Opinião|Censo 2022, um custo afundado?


A realização do Censo 2022 tem o custo estimado de R$ 2,3 bilhões, um investimento alto. Mas os custos de um Censo impreciso e pouco confiável são infinitamente superiores

Por Arilton Ribeiro e Rafael Leite

Em economia, os custos irrecuperáveis (incorridos) são recursos utilizados na construção de ativos que, uma vez realizados, não podem ser recuperados de forma significativa. Isso explica que o custo de oportunidade desses recursos, uma vez utilizados, é próximo de zero.

O Censo 2022 encontra-se num momento de incerteza. Com seis meses de coleta de dados, houve trocas de recenseadores, estratégias de divulgação negligenciadas e questionários confusos que não coletam tantas informações quanto se desejaria. O cenário é preocupante, mas o importante é a credibilidade dos dados coletados, que serão utilizados nas decisões mais importantes do País nos próximos dez anos.

A realização do Censo 2022 tem o custo estimado de R$ 2,3 bilhões, um investimento alto. Mas os custos de um Censo impreciso e pouco confiável são infinitamente superiores. Os dados censitários são fundamentais para a tomada de decisões estratégicas sobre a alocação de recursos no setor público e na iniciativa privada. Investimentos em infraestrutura, educação, saúde e assistência social são definidos de acordo com a distribuição da população e sua exposição a situações de vulnerabilidade socioeconômica.

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Na iniciativa privada, os dados censitários são usados para calibrar pesquisas de mercado e estratégias de negócios. Nestes casos, o uso de dados pouco confiáveis podem gerar problemas de dimensionamento, estratégias de negócios inadequadas e os resultados vão muito além da má alocação de recursos. Isso pode afetar até mesmo a confiabilidade das pesquisas de intenção de voto, com efeitos deletérios sobre a qualidade do debate público e a confiança nas instituições eleitorais.

Se as informações publicadas pelo Censo forem incompletas ou incorretas, poderá haver subestimação de necessidades em determinadas regiões, o que pode levar a uma distribuição inadequada de recursos públicos. Imagine que mais de 90% das prefeituras do Brasil sobrevivem por meio do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e que o Censo 2022 será o determinador da faixa de receita de cada uma.

Por essa razão, não podem pairar dúvidas sobre a qualidade dos dados censitários, motivo pelo qual a auditoria dos dados já levantados é fundamental, como tem destacado o ex-presidente do IBGE Roberto Olinto.

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A realização de uma auditoria externa dos resultados do Censo 2022, todavia, é uma questão conjuntural. Os desafios de realização do atual Censo deveriam levantar um debate público mais profundo sobre questões de natureza estrutural, como o modelo de censo adotado e a adoção de medidas de aperfeiçoamento institucional que permitam ao País evitar os problemas enfrentados pelo IBGE nos últimos anos.

Quanto ao modelo, é necessário discutir se o País não se deve ajustar a uma tendência observada em democracias avançadas, abandonando o modelo tradicional baseado em pesquisas de campo exaustivas – adotando um modelo de censo baseado em registros administrativos ou um modelo que complemente as informações de registros com pesquisas de campo, por amostragem ou exaustiva.

Atualmente, a coleta do Censo segue o mesmo formato de 50 anos atrás, com recenseadores treinados para aplicar questionários que antes eram em papel e agora são num dispositivo tecnológico. No entanto, o Brasil conta com uma enorme rede de agentes públicos distribuídos pelo território nacional e que recorrentemente coletam dados da população, como os agentes de saúde e as equipes responsáveis pelo Cadastro Único (CadÚnico) de políticas sociais.

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A Receita Federal recebe uma grande quantidade de informações anuais de cerca de 30 milhões de brasileiros. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) conta com uma base de dados extensa e atualizada recorrentemente. A pergunta que fica é: qual é o custo de conectarmos estes dados por meio de um ambiente ou plataforma de troca de informações seguras e acessíveis?

Medidas como a realização obrigatória de seleções executivas de alcance internacional conduzidas por empresas de headhunting para a escolha do presidente do IBGE e a criação de um fundo com recursos do orçamento para financiar a realização do Censo (evitando que os custos de operação sejam concentrados em um a cada dez exercícios orçamentários) são opções que devem ser debatidas pelo governo e pela sociedade civil.

A sociedade brasileira não se pode dar ao luxo de passar os próximos dez anos sem nos conhecermos. Já as decisões sobre um eventual Censo 2024 precisam ser acompanhadas de um amplo debate sobre a modernização de seu formato com instituições responsáveis por sua execução. E quem sabe aproveitamos o primeiro domingo de outubro para, além de votarmos, respondermos a um Censo completo e com a cara de todos os brasileiros?

