Professor de Filosofia na UFRGS, Denis Lerrer Rosenfield escreve quinzenalmente na seção Espaço Aberto

Opinião|O fenômeno Marçal


Com ele, mais do que com Bolsonaro, o uso das redes tornou-se um instrumento imprescindível de qualquer campanha, presentes e futuras

Por Denis Lerrer Rosenfield

Menos fígado, mais inteligência. Menos julgamentos apressados, mais análise. O surgimento e a força da candidatura de Pablo Marçal a prefeito de São Paulo exigem a compreensão desse fenômeno, o que pressupõe abandonar juízos açodados, se não preconceituosos, como se fosse ele uma espécie de perversão da boa política, quando essa se tornou no Brasil, nos últimos anos, ela mesma pervertida.

Partidos políticos afastaram-se cada vez mais de sua função de representação dos interesses da sociedade em sua diversidade, tornando-se máquinas de atendimento dos seus próprios interesses, paroquiais e corporativos, quando não instrumentos de corrupção. O espetáculo escabroso das emendas parlamentares, seu montante assustador e sua falta de transparência apenas distancia ainda mais os cidadãos dos seus representantes. Um pilar da democracia mostra-se, assim, periclitante. Os candidatos a prefeito, via de regra, são incapazes, inclusive, de apresentar programas e ideias viáveis para suas respectivas cidades. Agora, dizer que Marçal vai contra a boa política, seja lá o que isso signifique, apenas reforça a ausência de compreensão do que essa mesma política se tornou.

Um candidato foi fisicamente agredido em uma cena propriamente ridícula. O agressor, aliás, é candidato do PSDB, partido que até poucos anos atrás foi o mais importante, com um histórico impressionante de realizações. Seus políticos, especialmente em São Paulo, eram um exemplo para todo o País. Ora, é esse mesmo partido, em processo de franca decadência, que escolheu um personagem para prefeito buscado às pressas no mundo televisivo, como se fosse uma nova promessa de soerguimento partidário. Aliás, os outros candidatos não apresentaram nenhuma solidariedade com o agredido, tendo suas falas, hipocritamente, condenado a agressão para logo aduzirem o uso do “mas”, em argumentos que apenas justificavam o ataque.

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Marçal rompe com a política tradicional tal como vinha sendo feita nas últimas décadas. Baseia-se essa em um tripé: coligações partidárias, financiamento eleitoral e partidário e tempo de rádio e televisão. Ora, o candidato contestador ameaça chegar ao segundo turno e, mesmo, ser prefeito de São Paulo, sem preencher nenhuma dessas condições. É candidato de um partido que nem representação parlamentar tem, não tendo se aliado a nenhum outro partido. Não usufrui tampouco de financiamento público, tendo de se virar com doações privadas ou uso de recursos próprios. O seu tempo de rádio e televisão é nulo, sendo ele o expoente de um novo meio de comunicação, as redes sociais, as quais sabe usar admiravelmente. Causa espanto que os outros candidatos não tenham se apercebido a tempo da importância desse novo meio de comunicação, contentando-se com os meios tradicionais.

O grande ativo de Pablo Marçal consiste no uso das mídias sociais. Excelente comunicador, exímio nos cortes das gravações, volta-se exclusivamente para isso, talvez em excesso, o que não deixa de produzir efeitos deletérios, como quando, um pouco apressadamente, colocou-se como vítima. É como se tivesse sofrido uma grande fratura. Não colou! A sua imagem de homem forte perdeu aderência. Entretanto, o que deve ser ressaltado é que, com ele, mais do que com Jair Bolsonaro, o uso das redes sociais tornou-se um instrumento imprescindível de qualquer campanha eleitoral, presentes e futuras. Os políticos que não compreenderem isso estarão fadados ao fracasso.

Há outro aspecto essencial que deve ser ressaltado em sua candidatura: a sua mensagem. Analistas têm frisado primordialmente seu perfil negativo, baseado na lacração, no ataque e em inúmeras agressões verbais. Em segundo plano tem ficado a enorme adesão que suas falas, melhor dito, ensinamentos têm produzido em seus seguidores e eleitores. Ele representa, melhor do que ninguém, um Brasil que quer crescer, onde as pessoas melhorarão seu nível de vida, preocupando-se principalmente com seu bem-estar social. As pessoas almejam melhores condições de vida, livres das amarras do Estado, podendo progredir por si mesmas. Não necessitam da bengala do Estado, não querem bolsas-esmola, mas espaço para sua livre iniciativa. São pessoas empreendedoras, que desejam melhores condições econômicas e sociais.

