Opinião|Bombardeio em Bagdá, 20 anos depois


O dia do ataque ao Canal Hotel, que matou Sérgio Vieira de Mello e outras 21 pessoas, ainda é um dos mais sombrios da história da ONU

Por Martin Griffiths

Neste Dia Mundial Humanitário, lembramos os 20 anos desde aquele dia mortífero em que terroristas detonaram uma bomba suicida em frente à sede das Nações Unidas no Canal Hotel em Bagdá, no Iraque. Era 19 de agosto de 2003. Como disse o então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, aquele foi um dos dias mais sombrios da história das Nações Unidas. E ainda é.

Para mim, o Dia Mundial Humanitário sempre será uma ocasião de emoções mistas e brutas. Entre os assassinados naquele dia estava Sérgio Vieira de Mello, que servia como representante especial do secretário-geral da ONU no Iraque. Sérgio era meu amigo e padrinho de minha filha.

Sérgio era dedicado às Nações Unidas. Ele entrou para o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados em 1969, pouco depois de sair da universidade, e passou o resto de sua vida – tragicamente reduzida – em cargos cada vez mais altos dentro da ONU. Trabalhei com ele pela primeira vez em 1996, quando ele atuou brevemente como coordenador humanitário regional para a Região dos Grandes Lagos, e fui seu vice antes de assumir o cargo. Mas eu realmente o conheci quando nos mudamos juntos para Nova York, em 1998, para estabelecer o novo Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) – ele como subsecretário-geral de Assuntos Humanitários e eu, novamente, como seu vice.

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Ficamos muito próximos, unidos pela paixão comum pela realidade dos dilemas humanitários e como resolvê-los. A paixão de Sérgio estava fundamentada na devoção à Carta das Nações Unidas, cuja cópia ele sempre carregava. Ele tinha uma vigorosa visão de mundo, que ele defendia, e, de fato, sua oratória era muito eficaz. Também nos tornamos próximos pessoalmente e me orgulho de minha filha ter sido sua afilhada. Foi essa síntese de confiança pessoal e parceria profissional com Sérgio que fez com que sua morte fosse tão traumática e também tão formativa para mim, assim como para muitos outros. Seu exemplo me inspira, pois agora exerço a função que ele desempenhou há tantos anos.

A rapidez e o motivo da perda de Sérgio me chocaram profundamente. Ela me colocou abruptamente frente a frente com nossa mortalidade, apesar dos muitos anos que trabalho em zonas de guerra. Eu choro por ele até hoje.

No total, 22 pessoas foram mortas naquele dia e mais de 100 ficaram feridas. Boa parte delas era da equipe da ONU. Muitas eram iraquianas. Mas o que unia todos era a missão de ajudar o Iraque a se recuperar e se reconstruir como país.

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Sei o que essa data deve significar para as famílias, os amigos e os colegas das pessoas afetadas naquele dia e de todas as pessoas mortas, feridas ou sequestradas em busca da causa humanitária desde então. E sei o que isso significa para a comunidade humanitária e para a comunidade mais ampla da ONU – a perda de um de nós é uma perda para todos nós. Sinto seu pesar e sua dor.

Também sinto raiva. Raiva pelo fato de os responsáveis pelo bombardeio do Canal Hotel e pela maioria dos ataques a trabalhadores humanitários desde então – e pelos ataques a trabalhadores da área de saúde e civis em conflitos – nunca terem sido responsabilizados. Raiva pelo fato de que, ano após ano, os trabalhadores humanitários continuam a ser alvo de ataques intencionais e estão sendo mortos, feridos e sequestrados durante seu trabalho: no ano passado foram mais de 400 vítimas, quase todos funcionários nacionais. A impunidade para esses crimes é uma terrível cicatriz em nossa consciência coletiva. Palavras piedosas não fazem a diferença, mas ações fazem a diferença. Chegou a hora de agir de acordo com a lei humanitária internacional e combater a impunidade das violações.

Mas o que mais sinto neste e em cada Dia Mundial Humanitário é um profundo sentimento de orgulho. Orgulho por ter trabalhado com pessoas como Sérgio. E orgulho de fazer parte de uma organização e de uma comunidade que continuam, mais do que nunca, a dedicar sua vida a ajudar mais pessoas necessitadas em todo o mundo, apesar dos riscos e perigos.

