Opinião|A saúde mental dos jovens brasileiros e o mundo digital


Cabe a todos nós, como sociedade, proteger os cérebros e mentes destes quase 50 milhões de brasileiros, a maior riqueza natural do País

Por Christian Kieling e Tabata Amaral

Hoje, o nosso país conta com o maior contingente de jovens de sua história, e é preocupante que justo neste momento vejamos uma crise crescente de saúde mental nesta população. Esse fenômeno multifacetado não pode ser dissociado de um contexto em que as mídias sociais vêm ganhando destaque como potenciais gatilhos para problemas de saúde mental. Recentemente, a maior autoridade de saúde pública dos EUA emitiu um alerta sobre o potencial impacto negativo de tais tecnologias, iniciativa antes reservada para questões como tabagismo e obesidade.

Nos últimos anos, as mídias sociais se tornaram uma presença constante na vida dos jovens, oferecendo tanto benefícios quanto desafios. Paralelamente a isso, pesquisas realizadas no Brasil e em todo o mundo convergem para apontar que estamos vivenciando um agravamento dos indicadores de saúde mental entre adolescentes – uma tendência observada mesmo antes da pandemia. Preocupações sobre o impacto da tecnologia na juventude não são novas: televisão e videogames foram frequentemente alvos de escrutínio nas últimas décadas.

Neste debate, é importante considerar que a velocidade da inovação tecnológica é maior do que a velocidade das pesquisas que avaliam seus impactos. Por exemplo, o que no início eram redes sociais, ferramentas que tinham como objetivo central permitir a conexão com outras pessoas do círculo social de cada um, nos últimos anos se transfigurou em mídias sociais, nas quais um fluxo contínuo de textos, imagens e vídeos é filtrado através de algoritmos buscando otimizar métricas preestabelecidas, em geral com objetivos predominantemente comerciais.

continua após a publicidade

Uma boa parte dos estudos realizados até o momento ainda avalia o tempo de uso de telas em geral (e não apenas mídias sociais) e baseia-se apenas em quantidades relatadas pelo jovem ou por seus pais (sem qualquer tipo de medida objetiva). Além disso, uma correlação não necessariamente implica causalidade: há estudos, inclusive, sugerindo que adolescentes com transtornos mentais podem acabar usando mais frequentemente as mídias sociais.

No entanto, o volume de evidências de que as mídias sociais podem ter efeitos nocivos para alguns jovens vem crescendo. Além da coincidência temporal entre o aumento de sintomas como ansiedade e depressão na população e a disseminação em larga escala do uso de mídias sociais há pouco mais de uma década, dados mais recentes indicam que aqueles que passam mais de três horas por dia em mídias sociais podem ter seu risco de apresentar algum problema de saúde mental duplicado.

Simultaneamente, é preciso reconhecer que essas mesmas ferramentas também podem ter efeitos positivos na saúde mental de alguns jovens: estudos indicam, por exemplo, que adolescentes LGBTQIA+ podem se beneficiar da conexão com pares através de redes sociais. O grande desafio, aqui, é que não existe uma solução única que atenda todos: uma grande proporção de jovens não apresentará problemas, mas isso não significa que devemos ignorar aqueles que podem ser afetados.

continua após a publicidade

Em razão da complexidade do problema, como podemos abordar a questão do uso de mídias sociais por jovens? Uma proibição simples e irrestrita do uso de mídias sociais não parece ser desejável e muito menos viável – ainda que uma discussão sobre a idade mínima para seu uso faça bastante sentido.

Este é um problema que deve ser abordado dos mais diferentes ângulos. Precisamos de iniciativas que promovam a alfabetização digital entre adolescentes nas escolas. Pais e outros responsáveis devem buscar ter conversas francas com seus filhos, reconhecendo os aspectos positivos e negativos das mídias sociais e oferecendo orientação.

Não parece, contudo, adequado deixar essa responsabilidade exclusivamente na mão das famílias, tornando-se necessário o envolvimento de toda a sociedade. Entre os diversos atores, destaca-se a indispensável participação das empresas de tecnologia, cujas ações no sentido de priorizar a saúde e a segurança dos jovens ainda são tímidas – elas poderiam começar, por exemplo, trazendo mais transparência aos dados de suas mídias por jovens, de modo a fomentar a pesquisa e um maior entendimento acerca do tema.

continua após a publicidade

Nesta questão do impacto das mídias sociais sobre a saúde mental dos jovens, é fundamental evitar cair em narrativas simplistas. Certamente, precisamos compreender melhor este complexo fenômeno, mas as lacunas no conhecimento atual não devem servir de justificativa para a inação.