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Não mais se contentam com políticas de esquerda, de assistencialismo à pobreza, que só tornam os cidadãos uma massa de manobra para esses partidos políticos. Entendeu esse novo público que o discurso para os pobres é miserável por si mesmo, tendo como objetivo meramente criar uma clientela partidária fiel, mesmo que revistam a sua narrativa de uma aparência humanitária. Almeja ele crescer por suas próprias mãos, sendo livre e independente para empreender. Essas pessoas não visam a pertencerem a um sindicato, atrelando-se a seus dirigentes, que, por sua vez, só perseguem seus próprios privilégios. Estão imbuídas do espírito capitalista da prosperidade. E elas se reconhecem em Marçal.

*

É PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS. E-MAIL: DENISROSENFIELD@TERRA.COM.BR

Menos fígado, mais inteligência. Menos julgamentos apressados, mais análise. O surgimento e a força da candidatura de Pablo Marçal a prefeito de São Paulo exigem a compreensão desse fenômeno, o que pressupõe abandonar juízos açodados, se não preconceituosos, como se fosse ele uma espécie de perversão da boa política, quando essa se tornou no Brasil, nos últimos anos, ela mesma pervertida.

Partidos políticos afastaram-se cada vez mais de sua função de representação dos interesses da sociedade em sua diversidade, tornando-se máquinas de atendimento dos seus próprios interesses, paroquiais e corporativos, quando não instrumentos de corrupção. O espetáculo escabroso das emendas parlamentares, seu montante assustador e sua falta de transparência apenas distancia ainda mais os cidadãos dos seus representantes. Um pilar da democracia mostra-se, assim, periclitante. Os candidatos a prefeito, via de regra, são incapazes, inclusive, de apresentar programas e ideias viáveis para suas respectivas cidades. Agora, dizer que Marçal vai contra a boa política, seja lá o que isso signifique, apenas reforça a ausência de compreensão do que essa mesma política se tornou.

Um candidato foi fisicamente agredido em uma cena propriamente ridícula. O agressor, aliás, é candidato do PSDB, partido que até poucos anos atrás foi o mais importante, com um histórico impressionante de realizações. Seus políticos, especialmente em São Paulo, eram um exemplo para todo o País. Ora, é esse mesmo partido, em processo de franca decadência, que escolheu um personagem para prefeito buscado às pressas no mundo televisivo, como se fosse uma nova promessa de soerguimento partidário. Aliás, os outros candidatos não apresentaram nenhuma solidariedade com o agredido, tendo suas falas, hipocritamente, condenado a agressão para logo aduzirem o uso do “mas”, em argumentos que apenas justificavam o ataque.

Marçal rompe com a política tradicional tal como vinha sendo feita nas últimas décadas. Baseia-se essa em um tripé: coligações partidárias, financiamento eleitoral e partidário e tempo de rádio e televisão. Ora, o candidato contestador ameaça chegar ao segundo turno e, mesmo, ser prefeito de São Paulo, sem preencher nenhuma dessas condições. É candidato de um partido que nem representação parlamentar tem, não tendo se aliado a nenhum outro partido. Não usufrui tampouco de financiamento público, tendo de se virar com doações privadas ou uso de recursos próprios. O seu tempo de rádio e televisão é nulo, sendo ele o expoente de um novo meio de comunicação, as redes sociais, as quais sabe usar admiravelmente. Causa espanto que os outros candidatos não tenham se apercebido a tempo da importância desse novo meio de comunicação, contentando-se com os meios tradicionais.