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Neste Dia Mundial Humanitário, presto homenagem a Sérgio e a todos aqueles que perderam sua vida e ficaram feridos no atentado ao Canal Hotel há 20 anos. Presto homenagem a todos aqueles que foram mortos, feridos e sequestrados no decorrer do trabalho pela causa humanitária. E presto homenagem a todos aqueles que continuam a servir as centenas de milhões de pessoas necessitadas em todo o mundo, não importa quem, não importa onde.

Como coordenador de Ajuda Emergencial e subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, meu compromisso com estes trabalhadores no Dia Mundial Humanitário é este: continuaremos a defender sua segurança e proteção enquanto vocês continuam seu trabalho vital; forneceremos liderança sistemática e previsível para acesso humanitário seguro; continuaremos a exigir a responsabilização por violações do direito internacional humanitário; e faremos o possível para cuidar de vocês quando precisarem de apoio.

Não podemos trazer de volta aqueles que foram tirados de nós. Mas podemos honrar sua memória fazendo todo o possível para apoiar aqueles que continuam seu trabalho.

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SUBSECRETÁRIO-GERAL DA ONU PARA ASSUNTOS HUMANITÁRIOS, É COORDENADOR DE AJUDA EMERGENCIAL

Neste Dia Mundial Humanitário, lembramos os 20 anos desde aquele dia mortífero em que terroristas detonaram uma bomba suicida em frente à sede das Nações Unidas no Canal Hotel em Bagdá, no Iraque. Era 19 de agosto de 2003. Como disse o então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, aquele foi um dos dias mais sombrios da história das Nações Unidas. E ainda é.

Para mim, o Dia Mundial Humanitário sempre será uma ocasião de emoções mistas e brutas. Entre os assassinados naquele dia estava Sérgio Vieira de Mello, que servia como representante especial do secretário-geral da ONU no Iraque. Sérgio era meu amigo e padrinho de minha filha.

Sérgio era dedicado às Nações Unidas. Ele entrou para o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados em 1969, pouco depois de sair da universidade, e passou o resto de sua vida – tragicamente reduzida – em cargos cada vez mais altos dentro da ONU. Trabalhei com ele pela primeira vez em 1996, quando ele atuou brevemente como coordenador humanitário regional para a Região dos Grandes Lagos, e fui seu vice antes de assumir o cargo. Mas eu realmente o conheci quando nos mudamos juntos para Nova York, em 1998, para estabelecer o novo Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) – ele como subsecretário-geral de Assuntos Humanitários e eu, novamente, como seu vice.

Ficamos muito próximos, unidos pela paixão comum pela realidade dos dilemas humanitários e como resolvê-los. A paixão de Sérgio estava fundamentada na devoção à Carta das Nações Unidas, cuja cópia ele sempre carregava. Ele tinha uma vigorosa visão de mundo, que ele defendia, e, de fato, sua oratória era muito eficaz. Também nos tornamos próximos pessoalmente e me orgulho de minha filha ter sido sua afilhada. Foi essa síntese de confiança pessoal e parceria profissional com Sérgio que fez com que sua morte fosse tão traumática e também tão formativa para mim, assim como para muitos outros. Seu exemplo me inspira, pois agora exerço a função que ele desempenhou há tantos anos.

A rapidez e o motivo da perda de Sérgio me chocaram profundamente. Ela me colocou abruptamente frente a frente com nossa mortalidade, apesar dos muitos anos que trabalho em zonas de guerra. Eu choro por ele até hoje.

No total, 22 pessoas foram mortas naquele dia e mais de 100 ficaram feridas. Boa parte delas era da equipe da ONU. Muitas eram iraquianas. Mas o que unia todos era a missão de ajudar o Iraque a se recuperar e se reconstruir como país.

Sei o que essa data deve significar para as famílias, os amigos e os colegas das pessoas afetadas naquele dia e de todas as pessoas mortas, feridas ou sequestradas em busca da causa humanitária desde então. E sei o que isso significa para a comunidade humanitária e para a comunidade mais ampla da ONU – a perda de um de nós é uma perda para todos nós. Sinto seu pesar e sua dor.

Também sinto raiva. Raiva pelo fato de os responsáveis pelo bombardeio do Canal Hotel e pela maioria dos ataques a trabalhadores humanitários desde então – e pelos ataques a trabalhadores da área de saúde e civis em conflitos – nunca terem sido responsabilizados. Raiva pelo fato de que, ano após ano, os trabalhadores humanitários continuam a ser alvo de ataques intencionais e estão sendo mortos, feridos e sequestrados durante seu trabalho: no ano passado foram mais de 400 vítimas, quase todos funcionários nacionais. A impunidade para esses crimes é uma terrível cicatriz em nossa consciência coletiva. Palavras piedosas não fazem a diferença, mas ações fazem a diferença. Chegou a hora de agir de acordo com a lei humanitária internacional e combater a impunidade das violações.

