Opinião|2,9 milhões é o déficit de estudantes no ensino superior


Reduzir as desistências e aumentar as taxas de conclusão nos cursos ainda são um sonho diante dos números do Censo do Ensino Superior 2023

Por Lúcia Teixeira

Mesmo com números positivos no crescimento do ensino superior, mais uma vez o Brasil não conseguiu atingir a meta 12 do Plano Nacional de Educação, que previa 33% dos jovens entre 18 e 24 anos na educação superior ainda neste ano. Os dados do Censo do Ensino Superior 2023 revelaram que os atuais 4,41 milhões de alunos matriculados em cursos universitários nessa faixa etária representam apenas 19,9% dessa população, ou seja, há um déficit de mais 2,9 milhões de jovens estudantes nas instituições de ensino superior públicas e privadas, o que exigirá um crescimento de nada menos que 66% para o Brasil atingir a meta almejada.

Reduzir as desistências e aumentar as taxas de conclusão nos cursos das instituições de ensino superior (IES) ainda são um sonho diante dos números do censo de 2023. A taxa de desistência para quem ingressou em 2019 foi de 61,3% nas instituições privadas, enquanto nas instituições públicas, mesmo sendo gratuitas, ela chegou a 41,9%. E se o ensino superior privado revela um índice de desistência maior, a taxa de conclusão no ensino superior público deixa ainda mais a desejar. Ela foi de 27,1% entre os alunos que ingressaram na rede privada em 2019, enquanto na rede pública foi de apenas 18,9%. Segundo o Censo, 39,2% dos alunos das IES públicas continuavam estudando na graduação sem concluir os cursos, consumindo recursos públicos valiosos, um dado que revela grande ineficiência e que precisa ser enfrentado.

A boa notícia é constatar que o ensino superior brasileiro não parou de crescer. O aumento foi de 5,6%, mais uma vez liderado pelo ensino superior privado, que ampliou em 7,3% o total de matrículas, enquanto nas universidades públicas houve um decréscimo de 0,4%. Esse resultado, provavelmente, se deve à falta de interesse dos alunos para alguns cursos, já que para os cursos mais procurados, como Direito e os da área da saúde, não faltam ingressantes.

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Como atrair alunos para as várias áreas das licenciaturas, tão importantes para melhorar a qualidade da educação brasileira? As licenciaturas estão concentradas na educação a distância (EAD), que continuou a ser a grande impulsionadora do crescimento do ensino superior: enquanto a modalidade cresceu 13,4% em 2023, o ensino presencial recuou 0,97%. As políticas públicas de educação não consideraram, no entanto, que a população mais jovem prefere o ensino presencial, como revelou pesquisa de intenção de ingresso no ensino superior realizada pelo Instituto Semesp.

As quedas sucessivas de matrículas em cursos presenciais parecem estar mudando de rumo. Enquanto a redução anual média de matrículas na modalidade presencial foi de 3,66%, de 2015 a 2022, em 2023 a redução foi de apenas 0,97%. As matrículas no presencial continuaram a atrair interesse em cursos como Direito, Medicina e na área de saúde, mas a novidade é que isso aconteceu também com os cursos de tecnologia da informação (TI).

Mesmo que o maior número de matrículas dos cursos de TI seja em EAD, a área vai bem também no presencial, e o público que prefere a modalidade impulsionou o seu crescimento. Em 2021, o curso de Sistemas de Informação era o 15.° mais procurado entre os cursos presenciais. Agora é o quinto, sendo que na EAD é o terceiro, confirmando que a área de TI impulsiona o acesso nas duas modalidades.

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O grande desafio é ampliar a cobertura entre os jovens. A idade média do ingressante na EAD era de 31 anos em 2013, e esse número se mantém dez anos depois. No ensino presencial, a idade média era de 25 anos, e atualmente é de 24 anos, o que evidencia públicos de perfis um pouco diferentes. Preocupante é saber que apenas 27% dos alunos que concluem o ensino médio ingressam no ensino superior no ano seguinte. Em 2013, os jovens até 24 anos representavam 53,1% dos ingressantes, e uma década depois representam apenas 40,6%.

