Opinião|Entre o rio e o mar vivem dois povos


A perspectiva de viver em constante guerra tira de israelenses e palestinos o que há de mais precioso para qualquer povo: o futuro

Por Manoela Miklos

A guerra entre Israel e Hamas completa um ano neste 7 de outubro com milhares de mortos e sem perspectiva de conclusão. Ao contrário: a guerra ganha novos contornos com a intensificação das hostilidades entre Israel e Hezbollah. Todos os judeus, em Israel e na diáspora, e os não judeus que desejam paz sabem que o fim da guerra só virá com negociação. Neste aniversário, os interessados na coexistência precisam fazer o que está ao seu alcance para que as partes em conflito cheguem a um acordo que gere obrigações ao Hamas, libertando os reféns, vivos e mortos, e abandonando a gramática do terror, e para Israel, pondo fim em sua operação militar cujo único êxito, hoje, é a realização do desejo de Benjamin Netanyahu de seguir no poder.

Netanyahu e Hamas têm insistido nessa espiral sem fim de hostilidades e o governo israelense, apesar dos apelos que correm o mundo, decidiu responder ao grupo Hezbollah dentro das fronteiras do Líbano. É bem verdade que o Hezbollah vinha atacando Israel desde 8 de outubro de 2023, mas é também verdade que dar o troco agora é sinal inconfundível de que Netanyahu não está tão interessado na diplomacia quanto gostaríamos.

O contexto se deteriora dia a dia. Rússia e China, que poderiam tentar influenciar os Estados que vivem sob seu guarda-chuva, não o fazem. Irã segue apoiando Hamas e Hezbollah, seus proxies, e não descarta entrar diretamente no conflito. E mais: se der Kamala Harris nas eleições norte-americanas, as relações com os EUA podem azedar. Se Netanyahu insistir apenas na estratégia militar ao invés de buscar saídas políticas através da diplomacia, essa será mais uma dentre as muitas guerras que houve e que ainda virão. O mundo precisa que essa seja a última guerra na região.

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Gershon Baskin, ativista que negociou a libertação do soldado israelense Gilad Shalit com o Hamas, em 2011, esteve recentemente no Brasil. Shalit foi mantido cativo por mais de cinco anos. A respeito das concessões necessárias que recheiam uma negociação, Baskin sempre repete: todo acordo é um mau acordo. Se é preciso negociar, é porque os dois lados, de certa forma, perderam. Mas as mesmas circunstâncias fazem com que qualquer acordo que cesse hostilidades seja um bom acordo, ambivalência com a qual devemos nos acostumar. O Hamas não tem qualquer vocação para a paz, os parceiros de Israel na construção de uma paz duradoura serão outros. Mas é com o Hamas que Israel deve conversar sobre a libertação dos reféns e a necessidade de um cessar-fogo – e já. A construção da paz depende da soltura dos reféns e da estabilidade que isso pode proporcionar.

Outra ideia com a qual devemos nos acostumar é que entre o rio e o mar vivem dois povos: 7 milhões de judeus e 7 milhões de palestinos. Precisamos que ambos convivam em paz. Só a negociação pode nos aproximar dessa realidade. Nenhum povo tem o direito de varrer outro do mapa. É preciso chegar a um acordo em Gaza e encontrar uma solução para o que se passa na Cisjordânia. O gênio da guerra total e sem fim, Netanyahu, interessado só em manter-se senhor absoluto da situação, precisa ser colocado de volta na garrafa. O Hamas deve ser freado. Precisamos de novas lideranças capazes de conduzir esses dois povos da condição de inimigos à condição de vizinhos.

A perspectiva de viver em constante guerra tira de israelenses e palestinos o que há de mais precioso para qualquer povo: o futuro. O projeto do Hamas, na contramão de seus slogans, deixa os palestinos mais distantes da autodeterminação. O que se passa em Israel não é muito diferente. Os protestos levam cada vez mais gente às ruas, jovens cogitam deixar o país e há notícias de que setores das Forças Armadas questionam o mando do Poder Executivo. Sim, os israelenses têm seu Estado. Mas seu governo tem colocado em risco sua legitimidade e representa, hoje, grande ameaça tanto para o projeto de um Estado palestino quanto para o projeto do Estado judeu.