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SÃO, RESPECTIVAMENTE, MESTRANDO EM POLÍTICAS PÚBLICAS DO INSPER E DIRETOR EXECUTIVO DO INSTITUTO BRASILEIRO DE GESTÃO PÚBLICA E EMPRESARIAL; E ESPECIALISTA EM REFORMA E MODERNIZAÇÃO DO ESTADO E PESQUISADOR ASSOCIADO AO THINK TANK SULAFRICANO NEW SOUTH INSTITUTE

Em economia, os custos irrecuperáveis (incorridos) são recursos utilizados na construção de ativos que, uma vez realizados, não podem ser recuperados de forma significativa. Isso explica que o custo de oportunidade desses recursos, uma vez utilizados, é próximo de zero.

O Censo 2022 encontra-se num momento de incerteza. Com seis meses de coleta de dados, houve trocas de recenseadores, estratégias de divulgação negligenciadas e questionários confusos que não coletam tantas informações quanto se desejaria. O cenário é preocupante, mas o importante é a credibilidade dos dados coletados, que serão utilizados nas decisões mais importantes do País nos próximos dez anos.

A realização do Censo 2022 tem o custo estimado de R$ 2,3 bilhões, um investimento alto. Mas os custos de um Censo impreciso e pouco confiável são infinitamente superiores. Os dados censitários são fundamentais para a tomada de decisões estratégicas sobre a alocação de recursos no setor público e na iniciativa privada. Investimentos em infraestrutura, educação, saúde e assistência social são definidos de acordo com a distribuição da população e sua exposição a situações de vulnerabilidade socioeconômica.

Na iniciativa privada, os dados censitários são usados para calibrar pesquisas de mercado e estratégias de negócios. Nestes casos, o uso de dados pouco confiáveis podem gerar problemas de dimensionamento, estratégias de negócios inadequadas e os resultados vão muito além da má alocação de recursos. Isso pode afetar até mesmo a confiabilidade das pesquisas de intenção de voto, com efeitos deletérios sobre a qualidade do debate público e a confiança nas instituições eleitorais.

Se as informações publicadas pelo Censo forem incompletas ou incorretas, poderá haver subestimação de necessidades em determinadas regiões, o que pode levar a uma distribuição inadequada de recursos públicos. Imagine que mais de 90% das prefeituras do Brasil sobrevivem por meio do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e que o Censo 2022 será o determinador da faixa de receita de cada uma.

Por essa razão, não podem pairar dúvidas sobre a qualidade dos dados censitários, motivo pelo qual a auditoria dos dados já levantados é fundamental, como tem destacado o ex-presidente do IBGE Roberto Olinto.

A realização de uma auditoria externa dos resultados do Censo 2022, todavia, é uma questão conjuntural. Os desafios de realização do atual Censo deveriam levantar um debate público mais profundo sobre questões de natureza estrutural, como o modelo de censo adotado e a adoção de medidas de aperfeiçoamento institucional que permitam ao País evitar os problemas enfrentados pelo IBGE nos últimos anos.

Quanto ao modelo, é necessário discutir se o País não se deve ajustar a uma tendência observada em democracias avançadas, abandonando o modelo tradicional baseado em pesquisas de campo exaustivas – adotando um modelo de censo baseado em registros administrativos ou um modelo que complemente as informações de registros com pesquisas de campo, por amostragem ou exaustiva.

Atualmente, a coleta do Censo segue o mesmo formato de 50 anos atrás, com recenseadores treinados para aplicar questionários que antes eram em papel e agora são num dispositivo tecnológico. No entanto, o Brasil conta com uma enorme rede de agentes públicos distribuídos pelo território nacional e que recorrentemente coletam dados da população, como os agentes de saúde e as equipes responsáveis pelo Cadastro Único (CadÚnico) de políticas sociais.

A Receita Federal recebe uma grande quantidade de informações anuais de cerca de 30 milhões de brasileiros. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) conta com uma base de dados extensa e atualizada recorrentemente. A pergunta que fica é: qual é o custo de conectarmos estes dados por meio de um ambiente ou plataforma de troca de informações seguras e acessíveis?

Medidas como a realização obrigatória de seleções executivas de alcance internacional conduzidas por empresas de headhunting para a escolha do presidente do IBGE e a criação de um fundo com recursos do orçamento para financiar a realização do Censo (evitando que os custos de operação sejam concentrados em um a cada dez exercícios orçamentários) são opções que devem ser debatidas pelo governo e pela sociedade civil.

A sociedade brasileira não se pode dar ao luxo de passar os próximos dez anos sem nos conhecermos. Já as decisões sobre um eventual Censo 2024 precisam ser acompanhadas de um amplo debate sobre a modernização de seu formato com instituições responsáveis por sua execução. E quem sabe aproveitamos o primeiro domingo de outubro para, além de votarmos, respondermos a um Censo completo e com a cara de todos os brasileiros?

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SÃO, RESPECTIVAMENTE, MESTRANDO EM POLÍTICAS PÚBLICAS DO INSPER E DIRETOR EXECUTIVO DO INSTITUTO BRASILEIRO DE GESTÃO PÚBLICA E EMPRESARIAL; E ESPECIALISTA EM REFORMA E MODERNIZAÇÃO DO ESTADO E PESQUISADOR ASSOCIADO AO THINK TANK SULAFRICANO NEW SOUTH INSTITUTE

Em economia, os custos irrecuperáveis (incorridos) são recursos utilizados na construção de ativos que, uma vez realizados, não podem ser recuperados de forma significativa. Isso explica que o custo de oportunidade desses recursos, uma vez utilizados, é próximo de zero.