O grande ativo de Pablo Marçal consiste no uso das mídias sociais. Excelente comunicador, exímio nos cortes das gravações, volta-se exclusivamente para isso, talvez em excesso, o que não deixa de produzir efeitos deletérios, como quando, um pouco apressadamente, colocou-se como vítima. É como se tivesse sofrido uma grande fratura. Não colou! A sua imagem de homem forte perdeu aderência. Entretanto, o que deve ser ressaltado é que, com ele, mais do que com Jair Bolsonaro, o uso das redes sociais tornou-se um instrumento imprescindível de qualquer campanha eleitoral, presentes e futuras. Os políticos que não compreenderem isso estarão fadados ao fracasso.

Há outro aspecto essencial que deve ser ressaltado em sua candidatura: a sua mensagem. Analistas têm frisado primordialmente seu perfil negativo, baseado na lacração, no ataque e em inúmeras agressões verbais. Em segundo plano tem ficado a enorme adesão que suas falas, melhor dito, ensinamentos têm produzido em seus seguidores e eleitores. Ele representa, melhor do que ninguém, um Brasil que quer crescer, onde as pessoas melhorarão seu nível de vida, preocupando-se principalmente com seu bem-estar social. As pessoas almejam melhores condições de vida, livres das amarras do Estado, podendo progredir por si mesmas. Não necessitam da bengala do Estado, não querem bolsas-esmola, mas espaço para sua livre iniciativa. São pessoas empreendedoras, que desejam melhores condições econômicas e sociais.

Não mais se contentam com políticas de esquerda, de assistencialismo à pobreza, que só tornam os cidadãos uma massa de manobra para esses partidos políticos. Entendeu esse novo público que o discurso para os pobres é miserável por si mesmo, tendo como objetivo meramente criar uma clientela partidária fiel, mesmo que revistam a sua narrativa de uma aparência humanitária. Almeja ele crescer por suas próprias mãos, sendo livre e independente para empreender. Essas pessoas não visam a pertencerem a um sindicato, atrelando-se a seus dirigentes, que, por sua vez, só perseguem seus próprios privilégios. Estão imbuídas do espírito capitalista da prosperidade. E elas se reconhecem em Marçal.

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É PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS. E-MAIL: DENISROSENFIELD@TERRA.COM.BR

Menos fígado, mais inteligência. Menos julgamentos apressados, mais análise. O surgimento e a força da candidatura de Pablo Marçal a prefeito de São Paulo exigem a compreensão desse fenômeno, o que pressupõe abandonar juízos açodados, se não preconceituosos, como se fosse ele uma espécie de perversão da boa política, quando essa se tornou no Brasil, nos últimos anos, ela mesma pervertida.

Partidos políticos afastaram-se cada vez mais de sua função de representação dos interesses da sociedade em sua diversidade, tornando-se máquinas de atendimento dos seus próprios interesses, paroquiais e corporativos, quando não instrumentos de corrupção. O espetáculo escabroso das emendas parlamentares, seu montante assustador e sua falta de transparência apenas distancia ainda mais os cidadãos dos seus representantes. Um pilar da democracia mostra-se, assim, periclitante. Os candidatos a prefeito, via de regra, são incapazes, inclusive, de apresentar programas e ideias viáveis para suas respectivas cidades. Agora, dizer que Marçal vai contra a boa política, seja lá o que isso signifique, apenas reforça a ausência de compreensão do que essa mesma política se tornou.

Um candidato foi fisicamente agredido em uma cena propriamente ridícula. O agressor, aliás, é candidato do PSDB, partido que até poucos anos atrás foi o mais importante, com um histórico impressionante de realizações. Seus políticos, especialmente em São Paulo, eram um exemplo para todo o País. Ora, é esse mesmo partido, em processo de franca decadência, que escolheu um personagem para prefeito buscado às pressas no mundo televisivo, como se fosse uma nova promessa de soerguimento partidário. Aliás, os outros candidatos não apresentaram nenhuma solidariedade com o agredido, tendo suas falas, hipocritamente, condenado a agressão para logo aduzirem o uso do “mas”, em argumentos que apenas justificavam o ataque.

