Opinião|Esquerda e extrema esquerda


Se antes o pensamento era calado pela disciplina partidária bolchevique, agora o é pelos critérios arbitrários da aparência

Por Denis Lerrer Rosenfield

Houve época em que o PT, em debates sobre sua identidade, perguntava-se se o seu caminho seria enveredar rumo à social-democracia ou permanecer um partido de esquerda bolchevique, com algum verniz de democracia. No caso da primeira alternativa, o caminho seria o de uma social-democracia tipo alemã, que abandonou o marxismo, elegeu a democracia e adotou uma economia de mercado. Grandes políticos como Willy Brandt ou pensadores como Eduard Bernstein poderiam ter sido guias de ação e reflexão. Na segunda alternativa, deveria enveredar pela via revolucionária, com o recurso à violência, embora, sem muita convicção, tenha optado pela via democrática, a de conquista do poder para, depois, abolir as condições mesmas de exercício da democracia. Hugo Chávez seria um exemplo perto de nós.

Acontece que, atualmente, Lula da Silva e o PT estão, cada vez mais, acolhendo uma outra linha, a do identitarismo, com certa coloração social. A ideologia não seria mais somente a da luta de classes, apesar de manter como eixo de sua ação o combate ao imperialismo norte-americano e ao capitalismo. Agrega, agora, a cor da pele e o gênero como critérios de conhecimento e de ocupação de posições universitárias, empresariais e outras, relegando o mérito como se fosse uma questão sem importância. Frise-se que se trata de uma importação do centro do capitalismo, a de universidades americanas, em movimento típico de uma mentalidade colonizada. Se antes o pensamento era calado pela disciplina partidária bolchevique, agora o é pelos critérios arbitrários da aparência.

Nada de concreto, de positivo, é, na verdade, proposto, mas suas determinações são basicamente negativas: antifascismo, anti-Ocidente, antissemitismo e antidemocracia. A extrema esquerda toma ideologicamente o lugar da esquerda.

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Antifascismo. Na ausência de uma identidade própria, criou-se noção de uma luta contra o fascismo. Uma esquerda sem nenhuma aderência à democracia se erige em sua representante. Algo semelhante, como observei em artigo anterior, ocorreu na França, com a o partido “França Insubmissa”, assimilando a direita à extrema direita para legitimar-se. A ideologia de extrema direita vem a funcionar como uma espécie de espantalho, visando a justificar qualquer arbitrariedade. Em nosso caso, embora Jair Bolsonaro seja inelegível, Lula e o PT tudo fazem para que permaneça como uma alternativa eleitoral. Se Bolsonaro não existisse, Lula precisaria criá-lo.

Anti-Ocidente. Embora a esquerda seja eminentemente um produto da civilização ocidental, inicialmente apresentada como um anseio legítimo de justiça social, progressivamente adotou posições autoritárias, logo totalitárias. Abandonou os valores propriamente ocidentais, como os da justiça, usurpada por um partido cuja função seria a de impor pela violência suas ideias coletivistas, sufocando a iniciativa individual, a liberdade de escolha e a economia de mercado. A liberdade foi a maior vítima, desaparecendo com ela qualquer possibilidade de livre pensamento e de ação em seus mais distintos níveis, inclusive a de imprensa e comunicação.

Antissemitismo. Sobrou agora como opção antiocidental o terror islâmico. Se a figura do judeu foi durante muito tempo o bode expiatório do Ocidente, nutrindo posições de direita e conservadoras, atualmente tornou-se o norte da esquerda e da extrema esquerda, unidas. Chama a atenção como a recrudescência do antissemitismo tem como orientação o apoio ao Hamas, ao Irã e, de uma forma geral, ao que se poderia denominar de eixo do mal, que insiste em se apresentar como um eixo da resistência. Aliás, “resistência” contra qualquer coisa tida por ocidental, em particular a igualdade de gênero e a liberdade sexual. Note-se como quaisquer fake news do Hamas são tidas por verdades incontestes. Em vez de Lula comportar-se como uma espécie de porta-voz do Hamas, alguém poderia perguntar-lhe quantos terroristas, “combatentes”, foram eliminados na atual guerra de Gaza. Nem entram na contabilidade.

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Antidemocracia. Para a esquerda, a democracia cessou de ter qualquer valor universal, tendo se tornado um mero instrumento de conquista do poder. O escândalo da contemporização de Lula e do PT com o governo Maduro e, anteriormente, com o governo Chávez, é um exemplo disso. Nosso presidente chegou a dizer que a Venezuela tinha “excesso de democracia”. Ora, vejam só, um regime que põe o Judiciário no cabresto, elimina a representação propriamente legislativa, suprime a liberdade de expressão é tomado como exemplar. E a esquerda silencia e apoia, fazendo, a contragosto, algumas pequenas críticas pontuais, voltadas para a opinião pública interna. Nicolás Maduro prometeu um banho de sangue e segue à risca a sua palavra, assassinando dezenas e prendendo milhares.

