Opinião|Acordo em Gaza ou guerra sem fim


Caso o gênio não seja colocado na garrafa imediatamente, tudo indica que haverá um forte ataque do Irã a Israel

Por Jayme Brener e Manoela Miklos

“É fácil tirar um gênio da garrafa. O difícil é colocá-lo de volta”, diz um conhecido provérbio. Pois o Oriente Médio e o mundo estão talvez diante da última chance de recolocar na garrafa o gênio da guerra total. E a garrafa está em Gaza. Trata-se de se chegar a um acordo para que o Hamas devolva os reféns remanescentes, sequestrados no massacre do dia 7 de outubro, no sul de Israel (que matou mais de mil pessoas), abrindo espaço para o fim da operação militar israelense, com saldo de quase 40 mil mortos. E abrindo espaço, também, para negociações (difíceis, é claro) que levem à convivência pacífica entre israelenses e palestinos.

Caso o gênio não seja colocado na garrafa imediatamente, tudo indica que haverá um forte ataque do Irã a Israel, como represália ao assassinato do número um do Hamas, Ismail Haniyeh, há duas semanas, na capital iraniana. Qual será a consequência? O domínio do “fator humilhação”.

Em um artigo publicado em 2003, o experiente analista norte-americano Thomas Friedman citava a relevância do “fator humilhação” nas relações internacionais. Israel sentiu-se humilhado com o colapso de suas defesas no massacre de 7 de outubro e lançou uma operação militar sem precedentes, com saldo de muitas mortes civis. O Hezbollah libanês sentiu-se humilhado pelo assassinato de seu número dois, Fuad Shukr, em plena Beirute, e vinga-se lançando mísseis contra a população civil do norte de Israel.

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Alguém duvida de que um ataque poderoso do Irã, destinado a “humilhar” Israel após o assassinato de Haniyeh, levaria a uma represália ainda maior? E o que viria depois? Os círculos do inferno de Dante se empilham.

Acontece que as bordas da garrafa estão se quebrando. Se o Hezbollah aumentar seus ataques, Israel fatalmente lançará um ataque ainda maior contra um Líbano já combalido pela crise econômica. Sem esquecer que Israel é uma potência nuclear e, no início dos anos 1990, diante das ameaças do iraquiano Saddam Hussein, de atacar o território israelense com mísseis carregados de armas químicas, comandantes israelenses aventaram a possibilidade de lançar uma “minibomba atômica” contra o Iraque. Então, sem qualquer catastrofismo, por que não a lançariam contra o Irã diante de uma ameaça de destruição?

De outra parte, a dimensão do ataque iraniano pode engolfar os Estados Unidos, a Rússia e talvez até a China no conflito. E isso em um momento em que o fim da guerra fria impede que as superpotências controlem seus aliados com tanto sucesso como ocorria até há algumas décadas.

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É preciso, então, chegar a um acordo em Gaza, antes que o gênio da guerra sem fim se torne senhor absoluto da situação. E isso só pode ocorrer por meio de negociações – ainda que lentas e difíceis. Aos que defendem soluções radicais e “fáceis”, é bom lembrar que a “Palestina livre, do rio ao mar”, como gritam certos setores da esquerda, significa expulsar ou massacrar 8 milhões de não palestinos que vivem nesse pedaço de terra. E a ocupação de Gaza e a anexação definitiva da Cisjordânia, bandeira da ultradireita israelense, significam igualmente a expulsão, ou coisa muito pior, de cerca de 5 milhões de não judeus. Nenhum povo tem o direito de varrer outro povo do mapa. Nos dois casos, estaríamos diante de um novo Holocausto.

É isso que queremos?

*

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SÃO, RESPECTIVAMENTE, JORNALISTA E ESCRITOR; DOUTORA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS, DIRETORA-EXECUTIVA DO INSTITUTO BRASIL-ISRAEL (IBI)

“É fácil tirar um gênio da garrafa. O difícil é colocá-lo de volta”, diz um conhecido provérbio. Pois o Oriente Médio e o mundo estão talvez diante da última chance de recolocar na garrafa o gênio da guerra total. E a garrafa está em Gaza. Trata-se de se chegar a um acordo para que o Hamas devolva os reféns remanescentes, sequestrados no massacre do dia 7 de outubro, no sul de Israel (que matou mais de mil pessoas), abrindo espaço para o fim da operação militar israelense, com saldo de quase 40 mil mortos. E abrindo espaço, também, para negociações (difíceis, é claro) que levem à convivência pacífica entre israelenses e palestinos.

Caso o gênio não seja colocado na garrafa imediatamente, tudo indica que haverá um forte ataque do Irã a Israel, como represália ao assassinato do número um do Hamas, Ismail Haniyeh, há duas semanas, na capital iraniana. Qual será a consequência? O domínio do “fator humilhação”.