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E nós, brasileiros? O que devemos fazer? Exportar paz e não importar o conflito. Demandar do nosso governo falas e ações que aproximem o Oriente Médio da paz. Garantir que nosso Estado desempenhe papel positivo junto à comunidade internacional na busca por um fim para a guerra. Lutar para que o Brasil cuide dos judeus brasileiros e preocupe-se com o antissemitismo. E não deixar que a guerra frature o campo democrático brasileiro.

A ativista Vivian Silver, feminista e pacifista canadense radicada em Israel que liderava a Women Wage Peace – uma das mais importantes ONGs do país –, foi uma das vítimas do 7 de Outubro. Ao comentar seu assassinato, um de seus filhos disse à imprensa que não apenas ele, mas todos os que desejam a paz haviam se tornado órfãos. E indagou: por que temos mais facilidade em aceitar a guerra do que a transigência que nos trará paz? Um ano após o 7 de Outubro e sua morte, a pergunta soa mais pertinente do que nunca. Que possamos, lá e cá, superar esse desafio e defender com ainda mais intensidade a solução de dois Estados, dobrando a aposta no diálogo.

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DOUTORA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS, É DIRETORA-EXECUTIVA DO INSTITUTO BRASIL-ISRAEL (IBI)

A guerra entre Israel e Hamas completa um ano neste 7 de outubro com milhares de mortos e sem perspectiva de conclusão. Ao contrário: a guerra ganha novos contornos com a intensificação das hostilidades entre Israel e Hezbollah. Todos os judeus, em Israel e na diáspora, e os não judeus que desejam paz sabem que o fim da guerra só virá com negociação. Neste aniversário, os interessados na coexistência precisam fazer o que está ao seu alcance para que as partes em conflito cheguem a um acordo que gere obrigações ao Hamas, libertando os reféns, vivos e mortos, e abandonando a gramática do terror, e para Israel, pondo fim em sua operação militar cujo único êxito, hoje, é a realização do desejo de Benjamin Netanyahu de seguir no poder.

Netanyahu e Hamas têm insistido nessa espiral sem fim de hostilidades e o governo israelense, apesar dos apelos que correm o mundo, decidiu responder ao grupo Hezbollah dentro das fronteiras do Líbano. É bem verdade que o Hezbollah vinha atacando Israel desde 8 de outubro de 2023, mas é também verdade que dar o troco agora é sinal inconfundível de que Netanyahu não está tão interessado na diplomacia quanto gostaríamos.

O contexto se deteriora dia a dia. Rússia e China, que poderiam tentar influenciar os Estados que vivem sob seu guarda-chuva, não o fazem. Irã segue apoiando Hamas e Hezbollah, seus proxies, e não descarta entrar diretamente no conflito. E mais: se der Kamala Harris nas eleições norte-americanas, as relações com os EUA podem azedar. Se Netanyahu insistir apenas na estratégia militar ao invés de buscar saídas políticas através da diplomacia, essa será mais uma dentre as muitas guerras que houve e que ainda virão. O mundo precisa que essa seja a última guerra na região.

Gershon Baskin, ativista que negociou a libertação do soldado israelense Gilad Shalit com o Hamas, em 2011, esteve recentemente no Brasil. Shalit foi mantido cativo por mais de cinco anos. A respeito das concessões necessárias que recheiam uma negociação, Baskin sempre repete: todo acordo é um mau acordo. Se é preciso negociar, é porque os dois lados, de certa forma, perderam. Mas as mesmas circunstâncias fazem com que qualquer acordo que cesse hostilidades seja um bom acordo, ambivalência com a qual devemos nos acostumar. O Hamas não tem qualquer vocação para a paz, os parceiros de Israel na construção de uma paz duradoura serão outros. Mas é com o Hamas que Israel deve conversar sobre a libertação dos reféns e a necessidade de um cessar-fogo – e já. A construção da paz depende da soltura dos reféns e da estabilidade que isso pode proporcionar.

Outra ideia com a qual devemos nos acostumar é que entre o rio e o mar vivem dois povos: 7 milhões de judeus e 7 milhões de palestinos. Precisamos que ambos convivam em paz. Só a negociação pode nos aproximar dessa realidade. Nenhum povo tem o direito de varrer outro do mapa. É preciso chegar a um acordo em Gaza e encontrar uma solução para o que se passa na Cisjordânia. O gênio da guerra total e sem fim, Netanyahu, interessado só em manter-se senhor absoluto da situação, precisa ser colocado de volta na garrafa. O Hamas deve ser freado. Precisamos de novas lideranças capazes de conduzir esses dois povos da condição de inimigos à condição de vizinhos.

