Florestas, oceanos, rios, desertos, pastagens, savanas e até montanhas nos fornecem bens e serviços como purificação da água, regulação do clima, formação do solo e polinização de plantas, que possibilitam nossa existência como civilização. Além disso, essas paisagens são alimentadas por ciclos hídricos que contribuem para a fertilidade do solo. No entanto, os ecossistemas do mundo estão em perigo. Modelos insustentáveis de produção e consumo estão causando três crises ambientais globais: mudanças climáticas, perda de biodiversidade e poluição.
Nesse contexto, o Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho) nos convida a refletir sobre a situação ambiental na América Latina e, especialmente, no Brasil, que vem enfrentando extremos climáticos característicos dos desafios ambientais globais. A gravidade das enchentes que devastaram mais de 400 municípios do Rio Grande do Sul, a extensão da seca histórica na Amazônia no ano passado – com consequências incalculáveis para todos os ecossistemas –, e o fato de que, pela primeira vez, regiões do Brasil foram classificadas como áridas em 2023 são sinais alarmantes do ritmo acelerado das mudanças climáticas.
De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, mais de um quinto da superfície terrestre do planeta, cerca de 2 bilhões de hectares, está degradada. Quase 40% da população mundial, 3,2 bilhões de pessoas, sofrem as consequências dessa degradação da terra, que afeta desproporcionalmente as comunidades rurais e os mais pobres. Além disso, apenas 0,5% da água da Terra é doce e utilizável, e as mudanças climáticas estão afetando perigosamente esse abastecimento. Estima-se que, até 2050, US$ 10 trilhões do produto interno bruto global podem ser perdidos se os serviços ecossistêmicos, incluindo a polinização e a regulação climática, continuarem a diminuir. Esses números refletem a complexidade dos desafios na implementação de políticas ambientais efetivas que possam subsidiar os planos nacionais de desenvolvimento.
A Terra precisa da nossa ajuda. As crises planetárias, e em particular as mudanças climáticas, foram chamadas pelo secretário-geral das Nações Unidas de “uma crise existencial para toda a família humana”. A boa notícia é que, por meio de ações conjuntas e compromisso com soluções baseadas na natureza, podemos não apenas restaurar ecossistemas degradados, mas também proteger nosso futuro coletivo.
Todos nós temos um papel fundamental a desempenhar no cuidado com o meio ambiente. Não podemos voltar no tempo, mas podemos agir agora: cultivar florestas, coletar água da chuva, investir em tecnologia e infraestrutura resilientes e adotar práticas de economia circular. Podemos mudar nossas ações do dia a dia para combater os desafios ambientais e promover um futuro mais sustentável.
Cada dólar investido na restauração do ecossistema, no processo de deter e reverter a degradação, pode gerar até US$ 30 em serviços ecossistêmicos, ajudando a alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Para se ter uma ideia, restaurar apenas 15% de terras em locais estratégicos poderia evitar 60% das extinções de espécies previstas.
Não somos apenas boomers, geração X, millennials, geração Z ou geração alfa. Somos a primeira geração a testemunhar os efeitos devastadores da degradação ambiental e a última que pode tomar medidas eficazes para combatê-la e alcançar as metas climáticas e de biodiversidade. Cabe a nós sermos a geração da restauração.
A principal mensagem do Dia Mundial do Meio Ambiente 2024 é “Nossa Terra. Nosso futuro”. Trata-se de um apelo aos governos, organizações multilaterais, grupos da sociedade civil, empresas, academia e cidadãos sobre seu papel em fazer as pazes com a natureza. O chamado para fazer parte da #GeraçãoRestauração é um lembrete do papel crucial que o Brasil desempenha no cenário ambiental global. Avancemos juntos, apoiados pela ciência e pela comunidade internacional, para enfrentar as adversidades e transformar o nosso futuro comum.
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REPRESENTANTE DO PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE (PNUMA) NO BRASIL