Professor de Filosofia na UFRGS, Denis Lerrer Rosenfield escreve quinzenalmente na seção Espaço Aberto

Opinião|Igualdade


A igualdade de oportunidades e a igualdade civil foram conquistas da ‘direita’, e não da ‘esquerda’

Por Denis Lerrer Rosenfield

A esquerda perdeu o rumo. Da proposta que orientou o pensamento marxista desde o século 19, até os seus desdobramentos totalitários no século 20, pouco restou daquela ideia que outrora pareceu universal, voltada para a emancipação de todas as pessoas. Sua realização prática foi o comunismo soviético com seu cortejo de repressão, tortura, assassinatos, de inimigos e amigos, desembocando na fome, tendo o Holodomor da Ucrânia como um dos seus exemplos mais aterradores. O cortejo fúnebre seguiu com o maoísmo na China, eliminando por sua vez mais de 60 milhões de seus habitantes, com a aniquilação de quaisquer liberdades. No Camboja, o horror ainda se revelou mais horripilante, com o assassinato de 50% de sua população. Poderíamos seguir o cortejo na Albânia, nos países da Europa Oriental, até os nossos esbirros em Cuba, dos Castros, e na Venezuela, de Hugo Chávez e Nicolás Maduro. Aliás, ícones da esquerda brasileira em suas distintas correntes, do PT ao PCdoB e ao PSOL, passando pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) de Guilherme Boulos, agora posando de moderado para captar votos de incautos.

Contudo, permaneceu a utopia do século 19 como se fosse possível criar via revolução uma sociedade igualitária, sem que, todavia, seus autores, Karl Marx e Friedrich Engels, tivessem a mínima noção do que significa a própria ideia de igualdade. Dos milhares de páginas de seus autores, apenas poucas dezenas foram dedicadas a esboçar o que seria, na prática, a realização dessa igualdade. Sua proposta, apesar de aparência “científica”, nada mais seria do que a versão secular do messianismo. Os intelectuais do século 20, porém, sobretudo de corte europeu naquele então, trouxeram para a discussão a contraposição entre igualdade e liberdade, como se a primeira representasse o socialismo e a segunda, o capitalismo.

Ora, tomaram uma ideia utópica de igualdade e a consagraram como dogma, desconsiderando totalmente a experiência totalitária, presente aos seus olhos. Julgaram o capitalismo a partir de uma utopia e fizeram vista grossa à violência e aos seus desenvolvimentos na aniquilação das liberdades e, pasmem, da própria igualdade. A igualdade foi literalmente esquartejada, com a população reduzida entre a miséria e péssimas condições de vida, da liberdade de escolha das pessoas nada restando. Com requintes de crueldade, os membros dos partidos comunistas, a nomenclatura, viviam abastados, em dachas e casas de campo, usufruindo dos privilégios dos “burgueses”. A desigualdade era gritante e continua a sê-lo em Cuba, Venezuela, Nicarágua e Coreia do Norte.

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Enquanto isso, o “capitalismo”, isto é, a economia de mercado, a propriedade privada, o Estado de Direito e a democracia, empreendeu o seu caminho rumo às liberdades e às igualdades. Realizaram, sobretudo no contexto europeu, graças à social-democracia e à democracia cristã, uma sociedade plural, tolerante e voltada para o bem-estar material de suas populações, algo inimaginável nas sociedades socialistas. Mais especificamente, a igualdade de oportunidades e a igualdade civil foram concretizadas, em níveis inalcançáveis nas sociedades comunistas/socialistas. Igualdade de oportunidades efetuada com educação pública de qualidade, oferecendo as mesmas chances de formação para todas as pessoas, independentemente de classe social, raça, religião ou sexo. A igualdade civil teve como seu grande corolário a igualdade das mulheres. Foram conquistas da “direita”, e não da “esquerda”!