Ninguém contesta que a educação a distância é fundamental para dar acesso a quem não tem possibilidade ou condições para frequentar presencialmente uma instituição de ensino superior. No entanto, isso não basta, é necessário recuperar também o crescimento do ensino presencial e estimular o ensino híbrido de qualidade, envolvendo as duas modalidades. Além disso, sabemos que os alunos não conseguem arcar com os custos diretos e indiretos para se manterem estudando no ensino superior, e que a alteração das regras de políticas de acesso bem-sucedidas, como o Financiamento Estudantil (Fies) e o Programa Universidade para Todos (Prouni), fez com que ambas se tornassem pouco atraentes, tanto para as instituições de ensino superior quanto para os estudantes.

Há motivos para ter esperança? Sem dúvida. E um bom exemplo é o Programa Pé-de-Meia, que busca garantir a permanência dos estudantes até o final do ensino médio. Mas ele deve ser complementado para estimular também o acesso desses jovens à educação superior, uma vez que, além da falta de informações para o ingresso mais vocacionado dos alunos, o principal obstáculo ainda é a questão econômica, e esse é um dado precisa ser urgentemente superado, se quisermos melhorar o índice de escolaridade no ensino superior do País.

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DOUTORA EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO, É PRESIDENTE DO SEMESP

Mesmo com números positivos no crescimento do ensino superior, mais uma vez o Brasil não conseguiu atingir a meta 12 do Plano Nacional de Educação, que previa 33% dos jovens entre 18 e 24 anos na educação superior ainda neste ano. Os dados do Censo do Ensino Superior 2023 revelaram que os atuais 4,41 milhões de alunos matriculados em cursos universitários nessa faixa etária representam apenas 19,9% dessa população, ou seja, há um déficit de mais 2,9 milhões de jovens estudantes nas instituições de ensino superior públicas e privadas, o que exigirá um crescimento de nada menos que 66% para o Brasil atingir a meta almejada.

Reduzir as desistências e aumentar as taxas de conclusão nos cursos das instituições de ensino superior (IES) ainda são um sonho diante dos números do censo de 2023. A taxa de desistência para quem ingressou em 2019 foi de 61,3% nas instituições privadas, enquanto nas instituições públicas, mesmo sendo gratuitas, ela chegou a 41,9%. E se o ensino superior privado revela um índice de desistência maior, a taxa de conclusão no ensino superior público deixa ainda mais a desejar. Ela foi de 27,1% entre os alunos que ingressaram na rede privada em 2019, enquanto na rede pública foi de apenas 18,9%. Segundo o Censo, 39,2% dos alunos das IES públicas continuavam estudando na graduação sem concluir os cursos, consumindo recursos públicos valiosos, um dado que revela grande ineficiência e que precisa ser enfrentado.

A boa notícia é constatar que o ensino superior brasileiro não parou de crescer. O aumento foi de 5,6%, mais uma vez liderado pelo ensino superior privado, que ampliou em 7,3% o total de matrículas, enquanto nas universidades públicas houve um decréscimo de 0,4%. Esse resultado, provavelmente, se deve à falta de interesse dos alunos para alguns cursos, já que para os cursos mais procurados, como Direito e os da área da saúde, não faltam ingressantes.

Como atrair alunos para as várias áreas das licenciaturas, tão importantes para melhorar a qualidade da educação brasileira? As licenciaturas estão concentradas na educação a distância (EAD), que continuou a ser a grande impulsionadora do crescimento do ensino superior: enquanto a modalidade cresceu 13,4% em 2023, o ensino presencial recuou 0,97%. As políticas públicas de educação não consideraram, no entanto, que a população mais jovem prefere o ensino presencial, como revelou pesquisa de intenção de ingresso no ensino superior realizada pelo Instituto Semesp.

