Opinião|Como enfrentar a fome no Brasil


Há cinco fatores essenciais de acesso para que a garantia à alimentação e a escolhas saudáveis seja possível para todos

Por Bela Gil e Caio Magri

No Brasil, atualmente, a realidade alimentar é muito paradoxal. Estamos morrendo pela boca; pela falta de comida ou pelo consumo excessivo de produtos ultraprocessados. Apesar dos avanços no último ano, por um lado, ainda temos 8 milhões de pessoas que passam fome no nosso país. Por outro lado, foram registradas 57 mil mortes relacionadas ao consumo de alimentos ultraprocessados.

Apostar na difusão de informações sobre os malefícios dos ultraprocessados, como estratégia para mudar os hábitos alimentares da população, não é medida suficiente para alcançar mudanças estruturais nos hábitos alimentares da população. Isso porque o consumo desses produtos não é unicamente uma escolha racional e individual. Desse modo, o caminho para tornar a alimentação saudável uma realidade coletiva é construir a ponte entre o conhecimento e a ação.

Há cinco fatores essenciais de acesso para que a garantia à alimentação e a escolhas saudáveis seja possível para todos. O primeiro deles é o acesso à educação. É necessário priorizar na Base Nacional Curricular Comum as diretrizes previstas na lei de educação alimentar, Lei n.º 11.947 de 2009, de modo a educar estudantes de todas as idades a terem autonomia e consciência nas escolhas alimentares.

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Um segundo fator é o acesso físico. Não é possível separar alimentação saudável, planejamento urbano e acesso aos alimentos. Por mais que vivamos em um país com grandes quantidades de terra fértil e produtiva durante o ano todo, a realidade é que, em nossa sociedade, está se constituindo um apartheid alimentar. Ou seja, para poucos privilegiados, há uma oferta abundante de alimentos saudáveis e, para a grande maioria, são opções ultraprocessadas, empacotadas, nada saudáveis. Para quem vive em desertos alimentares, especialmente se o poder aquisitivo for baixo, é mais acessível, prático e barato comer macarrão instantâneo com salsicha comprados na esquina.

O terceiro fator concomitante é o acesso financeiro. A fome é derivada da pobreza. As pessoas passam fome porque não têm dinheiro para comprar comida ou recursos para produzi-la. A industrialização, a financeirização e a mecanização na produção dos alimentos estão fazendo com que os ultraprocessados fiquem mais baratos do que as comidas frescas, sobretudo porque os custos ambientais e sociais não são colocados na balança.

Em seguida, cite-se a ausência de acesso às ferramentas. Cozinhar requer mais do que o conhecimento de receitas e ingredientes. Precisamos de materiais e ferramentas para preparar e processar os alimentos. Antes disso, sem água, luz e gás não é possível cozinhar.

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Por último, o fator de acesso ao tempo. O tempo é um dos principais fatores que levam a escolhas alimentares menos saudáveis. No contexto atual, é difícil preparar uma refeição todos os dias, porque esse processo é demorado. Tempo é um bem do qual muitas famílias não dispõem na sociedade atual. Cozinhar é uma ferramenta que pode proteger contra muitos fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis, e para a redução dos impactos ambientais, nossa sociedade precisa valorizar o ato de cozinhar. Precisamos implementar a Política Nacional de Cuidados, que redistribua o trabalho de cuidado entre o âmbito doméstico e social. Creches, alimentação escolar, cozinhas solidárias, centro de repouso para idosos, entre outros, são fundamentais para tornar a alimentação saudável mais acessível, dentro e fora de casa.

Em paralelo a esses fatores, existe a necessidade de forte engajamento social para a erradicação da fome no Brasil. Esse deve ser um processo de construção da mobilização, de engajamento do setor empresarial, da sociedade civil, em uma perspectiva de reedição das políticas públicas que tiraram o Brasil do Mapa da Fome. Esse diálogo precisa ser estabelecido entre o governo, sociedade civil e setor empresarial, sob a perspectiva do controle social, do cadastro ativo, da transferência do controle para a população.

