Opinião|Dia 365 de outubro


Apesar de estar inserido no DNA israelense nunca deixar ninguém para trás, 101 reféns permanecem em Gaza

Por David Diesendruck

A consequência do terror não é apenas o que ele faz para nós, mas o que ele nos faz fazer. Algumas coisas parecem impossíveis. Até o momento em que elas acontecem.

Talvez essa sensação seja uma das mais relevantes quando lembramos do ataque terrorista perpetrado pelo Hamas em 7/10/2023. A surpresa e a demora da reação do exército israelense, e o fato de que tudo aconteceu dentro do país, abalou mitos fundacionais do Estado de Israel e dos judeus. Duas gerações após o Holocausto, os relatos sobre as perseguições e massacres de judeus na Europa e em países do Oriente Médio eram parte dos livros de história e de testemunhos dos sobreviventes. Ninguém poderia imaginar a dimensão e barbárie se repetindo. E muito menos dentro do Estado estabelecido para ser um lar seguro para todos os judeus.

O trauma foi enorme. Parte relevante da sociedade israelense ainda está vivendo o outubro de 2023. O entendimento dessa questão e do contexto mais amplo me parece crucial quando falamos de perspectivas para o futuro.

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“Quem devemos ser para vencer nesta guerra e em todas as que virão depois dela?”, questiona o pensador israelense Micah Goodman. A provocação de Goodman, com um olhar para frente, é fundamental para a continuidade de Israel como Estado judeu e democrático. É necessária uma análise profunda que contemple a complexidade e ambiguidade dessas questões.

Os israelenses estavam divididos desde o início de 2023, quando o atual governo buscou impor uma reforma judicial que ameaçava a democracia israelense. Uma luta interna que rapidamente se transformou em uma disputa sobre a natureza e o futuro do projeto sionista. Qual Israel que queremos?

Em 7/10, iniciou-se uma nova luta. Uma guerra contra um inimigo externo, apoiado pelo Irã e outros proxies, com o objetivo declarado de exterminar Israel e sua população judaica.

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A solidariedade prevaleceu. A sociedade civil, numa demonstração impressionante de organização, uniu-se e manteve o país funcionando. Mas os meses foram se passando e a indignação foi crescendo.

Apesar de estar inserido no DNA israelense nunca deixar ninguém para trás (nem mesmo os corpos de seus cidadãos), 101 reféns permanecem em Gaza. A soltura dos reféns não é priorizada. Cerca de 100 mil pessoas estão refugiadas. Mantém-se uma contínua e extenuante mobilização de reservistas para o exército. Além dos 700 soldados mortos e milhares de feridos e o risco de uma escalada regional do conflito.

As manifestações voltaram com maior intensidade. Pela libertação dos reféns, pelo fim da guerra e por novas eleições.

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Na diáspora, nossa geração jamais sentiu o antissemitismo que estamos vivenciando. A seletividade do setor progressista na defesa dos direitos humanos excluindo os judeus é desconcertante. A vida dos judeus não importa. Aqueles que tinham sua judeidade mais recolhida têm sido denunciados por ela. São intimados a declarar sua “posição” como se fossem cidadãos israelenses e responsáveis pelo ato de seu governo atual. O sionismo, que nada mais é do que o direito à autodeterminação do povo judeu, está interditado. Virou sinônimo de práticas das quais os próprios judeus têm sido vítimas a séculos.

As premissas do liberalismo democrático baseado na sua proteção pela mídia, política e universidades sofreu uma erosão global de confiança. Os fatos são rejeitados para a manutenção de crenças identitárias.

Há uma obsessão em como Israel está lidando com o problema, maior do que com quem criou o problema! Não isento de condenação a ocupação israelense na Cisjordânia e lamento enormemente a morte de civis em Gaza e no Líbano. Mas lembro que a Faixa de Gaza está em mãos de palestinos desde 2005. Não havia presença israelense nesse território. E não existe ocupação ou presença israelense no Líbano, Iêmen, Síria, Iraque ou Irã para justificar os ataques desses países que colocam seus cidadãos em perigo para manterem seus regimes autoritários.

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Podemos optar pela já secular disputa de narrativas sobre a culpa da não criação de um Estado palestino após 75 anos da criação de Israel. Sem dúvida houve oportunidades históricas, infelizmente frustradas por extremistas de ambos os lados. Mas prefiro a opção de encarar o fato de que temos dois povos originários, ambos com direito a sua autodeterminação, que não irão a lugar algum.

É inaceitável o slogan “Palestina livre do rio ao mar”, seja de judeus ou de palestinos. O único caminho, por mais difícil, distante e repleto de percalços, continua sendo o de dois Estados.

Como dizia o poeta israelense Yehuda Amichai, como abrir o nosso punho? Acredito que através da busca incessante pelo diálogo. Quando você está contando uma história, é difícil você gritar. E quando você está gritando é difícil você contar uma história.