Em um artigo publicado em 2003, o experiente analista norte-americano Thomas Friedman citava a relevância do “fator humilhação” nas relações internacionais. Israel sentiu-se humilhado com o colapso de suas defesas no massacre de 7 de outubro e lançou uma operação militar sem precedentes, com saldo de muitas mortes civis. O Hezbollah libanês sentiu-se humilhado pelo assassinato de seu número dois, Fuad Shukr, em plena Beirute, e vinga-se lançando mísseis contra a população civil do norte de Israel.

Alguém duvida de que um ataque poderoso do Irã, destinado a “humilhar” Israel após o assassinato de Haniyeh, levaria a uma represália ainda maior? E o que viria depois? Os círculos do inferno de Dante se empilham.

Acontece que as bordas da garrafa estão se quebrando. Se o Hezbollah aumentar seus ataques, Israel fatalmente lançará um ataque ainda maior contra um Líbano já combalido pela crise econômica. Sem esquecer que Israel é uma potência nuclear e, no início dos anos 1990, diante das ameaças do iraquiano Saddam Hussein, de atacar o território israelense com mísseis carregados de armas químicas, comandantes israelenses aventaram a possibilidade de lançar uma “minibomba atômica” contra o Iraque. Então, sem qualquer catastrofismo, por que não a lançariam contra o Irã diante de uma ameaça de destruição?

De outra parte, a dimensão do ataque iraniano pode engolfar os Estados Unidos, a Rússia e talvez até a China no conflito. E isso em um momento em que o fim da guerra fria impede que as superpotências controlem seus aliados com tanto sucesso como ocorria até há algumas décadas.

É preciso, então, chegar a um acordo em Gaza, antes que o gênio da guerra sem fim se torne senhor absoluto da situação. E isso só pode ocorrer por meio de negociações – ainda que lentas e difíceis. Aos que defendem soluções radicais e “fáceis”, é bom lembrar que a “Palestina livre, do rio ao mar”, como gritam certos setores da esquerda, significa expulsar ou massacrar 8 milhões de não palestinos que vivem nesse pedaço de terra. E a ocupação de Gaza e a anexação definitiva da Cisjordânia, bandeira da ultradireita israelense, significam igualmente a expulsão, ou coisa muito pior, de cerca de 5 milhões de não judeus. Nenhum povo tem o direito de varrer outro povo do mapa. Nos dois casos, estaríamos diante de um novo Holocausto.

É isso que queremos?

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SÃO, RESPECTIVAMENTE, JORNALISTA E ESCRITOR; DOUTORA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS, DIRETORA-EXECUTIVA DO INSTITUTO BRASIL-ISRAEL (IBI)

“É fácil tirar um gênio da garrafa. O difícil é colocá-lo de volta”, diz um conhecido provérbio. Pois o Oriente Médio e o mundo estão talvez diante da última chance de recolocar na garrafa o gênio da guerra total. E a garrafa está em Gaza. Trata-se de se chegar a um acordo para que o Hamas devolva os reféns remanescentes, sequestrados no massacre do dia 7 de outubro, no sul de Israel (que matou mais de mil pessoas), abrindo espaço para o fim da operação militar israelense, com saldo de quase 40 mil mortos. E abrindo espaço, também, para negociações (difíceis, é claro) que levem à convivência pacífica entre israelenses e palestinos.

Caso o gênio não seja colocado na garrafa imediatamente, tudo indica que haverá um forte ataque do Irã a Israel, como represália ao assassinato do número um do Hamas, Ismail Haniyeh, há duas semanas, na capital iraniana. Qual será a consequência? O domínio do “fator humilhação”.

Em um artigo publicado em 2003, o experiente analista norte-americano Thomas Friedman citava a relevância do “fator humilhação” nas relações internacionais. Israel sentiu-se humilhado com o colapso de suas defesas no massacre de 7 de outubro e lançou uma operação militar sem precedentes, com saldo de muitas mortes civis. O Hezbollah libanês sentiu-se humilhado pelo assassinato de seu número dois, Fuad Shukr, em plena Beirute, e vinga-se lançando mísseis contra a população civil do norte de Israel.

Alguém duvida de que um ataque poderoso do Irã, destinado a “humilhar” Israel após o assassinato de Haniyeh, levaria a uma represália ainda maior? E o que viria depois? Os círculos do inferno de Dante se empilham.

Acontece que as bordas da garrafa estão se quebrando. Se o Hezbollah aumentar seus ataques, Israel fatalmente lançará um ataque ainda maior contra um Líbano já combalido pela crise econômica. Sem esquecer que Israel é uma potência nuclear e, no início dos anos 1990, diante das ameaças do iraquiano Saddam Hussein, de atacar o território israelense com mísseis carregados de armas químicas, comandantes israelenses aventaram a possibilidade de lançar uma “minibomba atômica” contra o Iraque. Então, sem qualquer catastrofismo, por que não a lançariam contra o Irã diante de uma ameaça de destruição?

