Opinião|A escolha do Brasil e o legado de Oswaldo Aranha


O que acontece na Ucrânia, no Mar do Sul da China e no Oriente Médio é tão importante para o País hoje quanto as guerras europeias do século 20

Por Michael Miklaucic

Em 1942, enquanto a 2.ª Guerra Mundial assolava a Europa, o estadista brasileiro Oswaldo Aranha tomou uma decisão corajosa e fatídica. Ele decidiu que a responsabilidade moral e o interesse nacional do Brasil seriam mais bem atendidos se ele se alinhasse com os aliados democráticos contra as forças do autoritarismo e da tirania. Foi a decisão certa e colocou o Brasil do lado certo da História.

A 2.ª Guerra Mundial foi um ponto de inflexão histórica. Hoje, estamos diante de outro. A tecnologia e as mudanças tectônicas no poder geoeconômico e geoestratégico representam uma ameaça existencial à ordem liberal e baseada em regras, que prevaleceu desde a 2.ª Guerra Mundial. Como no século 20, dois campos distintos estão surgindo, com visões drasticamente diferentes e, em última análise, incompatíveis. Cada um deles está centrado em um superatrator global; de um lado a República Popular da China, do outro os Estados Unidos.

Alinhados com a China estão a Rússia, o Irã, a Coreia do Norte, a Venezuela, Cuba e alguns outros: formam a coalizão autoritária. Os Estados Unidos são acompanhados por seus aliados formais, incluindo a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliados asiáticos e da Anzus – tratado de segurança entre Austrália, Nova Zelândia e EUA –, e alguns parceiros não aliados. Eu me refiro a esse grupo como o núcleo liberal. Os cerca de 150 países restantes são países com estratégia de cobertura (hedging); Estados que apostam em relação a qual campo aderir, na esperança de aderir àquele que, em última análise, prevalecerá na competição pelo poder e influência globais. Alguns podem tentar a dinâmica de jogar um campo contra o outro, enquanto outros podem buscar um caminho próprio e independentemente dos superatratores (alguns membros do Brics podem ter isso em mente).

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O Brasil é um membro proeminente do grupo de hedging, mas com potencial para superpotência por si só. Sua influência na América Latina já é substancial e, se tiver vontade, poderá se tornar uma influência global. Entre os maiores países do mundo, tanto em população quanto em território, com uma economia entre as dez maiores do mundo e enormes recursos humanos e naturais, o Brasil tem muito a oferecer a ambos os lados, caso opte por se alinhar ao núcleo liberal ou à coalizão autoritária.

O futuro do Brasil não deve ser planejado sem uma estratégia, e a estratégia exige decisões. Para tomá-las, o Brasil deve primeiro decidir que tipo de país ele é e quer ser. As opções oferecem alternativas claras. Os brasileiros devem informar a seus líderes quais valores adotam e de quem desejam manter a companhia. Será que eles valorizam a liberdade individual, a liberdade de expressão e de religião, os mercados livres e os líderes de sua própria escolha? Esses valores são fundamentais para os países do núcleo liberal. Eles não existem nos países da coalizão autoritária que, em vez disso, valorizam a obediência comunitária, a vigilância generalizada, a política estritamente controlada e orientada por uma elite “esclarecida” e a economia oligárquica ou centralizada.

É certo que os Estados Unidos não são um aliado fácil. Eles podem ser exigentes, surdos, hipócritas, inconsistentes e egoístas. No entanto, historicamente, os países que se alinharam com os EUA prosperaram muito mais do que aqueles que se posicionaram contra eles. Como todas as grandes potências, seu histórico internacional não é imaculado, com sua parcela de erros e lapsos. Além disso, nas últimas décadas, os Estados Unidos negligenciaram lamentavelmente seus vizinhos do sul. Essa negligência é claramente sentida em toda a América Latina, onde muitos se sentem desvalorizados. Cabe aos EUA remediar essa situação e reconhecer o privilégio exorbitante de viver no hemisfério ocidental, e seu enorme potencial. Em resumo, os Estados Unidos precisam se esforçar mais.

