo presidente fazendo declarações, uma atrás da outra, sem nenhuma coerência, como se estivesse ainda num palanque eleitoral. O seu discurso oscila segundo as circunstâncias e conforme certas ideias – se é que se pode considerar como ideias manifestações que em muito se diferenciam de seu primeiro mandato e, inclusive, de seu segundo. O resultado é que seu governo está sem destino e o País, sem rumo.

Se podemos considerar seu primeiro mandato com tendo primado pela responsabilidade, apesar de certas falas suas se dissociarem do que fazia, agora a situação é completamente distinta, visto que seus discursos só produzem irresponsabilidades, seja na condução da política fiscal, seja no respeito aos contratos, seja na desconsideração da propriedade privada. Muitos liberais e democratas optaram pelo PT não por qualquer adesão a suas ideias, mas simplesmente porque pretendiam se desvencilhar do governo Bolsonaro, que se caracterizou por seu desrespeito à democracia, procurando de todas as maneiras miná-la. Entretanto, não o fizeram para pôr em seu lugar um outro tipo de autoritarismo e arbítrio.

Mesmo assim, Lula ganhou por estreita margem: 1,8% dos votos. Isso já implicaria por si só o humilde reconhecimento de que ele era um desaguadouro de insatisfação generalizada. Deveria buscar traduzir em sua conduta a “Frente Democrática” que dizia representar, tendo sido acreditado por muitos. O programa do PT não foi vitorioso nas urnas, haja vista a minguada representação parlamentar que conquistou no Senado e na Câmara. Com essa representação, não consegue aprovar nada. Deveria, isso sim, realizar em seus atos ideias que deem satisfação a todos os que votaram contra o ex-presidente Bolsonaro.

Todavia, o que estamos testemunhando? Uma minoria petista tentando impor ao governo, ao Parlamento e à sociedade ideias ultrapassadas de uma esquerda que há muito morreu em todo o mundo, salvo em países moribundos do “socialismo do século 21″, como na Venezuela, na Nicarágua, em Cuba ou em outros países latino-americanos como Argentina. Num vocabulário assaz estranho, são ditos “progressistas”. É esse o nosso espelho?

Isso sem falar dos flertes ideológicos e geopolíticos com a extrema direita russa com Vladimir Putin (será que ele é considerado um comunista?) e com a China comunista, tudo em nome, evidentemente, de uma luta – fictícia – contra a hegemonia do Norte e contra o imperialismo americano. Em todas essas atitudes impera um nítido espírito anticapitalista.

Talvez, na política interna, a manifestação desse espírito resida no revival do MST, que renasce das cinzas graças ao apoio do governo. A recente feira em São Paulo deste movimento, linha auxiliar do PT, contou com forte presença governamental, mostrando todo o seu prestígio entre os novos governantes. O setor mais pujante da economia, o do agronegócio, foi simplesmente desconsiderado, tendo sido colocado, em seu lugar, o pleito por uma “reforma agrária” há muito superada pelas novas condições sociais e econômicas e pela modernização da agricultura, da pecuária, do agronegócio, da agroindústria e das cooperativas.

É bem verdade que certas entidades representativas desses setores se alinharam politicamente ao bolsonarismo, quando, institucionalmente, não o deveriam ter feito. São representantes de um setor perante qualquer governo, de direita ou de esquerda, não devendo engajar-se politicamente. Contudo, nada disso justifica o viés contra todo este setor moderno e condutor da economia.

Outra manifestação importante deste mesmo espírito, em outras de suas facetas, é a irresponsabilidade fiscal. O novo governo assumiu conseguindo fazer aprovar a PEC da Gastança, que em muito prejudicou a economia brasileira. Depois, prometeu um arcabouço fiscal, substitutivo à Lei do Teto dos Gastos, para corrigir o rombo por ele mesmo criado. E o fez sem nenhuma preocupação com corte de gastos e avaliação dos projetos em execução nos diferentes ministérios, tendo como único alicerce o aumento dos impostos. Nessa confusão generalizada, todo “gasto”, num passe de mágica, passou a ser considerado “investimento”. A mudança de palavras não muda a realidade, que logo cobrará o seu preço. E, mesmo assim, setores do PT estão descontentes com este arremedo fiscal, que só é aceito por alguns por medo de algo pior.

Procurando desresponsabilizar-se por seus próprios erros e ausência de ideias, Lula e seu governo investem pesadamente contra o Banco Central e, em particular, o seu presidente, numa nítida confusão de causa com efeito. Se juros são altos, isso se deve à política do novo governo, incapaz de produzir qualquer expectativa segura quanto ao futuro. É um anticapitalismo pueril!