O Brasil hoje tem o maior contingente populacional de jovens de todos os tempos, o que por modificações do perfil demográfico provavelmente nunca mais se repetirá, de modo que estamos diante de uma janela de oportunidade histórica, com repercussões para as próximas gerações. Cabe a todos nós proteger os cérebros e mentes destes quase 50 milhões de brasileiros, a maior riqueza natural de nosso país.

*

continua após a publicidade

SÃO, RESPECTIVAMENTE, PSIQUIATRA DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA, PROFESSOR DA UFRGS E MEMBRO DO COLETIVO DERRUBANDO MUROS; E DEPUTADA FEDERAL (PSB-SP), CIENTISTA POLÍTICA, ASTROFÍSICA, FUNDADORA DO ‘VAMOS JUNTAS’, COFUNDADORA DOS MOVIMENTOS ‘MAPA EDUCAÇÃO’ E ‘ACREDITO’, FAZ PARTE DO COLETIVO DERRUBANDO MUROS

Hoje, o nosso país conta com o maior contingente de jovens de sua história, e é preocupante que justo neste momento vejamos uma crise crescente de saúde mental nesta população. Esse fenômeno multifacetado não pode ser dissociado de um contexto em que as mídias sociais vêm ganhando destaque como potenciais gatilhos para problemas de saúde mental. Recentemente, a maior autoridade de saúde pública dos EUA emitiu um alerta sobre o potencial impacto negativo de tais tecnologias, iniciativa antes reservada para questões como tabagismo e obesidade.

Nos últimos anos, as mídias sociais se tornaram uma presença constante na vida dos jovens, oferecendo tanto benefícios quanto desafios. Paralelamente a isso, pesquisas realizadas no Brasil e em todo o mundo convergem para apontar que estamos vivenciando um agravamento dos indicadores de saúde mental entre adolescentes – uma tendência observada mesmo antes da pandemia. Preocupações sobre o impacto da tecnologia na juventude não são novas: televisão e videogames foram frequentemente alvos de escrutínio nas últimas décadas.

Neste debate, é importante considerar que a velocidade da inovação tecnológica é maior do que a velocidade das pesquisas que avaliam seus impactos. Por exemplo, o que no início eram redes sociais, ferramentas que tinham como objetivo central permitir a conexão com outras pessoas do círculo social de cada um, nos últimos anos se transfigurou em mídias sociais, nas quais um fluxo contínuo de textos, imagens e vídeos é filtrado através de algoritmos buscando otimizar métricas preestabelecidas, em geral com objetivos predominantemente comerciais.

Uma boa parte dos estudos realizados até o momento ainda avalia o tempo de uso de telas em geral (e não apenas mídias sociais) e baseia-se apenas em quantidades relatadas pelo jovem ou por seus pais (sem qualquer tipo de medida objetiva). Além disso, uma correlação não necessariamente implica causalidade: há estudos, inclusive, sugerindo que adolescentes com transtornos mentais podem acabar usando mais frequentemente as mídias sociais.

No entanto, o volume de evidências de que as mídias sociais podem ter efeitos nocivos para alguns jovens vem crescendo. Além da coincidência temporal entre o aumento de sintomas como ansiedade e depressão na população e a disseminação em larga escala do uso de mídias sociais há pouco mais de uma década, dados mais recentes indicam que aqueles que passam mais de três horas por dia em mídias sociais podem ter seu risco de apresentar algum problema de saúde mental duplicado.

Simultaneamente, é preciso reconhecer que essas mesmas ferramentas também podem ter efeitos positivos na saúde mental de alguns jovens: estudos indicam, por exemplo, que adolescentes LGBTQIA+ podem se beneficiar da conexão com pares através de redes sociais. O grande desafio, aqui, é que não existe uma solução única que atenda todos: uma grande proporção de jovens não apresentará problemas, mas isso não significa que devemos ignorar aqueles que podem ser afetados.

Em razão da complexidade do problema, como podemos abordar a questão do uso de mídias sociais por jovens? Uma proibição simples e irrestrita do uso de mídias sociais não parece ser desejável e muito menos viável – ainda que uma discussão sobre a idade mínima para seu uso faça bastante sentido.