Mas o que mais sinto neste e em cada Dia Mundial Humanitário é um profundo sentimento de orgulho. Orgulho por ter trabalhado com pessoas como Sérgio. E orgulho de fazer parte de uma organização e de uma comunidade que continuam, mais do que nunca, a dedicar sua vida a ajudar mais pessoas necessitadas em todo o mundo, apesar dos riscos e perigos.

Neste Dia Mundial Humanitário, presto homenagem a Sérgio e a todos aqueles que perderam sua vida e ficaram feridos no atentado ao Canal Hotel há 20 anos. Presto homenagem a todos aqueles que foram mortos, feridos e sequestrados no decorrer do trabalho pela causa humanitária. E presto homenagem a todos aqueles que continuam a servir as centenas de milhões de pessoas necessitadas em todo o mundo, não importa quem, não importa onde.

Como coordenador de Ajuda Emergencial e subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, meu compromisso com estes trabalhadores no Dia Mundial Humanitário é este: continuaremos a defender sua segurança e proteção enquanto vocês continuam seu trabalho vital; forneceremos liderança sistemática e previsível para acesso humanitário seguro; continuaremos a exigir a responsabilização por violações do direito internacional humanitário; e faremos o possível para cuidar de vocês quando precisarem de apoio.

Não podemos trazer de volta aqueles que foram tirados de nós. Mas podemos honrar sua memória fazendo todo o possível para apoiar aqueles que continuam seu trabalho.

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SUBSECRETÁRIO-GERAL DA ONU PARA ASSUNTOS HUMANITÁRIOS, É COORDENADOR DE AJUDA EMERGENCIAL

Neste Dia Mundial Humanitário, lembramos os 20 anos desde aquele dia mortífero em que terroristas detonaram uma bomba suicida em frente à sede das Nações Unidas no Canal Hotel em Bagdá, no Iraque. Era 19 de agosto de 2003. Como disse o então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, aquele foi um dos dias mais sombrios da história das Nações Unidas. E ainda é.

Para mim, o Dia Mundial Humanitário sempre será uma ocasião de emoções mistas e brutas. Entre os assassinados naquele dia estava Sérgio Vieira de Mello, que servia como representante especial do secretário-geral da ONU no Iraque. Sérgio era meu amigo e padrinho de minha filha.

Sérgio era dedicado às Nações Unidas. Ele entrou para o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados em 1969, pouco depois de sair da universidade, e passou o resto de sua vida – tragicamente reduzida – em cargos cada vez mais altos dentro da ONU. Trabalhei com ele pela primeira vez em 1996, quando ele atuou brevemente como coordenador humanitário regional para a Região dos Grandes Lagos, e fui seu vice antes de assumir o cargo. Mas eu realmente o conheci quando nos mudamos juntos para Nova York, em 1998, para estabelecer o novo Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) – ele como subsecretário-geral de Assuntos Humanitários e eu, novamente, como seu vice.

Ficamos muito próximos, unidos pela paixão comum pela realidade dos dilemas humanitários e como resolvê-los. A paixão de Sérgio estava fundamentada na devoção à Carta das Nações Unidas, cuja cópia ele sempre carregava. Ele tinha uma vigorosa visão de mundo, que ele defendia, e, de fato, sua oratória era muito eficaz. Também nos tornamos próximos pessoalmente e me orgulho de minha filha ter sido sua afilhada. Foi essa síntese de confiança pessoal e parceria profissional com Sérgio que fez com que sua morte fosse tão traumática e também tão formativa para mim, assim como para muitos outros. Seu exemplo me inspira, pois agora exerço a função que ele desempenhou há tantos anos.

A rapidez e o motivo da perda de Sérgio me chocaram profundamente. Ela me colocou abruptamente frente a frente com nossa mortalidade, apesar dos muitos anos que trabalho em zonas de guerra. Eu choro por ele até hoje.

No total, 22 pessoas foram mortas naquele dia e mais de 100 ficaram feridas. Boa parte delas era da equipe da ONU. Muitas eram iraquianas. Mas o que unia todos era a missão de ajudar o Iraque a se recuperar e se reconstruir como país.