A mobilização é importante, sobretudo associada a campanhas que possam segmentar mensagens nas mídias sociais. Campanhas que possam, ao mesmo tempo, convocar a sociedade e o setor empresarial para a pauta afirmativa do combate à fome. Além disso, temos a necessidade de inovação, e a criação de mecanismos econômicos distributivos, fiscais, incentivados.

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A campanha tem que enfrentar as questões estruturais, numa ampla visão de combate às desigualdades. A fome tem território, raça e gênero, portanto devemos enfrentá-la de maneira estruturante. Uma das situações urgentes é erradicar o racismo. Senão, dificilmente conquistaremos segurança alimentar saudável para todos. A reforma agrária é fundamental para garantir o acesso à terra para a produção familiar e coletiva dos alimentos necessários para erradicar a fome. Nos últimos dez anos, houve um aumento brutal da concentração das riquezas e das terras no Brasil.

Temos que desnaturalizar a fome. É crítico e urgente combater a fome. Como medida estruturante e sistêmica, é a ação mais impactante para a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades no Brasil.

*

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CONSELHEIROS DO CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SOCIAL SUSTENTÁVEL (CDESS), SÃO, RESPECTIVAMENTE, CULINARISTA, APRESENTADORA, ESCRITORA; E DIRETOR-PRESIDENTE DO INSTITUTO ETHOS, SOCIÓLOGO

No Brasil, atualmente, a realidade alimentar é muito paradoxal. Estamos morrendo pela boca; pela falta de comida ou pelo consumo excessivo de produtos ultraprocessados. Apesar dos avanços no último ano, por um lado, ainda temos 8 milhões de pessoas que passam fome no nosso país. Por outro lado, foram registradas 57 mil mortes relacionadas ao consumo de alimentos ultraprocessados.

Apostar na difusão de informações sobre os malefícios dos ultraprocessados, como estratégia para mudar os hábitos alimentares da população, não é medida suficiente para alcançar mudanças estruturais nos hábitos alimentares da população. Isso porque o consumo desses produtos não é unicamente uma escolha racional e individual. Desse modo, o caminho para tornar a alimentação saudável uma realidade coletiva é construir a ponte entre o conhecimento e a ação.

Há cinco fatores essenciais de acesso para que a garantia à alimentação e a escolhas saudáveis seja possível para todos. O primeiro deles é o acesso à educação. É necessário priorizar na Base Nacional Curricular Comum as diretrizes previstas na lei de educação alimentar, Lei n.º 11.947 de 2009, de modo a educar estudantes de todas as idades a terem autonomia e consciência nas escolhas alimentares.

Um segundo fator é o acesso físico. Não é possível separar alimentação saudável, planejamento urbano e acesso aos alimentos. Por mais que vivamos em um país com grandes quantidades de terra fértil e produtiva durante o ano todo, a realidade é que, em nossa sociedade, está se constituindo um apartheid alimentar. Ou seja, para poucos privilegiados, há uma oferta abundante de alimentos saudáveis e, para a grande maioria, são opções ultraprocessadas, empacotadas, nada saudáveis. Para quem vive em desertos alimentares, especialmente se o poder aquisitivo for baixo, é mais acessível, prático e barato comer macarrão instantâneo com salsicha comprados na esquina.

O terceiro fator concomitante é o acesso financeiro. A fome é derivada da pobreza. As pessoas passam fome porque não têm dinheiro para comprar comida ou recursos para produzi-la. A industrialização, a financeirização e a mecanização na produção dos alimentos estão fazendo com que os ultraprocessados fiquem mais baratos do que as comidas frescas, sobretudo porque os custos ambientais e sociais não são colocados na balança.

Em seguida, cite-se a ausência de acesso às ferramentas. Cozinhar requer mais do que o conhecimento de receitas e ingredientes. Precisamos de materiais e ferramentas para preparar e processar os alimentos. Antes disso, sem água, luz e gás não é possível cozinhar.

