A economia global passa por uma transição ambiental significativa e, desde a 26.ª Conferência da ONU para o Meio Ambiente (COP26), realizada em Glasgow, em 2021, o setor privado bem como instituições financeiras e suas reguladoras de todo o mundo passaram a desempenhar um papel efetivo na agenda verde, adotando metas ambientais e climáticas sem precedentes.
No entanto, enfrentamos o desafio de conciliar esse processo com um crescimento econômico robusto, que proporcione maior renda e qualidade de vida para todos os cidadãos, ao mesmo tempo que reduzimos, ou até mesmo eliminamos, os impactos negativos na natureza. O momento é crucial e a necessidade de agir, inadiável.
Não podemos atuar de forma irracional diante do problema ambiental que enfrentamos. Uma transição forçada, compulsória e mandatória pode gerar aumentos de custos e escassez de energia, transporte e alimentos, resultando em ineficiência econômica, inflação verde e redução do desenvolvimento em diversas regiões vulneráveis ao redor do mundo. Temos de sair da teoria ambiental clássica negativa, baseada apenas em reduzir e banir atividades econômicas, para um conceito moderno e positivo, em que indicadores ambientais serão ativos e atributos diferenciais dos produtos e serviços da cadeia de suprimento até o consumidor final. É necessário buscar avanços de forma equilibrada e racional para garantir a sustentabilidade sem comprometer a estabilidade econômica e o bem-estar de toda a sociedade.
Neste cenário desafiador, emerge um Brasil Verde, líder nesta transição por causa de suas características econômicas e naturais distintas.
Economicamente, o País tem uma base agrícola tropical convencional sustentável e um setor industrial e de serviços com uma das menores intensidades de carbono do mundo: quatro vezes menor do que a dos países do G-20.
Além disso, o Brasil se destaca por abrigar parcela significativa dos recursos naturais em comparação com outros países. A maior diversidade biológica do mundo, com ampla variedade de animais, plantas e microrganismos, está presente na vasta extensão da nossa faixa marítima, nas florestas, matas e campos nativos. O País também é reconhecido como a maior fonte renovável de água doce do planeta, com rios e reservatórios subterrâneos de grande importância. O clima tropical favorável, a intensa radiação solar o ano todo e os ventos constantes sem tempestades extremas são ideais para a produção sustentável e abundante de produtos, serviços, alimentos e energias renováveis.
Surge, assim, a maior e melhor oportunidade do Brasil das últimas décadas, na qual todos esses recursos posicionam o País com uma rara oportunidade de impulsionar e expandir investimentos numa nova e grande economia global, positiva para a natureza. Entretanto, para alcançar o sucesso nesta jornada, é fundamental unir conhecimentos econômicos, financeiros, tecnológicos, comerciais e ambientais de maneira equilibrada. Essa abordagem inteligente, inovadora e positiva deve ser aplicada nas empresas de todos os setores da economia.
É fundamental considerar não apenas os microimpactos ambientais operacionais, mas também os macroimpactos que cada atividade exerce ao longo de toda a cadeia de valor, bem como estabelecer um cenário base para cada setor e projeto. Isso envolve uma análise precisa dos aspectos ambientais e climáticos e a definição de estratégias e ações viáveis para reduzir e até eliminar esses impactos gradativamente. Ao adotar essas práticas, é possível adicionar valor aos produtos e serviços ao mesmo tempo que se protege o meio ambiente. É importante ressaltar que uma melhor performance ambiental está diretamente relacionada a melhores resultados econômicos.
O diferencial desta proposta está na abordagem abrangente e integrada que engloba praticamente todos os setores, permitindo a análise e a implementação de estratégias sustentáveis em diversos segmentos, tais como agro, energia, logística, mobilidade urbana, saneamento, tratamento de resíduos, óleo e gás, mineração, indústria e serviços.
É fundamental identificar com rigor projetos e empresas que apresentem potencial para adotar práticas sustentáveis, reduzir o impacto ambiental e climático, aumentar a eficiência energética, fazer uso racional dos recursos naturais, viabilizar a reciclagem e implementar a economia circular, entre outras ações. Aproveitando as oportunidades de mercado e os benefícios econômicos da melhoria dos indicadores ambientais, as empresas podem reduzir custos, aumentar a eficiência operacional, impulsionar a inovação, conquistar novos mercados, fortalecer a confiança dos consumidores, dos investidores e garantir resultados econômicos sólidos e diferenciados no longo prazo.
É a hora de agir e colaborar para construir um futuro mais verde, próspero e sustentável, em que a proteção ambiental e o sucesso dos investimentos caminham juntos na verdadeira transformação verde.
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FOI MINISTRO DO MEIO AMBIENTE