Sei o que essa data deve significar para as famílias, os amigos e os colegas das pessoas afetadas naquele dia e de todas as pessoas mortas, feridas ou sequestradas em busca da causa humanitária desde então. E sei o que isso significa para a comunidade humanitária e para a comunidade mais ampla da ONU – a perda de um de nós é uma perda para todos nós. Sinto seu pesar e sua dor.

Também sinto raiva. Raiva pelo fato de os responsáveis pelo bombardeio do Canal Hotel e pela maioria dos ataques a trabalhadores humanitários desde então – e pelos ataques a trabalhadores da área de saúde e civis em conflitos – nunca terem sido responsabilizados. Raiva pelo fato de que, ano após ano, os trabalhadores humanitários continuam a ser alvo de ataques intencionais e estão sendo mortos, feridos e sequestrados durante seu trabalho: no ano passado foram mais de 400 vítimas, quase todos funcionários nacionais. A impunidade para esses crimes é uma terrível cicatriz em nossa consciência coletiva. Palavras piedosas não fazem a diferença, mas ações fazem a diferença. Chegou a hora de agir de acordo com a lei humanitária internacional e combater a impunidade das violações.

Mas o que mais sinto neste e em cada Dia Mundial Humanitário é um profundo sentimento de orgulho. Orgulho por ter trabalhado com pessoas como Sérgio. E orgulho de fazer parte de uma organização e de uma comunidade que continuam, mais do que nunca, a dedicar sua vida a ajudar mais pessoas necessitadas em todo o mundo, apesar dos riscos e perigos.

Neste Dia Mundial Humanitário, presto homenagem a Sérgio e a todos aqueles que perderam sua vida e ficaram feridos no atentado ao Canal Hotel há 20 anos. Presto homenagem a todos aqueles que foram mortos, feridos e sequestrados no decorrer do trabalho pela causa humanitária. E presto homenagem a todos aqueles que continuam a servir as centenas de milhões de pessoas necessitadas em todo o mundo, não importa quem, não importa onde.

Como coordenador de Ajuda Emergencial e subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, meu compromisso com estes trabalhadores no Dia Mundial Humanitário é este: continuaremos a defender sua segurança e proteção enquanto vocês continuam seu trabalho vital; forneceremos liderança sistemática e previsível para acesso humanitário seguro; continuaremos a exigir a responsabilização por violações do direito internacional humanitário; e faremos o possível para cuidar de vocês quando precisarem de apoio.

Não podemos trazer de volta aqueles que foram tirados de nós. Mas podemos honrar sua memória fazendo todo o possível para apoiar aqueles que continuam seu trabalho.

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SUBSECRETÁRIO-GERAL DA ONU PARA ASSUNTOS HUMANITÁRIOS, É COORDENADOR DE AJUDA EMERGENCIAL

Neste Dia Mundial Humanitário, lembramos os 20 anos desde aquele dia mortífero em que terroristas detonaram uma bomba suicida em frente à sede das Nações Unidas no Canal Hotel em Bagdá, no Iraque. Era 19 de agosto de 2003. Como disse o então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, aquele foi um dos dias mais sombrios da história das Nações Unidas. E ainda é.

Para mim, o Dia Mundial Humanitário sempre será uma ocasião de emoções mistas e brutas. Entre os assassinados naquele dia estava Sérgio Vieira de Mello, que servia como representante especial do secretário-geral da ONU no Iraque. Sérgio era meu amigo e padrinho de minha filha.

Sérgio era dedicado às Nações Unidas. Ele entrou para o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados em 1969, pouco depois de sair da universidade, e passou o resto de sua vida – tragicamente reduzida – em cargos cada vez mais altos dentro da ONU. Trabalhei com ele pela primeira vez em 1996, quando ele atuou brevemente como coordenador humanitário regional para a Região dos Grandes Lagos, e fui seu vice antes de assumir o cargo. Mas eu realmente o conheci quando nos mudamos juntos para Nova York, em 1998, para estabelecer o novo Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) – ele como subsecretário-geral de Assuntos Humanitários e eu, novamente, como seu vice.