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Alguns podem argumentar que não há necessidade de os brasileiros escolherem entre campos rivais liderados por superpotências globais. Afinal, o Brasil está muito distante da feroz luta pelo poder entre os Estados Unidos e a China, mais ainda do caldeirão do Oriente Médio, das águas agitadas do Mar do Sul da China ou dos campos de batalha da Ucrânia e da Rússia. “Seus problemas não são nossos problemas”, podem dizer. Mas em um mundo intensamente interconectado e globalmente integrado, essa é uma visão plausível? O Brasil importa 40% de seu fertilizante e 40% de seu óleo diesel da Rússia, enquanto a China é seu maior parceiro comercial. A influência que isso traz não deve ser subestimada. O que acontece na Ucrânia, no Mar do Sul da China e no Oriente Médio certamente é tão importante para o Brasil hoje quanto as guerras europeias do século 20 eram na época de Oswaldo Aranha. As escolhas que os brasileiros enfrentam são importantes e urgentes; os riscos são altos. A decisão de Aranha, há 82 anos, de se alinhar com as democracias contra os nazistas e fascistas, foi a mais correta; uma decisão semelhante seria a mais acertada hoje.

*

É PROFESSOR TITULAR DE ESTUDOS DE SEGURANÇA DA CÁTEDRA OSWALDO ARANHA, NA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, E DA UNIVERSIDADE DE CHICAGO

Em 1942, enquanto a 2.ª Guerra Mundial assolava a Europa, o estadista brasileiro Oswaldo Aranha tomou uma decisão corajosa e fatídica. Ele decidiu que a responsabilidade moral e o interesse nacional do Brasil seriam mais bem atendidos se ele se alinhasse com os aliados democráticos contra as forças do autoritarismo e da tirania. Foi a decisão certa e colocou o Brasil do lado certo da História.

A 2.ª Guerra Mundial foi um ponto de inflexão histórica. Hoje, estamos diante de outro. A tecnologia e as mudanças tectônicas no poder geoeconômico e geoestratégico representam uma ameaça existencial à ordem liberal e baseada em regras, que prevaleceu desde a 2.ª Guerra Mundial. Como no século 20, dois campos distintos estão surgindo, com visões drasticamente diferentes e, em última análise, incompatíveis. Cada um deles está centrado em um superatrator global; de um lado a República Popular da China, do outro os Estados Unidos.

Alinhados com a China estão a Rússia, o Irã, a Coreia do Norte, a Venezuela, Cuba e alguns outros: formam a coalizão autoritária. Os Estados Unidos são acompanhados por seus aliados formais, incluindo a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliados asiáticos e da Anzus – tratado de segurança entre Austrália, Nova Zelândia e EUA –, e alguns parceiros não aliados. Eu me refiro a esse grupo como o núcleo liberal. Os cerca de 150 países restantes são países com estratégia de cobertura (hedging); Estados que apostam em relação a qual campo aderir, na esperança de aderir àquele que, em última análise, prevalecerá na competição pelo poder e influência globais. Alguns podem tentar a dinâmica de jogar um campo contra o outro, enquanto outros podem buscar um caminho próprio e independentemente dos superatratores (alguns membros do Brics podem ter isso em mente).

O Brasil é um membro proeminente do grupo de hedging, mas com potencial para superpotência por si só. Sua influência na América Latina já é substancial e, se tiver vontade, poderá se tornar uma influência global. Entre os maiores países do mundo, tanto em população quanto em território, com uma economia entre as dez maiores do mundo e enormes recursos humanos e naturais, o Brasil tem muito a oferecer a ambos os lados, caso opte por se alinhar ao núcleo liberal ou à coalizão autoritária.

O futuro do Brasil não deve ser planejado sem uma estratégia, e a estratégia exige decisões. Para tomá-las, o Brasil deve primeiro decidir que tipo de país ele é e quer ser. As opções oferecem alternativas claras. Os brasileiros devem informar a seus líderes quais valores adotam e de quem desejam manter a companhia. Será que eles valorizam a liberdade individual, a liberdade de expressão e de religião, os mercados livres e os líderes de sua própria escolha? Esses valores são fundamentais para os países do núcleo liberal. Eles não existem nos países da coalizão autoritária que, em vez disso, valorizam a obediência comunitária, a vigilância generalizada, a política estritamente controlada e orientada por uma elite “esclarecida” e a economia oligárquica ou centralizada.