Este é um problema que deve ser abordado dos mais diferentes ângulos. Precisamos de iniciativas que promovam a alfabetização digital entre adolescentes nas escolas. Pais e outros responsáveis devem buscar ter conversas francas com seus filhos, reconhecendo os aspectos positivos e negativos das mídias sociais e oferecendo orientação.

Não parece, contudo, adequado deixar essa responsabilidade exclusivamente na mão das famílias, tornando-se necessário o envolvimento de toda a sociedade. Entre os diversos atores, destaca-se a indispensável participação das empresas de tecnologia, cujas ações no sentido de priorizar a saúde e a segurança dos jovens ainda são tímidas – elas poderiam começar, por exemplo, trazendo mais transparência aos dados de suas mídias por jovens, de modo a fomentar a pesquisa e um maior entendimento acerca do tema.

Nesta questão do impacto das mídias sociais sobre a saúde mental dos jovens, é fundamental evitar cair em narrativas simplistas. Certamente, precisamos compreender melhor este complexo fenômeno, mas as lacunas no conhecimento atual não devem servir de justificativa para a inação.

O Brasil hoje tem o maior contingente populacional de jovens de todos os tempos, o que por modificações do perfil demográfico provavelmente nunca mais se repetirá, de modo que estamos diante de uma janela de oportunidade histórica, com repercussões para as próximas gerações. Cabe a todos nós proteger os cérebros e mentes destes quase 50 milhões de brasileiros, a maior riqueza natural de nosso país.

*

SÃO, RESPECTIVAMENTE, PSIQUIATRA DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA, PROFESSOR DA UFRGS E MEMBRO DO COLETIVO DERRUBANDO MUROS; E DEPUTADA FEDERAL (PSB-SP), CIENTISTA POLÍTICA, ASTROFÍSICA, FUNDADORA DO ‘VAMOS JUNTAS’, COFUNDADORA DOS MOVIMENTOS ‘MAPA EDUCAÇÃO’ E ‘ACREDITO’, FAZ PARTE DO COLETIVO DERRUBANDO MUROS

Hoje, o nosso país conta com o maior contingente de jovens de sua história, e é preocupante que justo neste momento vejamos uma crise crescente de saúde mental nesta população. Esse fenômeno multifacetado não pode ser dissociado de um contexto em que as mídias sociais vêm ganhando destaque como potenciais gatilhos para problemas de saúde mental. Recentemente, a maior autoridade de saúde pública dos EUA emitiu um alerta sobre o potencial impacto negativo de tais tecnologias, iniciativa antes reservada para questões como tabagismo e obesidade.

Nos últimos anos, as mídias sociais se tornaram uma presença constante na vida dos jovens, oferecendo tanto benefícios quanto desafios. Paralelamente a isso, pesquisas realizadas no Brasil e em todo o mundo convergem para apontar que estamos vivenciando um agravamento dos indicadores de saúde mental entre adolescentes – uma tendência observada mesmo antes da pandemia. Preocupações sobre o impacto da tecnologia na juventude não são novas: televisão e videogames foram frequentemente alvos de escrutínio nas últimas décadas.

Neste debate, é importante considerar que a velocidade da inovação tecnológica é maior do que a velocidade das pesquisas que avaliam seus impactos. Por exemplo, o que no início eram redes sociais, ferramentas que tinham como objetivo central permitir a conexão com outras pessoas do círculo social de cada um, nos últimos anos se transfigurou em mídias sociais, nas quais um fluxo contínuo de textos, imagens e vídeos é filtrado através de algoritmos buscando otimizar métricas preestabelecidas, em geral com objetivos predominantemente comerciais.

Uma boa parte dos estudos realizados até o momento ainda avalia o tempo de uso de telas em geral (e não apenas mídias sociais) e baseia-se apenas em quantidades relatadas pelo jovem ou por seus pais (sem qualquer tipo de medida objetiva). Além disso, uma correlação não necessariamente implica causalidade: há estudos, inclusive, sugerindo que adolescentes com transtornos mentais podem acabar usando mais frequentemente as mídias sociais.

No entanto, o volume de evidências de que as mídias sociais podem ter efeitos nocivos para alguns jovens vem crescendo. Além da coincidência temporal entre o aumento de sintomas como ansiedade e depressão na população e a disseminação em larga escala do uso de mídias sociais há pouco mais de uma década, dados mais recentes indicam que aqueles que passam mais de três horas por dia em mídias sociais podem ter seu risco de apresentar algum problema de saúde mental duplicado.