O Censo 2022 encontra-se num momento de incerteza. Com seis meses de coleta de dados, houve trocas de recenseadores, estratégias de divulgação negligenciadas e questionários confusos que não coletam tantas informações quanto se desejaria. O cenário é preocupante, mas o importante é a credibilidade dos dados coletados, que serão utilizados nas decisões mais importantes do País nos próximos dez anos.

A realização do Censo 2022 tem o custo estimado de R$ 2,3 bilhões, um investimento alto. Mas os custos de um Censo impreciso e pouco confiável são infinitamente superiores. Os dados censitários são fundamentais para a tomada de decisões estratégicas sobre a alocação de recursos no setor público e na iniciativa privada. Investimentos em infraestrutura, educação, saúde e assistência social são definidos de acordo com a distribuição da população e sua exposição a situações de vulnerabilidade socioeconômica.

Na iniciativa privada, os dados censitários são usados para calibrar pesquisas de mercado e estratégias de negócios. Nestes casos, o uso de dados pouco confiáveis podem gerar problemas de dimensionamento, estratégias de negócios inadequadas e os resultados vão muito além da má alocação de recursos. Isso pode afetar até mesmo a confiabilidade das pesquisas de intenção de voto, com efeitos deletérios sobre a qualidade do debate público e a confiança nas instituições eleitorais.

Se as informações publicadas pelo Censo forem incompletas ou incorretas, poderá haver subestimação de necessidades em determinadas regiões, o que pode levar a uma distribuição inadequada de recursos públicos. Imagine que mais de 90% das prefeituras do Brasil sobrevivem por meio do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e que o Censo 2022 será o determinador da faixa de receita de cada uma.

Por essa razão, não podem pairar dúvidas sobre a qualidade dos dados censitários, motivo pelo qual a auditoria dos dados já levantados é fundamental, como tem destacado o ex-presidente do IBGE Roberto Olinto.

A realização de uma auditoria externa dos resultados do Censo 2022, todavia, é uma questão conjuntural. Os desafios de realização do atual Censo deveriam levantar um debate público mais profundo sobre questões de natureza estrutural, como o modelo de censo adotado e a adoção de medidas de aperfeiçoamento institucional que permitam ao País evitar os problemas enfrentados pelo IBGE nos últimos anos.

Quanto ao modelo, é necessário discutir se o País não se deve ajustar a uma tendência observada em democracias avançadas, abandonando o modelo tradicional baseado em pesquisas de campo exaustivas – adotando um modelo de censo baseado em registros administrativos ou um modelo que complemente as informações de registros com pesquisas de campo, por amostragem ou exaustiva.

Atualmente, a coleta do Censo segue o mesmo formato de 50 anos atrás, com recenseadores treinados para aplicar questionários que antes eram em papel e agora são num dispositivo tecnológico. No entanto, o Brasil conta com uma enorme rede de agentes públicos distribuídos pelo território nacional e que recorrentemente coletam dados da população, como os agentes de saúde e as equipes responsáveis pelo Cadastro Único (CadÚnico) de políticas sociais.

A Receita Federal recebe uma grande quantidade de informações anuais de cerca de 30 milhões de brasileiros. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) conta com uma base de dados extensa e atualizada recorrentemente. A pergunta que fica é: qual é o custo de conectarmos estes dados por meio de um ambiente ou plataforma de troca de informações seguras e acessíveis?

Medidas como a realização obrigatória de seleções executivas de alcance internacional conduzidas por empresas de headhunting para a escolha do presidente do IBGE e a criação de um fundo com recursos do orçamento para financiar a realização do Censo (evitando que os custos de operação sejam concentrados em um a cada dez exercícios orçamentários) são opções que devem ser debatidas pelo governo e pela sociedade civil.

A sociedade brasileira não se pode dar ao luxo de passar os próximos dez anos sem nos conhecermos. Já as decisões sobre um eventual Censo 2024 precisam ser acompanhadas de um amplo debate sobre a modernização de seu formato com instituições responsáveis por sua execução. E quem sabe aproveitamos o primeiro domingo de outubro para, além de votarmos, respondermos a um Censo completo e com a cara de todos os brasileiros?

*

SÃO, RESPECTIVAMENTE, MESTRANDO EM POLÍTICAS PÚBLICAS DO INSPER E DIRETOR EXECUTIVO DO INSTITUTO BRASILEIRO DE GESTÃO PÚBLICA E EMPRESARIAL; E ESPECIALISTA EM REFORMA E MODERNIZAÇÃO DO ESTADO E PESQUISADOR ASSOCIADO AO THINK TANK SULAFRICANO NEW SOUTH INSTITUTE

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