Opinião|Crise climática e sustentabilidade na assistência à saúde


Se fosse um país, o setor de assistência à saúde seria o quinto maior emissor global de gases de efeito estufa, à frente de países como Brasil e Japão

Por Ari Araujo e Cesar Nomura

A crise climática atual confronta a saúde pública no planeta com um desafio duplo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a mudança climática causará um adicional de 250 mil mortes por ano entre 2030 e 2050, sobretudo relacionadas à insegurança alimentar e ao aumento de doenças respiratórias agravadas pela poluição, e aumentará os gastos com saúde globalmente. Por outro lado, o setor de assistência à saúde é responsável por quase 5% das emissões de gases de efeito estufa no planeta, em sua maior parte oriundos do seu alto consumo energético e da queima de combustíveis fósseis em sua longa cadeia de suprimentos. Se fosse um país, o setor seria o quinto maior emissor global, à frente de países como Brasil e Japão.

Embora o impacto dessa crise já seja sentido em todo o mundo, diferentes regiões são impactadas de acordo com seus níveis de vulnerabilidade e adaptabilidade. Dados da Organização Pan-americana da Saúde sugerem que mais da metade dos 18 mil hospitais da América Latina estão localizados em áreas de risco físico para desastres naturais, como inundações, terremotos ou furacões. No entanto, menos de 200 hospitais na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e Costa Rica calcularam suas emissões de carbono e assumiram compromissos de redução até o ano de 2020.

O Brasil, país mais propenso a inundações do continente, teve sua primeira instituição de saúde carbono neutro há apenas três anos, com o Hospital Sírio-libanês. Práticas de ESG (do inglês Environmental, Social and Corporate Governance) têm sido progressivamente incorporadas ao léxico e aos planos de investimentos da rede privada de saúde no País. No âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), em que recursos são estruturalmente mais escassos, a discussão de estratégias de sustentabilidade deve ser ampliada nos próximos anos, sobretudo quando consideramos que as populações mais pobres e com menor acesso à saúde (incluídos povos originários e ribeirinhos) são também as mais vulneráveis aos efeitos das mudanças no clima.

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O setor de assistência à saúde não está imune e deve assumir sua responsabilidade diante da crise climática. Metas e compromissos de sustentabilidade assumidos em tratados globais, como o Acordo de Paris (2015), devem guiar políticas de descarbonização dos sistemas de saúde no Brasil. Investimentos em fontes renováveis de energia e em tecnologias e soluções digitais são essenciais para ecossistemas de saúde mais resilientes e sustentáveis, com fluxos de trabalho otimizados, gestão de resíduos eficiente e mínimo desperdício energético.

Neste contexto, instituições e agentes públicos e privados, incluindo fundos e bancos de investimentos, devem estar alinhados ao fomentar uma agenda comum baseada em experiências compartilhadas e mútua cooperação. Liderando pelo exemplo, o setor de saúde pode mostrar a toda a sociedade como o aforismo hipocrático primum non nocere (ou “primeiro não prejudique”) só faz sentido quando aplicado a todo o planeta.

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SÃO, RESPECTIVAMENTE, MÉDICO, DOUTOR PELA USP, MEMBRO DO PROGRAMA DE JOVENS LÍDERES DA ACADEMIA NACIONAL DE MEDICINA (ANM); E MÉDICO, LIVRE-DOCENTE PELA USP, SUPERINTENDENTE DE MEDICINA DIAGNÓSTICA DO HOSPITAL SÍRIO-LIBANÊS

A crise climática atual confronta a saúde pública no planeta com um desafio duplo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a mudança climática causará um adicional de 250 mil mortes por ano entre 2030 e 2050, sobretudo relacionadas à insegurança alimentar e ao aumento de doenças respiratórias agravadas pela poluição, e aumentará os gastos com saúde globalmente. Por outro lado, o setor de assistência à saúde é responsável por quase 5% das emissões de gases de efeito estufa no planeta, em sua maior parte oriundos do seu alto consumo energético e da queima de combustíveis fósseis em sua longa cadeia de suprimentos. Se fosse um país, o setor seria o quinto maior emissor global, à frente de países como Brasil e Japão.

Embora o impacto dessa crise já seja sentido em todo o mundo, diferentes regiões são impactadas de acordo com seus níveis de vulnerabilidade e adaptabilidade. Dados da Organização Pan-americana da Saúde sugerem que mais da metade dos 18 mil hospitais da América Latina estão localizados em áreas de risco físico para desastres naturais, como inundações, terremotos ou furacões. No entanto, menos de 200 hospitais na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e Costa Rica calcularam suas emissões de carbono e assumiram compromissos de redução até o ano de 2020.