Simultaneamente, é preciso reconhecer que essas mesmas ferramentas também podem ter efeitos positivos na saúde mental de alguns jovens: estudos indicam, por exemplo, que adolescentes LGBTQIA+ podem se beneficiar da conexão com pares através de redes sociais. O grande desafio, aqui, é que não existe uma solução única que atenda todos: uma grande proporção de jovens não apresentará problemas, mas isso não significa que devemos ignorar aqueles que podem ser afetados.

Em razão da complexidade do problema, como podemos abordar a questão do uso de mídias sociais por jovens? Uma proibição simples e irrestrita do uso de mídias sociais não parece ser desejável e muito menos viável – ainda que uma discussão sobre a idade mínima para seu uso faça bastante sentido.

Este é um problema que deve ser abordado dos mais diferentes ângulos. Precisamos de iniciativas que promovam a alfabetização digital entre adolescentes nas escolas. Pais e outros responsáveis devem buscar ter conversas francas com seus filhos, reconhecendo os aspectos positivos e negativos das mídias sociais e oferecendo orientação.

Não parece, contudo, adequado deixar essa responsabilidade exclusivamente na mão das famílias, tornando-se necessário o envolvimento de toda a sociedade. Entre os diversos atores, destaca-se a indispensável participação das empresas de tecnologia, cujas ações no sentido de priorizar a saúde e a segurança dos jovens ainda são tímidas – elas poderiam começar, por exemplo, trazendo mais transparência aos dados de suas mídias por jovens, de modo a fomentar a pesquisa e um maior entendimento acerca do tema.

Nesta questão do impacto das mídias sociais sobre a saúde mental dos jovens, é fundamental evitar cair em narrativas simplistas. Certamente, precisamos compreender melhor este complexo fenômeno, mas as lacunas no conhecimento atual não devem servir de justificativa para a inação.

O Brasil hoje tem o maior contingente populacional de jovens de todos os tempos, o que por modificações do perfil demográfico provavelmente nunca mais se repetirá, de modo que estamos diante de uma janela de oportunidade histórica, com repercussões para as próximas gerações. Cabe a todos nós proteger os cérebros e mentes destes quase 50 milhões de brasileiros, a maior riqueza natural de nosso país.

*

SÃO, RESPECTIVAMENTE, PSIQUIATRA DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA, PROFESSOR DA UFRGS E MEMBRO DO COLETIVO DERRUBANDO MUROS; E DEPUTADA FEDERAL (PSB-SP), CIENTISTA POLÍTICA, ASTROFÍSICA, FUNDADORA DO ‘VAMOS JUNTAS’, COFUNDADORA DOS MOVIMENTOS ‘MAPA EDUCAÇÃO’ E ‘ACREDITO’, FAZ PARTE DO COLETIVO DERRUBANDO MUROS

Hoje, o nosso país conta com o maior contingente de jovens de sua história, e é preocupante que justo neste momento vejamos uma crise crescente de saúde mental nesta população. Esse fenômeno multifacetado não pode ser dissociado de um contexto em que as mídias sociais vêm ganhando destaque como potenciais gatilhos para problemas de saúde mental. Recentemente, a maior autoridade de saúde pública dos EUA emitiu um alerta sobre o potencial impacto negativo de tais tecnologias, iniciativa antes reservada para questões como tabagismo e obesidade.

Nos últimos anos, as mídias sociais se tornaram uma presença constante na vida dos jovens, oferecendo tanto benefícios quanto desafios. Paralelamente a isso, pesquisas realizadas no Brasil e em todo o mundo convergem para apontar que estamos vivenciando um agravamento dos indicadores de saúde mental entre adolescentes – uma tendência observada mesmo antes da pandemia. Preocupações sobre o impacto da tecnologia na juventude não são novas: televisão e videogames foram frequentemente alvos de escrutínio nas últimas décadas.

Neste debate, é importante considerar que a velocidade da inovação tecnológica é maior do que a velocidade das pesquisas que avaliam seus impactos. Por exemplo, o que no início eram redes sociais, ferramentas que tinham como objetivo central permitir a conexão com outras pessoas do círculo social de cada um, nos últimos anos se transfigurou em mídias sociais, nas quais um fluxo contínuo de textos, imagens e vídeos é filtrado através de algoritmos buscando otimizar métricas preestabelecidas, em geral com objetivos predominantemente comerciais.