Por último, o fator de acesso ao tempo. O tempo é um dos principais fatores que levam a escolhas alimentares menos saudáveis. No contexto atual, é difícil preparar uma refeição todos os dias, porque esse processo é demorado. Tempo é um bem do qual muitas famílias não dispõem na sociedade atual. Cozinhar é uma ferramenta que pode proteger contra muitos fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis, e para a redução dos impactos ambientais, nossa sociedade precisa valorizar o ato de cozinhar. Precisamos implementar a Política Nacional de Cuidados, que redistribua o trabalho de cuidado entre o âmbito doméstico e social. Creches, alimentação escolar, cozinhas solidárias, centro de repouso para idosos, entre outros, são fundamentais para tornar a alimentação saudável mais acessível, dentro e fora de casa.

Em paralelo a esses fatores, existe a necessidade de forte engajamento social para a erradicação da fome no Brasil. Esse deve ser um processo de construção da mobilização, de engajamento do setor empresarial, da sociedade civil, em uma perspectiva de reedição das políticas públicas que tiraram o Brasil do Mapa da Fome. Esse diálogo precisa ser estabelecido entre o governo, sociedade civil e setor empresarial, sob a perspectiva do controle social, do cadastro ativo, da transferência do controle para a população.

A mobilização é importante, sobretudo associada a campanhas que possam segmentar mensagens nas mídias sociais. Campanhas que possam, ao mesmo tempo, convocar a sociedade e o setor empresarial para a pauta afirmativa do combate à fome. Além disso, temos a necessidade de inovação, e a criação de mecanismos econômicos distributivos, fiscais, incentivados.

A campanha tem que enfrentar as questões estruturais, numa ampla visão de combate às desigualdades. A fome tem território, raça e gênero, portanto devemos enfrentá-la de maneira estruturante. Uma das situações urgentes é erradicar o racismo. Senão, dificilmente conquistaremos segurança alimentar saudável para todos. A reforma agrária é fundamental para garantir o acesso à terra para a produção familiar e coletiva dos alimentos necessários para erradicar a fome. Nos últimos dez anos, houve um aumento brutal da concentração das riquezas e das terras no Brasil.

Temos que desnaturalizar a fome. É crítico e urgente combater a fome. Como medida estruturante e sistêmica, é a ação mais impactante para a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades no Brasil.

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CONSELHEIROS DO CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SOCIAL SUSTENTÁVEL (CDESS), SÃO, RESPECTIVAMENTE, CULINARISTA, APRESENTADORA, ESCRITORA; E DIRETOR-PRESIDENTE DO INSTITUTO ETHOS, SOCIÓLOGO

No Brasil, atualmente, a realidade alimentar é muito paradoxal. Estamos morrendo pela boca; pela falta de comida ou pelo consumo excessivo de produtos ultraprocessados. Apesar dos avanços no último ano, por um lado, ainda temos 8 milhões de pessoas que passam fome no nosso país. Por outro lado, foram registradas 57 mil mortes relacionadas ao consumo de alimentos ultraprocessados.

Apostar na difusão de informações sobre os malefícios dos ultraprocessados, como estratégia para mudar os hábitos alimentares da população, não é medida suficiente para alcançar mudanças estruturais nos hábitos alimentares da população. Isso porque o consumo desses produtos não é unicamente uma escolha racional e individual. Desse modo, o caminho para tornar a alimentação saudável uma realidade coletiva é construir a ponte entre o conhecimento e a ação.

Há cinco fatores essenciais de acesso para que a garantia à alimentação e a escolhas saudáveis seja possível para todos. O primeiro deles é o acesso à educação. É necessário priorizar na Base Nacional Curricular Comum as diretrizes previstas na lei de educação alimentar, Lei n.º 11.947 de 2009, de modo a educar estudantes de todas as idades a terem autonomia e consciência nas escolhas alimentares.

Um segundo fator é o acesso físico. Não é possível separar alimentação saudável, planejamento urbano e acesso aos alimentos. Por mais que vivamos em um país com grandes quantidades de terra fértil e produtiva durante o ano todo, a realidade é que, em nossa sociedade, está se constituindo um apartheid alimentar. Ou seja, para poucos privilegiados, há uma oferta abundante de alimentos saudáveis e, para a grande maioria, são opções ultraprocessadas, empacotadas, nada saudáveis. Para quem vive em desertos alimentares, especialmente se o poder aquisitivo for baixo, é mais acessível, prático e barato comer macarrão instantâneo com salsicha comprados na esquina.