As pessoas não são iguais por natureza. Umas nascem brancas, outras pretas, outras pardas, outras com olhos puxados; umas nascem homens, outras mulheres; umas sãs, outras doentes; umas fortes, outras fracas. Na vida social, alguns são empreendedores, outros preguiçosos; alguns adoram a vida familiar, outros a libertinagem; uns o ascetismo, outros a bebedeira. Caberia ao Estado, portanto, a todos impor o mesmo salário e o mesmo comportamento graças à sua destruição da economia de mercado, tornando todas as empresas estatais? O seu corolário foi nada mais do que a corrupção, a ineficiência e o colapso.

Atualmente, a esquerda decidiu se reinventar por intermédio das políticas identitárias. Ora, tais políticas terminaram por deturpar, se não perverter, a própria ideia da igualdade. As pessoas passaram a ser identificadas pela cor, pelo gênero e pelo seu credo, como se a igualdade civil, por exemplo, viesse a inexistir. Umas valem mais do que as outras. Em um racismo à inversa, negros passaram a ter mais valor do que brancos, erigindo toda uma narrativa segundo a qual toda voz discordante, crítica, deve ser calada. O antissemitismo, travestido de antissionismo, por sua vez, anda de rédeas soltas, sobretudo nos meios de esquerda. Do ódio aos judeus aos ataques à própria existência do Estado de Israel, o preconceito parece não ter mais limites. Até judeus de esquerda já não mais aguentam a situação, salvo, evidentemente, os renegados de sempre, que se põem de joelhos diante do altar do lulopetismo.

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A esquerda apodreceu!

*

É PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS. E-MAIL: DENISROSENFIELD@TERRA.COM.BR

A esquerda perdeu o rumo. Da proposta que orientou o pensamento marxista desde o século 19, até os seus desdobramentos totalitários no século 20, pouco restou daquela ideia que outrora pareceu universal, voltada para a emancipação de todas as pessoas. Sua realização prática foi o comunismo soviético com seu cortejo de repressão, tortura, assassinatos, de inimigos e amigos, desembocando na fome, tendo o Holodomor da Ucrânia como um dos seus exemplos mais aterradores. O cortejo fúnebre seguiu com o maoísmo na China, eliminando por sua vez mais de 60 milhões de seus habitantes, com a aniquilação de quaisquer liberdades. No Camboja, o horror ainda se revelou mais horripilante, com o assassinato de 50% de sua população. Poderíamos seguir o cortejo na Albânia, nos países da Europa Oriental, até os nossos esbirros em Cuba, dos Castros, e na Venezuela, de Hugo Chávez e Nicolás Maduro. Aliás, ícones da esquerda brasileira em suas distintas correntes, do PT ao PCdoB e ao PSOL, passando pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) de Guilherme Boulos, agora posando de moderado para captar votos de incautos.

Contudo, permaneceu a utopia do século 19 como se fosse possível criar via revolução uma sociedade igualitária, sem que, todavia, seus autores, Karl Marx e Friedrich Engels, tivessem a mínima noção do que significa a própria ideia de igualdade. Dos milhares de páginas de seus autores, apenas poucas dezenas foram dedicadas a esboçar o que seria, na prática, a realização dessa igualdade. Sua proposta, apesar de aparência “científica”, nada mais seria do que a versão secular do messianismo. Os intelectuais do século 20, porém, sobretudo de corte europeu naquele então, trouxeram para a discussão a contraposição entre igualdade e liberdade, como se a primeira representasse o socialismo e a segunda, o capitalismo.

Ora, tomaram uma ideia utópica de igualdade e a consagraram como dogma, desconsiderando totalmente a experiência totalitária, presente aos seus olhos. Julgaram o capitalismo a partir de uma utopia e fizeram vista grossa à violência e aos seus desenvolvimentos na aniquilação das liberdades e, pasmem, da própria igualdade. A igualdade foi literalmente esquartejada, com a população reduzida entre a miséria e péssimas condições de vida, da liberdade de escolha das pessoas nada restando. Com requintes de crueldade, os membros dos partidos comunistas, a nomenclatura, viviam abastados, em dachas e casas de campo, usufruindo dos privilégios dos “burgueses”. A desigualdade era gritante e continua a sê-lo em Cuba, Venezuela, Nicarágua e Coreia do Norte.