Uma boa parte dos estudos realizados até o momento ainda avalia o tempo de uso de telas em geral (e não apenas mídias sociais) e baseia-se apenas em quantidades relatadas pelo jovem ou por seus pais (sem qualquer tipo de medida objetiva). Além disso, uma correlação não necessariamente implica causalidade: há estudos, inclusive, sugerindo que adolescentes com transtornos mentais podem acabar usando mais frequentemente as mídias sociais.

No entanto, o volume de evidências de que as mídias sociais podem ter efeitos nocivos para alguns jovens vem crescendo. Além da coincidência temporal entre o aumento de sintomas como ansiedade e depressão na população e a disseminação em larga escala do uso de mídias sociais há pouco mais de uma década, dados mais recentes indicam que aqueles que passam mais de três horas por dia em mídias sociais podem ter seu risco de apresentar algum problema de saúde mental duplicado.

Simultaneamente, é preciso reconhecer que essas mesmas ferramentas também podem ter efeitos positivos na saúde mental de alguns jovens: estudos indicam, por exemplo, que adolescentes LGBTQIA+ podem se beneficiar da conexão com pares através de redes sociais. O grande desafio, aqui, é que não existe uma solução única que atenda todos: uma grande proporção de jovens não apresentará problemas, mas isso não significa que devemos ignorar aqueles que podem ser afetados.

Em razão da complexidade do problema, como podemos abordar a questão do uso de mídias sociais por jovens? Uma proibição simples e irrestrita do uso de mídias sociais não parece ser desejável e muito menos viável – ainda que uma discussão sobre a idade mínima para seu uso faça bastante sentido.

Este é um problema que deve ser abordado dos mais diferentes ângulos. Precisamos de iniciativas que promovam a alfabetização digital entre adolescentes nas escolas. Pais e outros responsáveis devem buscar ter conversas francas com seus filhos, reconhecendo os aspectos positivos e negativos das mídias sociais e oferecendo orientação.

Não parece, contudo, adequado deixar essa responsabilidade exclusivamente na mão das famílias, tornando-se necessário o envolvimento de toda a sociedade. Entre os diversos atores, destaca-se a indispensável participação das empresas de tecnologia, cujas ações no sentido de priorizar a saúde e a segurança dos jovens ainda são tímidas – elas poderiam começar, por exemplo, trazendo mais transparência aos dados de suas mídias por jovens, de modo a fomentar a pesquisa e um maior entendimento acerca do tema.

Nesta questão do impacto das mídias sociais sobre a saúde mental dos jovens, é fundamental evitar cair em narrativas simplistas. Certamente, precisamos compreender melhor este complexo fenômeno, mas as lacunas no conhecimento atual não devem servir de justificativa para a inação.

O Brasil hoje tem o maior contingente populacional de jovens de todos os tempos, o que por modificações do perfil demográfico provavelmente nunca mais se repetirá, de modo que estamos diante de uma janela de oportunidade histórica, com repercussões para as próximas gerações. Cabe a todos nós proteger os cérebros e mentes destes quase 50 milhões de brasileiros, a maior riqueza natural de nosso país.

*

SÃO, RESPECTIVAMENTE, PSIQUIATRA DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA, PROFESSOR DA UFRGS E MEMBRO DO COLETIVO DERRUBANDO MUROS; E DEPUTADA FEDERAL (PSB-SP), CIENTISTA POLÍTICA, ASTROFÍSICA, FUNDADORA DO ‘VAMOS JUNTAS’, COFUNDADORA DOS MOVIMENTOS ‘MAPA EDUCAÇÃO’ E ‘ACREDITO’, FAZ PARTE DO COLETIVO DERRUBANDO MUROS

Hoje, o nosso país conta com o maior contingente de jovens de sua história, e é preocupante que justo neste momento vejamos uma crise crescente de saúde mental nesta população. Esse fenômeno multifacetado não pode ser dissociado de um contexto em que as mídias sociais vêm ganhando destaque como potenciais gatilhos para problemas de saúde mental. Recentemente, a maior autoridade de saúde pública dos EUA emitiu um alerta sobre o potencial impacto negativo de tais tecnologias, iniciativa antes reservada para questões como tabagismo e obesidade.

Nos últimos anos, as mídias sociais se tornaram uma presença constante na vida dos jovens, oferecendo tanto benefícios quanto desafios. Paralelamente a isso, pesquisas realizadas no Brasil e em todo o mundo convergem para apontar que estamos vivenciando um agravamento dos indicadores de saúde mental entre adolescentes – uma tendência observada mesmo antes da pandemia. Preocupações sobre o impacto da tecnologia na juventude não são novas: televisão e videogames foram frequentemente alvos de escrutínio nas últimas décadas.