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É PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS. E-MAIL: DENISROSENFIELD@TERRA.COM.BR

Passados quatro meses da posse do novo governo, não se sabe bem se há governo e a quem ele se destina. Governo significaria um conjunto de ideias e metas coerentes entre si e voltado para o bem do País, para além das clivagens partidárias e ideológicas. Ora, o que se tem visto é o novo presidente fazendo declarações, uma atrás da outra, sem nenhuma coerência, como se estivesse ainda num palanque eleitoral. O seu discurso oscila segundo as circunstâncias e conforme certas ideias – se é que se pode considerar como ideias manifestações que em muito se diferenciam de seu primeiro mandato e, inclusive, de seu segundo. O resultado é que seu governo está sem destino e o País, sem rumo.

Se podemos considerar seu primeiro mandato com tendo primado pela responsabilidade, apesar de certas falas suas se dissociarem do que fazia, agora a situação é completamente distinta, visto que seus discursos só produzem irresponsabilidades, seja na condução da política fiscal, seja no respeito aos contratos, seja na desconsideração da propriedade privada. Muitos liberais e democratas optaram pelo PT não por qualquer adesão a suas ideias, mas simplesmente porque pretendiam se desvencilhar do governo Bolsonaro, que se caracterizou por seu desrespeito à democracia, procurando de todas as maneiras miná-la. Entretanto, não o fizeram para pôr em seu lugar um outro tipo de autoritarismo e arbítrio.

Mesmo assim, Lula ganhou por estreita margem: 1,8% dos votos. Isso já implicaria por si só o humilde reconhecimento de que ele era um desaguadouro de insatisfação generalizada. Deveria buscar traduzir em sua conduta a “Frente Democrática” que dizia representar, tendo sido acreditado por muitos. O programa do PT não foi vitorioso nas urnas, haja vista a minguada representação parlamentar que conquistou no Senado e na Câmara. Com essa representação, não consegue aprovar nada. Deveria, isso sim, realizar em seus atos ideias que deem satisfação a todos os que votaram contra o ex-presidente Bolsonaro.

Todavia, o que estamos testemunhando? Uma minoria petista tentando impor ao governo, ao Parlamento e à sociedade ideias ultrapassadas de uma esquerda que há muito morreu em todo o mundo, salvo em países moribundos do “socialismo do século 21″, como na Venezuela, na Nicarágua, em Cuba ou em outros países latino-americanos como Argentina. Num vocabulário assaz estranho, são ditos “progressistas”. É esse o nosso espelho?

Isso sem falar dos flertes ideológicos e geopolíticos com a extrema direita russa com Vladimir Putin (será que ele é considerado um comunista?) e com a China comunista, tudo em nome, evidentemente, de uma luta – fictícia – contra a hegemonia do Norte e contra o imperialismo americano. Em todas essas atitudes impera um nítido espírito anticapitalista.

Talvez, na política interna, a manifestação desse espírito resida no revival do MST, que renasce das cinzas graças ao apoio do governo. A recente feira em São Paulo deste movimento, linha auxiliar do PT, contou com forte presença governamental, mostrando todo o seu prestígio entre os novos governantes. O setor mais pujante da economia, o do agronegócio, foi simplesmente desconsiderado, tendo sido colocado, em seu lugar, o pleito por uma “reforma agrária” há muito superada pelas novas condições sociais e econômicas e pela modernização da agricultura, da pecuária, do agronegócio, da agroindústria e das cooperativas.

É bem verdade que certas entidades representativas desses setores se alinharam politicamente ao bolsonarismo, quando, institucionalmente, não o deveriam ter feito. São representantes de um setor perante qualquer governo, de direita ou de esquerda, não devendo engajar-se politicamente. Contudo, nada disso justifica o viés contra todo este setor moderno e condutor da economia.

Outra manifestação importante deste mesmo espírito, em outras de suas facetas, é a irresponsabilidade fiscal. O novo governo assumiu conseguindo fazer aprovar a PEC da Gastança, que em muito prejudicou a economia brasileira. Depois, prometeu um arcabouço fiscal, substitutivo à Lei do Teto dos Gastos, para corrigir o rombo por ele mesmo criado. E o fez sem nenhuma preocupação com corte de gastos e avaliação dos projetos em execução nos diferentes ministérios, tendo como único alicerce o aumento dos impostos. Nessa confusão generalizada, todo “gasto”, num passe de mágica, passou a ser considerado “investimento”. A mudança de palavras não muda a realidade, que logo cobrará o seu preço. E, mesmo assim, setores do PT estão descontentes com este arremedo fiscal, que só é aceito por alguns por medo de algo pior.

Procurando desresponsabilizar-se por seus próprios erros e ausência de ideias, Lula e seu governo investem pesadamente contra o Banco Central e, em particular, o seu presidente, numa nítida confusão de causa com efeito. Se juros são altos, isso se deve à política do novo governo, incapaz de produzir qualquer expectativa segura quanto ao futuro. É um anticapitalismo pueril!

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