Opinião|Do discurso da COP-27 à prática do agro brasileiro


Com realismo, a agropecuária do País tem feito a lição de casa, pautando-se por práticas cada vez mais sustentáveis

Por João Guilherme Sabino Ometto

A Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-27), realizada em Sharm el-Sheikh, no Egito, pouco acrescentou em termos práticos à luta da humanidade contra o aquecimento terrestre, cujos efeitos já são sentidos em todo o mundo. Criou-se um fundo de perdas e danos, a ser implementado somente a partir da COP-28, no final de 2023, de ajuda às nações mais vulneráveis às mudanças do clima (ainda sem detalhes sobre o seu funcionamento e operacionalização), e se reafirmou o compromisso do Acordo de Paris, estabelecido na COP-21, em 2015, de limitar o aumento da temperatura do planeta em 1,5º, sem se definirem os meios para isso. É muito pouco diante da gravidade do problema.

Apesar dos tímidos resultados do evento da ONU de 2022, sobre o qual havia se criado alguma expectativa, acredito que o Brasil deva manter firme seu compromisso relativo ao Acordo de Paris, de reduzir em 37% as emissões de gases de efeito estufa até 2025 e em 50% até 2030. Cumpri-lo é importante para nossa economia, com o avanço dos negócios verdes, meio ambiente, saúde pública, geração de empregos e investimentos nacionais e internacionais. Com realismo, a verdade é que a agropecuária de nosso país tem feito com eficácia suas lições de casa, contribuindo para o atingimento das metas brasileiras.

O agro nacional tem se pautado por práticas cada vez mais sustentáveis. Nas últimas quatro décadas, nossa área plantada com grãos expandiu-se em 81%, enquanto a produção agrícola teve crescimento de 433%. Houve significativo ganho de produtividade, conforme mostram as estatísticas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Além disso, de acordo com os dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), 66% do território nacional está coberto com vegetação nativa.

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O incremento da produtividade mantém-se, conforme é possível observar na terceira edição do Boletim Safra 2022/2023, divulgado pela Conab em dezembro: a produção estimada é de 312,2 milhões de toneladas de grãos, com crescimento de 15% em relação à temporada 2021/2022. No entanto, a área de plantio, de 77 milhões de hectares, registra aumento de apenas 3,3% na mesma base de comparação. A lavoura de grãos avança em todo o País. Mesmo nas regiões mais tardias, a semeadura já foi iniciada.

Também é importante observar que a área destinada à preservação da vegetação nativa e mananciais nos imóveis registrados e mapeados no Cadastro Ambiental Rural (CAR) representa 26,7% do território brasileiro, revela a pesquisa Embrapa Territorial. Com isso, são protegidos no interior das propriedades 227,4 milhões de hectares, o equivalente à superfície de dez países da Europa, incluindo França, Espanha, Alemanha, Itália, Reino Unido, Hungria, Portugal, Dinamarca, Países Baixos e Suíça.

Outro estudo da Embrapa mostra que o uso de tecnologias “poupa-terra” no cultivo da soja propiciou economia de 71 milhões de hectares em área plantada no Brasil devido a incrementos de produtividade, o que representa a soma dos territórios da França e da Irlanda. O mesmo processo de inovação possibilitou que a avicultura de corte economizasse 1,55 milhão de hectares e a suinocultura, 1 milhão, com base em ganhos de conversão alimentar. As tecnologias poupa-terra mais utilizadas por nossos produtores são as de sistemas integrados lavoura-pecuária-floresta (ILPF), plantio direto, fixação biológica de nitrogênio e uso de bioinsumos. Uma de suas principais vantagens é que atendem às demandas das grandes, médias e pequenas propriedades rurais, incluindo a agricultura familiar.

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O setor agropecuário também contribui para a geração de energia limpa. Na nossa matriz energética, 44,7%, contra 14,1% na média mundial, provêm de fontes renováveis, sendo 16,4% referentes ao segmento sucroalcooleiro (Balanço Energético Nacional, Empresa de Pesquisa Energética, 2021). Tudo isso nos credencia à emissão dos chamados títulos verdes, ou green bonds. Porém, para que isso ocorra, é preciso avançar na regularização florestal, via análise dos Cadastros Ambientais Rurais e implementação do Programa de Regularização Ambiental. Estamos atrasados nesse processo e em outras ações urgentes, como a eliminação efetiva do desmatamento ilegal. Eis aí um desafio para o novo governo. Precisamos fazer nossas próprias lições de casa, para potencializar ainda mais os ganhos ambientais propiciados pelas ações práticas do agronegócio nacional.

Mais do que nunca, devemos estar em linha com o mundo na agenda do clima, inclusive cobrando os compromissos dos países ricos inerentes ao Acordo de Paris e à implementação do financiamento à mitigação das emissões de carbono e a adaptação à economia verde. No entanto, muito além do discurso, podemos e devemos seguir desenvolvendo a produção sustentável no meio rural.