Enquanto isso, o “capitalismo”, isto é, a economia de mercado, a propriedade privada, o Estado de Direito e a democracia, empreendeu o seu caminho rumo às liberdades e às igualdades. Realizaram, sobretudo no contexto europeu, graças à social-democracia e à democracia cristã, uma sociedade plural, tolerante e voltada para o bem-estar material de suas populações, algo inimaginável nas sociedades socialistas. Mais especificamente, a igualdade de oportunidades e a igualdade civil foram concretizadas, em níveis inalcançáveis nas sociedades comunistas/socialistas. Igualdade de oportunidades efetuada com educação pública de qualidade, oferecendo as mesmas chances de formação para todas as pessoas, independentemente de classe social, raça, religião ou sexo. A igualdade civil teve como seu grande corolário a igualdade das mulheres. Foram conquistas da “direita”, e não da “esquerda”!

As pessoas não são iguais por natureza. Umas nascem brancas, outras pretas, outras pardas, outras com olhos puxados; umas nascem homens, outras mulheres; umas sãs, outras doentes; umas fortes, outras fracas. Na vida social, alguns são empreendedores, outros preguiçosos; alguns adoram a vida familiar, outros a libertinagem; uns o ascetismo, outros a bebedeira. Caberia ao Estado, portanto, a todos impor o mesmo salário e o mesmo comportamento graças à sua destruição da economia de mercado, tornando todas as empresas estatais? O seu corolário foi nada mais do que a corrupção, a ineficiência e o colapso.

Atualmente, a esquerda decidiu se reinventar por intermédio das políticas identitárias. Ora, tais políticas terminaram por deturpar, se não perverter, a própria ideia da igualdade. As pessoas passaram a ser identificadas pela cor, pelo gênero e pelo seu credo, como se a igualdade civil, por exemplo, viesse a inexistir. Umas valem mais do que as outras. Em um racismo à inversa, negros passaram a ter mais valor do que brancos, erigindo toda uma narrativa segundo a qual toda voz discordante, crítica, deve ser calada. O antissemitismo, travestido de antissionismo, por sua vez, anda de rédeas soltas, sobretudo nos meios de esquerda. Do ódio aos judeus aos ataques à própria existência do Estado de Israel, o preconceito parece não ter mais limites. Até judeus de esquerda já não mais aguentam a situação, salvo, evidentemente, os renegados de sempre, que se põem de joelhos diante do altar do lulopetismo.

A esquerda apodreceu!

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É PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS. E-MAIL: DENISROSENFIELD@TERRA.COM.BR

A esquerda perdeu o rumo. Da proposta que orientou o pensamento marxista desde o século 19, até os seus desdobramentos totalitários no século 20, pouco restou daquela ideia que outrora pareceu universal, voltada para a emancipação de todas as pessoas. Sua realização prática foi o comunismo soviético com seu cortejo de repressão, tortura, assassinatos, de inimigos e amigos, desembocando na fome, tendo o Holodomor da Ucrânia como um dos seus exemplos mais aterradores. O cortejo fúnebre seguiu com o maoísmo na China, eliminando por sua vez mais de 60 milhões de seus habitantes, com a aniquilação de quaisquer liberdades. No Camboja, o horror ainda se revelou mais horripilante, com o assassinato de 50% de sua população. Poderíamos seguir o cortejo na Albânia, nos países da Europa Oriental, até os nossos esbirros em Cuba, dos Castros, e na Venezuela, de Hugo Chávez e Nicolás Maduro. Aliás, ícones da esquerda brasileira em suas distintas correntes, do PT ao PCdoB e ao PSOL, passando pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) de Guilherme Boulos, agora posando de moderado para captar votos de incautos.