A perspectiva de viver em constante guerra tira de israelenses e palestinos o que há de mais precioso para qualquer povo: o futuro. O projeto do Hamas, na contramão de seus slogans, deixa os palestinos mais distantes da autodeterminação. O que se passa em Israel não é muito diferente. Os protestos levam cada vez mais gente às ruas, jovens cogitam deixar o país e há notícias de que setores das Forças Armadas questionam o mando do Poder Executivo. Sim, os israelenses têm seu Estado. Mas seu governo tem colocado em risco sua legitimidade e representa, hoje, grande ameaça tanto para o projeto de um Estado palestino quanto para o projeto do Estado judeu.

E nós, brasileiros? O que devemos fazer? Exportar paz e não importar o conflito. Demandar do nosso governo falas e ações que aproximem o Oriente Médio da paz. Garantir que nosso Estado desempenhe papel positivo junto à comunidade internacional na busca por um fim para a guerra. Lutar para que o Brasil cuide dos judeus brasileiros e preocupe-se com o antissemitismo. E não deixar que a guerra frature o campo democrático brasileiro.

A ativista Vivian Silver, feminista e pacifista canadense radicada em Israel que liderava a Women Wage Peace – uma das mais importantes ONGs do país –, foi uma das vítimas do 7 de Outubro. Ao comentar seu assassinato, um de seus filhos disse à imprensa que não apenas ele, mas todos os que desejam a paz haviam se tornado órfãos. E indagou: por que temos mais facilidade em aceitar a guerra do que a transigência que nos trará paz? Um ano após o 7 de Outubro e sua morte, a pergunta soa mais pertinente do que nunca. Que possamos, lá e cá, superar esse desafio e defender com ainda mais intensidade a solução de dois Estados, dobrando a aposta no diálogo.

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DOUTORA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS, É DIRETORA-EXECUTIVA DO INSTITUTO BRASIL-ISRAEL (IBI)

A guerra entre Israel e Hamas completa um ano neste 7 de outubro com milhares de mortos e sem perspectiva de conclusão. Ao contrário: a guerra ganha novos contornos com a intensificação das hostilidades entre Israel e Hezbollah. Todos os judeus, em Israel e na diáspora, e os não judeus que desejam paz sabem que o fim da guerra só virá com negociação. Neste aniversário, os interessados na coexistência precisam fazer o que está ao seu alcance para que as partes em conflito cheguem a um acordo que gere obrigações ao Hamas, libertando os reféns, vivos e mortos, e abandonando a gramática do terror, e para Israel, pondo fim em sua operação militar cujo único êxito, hoje, é a realização do desejo de Benjamin Netanyahu de seguir no poder.

Netanyahu e Hamas têm insistido nessa espiral sem fim de hostilidades e o governo israelense, apesar dos apelos que correm o mundo, decidiu responder ao grupo Hezbollah dentro das fronteiras do Líbano. É bem verdade que o Hezbollah vinha atacando Israel desde 8 de outubro de 2023, mas é também verdade que dar o troco agora é sinal inconfundível de que Netanyahu não está tão interessado na diplomacia quanto gostaríamos.

O contexto se deteriora dia a dia. Rússia e China, que poderiam tentar influenciar os Estados que vivem sob seu guarda-chuva, não o fazem. Irã segue apoiando Hamas e Hezbollah, seus proxies, e não descarta entrar diretamente no conflito. E mais: se der Kamala Harris nas eleições norte-americanas, as relações com os EUA podem azedar. Se Netanyahu insistir apenas na estratégia militar ao invés de buscar saídas políticas através da diplomacia, essa será mais uma dentre as muitas guerras que houve e que ainda virão. O mundo precisa que essa seja a última guerra na região.