É certo que os Estados Unidos não são um aliado fácil. Eles podem ser exigentes, surdos, hipócritas, inconsistentes e egoístas. No entanto, historicamente, os países que se alinharam com os EUA prosperaram muito mais do que aqueles que se posicionaram contra eles. Como todas as grandes potências, seu histórico internacional não é imaculado, com sua parcela de erros e lapsos. Além disso, nas últimas décadas, os Estados Unidos negligenciaram lamentavelmente seus vizinhos do sul. Essa negligência é claramente sentida em toda a América Latina, onde muitos se sentem desvalorizados. Cabe aos EUA remediar essa situação e reconhecer o privilégio exorbitante de viver no hemisfério ocidental, e seu enorme potencial. Em resumo, os Estados Unidos precisam se esforçar mais.

Alguns podem argumentar que não há necessidade de os brasileiros escolherem entre campos rivais liderados por superpotências globais. Afinal, o Brasil está muito distante da feroz luta pelo poder entre os Estados Unidos e a China, mais ainda do caldeirão do Oriente Médio, das águas agitadas do Mar do Sul da China ou dos campos de batalha da Ucrânia e da Rússia. “Seus problemas não são nossos problemas”, podem dizer. Mas em um mundo intensamente interconectado e globalmente integrado, essa é uma visão plausível? O Brasil importa 40% de seu fertilizante e 40% de seu óleo diesel da Rússia, enquanto a China é seu maior parceiro comercial. A influência que isso traz não deve ser subestimada. O que acontece na Ucrânia, no Mar do Sul da China e no Oriente Médio certamente é tão importante para o Brasil hoje quanto as guerras europeias do século 20 eram na época de Oswaldo Aranha. As escolhas que os brasileiros enfrentam são importantes e urgentes; os riscos são altos. A decisão de Aranha, há 82 anos, de se alinhar com as democracias contra os nazistas e fascistas, foi a mais correta; uma decisão semelhante seria a mais acertada hoje.

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É PROFESSOR TITULAR DE ESTUDOS DE SEGURANÇA DA CÁTEDRA OSWALDO ARANHA, NA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, E DA UNIVERSIDADE DE CHICAGO

Em 1942, enquanto a 2.ª Guerra Mundial assolava a Europa, o estadista brasileiro Oswaldo Aranha tomou uma decisão corajosa e fatídica. Ele decidiu que a responsabilidade moral e o interesse nacional do Brasil seriam mais bem atendidos se ele se alinhasse com os aliados democráticos contra as forças do autoritarismo e da tirania. Foi a decisão certa e colocou o Brasil do lado certo da História.

A 2.ª Guerra Mundial foi um ponto de inflexão histórica. Hoje, estamos diante de outro. A tecnologia e as mudanças tectônicas no poder geoeconômico e geoestratégico representam uma ameaça existencial à ordem liberal e baseada em regras, que prevaleceu desde a 2.ª Guerra Mundial. Como no século 20, dois campos distintos estão surgindo, com visões drasticamente diferentes e, em última análise, incompatíveis. Cada um deles está centrado em um superatrator global; de um lado a República Popular da China, do outro os Estados Unidos.

Alinhados com a China estão a Rússia, o Irã, a Coreia do Norte, a Venezuela, Cuba e alguns outros: formam a coalizão autoritária. Os Estados Unidos são acompanhados por seus aliados formais, incluindo a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliados asiáticos e da Anzus – tratado de segurança entre Austrália, Nova Zelândia e EUA –, e alguns parceiros não aliados. Eu me refiro a esse grupo como o núcleo liberal. Os cerca de 150 países restantes são países com estratégia de cobertura (hedging); Estados que apostam em relação a qual campo aderir, na esperança de aderir àquele que, em última análise, prevalecerá na competição pelo poder e influência globais. Alguns podem tentar a dinâmica de jogar um campo contra o outro, enquanto outros podem buscar um caminho próprio e independentemente dos superatratores (alguns membros do Brics podem ter isso em mente).

O Brasil é um membro proeminente do grupo de hedging, mas com potencial para superpotência por si só. Sua influência na América Latina já é substancial e, se tiver vontade, poderá se tornar uma influência global. Entre os maiores países do mundo, tanto em população quanto em território, com uma economia entre as dez maiores do mundo e enormes recursos humanos e naturais, o Brasil tem muito a oferecer a ambos os lados, caso opte por se alinhar ao núcleo liberal ou à coalizão autoritária.