Contudo, permaneceu a utopia do século 19 como se fosse possível criar via revolução uma sociedade igualitária, sem que, todavia, seus autores, Karl Marx e Friedrich Engels, tivessem a mínima noção do que significa a própria ideia de igualdade. Dos milhares de páginas de seus autores, apenas poucas dezenas foram dedicadas a esboçar o que seria, na prática, a realização dessa igualdade. Sua proposta, apesar de aparência “científica”, nada mais seria do que a versão secular do messianismo. Os intelectuais do século 20, porém, sobretudo de corte europeu naquele então, trouxeram para a discussão a contraposição entre igualdade e liberdade, como se a primeira representasse o socialismo e a segunda, o capitalismo.

Ora, tomaram uma ideia utópica de igualdade e a consagraram como dogma, desconsiderando totalmente a experiência totalitária, presente aos seus olhos. Julgaram o capitalismo a partir de uma utopia e fizeram vista grossa à violência e aos seus desenvolvimentos na aniquilação das liberdades e, pasmem, da própria igualdade. A igualdade foi literalmente esquartejada, com a população reduzida entre a miséria e péssimas condições de vida, da liberdade de escolha das pessoas nada restando. Com requintes de crueldade, os membros dos partidos comunistas, a nomenclatura, viviam abastados, em dachas e casas de campo, usufruindo dos privilégios dos “burgueses”. A desigualdade era gritante e continua a sê-lo em Cuba, Venezuela, Nicarágua e Coreia do Norte.

Enquanto isso, o “capitalismo”, isto é, a economia de mercado, a propriedade privada, o Estado de Direito e a democracia, empreendeu o seu caminho rumo às liberdades e às igualdades. Realizaram, sobretudo no contexto europeu, graças à social-democracia e à democracia cristã, uma sociedade plural, tolerante e voltada para o bem-estar material de suas populações, algo inimaginável nas sociedades socialistas. Mais especificamente, a igualdade de oportunidades e a igualdade civil foram concretizadas, em níveis inalcançáveis nas sociedades comunistas/socialistas. Igualdade de oportunidades efetuada com educação pública de qualidade, oferecendo as mesmas chances de formação para todas as pessoas, independentemente de classe social, raça, religião ou sexo. A igualdade civil teve como seu grande corolário a igualdade das mulheres. Foram conquistas da “direita”, e não da “esquerda”!

As pessoas não são iguais por natureza. Umas nascem brancas, outras pretas, outras pardas, outras com olhos puxados; umas nascem homens, outras mulheres; umas sãs, outras doentes; umas fortes, outras fracas. Na vida social, alguns são empreendedores, outros preguiçosos; alguns adoram a vida familiar, outros a libertinagem; uns o ascetismo, outros a bebedeira. Caberia ao Estado, portanto, a todos impor o mesmo salário e o mesmo comportamento graças à sua destruição da economia de mercado, tornando todas as empresas estatais? O seu corolário foi nada mais do que a corrupção, a ineficiência e o colapso.

Atualmente, a esquerda decidiu se reinventar por intermédio das políticas identitárias. Ora, tais políticas terminaram por deturpar, se não perverter, a própria ideia da igualdade. As pessoas passaram a ser identificadas pela cor, pelo gênero e pelo seu credo, como se a igualdade civil, por exemplo, viesse a inexistir. Umas valem mais do que as outras. Em um racismo à inversa, negros passaram a ter mais valor do que brancos, erigindo toda uma narrativa segundo a qual toda voz discordante, crítica, deve ser calada. O antissemitismo, travestido de antissionismo, por sua vez, anda de rédeas soltas, sobretudo nos meios de esquerda. Do ódio aos judeus aos ataques à própria existência do Estado de Israel, o preconceito parece não ter mais limites. Até judeus de esquerda já não mais aguentam a situação, salvo, evidentemente, os renegados de sempre, que se põem de joelhos diante do altar do lulopetismo.

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