Marçal rompe com a política tradicional tal como vinha sendo feita nas últimas décadas. Baseia-se essa em um tripé: coligações partidárias, financiamento eleitoral e partidário e tempo de rádio e televisão. Ora, o candidato contestador ameaça chegar ao segundo turno e, mesmo, ser prefeito de São Paulo, sem preencher nenhuma dessas condições. É candidato de um partido que nem representação parlamentar tem, não tendo se aliado a nenhum outro partido. Não usufrui tampouco de financiamento público, tendo de se virar com doações privadas ou uso de recursos próprios. O seu tempo de rádio e televisão é nulo, sendo ele o expoente de um novo meio de comunicação, as redes sociais, as quais sabe usar admiravelmente. Causa espanto que os outros candidatos não tenham se apercebido a tempo da importância desse novo meio de comunicação, contentando-se com os meios tradicionais.

O grande ativo de Pablo Marçal consiste no uso das mídias sociais. Excelente comunicador, exímio nos cortes das gravações, volta-se exclusivamente para isso, talvez em excesso, o que não deixa de produzir efeitos deletérios, como quando, um pouco apressadamente, colocou-se como vítima. É como se tivesse sofrido uma grande fratura. Não colou! A sua imagem de homem forte perdeu aderência. Entretanto, o que deve ser ressaltado é que, com ele, mais do que com Jair Bolsonaro, o uso das redes sociais tornou-se um instrumento imprescindível de qualquer campanha eleitoral, presentes e futuras. Os políticos que não compreenderem isso estarão fadados ao fracasso.

Há outro aspecto essencial que deve ser ressaltado em sua candidatura: a sua mensagem. Analistas têm frisado primordialmente seu perfil negativo, baseado na lacração, no ataque e em inúmeras agressões verbais. Em segundo plano tem ficado a enorme adesão que suas falas, melhor dito, ensinamentos têm produzido em seus seguidores e eleitores. Ele representa, melhor do que ninguém, um Brasil que quer crescer, onde as pessoas melhorarão seu nível de vida, preocupando-se principalmente com seu bem-estar social. As pessoas almejam melhores condições de vida, livres das amarras do Estado, podendo progredir por si mesmas. Não necessitam da bengala do Estado, não querem bolsas-esmola, mas espaço para sua livre iniciativa. São pessoas empreendedoras, que desejam melhores condições econômicas e sociais.

Não mais se contentam com políticas de esquerda, de assistencialismo à pobreza, que só tornam os cidadãos uma massa de manobra para esses partidos políticos. Entendeu esse novo público que o discurso para os pobres é miserável por si mesmo, tendo como objetivo meramente criar uma clientela partidária fiel, mesmo que revistam a sua narrativa de uma aparência humanitária. Almeja ele crescer por suas próprias mãos, sendo livre e independente para empreender. Essas pessoas não visam a pertencerem a um sindicato, atrelando-se a seus dirigentes, que, por sua vez, só perseguem seus próprios privilégios. Estão imbuídas do espírito capitalista da prosperidade. E elas se reconhecem em Marçal.

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É PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS. E-MAIL: DENISROSENFIELD@TERRA.COM.BR

Menos fígado, mais inteligência. Menos julgamentos apressados, mais análise. O surgimento e a força da candidatura de Pablo Marçal a prefeito de São Paulo exigem a compreensão desse fenômeno, o que pressupõe abandonar juízos açodados, se não preconceituosos, como se fosse ele uma espécie de perversão da boa política, quando essa se tornou no Brasil, nos últimos anos, ela mesma pervertida.

Partidos políticos afastaram-se cada vez mais de sua função de representação dos interesses da sociedade em sua diversidade, tornando-se máquinas de atendimento dos seus próprios interesses, paroquiais e corporativos, quando não instrumentos de corrupção. O espetáculo escabroso das emendas parlamentares, seu montante assustador e sua falta de transparência apenas distancia ainda mais os cidadãos dos seus representantes. Um pilar da democracia mostra-se, assim, periclitante. Os candidatos a prefeito, via de regra, são incapazes, inclusive, de apresentar programas e ideias viáveis para suas respectivas cidades. Agora, dizer que Marçal vai contra a boa política, seja lá o que isso signifique, apenas reforça a ausência de compreensão do que essa mesma política se tornou.

