Na quarta-feira passada, foi anunciada a exoneração do coordenador pedagógico da Secretaria Estadual da Educação de São Paulo, Renato Dias. Segundo o Estadão apurou, sua saída se deve aos erros encontrados no material didático produzido pelo governo e enviado para as escolas por meio de slides. Fundador de uma escola particular, Renato Dias era o número 2 da secretaria.
Os erros eram simplesmente inaceitáveis. Os slides de PowerPoint que, a princípio, iriam substituir os livros didáticos, continham erros crassos de História, Geografia, Matemática e Biologia. Por exemplo: na cidade de São Paulo, de acordo com o material preparado pela equipe do secretário, haveria praias; a Lei Áurea, que aboliu a escravidão no País, fora assinada por dom Pedro II, e não por sua filha, a princesa Isabel. Era isso o que o governo de São Paulo queria ensinar para as crianças?
Nessa história, dois pontos chamam a atenção. Tendo em vista os graves equívocos nos últimos nove meses, quem devia cair – o secretário Renato Feder – não caiu. Sinceramente, não se entende sua permanência no governo até o momento. Afinal, o problema não se resumiu a erros nos slides, o que já seria muito preocupante.
O segundo aspecto é ainda mais radical. Certamente, é preciso trocar quem foi conivente com erros tão graves em área fundamental para o presente e o futuro da sociedade. E não é mera questão de falha: os erros expuseram uma visão distorcida da educação, visão esta que, entre outros absurdos, desprezava os livros didáticos. Mas – e aqui está o ponto central – não basta trocar o coordenador pedagógico ou mesmo o secretário estadual de educação. O governo de São Paulo deve à sociedade a apresentação e a realização de um plano consistente para a educação pública.
Como já dissemos neste espaço, não é preciso “revolucionar” a educação. Tampouco é necessário inventar a roda. Basta que o gestor público seja responsável e competente, aplicando as melhores práticas na área, sem desprezar as evidências e sem desprezar o bom senso.
Por exemplo, o governo de São Paulo tinha grandes planos para o ensino digital. No entanto, como o Estadão revelou, a maioria das escolas da rede estadual nem sequer dispõe da infraestrutura necessária. Poucas são as salas de aula que têm acesso à internet por meio de Wi-Fi, computadores, TVs e outros equipamentos necessários para a adoção dessa metodologia pedagógica. Professores ouvidos pelo jornal disseram que usam seus celulares e pacotes de dados particulares para conduzir as aulas. Uma situação de precariedade nesse grau é inaceitável em um Estado como São Paulo.
O governo de São Paulo pode e deve fazer muito mais pela educação pública oferecida às crianças e adolescentes paulistas. É preciso um plano sério e consistente, de curto, médio e longo prazos. Há muitas experiências e muitas entidades sérias às quais o governo estadual pode recorrer. O Estado de São Paulo não pode ficar refém de políticas mal concebidas e mal executadas. Basta de amadorismo e de ignorância.