De outra parte, a dimensão do ataque iraniano pode engolfar os Estados Unidos, a Rússia e talvez até a China no conflito. E isso em um momento em que o fim da guerra fria impede que as superpotências controlem seus aliados com tanto sucesso como ocorria até há algumas décadas.

É preciso, então, chegar a um acordo em Gaza, antes que o gênio da guerra sem fim se torne senhor absoluto da situação. E isso só pode ocorrer por meio de negociações – ainda que lentas e difíceis. Aos que defendem soluções radicais e “fáceis”, é bom lembrar que a “Palestina livre, do rio ao mar”, como gritam certos setores da esquerda, significa expulsar ou massacrar 8 milhões de não palestinos que vivem nesse pedaço de terra. E a ocupação de Gaza e a anexação definitiva da Cisjordânia, bandeira da ultradireita israelense, significam igualmente a expulsão, ou coisa muito pior, de cerca de 5 milhões de não judeus. Nenhum povo tem o direito de varrer outro povo do mapa. Nos dois casos, estaríamos diante de um novo Holocausto.

É isso que queremos?

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SÃO, RESPECTIVAMENTE, JORNALISTA E ESCRITOR; DOUTORA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS, DIRETORA-EXECUTIVA DO INSTITUTO BRASIL-ISRAEL (IBI)

“É fácil tirar um gênio da garrafa. O difícil é colocá-lo de volta”, diz um conhecido provérbio. Pois o Oriente Médio e o mundo estão talvez diante da última chance de recolocar na garrafa o gênio da guerra total. E a garrafa está em Gaza. Trata-se de se chegar a um acordo para que o Hamas devolva os reféns remanescentes, sequestrados no massacre do dia 7 de outubro, no sul de Israel (que matou mais de mil pessoas), abrindo espaço para o fim da operação militar israelense, com saldo de quase 40 mil mortos. E abrindo espaço, também, para negociações (difíceis, é claro) que levem à convivência pacífica entre israelenses e palestinos.

Caso o gênio não seja colocado na garrafa imediatamente, tudo indica que haverá um forte ataque do Irã a Israel, como represália ao assassinato do número um do Hamas, Ismail Haniyeh, há duas semanas, na capital iraniana. Qual será a consequência? O domínio do “fator humilhação”.

Em um artigo publicado em 2003, o experiente analista norte-americano Thomas Friedman citava a relevância do “fator humilhação” nas relações internacionais. Israel sentiu-se humilhado com o colapso de suas defesas no massacre de 7 de outubro e lançou uma operação militar sem precedentes, com saldo de muitas mortes civis. O Hezbollah libanês sentiu-se humilhado pelo assassinato de seu número dois, Fuad Shukr, em plena Beirute, e vinga-se lançando mísseis contra a população civil do norte de Israel.

Alguém duvida de que um ataque poderoso do Irã, destinado a “humilhar” Israel após o assassinato de Haniyeh, levaria a uma represália ainda maior? E o que viria depois? Os círculos do inferno de Dante se empilham.

Acontece que as bordas da garrafa estão se quebrando. Se o Hezbollah aumentar seus ataques, Israel fatalmente lançará um ataque ainda maior contra um Líbano já combalido pela crise econômica. Sem esquecer que Israel é uma potência nuclear e, no início dos anos 1990, diante das ameaças do iraquiano Saddam Hussein, de atacar o território israelense com mísseis carregados de armas químicas, comandantes israelenses aventaram a possibilidade de lançar uma “minibomba atômica” contra o Iraque. Então, sem qualquer catastrofismo, por que não a lançariam contra o Irã diante de uma ameaça de destruição?

De outra parte, a dimensão do ataque iraniano pode engolfar os Estados Unidos, a Rússia e talvez até a China no conflito. E isso em um momento em que o fim da guerra fria impede que as superpotências controlem seus aliados com tanto sucesso como ocorria até há algumas décadas.

É preciso, então, chegar a um acordo em Gaza, antes que o gênio da guerra sem fim se torne senhor absoluto da situação. E isso só pode ocorrer por meio de negociações – ainda que lentas e difíceis. Aos que defendem soluções radicais e “fáceis”, é bom lembrar que a “Palestina livre, do rio ao mar”, como gritam certos setores da esquerda, significa expulsar ou massacrar 8 milhões de não palestinos que vivem nesse pedaço de terra. E a ocupação de Gaza e a anexação definitiva da Cisjordânia, bandeira da ultradireita israelense, significam igualmente a expulsão, ou coisa muito pior, de cerca de 5 milhões de não judeus. Nenhum povo tem o direito de varrer outro povo do mapa. Nos dois casos, estaríamos diante de um novo Holocausto.

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SÃO, RESPECTIVAMENTE, JORNALISTA E ESCRITOR; DOUTORA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS, DIRETORA-EXECUTIVA DO INSTITUTO BRASIL-ISRAEL (IBI)

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Jornalista e escritor

Manoela Miklos

Doutora em Relações Internacionais, é diretora-executiva do Instituto Brasil-Israel (IBI)

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