O terceiro fator concomitante é o acesso financeiro. A fome é derivada da pobreza. As pessoas passam fome porque não têm dinheiro para comprar comida ou recursos para produzi-la. A industrialização, a financeirização e a mecanização na produção dos alimentos estão fazendo com que os ultraprocessados fiquem mais baratos do que as comidas frescas, sobretudo porque os custos ambientais e sociais não são colocados na balança.

Em seguida, cite-se a ausência de acesso às ferramentas. Cozinhar requer mais do que o conhecimento de receitas e ingredientes. Precisamos de materiais e ferramentas para preparar e processar os alimentos. Antes disso, sem água, luz e gás não é possível cozinhar.

Por último, o fator de acesso ao tempo. O tempo é um dos principais fatores que levam a escolhas alimentares menos saudáveis. No contexto atual, é difícil preparar uma refeição todos os dias, porque esse processo é demorado. Tempo é um bem do qual muitas famílias não dispõem na sociedade atual. Cozinhar é uma ferramenta que pode proteger contra muitos fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis, e para a redução dos impactos ambientais, nossa sociedade precisa valorizar o ato de cozinhar. Precisamos implementar a Política Nacional de Cuidados, que redistribua o trabalho de cuidado entre o âmbito doméstico e social. Creches, alimentação escolar, cozinhas solidárias, centro de repouso para idosos, entre outros, são fundamentais para tornar a alimentação saudável mais acessível, dentro e fora de casa.

Em paralelo a esses fatores, existe a necessidade de forte engajamento social para a erradicação da fome no Brasil. Esse deve ser um processo de construção da mobilização, de engajamento do setor empresarial, da sociedade civil, em uma perspectiva de reedição das políticas públicas que tiraram o Brasil do Mapa da Fome. Esse diálogo precisa ser estabelecido entre o governo, sociedade civil e setor empresarial, sob a perspectiva do controle social, do cadastro ativo, da transferência do controle para a população.

A mobilização é importante, sobretudo associada a campanhas que possam segmentar mensagens nas mídias sociais. Campanhas que possam, ao mesmo tempo, convocar a sociedade e o setor empresarial para a pauta afirmativa do combate à fome. Além disso, temos a necessidade de inovação, e a criação de mecanismos econômicos distributivos, fiscais, incentivados.

A campanha tem que enfrentar as questões estruturais, numa ampla visão de combate às desigualdades. A fome tem território, raça e gênero, portanto devemos enfrentá-la de maneira estruturante. Uma das situações urgentes é erradicar o racismo. Senão, dificilmente conquistaremos segurança alimentar saudável para todos. A reforma agrária é fundamental para garantir o acesso à terra para a produção familiar e coletiva dos alimentos necessários para erradicar a fome. Nos últimos dez anos, houve um aumento brutal da concentração das riquezas e das terras no Brasil.

Temos que desnaturalizar a fome. É crítico e urgente combater a fome. Como medida estruturante e sistêmica, é a ação mais impactante para a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades no Brasil.

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No Brasil, atualmente, a realidade alimentar é muito paradoxal. Estamos morrendo pela boca; pela falta de comida ou pelo consumo excessivo de produtos ultraprocessados. Apesar dos avanços no último ano, por um lado, ainda temos 8 milhões de pessoas que passam fome no nosso país. Por outro lado, foram registradas 57 mil mortes relacionadas ao consumo de alimentos ultraprocessados.

Apostar na difusão de informações sobre os malefícios dos ultraprocessados, como estratégia para mudar os hábitos alimentares da população, não é medida suficiente para alcançar mudanças estruturais nos hábitos alimentares da população. Isso porque o consumo desses produtos não é unicamente uma escolha racional e individual. Desse modo, o caminho para tornar a alimentação saudável uma realidade coletiva é construir a ponte entre o conhecimento e a ação.

Há cinco fatores essenciais de acesso para que a garantia à alimentação e a escolhas saudáveis seja possível para todos. O primeiro deles é o acesso à educação. É necessário priorizar na Base Nacional Curricular Comum as diretrizes previstas na lei de educação alimentar, Lei n.º 11.947 de 2009, de modo a educar estudantes de todas as idades a terem autonomia e consciência nas escolhas alimentares.