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A dor coletiva demanda uma solução coletiva.

*

É COFUNDADOR DO INSTITUTO BRASIL-ISRAEL

A consequência do terror não é apenas o que ele faz para nós, mas o que ele nos faz fazer. Algumas coisas parecem impossíveis. Até o momento em que elas acontecem.

Talvez essa sensação seja uma das mais relevantes quando lembramos do ataque terrorista perpetrado pelo Hamas em 7/10/2023. A surpresa e a demora da reação do exército israelense, e o fato de que tudo aconteceu dentro do país, abalou mitos fundacionais do Estado de Israel e dos judeus. Duas gerações após o Holocausto, os relatos sobre as perseguições e massacres de judeus na Europa e em países do Oriente Médio eram parte dos livros de história e de testemunhos dos sobreviventes. Ninguém poderia imaginar a dimensão e barbárie se repetindo. E muito menos dentro do Estado estabelecido para ser um lar seguro para todos os judeus.

O trauma foi enorme. Parte relevante da sociedade israelense ainda está vivendo o outubro de 2023. O entendimento dessa questão e do contexto mais amplo me parece crucial quando falamos de perspectivas para o futuro.

“Quem devemos ser para vencer nesta guerra e em todas as que virão depois dela?”, questiona o pensador israelense Micah Goodman. A provocação de Goodman, com um olhar para frente, é fundamental para a continuidade de Israel como Estado judeu e democrático. É necessária uma análise profunda que contemple a complexidade e ambiguidade dessas questões.

Os israelenses estavam divididos desde o início de 2023, quando o atual governo buscou impor uma reforma judicial que ameaçava a democracia israelense. Uma luta interna que rapidamente se transformou em uma disputa sobre a natureza e o futuro do projeto sionista. Qual Israel que queremos?

Em 7/10, iniciou-se uma nova luta. Uma guerra contra um inimigo externo, apoiado pelo Irã e outros proxies, com o objetivo declarado de exterminar Israel e sua população judaica.

A solidariedade prevaleceu. A sociedade civil, numa demonstração impressionante de organização, uniu-se e manteve o país funcionando. Mas os meses foram se passando e a indignação foi crescendo.

Apesar de estar inserido no DNA israelense nunca deixar ninguém para trás (nem mesmo os corpos de seus cidadãos), 101 reféns permanecem em Gaza. A soltura dos reféns não é priorizada. Cerca de 100 mil pessoas estão refugiadas. Mantém-se uma contínua e extenuante mobilização de reservistas para o exército. Além dos 700 soldados mortos e milhares de feridos e o risco de uma escalada regional do conflito.

As manifestações voltaram com maior intensidade. Pela libertação dos reféns, pelo fim da guerra e por novas eleições.

Na diáspora, nossa geração jamais sentiu o antissemitismo que estamos vivenciando. A seletividade do setor progressista na defesa dos direitos humanos excluindo os judeus é desconcertante. A vida dos judeus não importa. Aqueles que tinham sua judeidade mais recolhida têm sido denunciados por ela. São intimados a declarar sua “posição” como se fossem cidadãos israelenses e responsáveis pelo ato de seu governo atual. O sionismo, que nada mais é do que o direito à autodeterminação do povo judeu, está interditado. Virou sinônimo de práticas das quais os próprios judeus têm sido vítimas a séculos.

As premissas do liberalismo democrático baseado na sua proteção pela mídia, política e universidades sofreu uma erosão global de confiança. Os fatos são rejeitados para a manutenção de crenças identitárias.

Há uma obsessão em como Israel está lidando com o problema, maior do que com quem criou o problema! Não isento de condenação a ocupação israelense na Cisjordânia e lamento enormemente a morte de civis em Gaza e no Líbano. Mas lembro que a Faixa de Gaza está em mãos de palestinos desde 2005. Não havia presença israelense nesse território. E não existe ocupação ou presença israelense no Líbano, Iêmen, Síria, Iraque ou Irã para justificar os ataques desses países que colocam seus cidadãos em perigo para manterem seus regimes autoritários.

Podemos optar pela já secular disputa de narrativas sobre a culpa da não criação de um Estado palestino após 75 anos da criação de Israel. Sem dúvida houve oportunidades históricas, infelizmente frustradas por extremistas de ambos os lados. Mas prefiro a opção de encarar o fato de que temos dois povos originários, ambos com direito a sua autodeterminação, que não irão a lugar algum.

É inaceitável o slogan “Palestina livre do rio ao mar”, seja de judeus ou de palestinos. O único caminho, por mais difícil, distante e repleto de percalços, continua sendo o de dois Estados.

Como dizia o poeta israelense Yehuda Amichai, como abrir o nosso punho? Acredito que através da busca incessante pelo diálogo. Quando você está contando uma história, é difícil você gritar. E quando você está gritando é difícil você contar uma história.

A dor coletiva demanda uma solução coletiva.