Gershon Baskin, ativista que negociou a libertação do soldado israelense Gilad Shalit com o Hamas, em 2011, esteve recentemente no Brasil. Shalit foi mantido cativo por mais de cinco anos. A respeito das concessões necessárias que recheiam uma negociação, Baskin sempre repete: todo acordo é um mau acordo. Se é preciso negociar, é porque os dois lados, de certa forma, perderam. Mas as mesmas circunstâncias fazem com que qualquer acordo que cesse hostilidades seja um bom acordo, ambivalência com a qual devemos nos acostumar. O Hamas não tem qualquer vocação para a paz, os parceiros de Israel na construção de uma paz duradoura serão outros. Mas é com o Hamas que Israel deve conversar sobre a libertação dos reféns e a necessidade de um cessar-fogo – e já. A construção da paz depende da soltura dos reféns e da estabilidade que isso pode proporcionar.

Outra ideia com a qual devemos nos acostumar é que entre o rio e o mar vivem dois povos: 7 milhões de judeus e 7 milhões de palestinos. Precisamos que ambos convivam em paz. Só a negociação pode nos aproximar dessa realidade. Nenhum povo tem o direito de varrer outro do mapa. É preciso chegar a um acordo em Gaza e encontrar uma solução para o que se passa na Cisjordânia. O gênio da guerra total e sem fim, Netanyahu, interessado só em manter-se senhor absoluto da situação, precisa ser colocado de volta na garrafa. O Hamas deve ser freado. Precisamos de novas lideranças capazes de conduzir esses dois povos da condição de inimigos à condição de vizinhos.

A perspectiva de viver em constante guerra tira de israelenses e palestinos o que há de mais precioso para qualquer povo: o futuro. O projeto do Hamas, na contramão de seus slogans, deixa os palestinos mais distantes da autodeterminação. O que se passa em Israel não é muito diferente. Os protestos levam cada vez mais gente às ruas, jovens cogitam deixar o país e há notícias de que setores das Forças Armadas questionam o mando do Poder Executivo. Sim, os israelenses têm seu Estado. Mas seu governo tem colocado em risco sua legitimidade e representa, hoje, grande ameaça tanto para o projeto de um Estado palestino quanto para o projeto do Estado judeu.

E nós, brasileiros? O que devemos fazer? Exportar paz e não importar o conflito. Demandar do nosso governo falas e ações que aproximem o Oriente Médio da paz. Garantir que nosso Estado desempenhe papel positivo junto à comunidade internacional na busca por um fim para a guerra. Lutar para que o Brasil cuide dos judeus brasileiros e preocupe-se com o antissemitismo. E não deixar que a guerra frature o campo democrático brasileiro.

A ativista Vivian Silver, feminista e pacifista canadense radicada em Israel que liderava a Women Wage Peace – uma das mais importantes ONGs do país –, foi uma das vítimas do 7 de Outubro. Ao comentar seu assassinato, um de seus filhos disse à imprensa que não apenas ele, mas todos os que desejam a paz haviam se tornado órfãos. E indagou: por que temos mais facilidade em aceitar a guerra do que a transigência que nos trará paz? Um ano após o 7 de Outubro e sua morte, a pergunta soa mais pertinente do que nunca. Que possamos, lá e cá, superar esse desafio e defender com ainda mais intensidade a solução de dois Estados, dobrando a aposta no diálogo.

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DOUTORA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS, É DIRETORA-EXECUTIVA DO INSTITUTO BRASIL-ISRAEL (IBI)

A guerra entre Israel e Hamas completa um ano neste 7 de outubro com milhares de mortos e sem perspectiva de conclusão. Ao contrário: a guerra ganha novos contornos com a intensificação das hostilidades entre Israel e Hezbollah. Todos os judeus, em Israel e na diáspora, e os não judeus que desejam paz sabem que o fim da guerra só virá com negociação. Neste aniversário, os interessados na coexistência precisam fazer o que está ao seu alcance para que as partes em conflito cheguem a um acordo que gere obrigações ao Hamas, libertando os reféns, vivos e mortos, e abandonando a gramática do terror, e para Israel, pondo fim em sua operação militar cujo único êxito, hoje, é a realização do desejo de Benjamin Netanyahu de seguir no poder.

Netanyahu e Hamas têm insistido nessa espiral sem fim de hostilidades e o governo israelense, apesar dos apelos que correm o mundo, decidiu responder ao grupo Hezbollah dentro das fronteiras do Líbano. É bem verdade que o Hezbollah vinha atacando Israel desde 8 de outubro de 2023, mas é também verdade que dar o troco agora é sinal inconfundível de que Netanyahu não está tão interessado na diplomacia quanto gostaríamos.