O futuro do Brasil não deve ser planejado sem uma estratégia, e a estratégia exige decisões. Para tomá-las, o Brasil deve primeiro decidir que tipo de país ele é e quer ser. As opções oferecem alternativas claras. Os brasileiros devem informar a seus líderes quais valores adotam e de quem desejam manter a companhia. Será que eles valorizam a liberdade individual, a liberdade de expressão e de religião, os mercados livres e os líderes de sua própria escolha? Esses valores são fundamentais para os países do núcleo liberal. Eles não existem nos países da coalizão autoritária que, em vez disso, valorizam a obediência comunitária, a vigilância generalizada, a política estritamente controlada e orientada por uma elite “esclarecida” e a economia oligárquica ou centralizada.

É certo que os Estados Unidos não são um aliado fácil. Eles podem ser exigentes, surdos, hipócritas, inconsistentes e egoístas. No entanto, historicamente, os países que se alinharam com os EUA prosperaram muito mais do que aqueles que se posicionaram contra eles. Como todas as grandes potências, seu histórico internacional não é imaculado, com sua parcela de erros e lapsos. Além disso, nas últimas décadas, os Estados Unidos negligenciaram lamentavelmente seus vizinhos do sul. Essa negligência é claramente sentida em toda a América Latina, onde muitos se sentem desvalorizados. Cabe aos EUA remediar essa situação e reconhecer o privilégio exorbitante de viver no hemisfério ocidental, e seu enorme potencial. Em resumo, os Estados Unidos precisam se esforçar mais.

Alguns podem argumentar que não há necessidade de os brasileiros escolherem entre campos rivais liderados por superpotências globais. Afinal, o Brasil está muito distante da feroz luta pelo poder entre os Estados Unidos e a China, mais ainda do caldeirão do Oriente Médio, das águas agitadas do Mar do Sul da China ou dos campos de batalha da Ucrânia e da Rússia. “Seus problemas não são nossos problemas”, podem dizer. Mas em um mundo intensamente interconectado e globalmente integrado, essa é uma visão plausível? O Brasil importa 40% de seu fertilizante e 40% de seu óleo diesel da Rússia, enquanto a China é seu maior parceiro comercial. A influência que isso traz não deve ser subestimada. O que acontece na Ucrânia, no Mar do Sul da China e no Oriente Médio certamente é tão importante para o Brasil hoje quanto as guerras europeias do século 20 eram na época de Oswaldo Aranha. As escolhas que os brasileiros enfrentam são importantes e urgentes; os riscos são altos. A decisão de Aranha, há 82 anos, de se alinhar com as democracias contra os nazistas e fascistas, foi a mais correta; uma decisão semelhante seria a mais acertada hoje.

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É PROFESSOR TITULAR DE ESTUDOS DE SEGURANÇA DA CÁTEDRA OSWALDO ARANHA, NA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, E DA UNIVERSIDADE DE CHICAGO

Em 1942, enquanto a 2.ª Guerra Mundial assolava a Europa, o estadista brasileiro Oswaldo Aranha tomou uma decisão corajosa e fatídica. Ele decidiu que a responsabilidade moral e o interesse nacional do Brasil seriam mais bem atendidos se ele se alinhasse com os aliados democráticos contra as forças do autoritarismo e da tirania. Foi a decisão certa e colocou o Brasil do lado certo da História.

A 2.ª Guerra Mundial foi um ponto de inflexão histórica. Hoje, estamos diante de outro. A tecnologia e as mudanças tectônicas no poder geoeconômico e geoestratégico representam uma ameaça existencial à ordem liberal e baseada em regras, que prevaleceu desde a 2.ª Guerra Mundial. Como no século 20, dois campos distintos estão surgindo, com visões drasticamente diferentes e, em última análise, incompatíveis. Cada um deles está centrado em um superatrator global; de um lado a República Popular da China, do outro os Estados Unidos.