Ficamos muito próximos, unidos pela paixão comum pela realidade dos dilemas humanitários e como resolvê-los. A paixão de Sérgio estava fundamentada na devoção à Carta das Nações Unidas, cuja cópia ele sempre carregava. Ele tinha uma vigorosa visão de mundo, que ele defendia, e, de fato, sua oratória era muito eficaz. Também nos tornamos próximos pessoalmente e me orgulho de minha filha ter sido sua afilhada. Foi essa síntese de confiança pessoal e parceria profissional com Sérgio que fez com que sua morte fosse tão traumática e também tão formativa para mim, assim como para muitos outros. Seu exemplo me inspira, pois agora exerço a função que ele desempenhou há tantos anos.

A rapidez e o motivo da perda de Sérgio me chocaram profundamente. Ela me colocou abruptamente frente a frente com nossa mortalidade, apesar dos muitos anos que trabalho em zonas de guerra. Eu choro por ele até hoje.

No total, 22 pessoas foram mortas naquele dia e mais de 100 ficaram feridas. Boa parte delas era da equipe da ONU. Muitas eram iraquianas. Mas o que unia todos era a missão de ajudar o Iraque a se recuperar e se reconstruir como país.

Sei o que essa data deve significar para as famílias, os amigos e os colegas das pessoas afetadas naquele dia e de todas as pessoas mortas, feridas ou sequestradas em busca da causa humanitária desde então. E sei o que isso significa para a comunidade humanitária e para a comunidade mais ampla da ONU – a perda de um de nós é uma perda para todos nós. Sinto seu pesar e sua dor.

Também sinto raiva. Raiva pelo fato de os responsáveis pelo bombardeio do Canal Hotel e pela maioria dos ataques a trabalhadores humanitários desde então – e pelos ataques a trabalhadores da área de saúde e civis em conflitos – nunca terem sido responsabilizados. Raiva pelo fato de que, ano após ano, os trabalhadores humanitários continuam a ser alvo de ataques intencionais e estão sendo mortos, feridos e sequestrados durante seu trabalho: no ano passado foram mais de 400 vítimas, quase todos funcionários nacionais. A impunidade para esses crimes é uma terrível cicatriz em nossa consciência coletiva. Palavras piedosas não fazem a diferença, mas ações fazem a diferença. Chegou a hora de agir de acordo com a lei humanitária internacional e combater a impunidade das violações.

Mas o que mais sinto neste e em cada Dia Mundial Humanitário é um profundo sentimento de orgulho. Orgulho por ter trabalhado com pessoas como Sérgio. E orgulho de fazer parte de uma organização e de uma comunidade que continuam, mais do que nunca, a dedicar sua vida a ajudar mais pessoas necessitadas em todo o mundo, apesar dos riscos e perigos.

Neste Dia Mundial Humanitário, presto homenagem a Sérgio e a todos aqueles que perderam sua vida e ficaram feridos no atentado ao Canal Hotel há 20 anos. Presto homenagem a todos aqueles que foram mortos, feridos e sequestrados no decorrer do trabalho pela causa humanitária. E presto homenagem a todos aqueles que continuam a servir as centenas de milhões de pessoas necessitadas em todo o mundo, não importa quem, não importa onde.

Como coordenador de Ajuda Emergencial e subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, meu compromisso com estes trabalhadores no Dia Mundial Humanitário é este: continuaremos a defender sua segurança e proteção enquanto vocês continuam seu trabalho vital; forneceremos liderança sistemática e previsível para acesso humanitário seguro; continuaremos a exigir a responsabilização por violações do direito internacional humanitário; e faremos o possível para cuidar de vocês quando precisarem de apoio.

Não podemos trazer de volta aqueles que foram tirados de nós. Mas podemos honrar sua memória fazendo todo o possível para apoiar aqueles que continuam seu trabalho.

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SUBSECRETÁRIO-GERAL DA ONU PARA ASSUNTOS HUMANITÁRIOS, É COORDENADOR DE AJUDA EMERGENCIAL

Neste Dia Mundial Humanitário, lembramos os 20 anos desde aquele dia mortífero em que terroristas detonaram uma bomba suicida em frente à sede das Nações Unidas no Canal Hotel em Bagdá, no Iraque. Era 19 de agosto de 2003. Como disse o então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, aquele foi um dos dias mais sombrios da história das Nações Unidas. E ainda é.

Para mim, o Dia Mundial Humanitário sempre será uma ocasião de emoções mistas e brutas. Entre os assassinados naquele dia estava Sérgio Vieira de Mello, que servia como representante especial do secretário-geral da ONU no Iraque. Sérgio era meu amigo e padrinho de minha filha.