As quedas sucessivas de matrículas em cursos presenciais parecem estar mudando de rumo. Enquanto a redução anual média de matrículas na modalidade presencial foi de 3,66%, de 2015 a 2022, em 2023 a redução foi de apenas 0,97%. As matrículas no presencial continuaram a atrair interesse em cursos como Direito, Medicina e na área de saúde, mas a novidade é que isso aconteceu também com os cursos de tecnologia da informação (TI).

Mesmo que o maior número de matrículas dos cursos de TI seja em EAD, a área vai bem também no presencial, e o público que prefere a modalidade impulsionou o seu crescimento. Em 2021, o curso de Sistemas de Informação era o 15.° mais procurado entre os cursos presenciais. Agora é o quinto, sendo que na EAD é o terceiro, confirmando que a área de TI impulsiona o acesso nas duas modalidades.

O grande desafio é ampliar a cobertura entre os jovens. A idade média do ingressante na EAD era de 31 anos em 2013, e esse número se mantém dez anos depois. No ensino presencial, a idade média era de 25 anos, e atualmente é de 24 anos, o que evidencia públicos de perfis um pouco diferentes. Preocupante é saber que apenas 27% dos alunos que concluem o ensino médio ingressam no ensino superior no ano seguinte. Em 2013, os jovens até 24 anos representavam 53,1% dos ingressantes, e uma década depois representam apenas 40,6%.

Ninguém contesta que a educação a distância é fundamental para dar acesso a quem não tem possibilidade ou condições para frequentar presencialmente uma instituição de ensino superior. No entanto, isso não basta, é necessário recuperar também o crescimento do ensino presencial e estimular o ensino híbrido de qualidade, envolvendo as duas modalidades. Além disso, sabemos que os alunos não conseguem arcar com os custos diretos e indiretos para se manterem estudando no ensino superior, e que a alteração das regras de políticas de acesso bem-sucedidas, como o Financiamento Estudantil (Fies) e o Programa Universidade para Todos (Prouni), fez com que ambas se tornassem pouco atraentes, tanto para as instituições de ensino superior quanto para os estudantes.

Há motivos para ter esperança? Sem dúvida. E um bom exemplo é o Programa Pé-de-Meia, que busca garantir a permanência dos estudantes até o final do ensino médio. Mas ele deve ser complementado para estimular também o acesso desses jovens à educação superior, uma vez que, além da falta de informações para o ingresso mais vocacionado dos alunos, o principal obstáculo ainda é a questão econômica, e esse é um dado precisa ser urgentemente superado, se quisermos melhorar o índice de escolaridade no ensino superior do País.

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DOUTORA EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO, É PRESIDENTE DO SEMESP

Mesmo com números positivos no crescimento do ensino superior, mais uma vez o Brasil não conseguiu atingir a meta 12 do Plano Nacional de Educação, que previa 33% dos jovens entre 18 e 24 anos na educação superior ainda neste ano. Os dados do Censo do Ensino Superior 2023 revelaram que os atuais 4,41 milhões de alunos matriculados em cursos universitários nessa faixa etária representam apenas 19,9% dessa população, ou seja, há um déficit de mais 2,9 milhões de jovens estudantes nas instituições de ensino superior públicas e privadas, o que exigirá um crescimento de nada menos que 66% para o Brasil atingir a meta almejada.

Reduzir as desistências e aumentar as taxas de conclusão nos cursos das instituições de ensino superior (IES) ainda são um sonho diante dos números do censo de 2023. A taxa de desistência para quem ingressou em 2019 foi de 61,3% nas instituições privadas, enquanto nas instituições públicas, mesmo sendo gratuitas, ela chegou a 41,9%. E se o ensino superior privado revela um índice de desistência maior, a taxa de conclusão no ensino superior público deixa ainda mais a desejar. Ela foi de 27,1% entre os alunos que ingressaram na rede privada em 2019, enquanto na rede pública foi de apenas 18,9%. Segundo o Censo, 39,2% dos alunos das IES públicas continuavam estudando na graduação sem concluir os cursos, consumindo recursos públicos valiosos, um dado que revela grande ineficiência e que precisa ser enfrentado.