Alinhados com a China estão a Rússia, o Irã, a Coreia do Norte, a Venezuela, Cuba e alguns outros: formam a coalizão autoritária. Os Estados Unidos são acompanhados por seus aliados formais, incluindo a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliados asiáticos e da Anzus – tratado de segurança entre Austrália, Nova Zelândia e EUA –, e alguns parceiros não aliados. Eu me refiro a esse grupo como o núcleo liberal. Os cerca de 150 países restantes são países com estratégia de cobertura (hedging); Estados que apostam em relação a qual campo aderir, na esperança de aderir àquele que, em última análise, prevalecerá na competição pelo poder e influência globais. Alguns podem tentar a dinâmica de jogar um campo contra o outro, enquanto outros podem buscar um caminho próprio e independentemente dos superatratores (alguns membros do Brics podem ter isso em mente).

O Brasil é um membro proeminente do grupo de hedging, mas com potencial para superpotência por si só. Sua influência na América Latina já é substancial e, se tiver vontade, poderá se tornar uma influência global. Entre os maiores países do mundo, tanto em população quanto em território, com uma economia entre as dez maiores do mundo e enormes recursos humanos e naturais, o Brasil tem muito a oferecer a ambos os lados, caso opte por se alinhar ao núcleo liberal ou à coalizão autoritária.

O futuro do Brasil não deve ser planejado sem uma estratégia, e a estratégia exige decisões. Para tomá-las, o Brasil deve primeiro decidir que tipo de país ele é e quer ser. As opções oferecem alternativas claras. Os brasileiros devem informar a seus líderes quais valores adotam e de quem desejam manter a companhia. Será que eles valorizam a liberdade individual, a liberdade de expressão e de religião, os mercados livres e os líderes de sua própria escolha? Esses valores são fundamentais para os países do núcleo liberal. Eles não existem nos países da coalizão autoritária que, em vez disso, valorizam a obediência comunitária, a vigilância generalizada, a política estritamente controlada e orientada por uma elite “esclarecida” e a economia oligárquica ou centralizada.

É certo que os Estados Unidos não são um aliado fácil. Eles podem ser exigentes, surdos, hipócritas, inconsistentes e egoístas. No entanto, historicamente, os países que se alinharam com os EUA prosperaram muito mais do que aqueles que se posicionaram contra eles. Como todas as grandes potências, seu histórico internacional não é imaculado, com sua parcela de erros e lapsos. Além disso, nas últimas décadas, os Estados Unidos negligenciaram lamentavelmente seus vizinhos do sul. Essa negligência é claramente sentida em toda a América Latina, onde muitos se sentem desvalorizados. Cabe aos EUA remediar essa situação e reconhecer o privilégio exorbitante de viver no hemisfério ocidental, e seu enorme potencial. Em resumo, os Estados Unidos precisam se esforçar mais.

Alguns podem argumentar que não há necessidade de os brasileiros escolherem entre campos rivais liderados por superpotências globais. Afinal, o Brasil está muito distante da feroz luta pelo poder entre os Estados Unidos e a China, mais ainda do caldeirão do Oriente Médio, das águas agitadas do Mar do Sul da China ou dos campos de batalha da Ucrânia e da Rússia. “Seus problemas não são nossos problemas”, podem dizer. Mas em um mundo intensamente interconectado e globalmente integrado, essa é uma visão plausível? O Brasil importa 40% de seu fertilizante e 40% de seu óleo diesel da Rússia, enquanto a China é seu maior parceiro comercial. A influência que isso traz não deve ser subestimada. O que acontece na Ucrânia, no Mar do Sul da China e no Oriente Médio certamente é tão importante para o Brasil hoje quanto as guerras europeias do século 20 eram na época de Oswaldo Aranha. As escolhas que os brasileiros enfrentam são importantes e urgentes; os riscos são altos. A decisão de Aranha, há 82 anos, de se alinhar com as democracias contra os nazistas e fascistas, foi a mais correta; uma decisão semelhante seria a mais acertada hoje.

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É PROFESSOR TITULAR DE ESTUDOS DE SEGURANÇA DA CÁTEDRA OSWALDO ARANHA, NA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, E DA UNIVERSIDADE DE CHICAGO

Opinião por Michael Miklaucic

É professor titular de Estudos de Segurança da Cátedra Oswaldo Aranha, na Universidade de São Paulo, e da Universidade de Chicago

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