Para quem ainda especulava sobre uma aceleração do ciclo de redução dos juros iniciado em agosto pelo Banco Central (BC), a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) deve ter sido um tanto frustrante. O documento detalhando a decisão unânime de baixar a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto porcentual – pela quarta vez consecutiva – deixou muito claro que os novos cortes continuarão nessa toada gradual.
Ou seja, ao menos para janeiro e março, os cortes previstos terão a mesma intensidade, o que deve reduzir a Selic dos atuais 11,75% ao ano para 10,75% no primeiro trimestre. Não havendo alterações extraordinárias nos cenários traçados pelo BC, somente ao final do primeiro semestre a taxa de juros deverá retornar ao patamar de um dígito, com 9,75%. Esse é o ritmo lento que a direção do BC estabeleceu – também de forma unânime – como necessário para garantir com firmeza o cumprimento das metas inflacionárias. Não à toa, as palavras “cautela”, “serenidade” e “moderação” se repetem ao longo da ata.
Desde que foi iniciado o afrouxamento da política monetária, há quatro meses, parte do mercado financeiro tem apostado sucessivamente em cortes maiores, de 0,75 ponto porcentual, a cada sinal positivo para a economia no cenário externo ou no doméstico, seja o trâmite favorável a reformas estruturais no Congresso, seja o sinal de arrefecimento da política monetária conduzida pelos bancos centrais dos Estados Unidos, do Reino Unido e da União Europeia. A cada sopro de retomada econômica, novas fichas são depositadas em apostas mais ousadas.
Mas a autoridade monetária confirma, a cada decisão, que é sério seu compromisso com o comedimento. E faz sentido, diante de um cenário doméstico muito incerto, no qual a equipe econômica tem de se equilibrar entre a necessidade de uma política austera e o flerte sistemático do governo com medidas que vão na contramão da responsabilidade fiscal. No exterior, as incertezas permanecem grandes, e ainda acentuadas por conflitos geopolíticos como as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio.
Embora descreva o ambiente externo como “menos adverso”, o Copom ainda considera o cenário volátil. Também reconhece um importante progresso desinflacionário no Brasil, mas adverte que “ainda há um caminho longo a percorrer para a ancoragem das expectativas” e para o retorno da inflação à meta. A lentidão da queda de juros segue o mesmo ritmo desse processo e indica que o BC não abandonará sua política monetária contracionista. É uma questão de bom senso.
Quando relaciona a resiliência do consumo das famílias à queda do investimento, situações que vêm sendo constatadas no monitoramento do Produto Interno Bruto (PIB), os diretores do BC antecipam o risco de inflação de demanda no médio prazo. Ao ponderar que os ganhos reais de rendimento constatados recentemente podem ser temporários, explicita a fragilidade do mercado de trabalho. São fatores que sustentam a tese de desancoragem das expectativas de inflação. E como recomenda a sabedoria popular, cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.