Neste debate, é importante considerar que a velocidade da inovação tecnológica é maior do que a velocidade das pesquisas que avaliam seus impactos. Por exemplo, o que no início eram redes sociais, ferramentas que tinham como objetivo central permitir a conexão com outras pessoas do círculo social de cada um, nos últimos anos se transfigurou em mídias sociais, nas quais um fluxo contínuo de textos, imagens e vídeos é filtrado através de algoritmos buscando otimizar métricas preestabelecidas, em geral com objetivos predominantemente comerciais.

Uma boa parte dos estudos realizados até o momento ainda avalia o tempo de uso de telas em geral (e não apenas mídias sociais) e baseia-se apenas em quantidades relatadas pelo jovem ou por seus pais (sem qualquer tipo de medida objetiva). Além disso, uma correlação não necessariamente implica causalidade: há estudos, inclusive, sugerindo que adolescentes com transtornos mentais podem acabar usando mais frequentemente as mídias sociais.

No entanto, o volume de evidências de que as mídias sociais podem ter efeitos nocivos para alguns jovens vem crescendo. Além da coincidência temporal entre o aumento de sintomas como ansiedade e depressão na população e a disseminação em larga escala do uso de mídias sociais há pouco mais de uma década, dados mais recentes indicam que aqueles que passam mais de três horas por dia em mídias sociais podem ter seu risco de apresentar algum problema de saúde mental duplicado.

Simultaneamente, é preciso reconhecer que essas mesmas ferramentas também podem ter efeitos positivos na saúde mental de alguns jovens: estudos indicam, por exemplo, que adolescentes LGBTQIA+ podem se beneficiar da conexão com pares através de redes sociais. O grande desafio, aqui, é que não existe uma solução única que atenda todos: uma grande proporção de jovens não apresentará problemas, mas isso não significa que devemos ignorar aqueles que podem ser afetados.

Em razão da complexidade do problema, como podemos abordar a questão do uso de mídias sociais por jovens? Uma proibição simples e irrestrita do uso de mídias sociais não parece ser desejável e muito menos viável – ainda que uma discussão sobre a idade mínima para seu uso faça bastante sentido.

Este é um problema que deve ser abordado dos mais diferentes ângulos. Precisamos de iniciativas que promovam a alfabetização digital entre adolescentes nas escolas. Pais e outros responsáveis devem buscar ter conversas francas com seus filhos, reconhecendo os aspectos positivos e negativos das mídias sociais e oferecendo orientação.

Não parece, contudo, adequado deixar essa responsabilidade exclusivamente na mão das famílias, tornando-se necessário o envolvimento de toda a sociedade. Entre os diversos atores, destaca-se a indispensável participação das empresas de tecnologia, cujas ações no sentido de priorizar a saúde e a segurança dos jovens ainda são tímidas – elas poderiam começar, por exemplo, trazendo mais transparência aos dados de suas mídias por jovens, de modo a fomentar a pesquisa e um maior entendimento acerca do tema.

Nesta questão do impacto das mídias sociais sobre a saúde mental dos jovens, é fundamental evitar cair em narrativas simplistas. Certamente, precisamos compreender melhor este complexo fenômeno, mas as lacunas no conhecimento atual não devem servir de justificativa para a inação.

O Brasil hoje tem o maior contingente populacional de jovens de todos os tempos, o que por modificações do perfil demográfico provavelmente nunca mais se repetirá, de modo que estamos diante de uma janela de oportunidade histórica, com repercussões para as próximas gerações. Cabe a todos nós proteger os cérebros e mentes destes quase 50 milhões de brasileiros, a maior riqueza natural de nosso país.

*

SÃO, RESPECTIVAMENTE, PSIQUIATRA DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA, PROFESSOR DA UFRGS E MEMBRO DO COLETIVO DERRUBANDO MUROS; E DEPUTADA FEDERAL (PSB-SP), CIENTISTA POLÍTICA, ASTROFÍSICA, FUNDADORA DO ‘VAMOS JUNTAS’, COFUNDADORA DOS MOVIMENTOS ‘MAPA EDUCAÇÃO’ E ‘ACREDITO’, FAZ PARTE DO COLETIVO DERRUBANDO MUROS

Opinião por Christian Kieling e Tabata Amaral

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.