O Brasil, país mais propenso a inundações do continente, teve sua primeira instituição de saúde carbono neutro há apenas três anos, com o Hospital Sírio-libanês. Práticas de ESG (do inglês Environmental, Social and Corporate Governance) têm sido progressivamente incorporadas ao léxico e aos planos de investimentos da rede privada de saúde no País. No âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), em que recursos são estruturalmente mais escassos, a discussão de estratégias de sustentabilidade deve ser ampliada nos próximos anos, sobretudo quando consideramos que as populações mais pobres e com menor acesso à saúde (incluídos povos originários e ribeirinhos) são também as mais vulneráveis aos efeitos das mudanças no clima.

O setor de assistência à saúde não está imune e deve assumir sua responsabilidade diante da crise climática. Metas e compromissos de sustentabilidade assumidos em tratados globais, como o Acordo de Paris (2015), devem guiar políticas de descarbonização dos sistemas de saúde no Brasil. Investimentos em fontes renováveis de energia e em tecnologias e soluções digitais são essenciais para ecossistemas de saúde mais resilientes e sustentáveis, com fluxos de trabalho otimizados, gestão de resíduos eficiente e mínimo desperdício energético.

Neste contexto, instituições e agentes públicos e privados, incluindo fundos e bancos de investimentos, devem estar alinhados ao fomentar uma agenda comum baseada em experiências compartilhadas e mútua cooperação. Liderando pelo exemplo, o setor de saúde pode mostrar a toda a sociedade como o aforismo hipocrático primum non nocere (ou “primeiro não prejudique”) só faz sentido quando aplicado a todo o planeta.

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SÃO, RESPECTIVAMENTE, MÉDICO, DOUTOR PELA USP, MEMBRO DO PROGRAMA DE JOVENS LÍDERES DA ACADEMIA NACIONAL DE MEDICINA (ANM); E MÉDICO, LIVRE-DOCENTE PELA USP, SUPERINTENDENTE DE MEDICINA DIAGNÓSTICA DO HOSPITAL SÍRIO-LIBANÊS

A crise climática atual confronta a saúde pública no planeta com um desafio duplo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a mudança climática causará um adicional de 250 mil mortes por ano entre 2030 e 2050, sobretudo relacionadas à insegurança alimentar e ao aumento de doenças respiratórias agravadas pela poluição, e aumentará os gastos com saúde globalmente. Por outro lado, o setor de assistência à saúde é responsável por quase 5% das emissões de gases de efeito estufa no planeta, em sua maior parte oriundos do seu alto consumo energético e da queima de combustíveis fósseis em sua longa cadeia de suprimentos. Se fosse um país, o setor seria o quinto maior emissor global, à frente de países como Brasil e Japão.

Embora o impacto dessa crise já seja sentido em todo o mundo, diferentes regiões são impactadas de acordo com seus níveis de vulnerabilidade e adaptabilidade. Dados da Organização Pan-americana da Saúde sugerem que mais da metade dos 18 mil hospitais da América Latina estão localizados em áreas de risco físico para desastres naturais, como inundações, terremotos ou furacões. No entanto, menos de 200 hospitais na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e Costa Rica calcularam suas emissões de carbono e assumiram compromissos de redução até o ano de 2020.

O Brasil, país mais propenso a inundações do continente, teve sua primeira instituição de saúde carbono neutro há apenas três anos, com o Hospital Sírio-libanês. Práticas de ESG (do inglês Environmental, Social and Corporate Governance) têm sido progressivamente incorporadas ao léxico e aos planos de investimentos da rede privada de saúde no País. No âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), em que recursos são estruturalmente mais escassos, a discussão de estratégias de sustentabilidade deve ser ampliada nos próximos anos, sobretudo quando consideramos que as populações mais pobres e com menor acesso à saúde (incluídos povos originários e ribeirinhos) são também as mais vulneráveis aos efeitos das mudanças no clima.

O setor de assistência à saúde não está imune e deve assumir sua responsabilidade diante da crise climática. Metas e compromissos de sustentabilidade assumidos em tratados globais, como o Acordo de Paris (2015), devem guiar políticas de descarbonização dos sistemas de saúde no Brasil. Investimentos em fontes renováveis de energia e em tecnologias e soluções digitais são essenciais para ecossistemas de saúde mais resilientes e sustentáveis, com fluxos de trabalho otimizados, gestão de resíduos eficiente e mínimo desperdício energético.

Neste contexto, instituições e agentes públicos e privados, incluindo fundos e bancos de investimentos, devem estar alinhados ao fomentar uma agenda comum baseada em experiências compartilhadas e mútua cooperação. Liderando pelo exemplo, o setor de saúde pode mostrar a toda a sociedade como o aforismo hipocrático primum non nocere (ou “primeiro não prejudique”) só faz sentido quando aplicado a todo o planeta.

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SÃO, RESPECTIVAMENTE, MÉDICO, DOUTOR PELA USP, MEMBRO DO PROGRAMA DE JOVENS LÍDERES DA ACADEMIA NACIONAL DE MEDICINA (ANM); E MÉDICO, LIVRE-DOCENTE PELA USP, SUPERINTENDENTE DE MEDICINA DIAGNÓSTICA DO HOSPITAL SÍRIO-LIBANÊS

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