Um candidato foi fisicamente agredido em uma cena propriamente ridícula. O agressor, aliás, é candidato do PSDB, partido que até poucos anos atrás foi o mais importante, com um histórico impressionante de realizações. Seus políticos, especialmente em São Paulo, eram um exemplo para todo o País. Ora, é esse mesmo partido, em processo de franca decadência, que escolheu um personagem para prefeito buscado às pressas no mundo televisivo, como se fosse uma nova promessa de soerguimento partidário. Aliás, os outros candidatos não apresentaram nenhuma solidariedade com o agredido, tendo suas falas, hipocritamente, condenado a agressão para logo aduzirem o uso do “mas”, em argumentos que apenas justificavam o ataque.

Marçal rompe com a política tradicional tal como vinha sendo feita nas últimas décadas. Baseia-se essa em um tripé: coligações partidárias, financiamento eleitoral e partidário e tempo de rádio e televisão. Ora, o candidato contestador ameaça chegar ao segundo turno e, mesmo, ser prefeito de São Paulo, sem preencher nenhuma dessas condições. É candidato de um partido que nem representação parlamentar tem, não tendo se aliado a nenhum outro partido. Não usufrui tampouco de financiamento público, tendo de se virar com doações privadas ou uso de recursos próprios. O seu tempo de rádio e televisão é nulo, sendo ele o expoente de um novo meio de comunicação, as redes sociais, as quais sabe usar admiravelmente. Causa espanto que os outros candidatos não tenham se apercebido a tempo da importância desse novo meio de comunicação, contentando-se com os meios tradicionais.

O grande ativo de Pablo Marçal consiste no uso das mídias sociais. Excelente comunicador, exímio nos cortes das gravações, volta-se exclusivamente para isso, talvez em excesso, o que não deixa de produzir efeitos deletérios, como quando, um pouco apressadamente, colocou-se como vítima. É como se tivesse sofrido uma grande fratura. Não colou! A sua imagem de homem forte perdeu aderência. Entretanto, o que deve ser ressaltado é que, com ele, mais do que com Jair Bolsonaro, o uso das redes sociais tornou-se um instrumento imprescindível de qualquer campanha eleitoral, presentes e futuras. Os políticos que não compreenderem isso estarão fadados ao fracasso.

Há outro aspecto essencial que deve ser ressaltado em sua candidatura: a sua mensagem. Analistas têm frisado primordialmente seu perfil negativo, baseado na lacração, no ataque e em inúmeras agressões verbais. Em segundo plano tem ficado a enorme adesão que suas falas, melhor dito, ensinamentos têm produzido em seus seguidores e eleitores. Ele representa, melhor do que ninguém, um Brasil que quer crescer, onde as pessoas melhorarão seu nível de vida, preocupando-se principalmente com seu bem-estar social. As pessoas almejam melhores condições de vida, livres das amarras do Estado, podendo progredir por si mesmas. Não necessitam da bengala do Estado, não querem bolsas-esmola, mas espaço para sua livre iniciativa. São pessoas empreendedoras, que desejam melhores condições econômicas e sociais.

Não mais se contentam com políticas de esquerda, de assistencialismo à pobreza, que só tornam os cidadãos uma massa de manobra para esses partidos políticos. Entendeu esse novo público que o discurso para os pobres é miserável por si mesmo, tendo como objetivo meramente criar uma clientela partidária fiel, mesmo que revistam a sua narrativa de uma aparência humanitária. Almeja ele crescer por suas próprias mãos, sendo livre e independente para empreender. Essas pessoas não visam a pertencerem a um sindicato, atrelando-se a seus dirigentes, que, por sua vez, só perseguem seus próprios privilégios. Estão imbuídas do espírito capitalista da prosperidade. E elas se reconhecem em Marçal.

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É PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS. E-MAIL: DENISROSENFIELD@TERRA.COM.BR

Menos fígado, mais inteligência. Menos julgamentos apressados, mais análise. O surgimento e a força da candidatura de Pablo Marçal a prefeito de São Paulo exigem a compreensão desse fenômeno, o que pressupõe abandonar juízos açodados, se não preconceituosos, como se fosse ele uma espécie de perversão da boa política, quando essa se tornou no Brasil, nos últimos anos, ela mesma pervertida.