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ENGENHEIRO, EMPRESÁRIO, É MEMBRO DA ACADEMIA NACIONAL DE AGRICULTURA (ANA)

A Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-27), realizada em Sharm el-Sheikh, no Egito, pouco acrescentou em termos práticos à luta da humanidade contra o aquecimento terrestre, cujos efeitos já são sentidos em todo o mundo. Criou-se um fundo de perdas e danos, a ser implementado somente a partir da COP-28, no final de 2023, de ajuda às nações mais vulneráveis às mudanças do clima (ainda sem detalhes sobre o seu funcionamento e operacionalização), e se reafirmou o compromisso do Acordo de Paris, estabelecido na COP-21, em 2015, de limitar o aumento da temperatura do planeta em 1,5º, sem se definirem os meios para isso. É muito pouco diante da gravidade do problema.

Apesar dos tímidos resultados do evento da ONU de 2022, sobre o qual havia se criado alguma expectativa, acredito que o Brasil deva manter firme seu compromisso relativo ao Acordo de Paris, de reduzir em 37% as emissões de gases de efeito estufa até 2025 e em 50% até 2030. Cumpri-lo é importante para nossa economia, com o avanço dos negócios verdes, meio ambiente, saúde pública, geração de empregos e investimentos nacionais e internacionais. Com realismo, a verdade é que a agropecuária de nosso país tem feito com eficácia suas lições de casa, contribuindo para o atingimento das metas brasileiras.

O agro nacional tem se pautado por práticas cada vez mais sustentáveis. Nas últimas quatro décadas, nossa área plantada com grãos expandiu-se em 81%, enquanto a produção agrícola teve crescimento de 433%. Houve significativo ganho de produtividade, conforme mostram as estatísticas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Além disso, de acordo com os dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), 66% do território nacional está coberto com vegetação nativa.

O incremento da produtividade mantém-se, conforme é possível observar na terceira edição do Boletim Safra 2022/2023, divulgado pela Conab em dezembro: a produção estimada é de 312,2 milhões de toneladas de grãos, com crescimento de 15% em relação à temporada 2021/2022. No entanto, a área de plantio, de 77 milhões de hectares, registra aumento de apenas 3,3% na mesma base de comparação. A lavoura de grãos avança em todo o País. Mesmo nas regiões mais tardias, a semeadura já foi iniciada.

Também é importante observar que a área destinada à preservação da vegetação nativa e mananciais nos imóveis registrados e mapeados no Cadastro Ambiental Rural (CAR) representa 26,7% do território brasileiro, revela a pesquisa Embrapa Territorial. Com isso, são protegidos no interior das propriedades 227,4 milhões de hectares, o equivalente à superfície de dez países da Europa, incluindo França, Espanha, Alemanha, Itália, Reino Unido, Hungria, Portugal, Dinamarca, Países Baixos e Suíça.

Outro estudo da Embrapa mostra que o uso de tecnologias “poupa-terra” no cultivo da soja propiciou economia de 71 milhões de hectares em área plantada no Brasil devido a incrementos de produtividade, o que representa a soma dos territórios da França e da Irlanda. O mesmo processo de inovação possibilitou que a avicultura de corte economizasse 1,55 milhão de hectares e a suinocultura, 1 milhão, com base em ganhos de conversão alimentar. As tecnologias poupa-terra mais utilizadas por nossos produtores são as de sistemas integrados lavoura-pecuária-floresta (ILPF), plantio direto, fixação biológica de nitrogênio e uso de bioinsumos. Uma de suas principais vantagens é que atendem às demandas das grandes, médias e pequenas propriedades rurais, incluindo a agricultura familiar.

O setor agropecuário também contribui para a geração de energia limpa. Na nossa matriz energética, 44,7%, contra 14,1% na média mundial, provêm de fontes renováveis, sendo 16,4% referentes ao segmento sucroalcooleiro (Balanço Energético Nacional, Empresa de Pesquisa Energética, 2021). Tudo isso nos credencia à emissão dos chamados títulos verdes, ou green bonds. Porém, para que isso ocorra, é preciso avançar na regularização florestal, via análise dos Cadastros Ambientais Rurais e implementação do Programa de Regularização Ambiental. Estamos atrasados nesse processo e em outras ações urgentes, como a eliminação efetiva do desmatamento ilegal. Eis aí um desafio para o novo governo. Precisamos fazer nossas próprias lições de casa, para potencializar ainda mais os ganhos ambientais propiciados pelas ações práticas do agronegócio nacional.

Mais do que nunca, devemos estar em linha com o mundo na agenda do clima, inclusive cobrando os compromissos dos países ricos inerentes ao Acordo de Paris e à implementação do financiamento à mitigação das emissões de carbono e a adaptação à economia verde. No entanto, muito além do discurso, podemos e devemos seguir desenvolvendo a produção sustentável no meio rural.