Um segundo fator é o acesso físico. Não é possível separar alimentação saudável, planejamento urbano e acesso aos alimentos. Por mais que vivamos em um país com grandes quantidades de terra fértil e produtiva durante o ano todo, a realidade é que, em nossa sociedade, está se constituindo um apartheid alimentar. Ou seja, para poucos privilegiados, há uma oferta abundante de alimentos saudáveis e, para a grande maioria, são opções ultraprocessadas, empacotadas, nada saudáveis. Para quem vive em desertos alimentares, especialmente se o poder aquisitivo for baixo, é mais acessível, prático e barato comer macarrão instantâneo com salsicha comprados na esquina.

O terceiro fator concomitante é o acesso financeiro. A fome é derivada da pobreza. As pessoas passam fome porque não têm dinheiro para comprar comida ou recursos para produzi-la. A industrialização, a financeirização e a mecanização na produção dos alimentos estão fazendo com que os ultraprocessados fiquem mais baratos do que as comidas frescas, sobretudo porque os custos ambientais e sociais não são colocados na balança.

Em seguida, cite-se a ausência de acesso às ferramentas. Cozinhar requer mais do que o conhecimento de receitas e ingredientes. Precisamos de materiais e ferramentas para preparar e processar os alimentos. Antes disso, sem água, luz e gás não é possível cozinhar.

Por último, o fator de acesso ao tempo. O tempo é um dos principais fatores que levam a escolhas alimentares menos saudáveis. No contexto atual, é difícil preparar uma refeição todos os dias, porque esse processo é demorado. Tempo é um bem do qual muitas famílias não dispõem na sociedade atual. Cozinhar é uma ferramenta que pode proteger contra muitos fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis, e para a redução dos impactos ambientais, nossa sociedade precisa valorizar o ato de cozinhar. Precisamos implementar a Política Nacional de Cuidados, que redistribua o trabalho de cuidado entre o âmbito doméstico e social. Creches, alimentação escolar, cozinhas solidárias, centro de repouso para idosos, entre outros, são fundamentais para tornar a alimentação saudável mais acessível, dentro e fora de casa.

Em paralelo a esses fatores, existe a necessidade de forte engajamento social para a erradicação da fome no Brasil. Esse deve ser um processo de construção da mobilização, de engajamento do setor empresarial, da sociedade civil, em uma perspectiva de reedição das políticas públicas que tiraram o Brasil do Mapa da Fome. Esse diálogo precisa ser estabelecido entre o governo, sociedade civil e setor empresarial, sob a perspectiva do controle social, do cadastro ativo, da transferência do controle para a população.

A mobilização é importante, sobretudo associada a campanhas que possam segmentar mensagens nas mídias sociais. Campanhas que possam, ao mesmo tempo, convocar a sociedade e o setor empresarial para a pauta afirmativa do combate à fome. Além disso, temos a necessidade de inovação, e a criação de mecanismos econômicos distributivos, fiscais, incentivados.

A campanha tem que enfrentar as questões estruturais, numa ampla visão de combate às desigualdades. A fome tem território, raça e gênero, portanto devemos enfrentá-la de maneira estruturante. Uma das situações urgentes é erradicar o racismo. Senão, dificilmente conquistaremos segurança alimentar saudável para todos. A reforma agrária é fundamental para garantir o acesso à terra para a produção familiar e coletiva dos alimentos necessários para erradicar a fome. Nos últimos dez anos, houve um aumento brutal da concentração das riquezas e das terras no Brasil.

Temos que desnaturalizar a fome. É crítico e urgente combater a fome. Como medida estruturante e sistêmica, é a ação mais impactante para a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades no Brasil.

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CONSELHEIROS DO CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SOCIAL SUSTENTÁVEL (CDESS), SÃO, RESPECTIVAMENTE, CULINARISTA, APRESENTADORA, ESCRITORA; E DIRETOR-PRESIDENTE DO INSTITUTO ETHOS, SOCIÓLOGO

Opinião por Bela Gil

Culinarista, apresentadora, escritora, é conselheira do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS)

Caio Magri

Diretor-presidente do Instituto Ethos, sociólogo, é conselheiro do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS)

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