Partidos políticos afastaram-se cada vez mais de sua função de representação dos interesses da sociedade em sua diversidade, tornando-se máquinas de atendimento dos seus próprios interesses, paroquiais e corporativos, quando não instrumentos de corrupção. O espetáculo escabroso das emendas parlamentares, seu montante assustador e sua falta de transparência apenas distancia ainda mais os cidadãos dos seus representantes. Um pilar da democracia mostra-se, assim, periclitante. Os candidatos a prefeito, via de regra, são incapazes, inclusive, de apresentar programas e ideias viáveis para suas respectivas cidades. Agora, dizer que Marçal vai contra a boa política, seja lá o que isso signifique, apenas reforça a ausência de compreensão do que essa mesma política se tornou.

Um candidato foi fisicamente agredido em uma cena propriamente ridícula. O agressor, aliás, é candidato do PSDB, partido que até poucos anos atrás foi o mais importante, com um histórico impressionante de realizações. Seus políticos, especialmente em São Paulo, eram um exemplo para todo o País. Ora, é esse mesmo partido, em processo de franca decadência, que escolheu um personagem para prefeito buscado às pressas no mundo televisivo, como se fosse uma nova promessa de soerguimento partidário. Aliás, os outros candidatos não apresentaram nenhuma solidariedade com o agredido, tendo suas falas, hipocritamente, condenado a agressão para logo aduzirem o uso do “mas”, em argumentos que apenas justificavam o ataque.

Marçal rompe com a política tradicional tal como vinha sendo feita nas últimas décadas. Baseia-se essa em um tripé: coligações partidárias, financiamento eleitoral e partidário e tempo de rádio e televisão. Ora, o candidato contestador ameaça chegar ao segundo turno e, mesmo, ser prefeito de São Paulo, sem preencher nenhuma dessas condições. É candidato de um partido que nem representação parlamentar tem, não tendo se aliado a nenhum outro partido. Não usufrui tampouco de financiamento público, tendo de se virar com doações privadas ou uso de recursos próprios. O seu tempo de rádio e televisão é nulo, sendo ele o expoente de um novo meio de comunicação, as redes sociais, as quais sabe usar admiravelmente. Causa espanto que os outros candidatos não tenham se apercebido a tempo da importância desse novo meio de comunicação, contentando-se com os meios tradicionais.

O grande ativo de Pablo Marçal consiste no uso das mídias sociais. Excelente comunicador, exímio nos cortes das gravações, volta-se exclusivamente para isso, talvez em excesso, o que não deixa de produzir efeitos deletérios, como quando, um pouco apressadamente, colocou-se como vítima. É como se tivesse sofrido uma grande fratura. Não colou! A sua imagem de homem forte perdeu aderência. Entretanto, o que deve ser ressaltado é que, com ele, mais do que com Jair Bolsonaro, o uso das redes sociais tornou-se um instrumento imprescindível de qualquer campanha eleitoral, presentes e futuras. Os políticos que não compreenderem isso estarão fadados ao fracasso.

Há outro aspecto essencial que deve ser ressaltado em sua candidatura: a sua mensagem. Analistas têm frisado primordialmente seu perfil negativo, baseado na lacração, no ataque e em inúmeras agressões verbais. Em segundo plano tem ficado a enorme adesão que suas falas, melhor dito, ensinamentos têm produzido em seus seguidores e eleitores. Ele representa, melhor do que ninguém, um Brasil que quer crescer, onde as pessoas melhorarão seu nível de vida, preocupando-se principalmente com seu bem-estar social. As pessoas almejam melhores condições de vida, livres das amarras do Estado, podendo progredir por si mesmas. Não necessitam da bengala do Estado, não querem bolsas-esmola, mas espaço para sua livre iniciativa. São pessoas empreendedoras, que desejam melhores condições econômicas e sociais.

Não mais se contentam com políticas de esquerda, de assistencialismo à pobreza, que só tornam os cidadãos uma massa de manobra para esses partidos políticos. Entendeu esse novo público que o discurso para os pobres é miserável por si mesmo, tendo como objetivo meramente criar uma clientela partidária fiel, mesmo que revistam a sua narrativa de uma aparência humanitária. Almeja ele crescer por suas próprias mãos, sendo livre e independente para empreender. Essas pessoas não visam a pertencerem a um sindicato, atrelando-se a seus dirigentes, que, por sua vez, só perseguem seus próprios privilégios. Estão imbuídas do espírito capitalista da prosperidade. E elas se reconhecem em Marçal.

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