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É COFUNDADOR DO INSTITUTO BRASIL-ISRAEL

A consequência do terror não é apenas o que ele faz para nós, mas o que ele nos faz fazer. Algumas coisas parecem impossíveis. Até o momento em que elas acontecem.

Talvez essa sensação seja uma das mais relevantes quando lembramos do ataque terrorista perpetrado pelo Hamas em 7/10/2023. A surpresa e a demora da reação do exército israelense, e o fato de que tudo aconteceu dentro do país, abalou mitos fundacionais do Estado de Israel e dos judeus. Duas gerações após o Holocausto, os relatos sobre as perseguições e massacres de judeus na Europa e em países do Oriente Médio eram parte dos livros de história e de testemunhos dos sobreviventes. Ninguém poderia imaginar a dimensão e barbárie se repetindo. E muito menos dentro do Estado estabelecido para ser um lar seguro para todos os judeus.

O trauma foi enorme. Parte relevante da sociedade israelense ainda está vivendo o outubro de 2023. O entendimento dessa questão e do contexto mais amplo me parece crucial quando falamos de perspectivas para o futuro.

“Quem devemos ser para vencer nesta guerra e em todas as que virão depois dela?”, questiona o pensador israelense Micah Goodman. A provocação de Goodman, com um olhar para frente, é fundamental para a continuidade de Israel como Estado judeu e democrático. É necessária uma análise profunda que contemple a complexidade e ambiguidade dessas questões.

Os israelenses estavam divididos desde o início de 2023, quando o atual governo buscou impor uma reforma judicial que ameaçava a democracia israelense. Uma luta interna que rapidamente se transformou em uma disputa sobre a natureza e o futuro do projeto sionista. Qual Israel que queremos?

Em 7/10, iniciou-se uma nova luta. Uma guerra contra um inimigo externo, apoiado pelo Irã e outros proxies, com o objetivo declarado de exterminar Israel e sua população judaica.

A solidariedade prevaleceu. A sociedade civil, numa demonstração impressionante de organização, uniu-se e manteve o país funcionando. Mas os meses foram se passando e a indignação foi crescendo.

Apesar de estar inserido no DNA israelense nunca deixar ninguém para trás (nem mesmo os corpos de seus cidadãos), 101 reféns permanecem em Gaza. A soltura dos reféns não é priorizada. Cerca de 100 mil pessoas estão refugiadas. Mantém-se uma contínua e extenuante mobilização de reservistas para o exército. Além dos 700 soldados mortos e milhares de feridos e o risco de uma escalada regional do conflito.

As manifestações voltaram com maior intensidade. Pela libertação dos reféns, pelo fim da guerra e por novas eleições.

Na diáspora, nossa geração jamais sentiu o antissemitismo que estamos vivenciando. A seletividade do setor progressista na defesa dos direitos humanos excluindo os judeus é desconcertante. A vida dos judeus não importa. Aqueles que tinham sua judeidade mais recolhida têm sido denunciados por ela. São intimados a declarar sua “posição” como se fossem cidadãos israelenses e responsáveis pelo ato de seu governo atual. O sionismo, que nada mais é do que o direito à autodeterminação do povo judeu, está interditado. Virou sinônimo de práticas das quais os próprios judeus têm sido vítimas a séculos.

As premissas do liberalismo democrático baseado na sua proteção pela mídia, política e universidades sofreu uma erosão global de confiança. Os fatos são rejeitados para a manutenção de crenças identitárias.

Há uma obsessão em como Israel está lidando com o problema, maior do que com quem criou o problema! Não isento de condenação a ocupação israelense na Cisjordânia e lamento enormemente a morte de civis em Gaza e no Líbano. Mas lembro que a Faixa de Gaza está em mãos de palestinos desde 2005. Não havia presença israelense nesse território. E não existe ocupação ou presença israelense no Líbano, Iêmen, Síria, Iraque ou Irã para justificar os ataques desses países que colocam seus cidadãos em perigo para manterem seus regimes autoritários.

Podemos optar pela já secular disputa de narrativas sobre a culpa da não criação de um Estado palestino após 75 anos da criação de Israel. Sem dúvida houve oportunidades históricas, infelizmente frustradas por extremistas de ambos os lados. Mas prefiro a opção de encarar o fato de que temos dois povos originários, ambos com direito a sua autodeterminação, que não irão a lugar algum.

É inaceitável o slogan “Palestina livre do rio ao mar”, seja de judeus ou de palestinos. O único caminho, por mais difícil, distante e repleto de percalços, continua sendo o de dois Estados.

Como dizia o poeta israelense Yehuda Amichai, como abrir o nosso punho? Acredito que através da busca incessante pelo diálogo. Quando você está contando uma história, é difícil você gritar. E quando você está gritando é difícil você contar uma história.

A dor coletiva demanda uma solução coletiva.

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É cofundador do Instituto Brasil-Israel

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