A boa notícia é constatar que o ensino superior brasileiro não parou de crescer. O aumento foi de 5,6%, mais uma vez liderado pelo ensino superior privado, que ampliou em 7,3% o total de matrículas, enquanto nas universidades públicas houve um decréscimo de 0,4%. Esse resultado, provavelmente, se deve à falta de interesse dos alunos para alguns cursos, já que para os cursos mais procurados, como Direito e os da área da saúde, não faltam ingressantes.

Como atrair alunos para as várias áreas das licenciaturas, tão importantes para melhorar a qualidade da educação brasileira? As licenciaturas estão concentradas na educação a distância (EAD), que continuou a ser a grande impulsionadora do crescimento do ensino superior: enquanto a modalidade cresceu 13,4% em 2023, o ensino presencial recuou 0,97%. As políticas públicas de educação não consideraram, no entanto, que a população mais jovem prefere o ensino presencial, como revelou pesquisa de intenção de ingresso no ensino superior realizada pelo Instituto Semesp.

As quedas sucessivas de matrículas em cursos presenciais parecem estar mudando de rumo. Enquanto a redução anual média de matrículas na modalidade presencial foi de 3,66%, de 2015 a 2022, em 2023 a redução foi de apenas 0,97%. As matrículas no presencial continuaram a atrair interesse em cursos como Direito, Medicina e na área de saúde, mas a novidade é que isso aconteceu também com os cursos de tecnologia da informação (TI).

Mesmo que o maior número de matrículas dos cursos de TI seja em EAD, a área vai bem também no presencial, e o público que prefere a modalidade impulsionou o seu crescimento. Em 2021, o curso de Sistemas de Informação era o 15.° mais procurado entre os cursos presenciais. Agora é o quinto, sendo que na EAD é o terceiro, confirmando que a área de TI impulsiona o acesso nas duas modalidades.

O grande desafio é ampliar a cobertura entre os jovens. A idade média do ingressante na EAD era de 31 anos em 2013, e esse número se mantém dez anos depois. No ensino presencial, a idade média era de 25 anos, e atualmente é de 24 anos, o que evidencia públicos de perfis um pouco diferentes. Preocupante é saber que apenas 27% dos alunos que concluem o ensino médio ingressam no ensino superior no ano seguinte. Em 2013, os jovens até 24 anos representavam 53,1% dos ingressantes, e uma década depois representam apenas 40,6%.

Ninguém contesta que a educação a distância é fundamental para dar acesso a quem não tem possibilidade ou condições para frequentar presencialmente uma instituição de ensino superior. No entanto, isso não basta, é necessário recuperar também o crescimento do ensino presencial e estimular o ensino híbrido de qualidade, envolvendo as duas modalidades. Além disso, sabemos que os alunos não conseguem arcar com os custos diretos e indiretos para se manterem estudando no ensino superior, e que a alteração das regras de políticas de acesso bem-sucedidas, como o Financiamento Estudantil (Fies) e o Programa Universidade para Todos (Prouni), fez com que ambas se tornassem pouco atraentes, tanto para as instituições de ensino superior quanto para os estudantes.

Há motivos para ter esperança? Sem dúvida. E um bom exemplo é o Programa Pé-de-Meia, que busca garantir a permanência dos estudantes até o final do ensino médio. Mas ele deve ser complementado para estimular também o acesso desses jovens à educação superior, uma vez que, além da falta de informações para o ingresso mais vocacionado dos alunos, o principal obstáculo ainda é a questão econômica, e esse é um dado precisa ser urgentemente superado, se quisermos melhorar o índice de escolaridade no ensino superior do País.

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DOUTORA EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO, É PRESIDENTE DO SEMESP

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Doutora em Psicologia da Educação, é presidente do Semesp

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