O contexto se deteriora dia a dia. Rússia e China, que poderiam tentar influenciar os Estados que vivem sob seu guarda-chuva, não o fazem. Irã segue apoiando Hamas e Hezbollah, seus proxies, e não descarta entrar diretamente no conflito. E mais: se der Kamala Harris nas eleições norte-americanas, as relações com os EUA podem azedar. Se Netanyahu insistir apenas na estratégia militar ao invés de buscar saídas políticas através da diplomacia, essa será mais uma dentre as muitas guerras que houve e que ainda virão. O mundo precisa que essa seja a última guerra na região.

Gershon Baskin, ativista que negociou a libertação do soldado israelense Gilad Shalit com o Hamas, em 2011, esteve recentemente no Brasil. Shalit foi mantido cativo por mais de cinco anos. A respeito das concessões necessárias que recheiam uma negociação, Baskin sempre repete: todo acordo é um mau acordo. Se é preciso negociar, é porque os dois lados, de certa forma, perderam. Mas as mesmas circunstâncias fazem com que qualquer acordo que cesse hostilidades seja um bom acordo, ambivalência com a qual devemos nos acostumar. O Hamas não tem qualquer vocação para a paz, os parceiros de Israel na construção de uma paz duradoura serão outros. Mas é com o Hamas que Israel deve conversar sobre a libertação dos reféns e a necessidade de um cessar-fogo – e já. A construção da paz depende da soltura dos reféns e da estabilidade que isso pode proporcionar.

Outra ideia com a qual devemos nos acostumar é que entre o rio e o mar vivem dois povos: 7 milhões de judeus e 7 milhões de palestinos. Precisamos que ambos convivam em paz. Só a negociação pode nos aproximar dessa realidade. Nenhum povo tem o direito de varrer outro do mapa. É preciso chegar a um acordo em Gaza e encontrar uma solução para o que se passa na Cisjordânia. O gênio da guerra total e sem fim, Netanyahu, interessado só em manter-se senhor absoluto da situação, precisa ser colocado de volta na garrafa. O Hamas deve ser freado. Precisamos de novas lideranças capazes de conduzir esses dois povos da condição de inimigos à condição de vizinhos.

A perspectiva de viver em constante guerra tira de israelenses e palestinos o que há de mais precioso para qualquer povo: o futuro. O projeto do Hamas, na contramão de seus slogans, deixa os palestinos mais distantes da autodeterminação. O que se passa em Israel não é muito diferente. Os protestos levam cada vez mais gente às ruas, jovens cogitam deixar o país e há notícias de que setores das Forças Armadas questionam o mando do Poder Executivo. Sim, os israelenses têm seu Estado. Mas seu governo tem colocado em risco sua legitimidade e representa, hoje, grande ameaça tanto para o projeto de um Estado palestino quanto para o projeto do Estado judeu.

E nós, brasileiros? O que devemos fazer? Exportar paz e não importar o conflito. Demandar do nosso governo falas e ações que aproximem o Oriente Médio da paz. Garantir que nosso Estado desempenhe papel positivo junto à comunidade internacional na busca por um fim para a guerra. Lutar para que o Brasil cuide dos judeus brasileiros e preocupe-se com o antissemitismo. E não deixar que a guerra frature o campo democrático brasileiro.

A ativista Vivian Silver, feminista e pacifista canadense radicada em Israel que liderava a Women Wage Peace – uma das mais importantes ONGs do país –, foi uma das vítimas do 7 de Outubro. Ao comentar seu assassinato, um de seus filhos disse à imprensa que não apenas ele, mas todos os que desejam a paz haviam se tornado órfãos. E indagou: por que temos mais facilidade em aceitar a guerra do que a transigência que nos trará paz? Um ano após o 7 de Outubro e sua morte, a pergunta soa mais pertinente do que nunca. Que possamos, lá e cá, superar esse desafio e defender com ainda mais intensidade a solução de dois Estados, dobrando a aposta no diálogo.

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DOUTORA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS, É DIRETORA-EXECUTIVA DO INSTITUTO BRASIL-ISRAEL (IBI)

Opinião por Manoela Miklos

Doutora em Relações Internacionais, é diretora-executiva do Instituto Brasil-Israel (IBI)

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