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ENGENHEIRO, EMPRESÁRIO, É MEMBRO DA ACADEMIA NACIONAL DE AGRICULTURA (ANA)

A Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-27), realizada em Sharm el-Sheikh, no Egito, pouco acrescentou em termos práticos à luta da humanidade contra o aquecimento terrestre, cujos efeitos já são sentidos em todo o mundo. Criou-se um fundo de perdas e danos, a ser implementado somente a partir da COP-28, no final de 2023, de ajuda às nações mais vulneráveis às mudanças do clima (ainda sem detalhes sobre o seu funcionamento e operacionalização), e se reafirmou o compromisso do Acordo de Paris, estabelecido na COP-21, em 2015, de limitar o aumento da temperatura do planeta em 1,5º, sem se definirem os meios para isso. É muito pouco diante da gravidade do problema.

Apesar dos tímidos resultados do evento da ONU de 2022, sobre o qual havia se criado alguma expectativa, acredito que o Brasil deva manter firme seu compromisso relativo ao Acordo de Paris, de reduzir em 37% as emissões de gases de efeito estufa até 2025 e em 50% até 2030. Cumpri-lo é importante para nossa economia, com o avanço dos negócios verdes, meio ambiente, saúde pública, geração de empregos e investimentos nacionais e internacionais. Com realismo, a verdade é que a agropecuária de nosso país tem feito com eficácia suas lições de casa, contribuindo para o atingimento das metas brasileiras.

O agro nacional tem se pautado por práticas cada vez mais sustentáveis. Nas últimas quatro décadas, nossa área plantada com grãos expandiu-se em 81%, enquanto a produção agrícola teve crescimento de 433%. Houve significativo ganho de produtividade, conforme mostram as estatísticas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Além disso, de acordo com os dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), 66% do território nacional está coberto com vegetação nativa.

O incremento da produtividade mantém-se, conforme é possível observar na terceira edição do Boletim Safra 2022/2023, divulgado pela Conab em dezembro: a produção estimada é de 312,2 milhões de toneladas de grãos, com crescimento de 15% em relação à temporada 2021/2022. No entanto, a área de plantio, de 77 milhões de hectares, registra aumento de apenas 3,3% na mesma base de comparação. A lavoura de grãos avança em todo o País. Mesmo nas regiões mais tardias, a semeadura já foi iniciada.

Também é importante observar que a área destinada à preservação da vegetação nativa e mananciais nos imóveis registrados e mapeados no Cadastro Ambiental Rural (CAR) representa 26,7% do território brasileiro, revela a pesquisa Embrapa Territorial. Com isso, são protegidos no interior das propriedades 227,4 milhões de hectares, o equivalente à superfície de dez países da Europa, incluindo França, Espanha, Alemanha, Itália, Reino Unido, Hungria, Portugal, Dinamarca, Países Baixos e Suíça.

Outro estudo da Embrapa mostra que o uso de tecnologias “poupa-terra” no cultivo da soja propiciou economia de 71 milhões de hectares em área plantada no Brasil devido a incrementos de produtividade, o que representa a soma dos territórios da França e da Irlanda. O mesmo processo de inovação possibilitou que a avicultura de corte economizasse 1,55 milhão de hectares e a suinocultura, 1 milhão, com base em ganhos de conversão alimentar. As tecnologias poupa-terra mais utilizadas por nossos produtores são as de sistemas integrados lavoura-pecuária-floresta (ILPF), plantio direto, fixação biológica de nitrogênio e uso de bioinsumos. Uma de suas principais vantagens é que atendem às demandas das grandes, médias e pequenas propriedades rurais, incluindo a agricultura familiar.

O setor agropecuário também contribui para a geração de energia limpa. Na nossa matriz energética, 44,7%, contra 14,1% na média mundial, provêm de fontes renováveis, sendo 16,4% referentes ao segmento sucroalcooleiro (Balanço Energético Nacional, Empresa de Pesquisa Energética, 2021). Tudo isso nos credencia à emissão dos chamados títulos verdes, ou green bonds. Porém, para que isso ocorra, é preciso avançar na regularização florestal, via análise dos Cadastros Ambientais Rurais e implementação do Programa de Regularização Ambiental. Estamos atrasados nesse processo e em outras ações urgentes, como a eliminação efetiva do desmatamento ilegal. Eis aí um desafio para o novo governo. Precisamos fazer nossas próprias lições de casa, para potencializar ainda mais os ganhos ambientais propiciados pelas ações práticas do agronegócio nacional.

Mais do que nunca, devemos estar em linha com o mundo na agenda do clima, inclusive cobrando os compromissos dos países ricos inerentes ao Acordo de Paris e à implementação do financiamento à mitigação das emissões de carbono e a adaptação à economia verde. No entanto, muito além do discurso, podemos e devemos seguir desenvolvendo a produção sustentável no meio rural.

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ENGENHEIRO, EMPRESÁRIO, É MEMBRO DA ACADEMIA NACIONAL DE AGRICULTURA (ANA)

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