Sérgio era dedicado às Nações Unidas. Ele entrou para o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados em 1969, pouco depois de sair da universidade, e passou o resto de sua vida – tragicamente reduzida – em cargos cada vez mais altos dentro da ONU. Trabalhei com ele pela primeira vez em 1996, quando ele atuou brevemente como coordenador humanitário regional para a Região dos Grandes Lagos, e fui seu vice antes de assumir o cargo. Mas eu realmente o conheci quando nos mudamos juntos para Nova York, em 1998, para estabelecer o novo Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) – ele como subsecretário-geral de Assuntos Humanitários e eu, novamente, como seu vice.

Ficamos muito próximos, unidos pela paixão comum pela realidade dos dilemas humanitários e como resolvê-los. A paixão de Sérgio estava fundamentada na devoção à Carta das Nações Unidas, cuja cópia ele sempre carregava. Ele tinha uma vigorosa visão de mundo, que ele defendia, e, de fato, sua oratória era muito eficaz. Também nos tornamos próximos pessoalmente e me orgulho de minha filha ter sido sua afilhada. Foi essa síntese de confiança pessoal e parceria profissional com Sérgio que fez com que sua morte fosse tão traumática e também tão formativa para mim, assim como para muitos outros. Seu exemplo me inspira, pois agora exerço a função que ele desempenhou há tantos anos.

A rapidez e o motivo da perda de Sérgio me chocaram profundamente. Ela me colocou abruptamente frente a frente com nossa mortalidade, apesar dos muitos anos que trabalho em zonas de guerra. Eu choro por ele até hoje.

No total, 22 pessoas foram mortas naquele dia e mais de 100 ficaram feridas. Boa parte delas era da equipe da ONU. Muitas eram iraquianas. Mas o que unia todos era a missão de ajudar o Iraque a se recuperar e se reconstruir como país.

Sei o que essa data deve significar para as famílias, os amigos e os colegas das pessoas afetadas naquele dia e de todas as pessoas mortas, feridas ou sequestradas em busca da causa humanitária desde então. E sei o que isso significa para a comunidade humanitária e para a comunidade mais ampla da ONU – a perda de um de nós é uma perda para todos nós. Sinto seu pesar e sua dor.

Também sinto raiva. Raiva pelo fato de os responsáveis pelo bombardeio do Canal Hotel e pela maioria dos ataques a trabalhadores humanitários desde então – e pelos ataques a trabalhadores da área de saúde e civis em conflitos – nunca terem sido responsabilizados. Raiva pelo fato de que, ano após ano, os trabalhadores humanitários continuam a ser alvo de ataques intencionais e estão sendo mortos, feridos e sequestrados durante seu trabalho: no ano passado foram mais de 400 vítimas, quase todos funcionários nacionais. A impunidade para esses crimes é uma terrível cicatriz em nossa consciência coletiva. Palavras piedosas não fazem a diferença, mas ações fazem a diferença. Chegou a hora de agir de acordo com a lei humanitária internacional e combater a impunidade das violações.

Mas o que mais sinto neste e em cada Dia Mundial Humanitário é um profundo sentimento de orgulho. Orgulho por ter trabalhado com pessoas como Sérgio. E orgulho de fazer parte de uma organização e de uma comunidade que continuam, mais do que nunca, a dedicar sua vida a ajudar mais pessoas necessitadas em todo o mundo, apesar dos riscos e perigos.

Neste Dia Mundial Humanitário, presto homenagem a Sérgio e a todos aqueles que perderam sua vida e ficaram feridos no atentado ao Canal Hotel há 20 anos. Presto homenagem a todos aqueles que foram mortos, feridos e sequestrados no decorrer do trabalho pela causa humanitária. E presto homenagem a todos aqueles que continuam a servir as centenas de milhões de pessoas necessitadas em todo o mundo, não importa quem, não importa onde.

Como coordenador de Ajuda Emergencial e subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, meu compromisso com estes trabalhadores no Dia Mundial Humanitário é este: continuaremos a defender sua segurança e proteção enquanto vocês continuam seu trabalho vital; forneceremos liderança sistemática e previsível para acesso humanitário seguro; continuaremos a exigir a responsabilização por violações do direito internacional humanitário; e faremos o possível para cuidar de vocês quando precisarem de apoio.

Não podemos trazer de volta aqueles que foram tirados de nós. Mas podemos honrar sua memória fazendo todo o possível para apoiar aqueles que continuam seu trabalho.

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