São essas ideias que Lula e o PT estão propondo para o Brasil?

*

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PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS. E-MAIL: DENISROSENFIELD@TERRA.COM.BR

Houve época em que o PT, em debates sobre sua identidade, perguntava-se se o seu caminho seria enveredar rumo à social-democracia ou permanecer um partido de esquerda bolchevique, com algum verniz de democracia. No caso da primeira alternativa, o caminho seria o de uma social-democracia tipo alemã, que abandonou o marxismo, elegeu a democracia e adotou uma economia de mercado. Grandes políticos como Willy Brandt ou pensadores como Eduard Bernstein poderiam ter sido guias de ação e reflexão. Na segunda alternativa, deveria enveredar pela via revolucionária, com o recurso à violência, embora, sem muita convicção, tenha optado pela via democrática, a de conquista do poder para, depois, abolir as condições mesmas de exercício da democracia. Hugo Chávez seria um exemplo perto de nós.

Acontece que, atualmente, Lula da Silva e o PT estão, cada vez mais, acolhendo uma outra linha, a do identitarismo, com certa coloração social. A ideologia não seria mais somente a da luta de classes, apesar de manter como eixo de sua ação o combate ao imperialismo norte-americano e ao capitalismo. Agrega, agora, a cor da pele e o gênero como critérios de conhecimento e de ocupação de posições universitárias, empresariais e outras, relegando o mérito como se fosse uma questão sem importância. Frise-se que se trata de uma importação do centro do capitalismo, a de universidades americanas, em movimento típico de uma mentalidade colonizada. Se antes o pensamento era calado pela disciplina partidária bolchevique, agora o é pelos critérios arbitrários da aparência.

Nada de concreto, de positivo, é, na verdade, proposto, mas suas determinações são basicamente negativas: antifascismo, anti-Ocidente, antissemitismo e antidemocracia. A extrema esquerda toma ideologicamente o lugar da esquerda.

Antifascismo. Na ausência de uma identidade própria, criou-se noção de uma luta contra o fascismo. Uma esquerda sem nenhuma aderência à democracia se erige em sua representante. Algo semelhante, como observei em artigo anterior, ocorreu na França, com a o partido “França Insubmissa”, assimilando a direita à extrema direita para legitimar-se. A ideologia de extrema direita vem a funcionar como uma espécie de espantalho, visando a justificar qualquer arbitrariedade. Em nosso caso, embora Jair Bolsonaro seja inelegível, Lula e o PT tudo fazem para que permaneça como uma alternativa eleitoral. Se Bolsonaro não existisse, Lula precisaria criá-lo.

Anti-Ocidente. Embora a esquerda seja eminentemente um produto da civilização ocidental, inicialmente apresentada como um anseio legítimo de justiça social, progressivamente adotou posições autoritárias, logo totalitárias. Abandonou os valores propriamente ocidentais, como os da justiça, usurpada por um partido cuja função seria a de impor pela violência suas ideias coletivistas, sufocando a iniciativa individual, a liberdade de escolha e a economia de mercado. A liberdade foi a maior vítima, desaparecendo com ela qualquer possibilidade de livre pensamento e de ação em seus mais distintos níveis, inclusive a de imprensa e comunicação.

Antissemitismo. Sobrou agora como opção antiocidental o terror islâmico. Se a figura do judeu foi durante muito tempo o bode expiatório do Ocidente, nutrindo posições de direita e conservadoras, atualmente tornou-se o norte da esquerda e da extrema esquerda, unidas. Chama a atenção como a recrudescência do antissemitismo tem como orientação o apoio ao Hamas, ao Irã e, de uma forma geral, ao que se poderia denominar de eixo do mal, que insiste em se apresentar como um eixo da resistência. Aliás, “resistência” contra qualquer coisa tida por ocidental, em particular a igualdade de gênero e a liberdade sexual. Note-se como quaisquer fake news do Hamas são tidas por verdades incontestes. Em vez de Lula comportar-se como uma espécie de porta-voz do Hamas, alguém poderia perguntar-lhe quantos terroristas, “combatentes”, foram eliminados na atual guerra de Gaza. Nem entram na contabilidade.

Antidemocracia. Para a esquerda, a democracia cessou de ter qualquer valor universal, tendo se tornado um mero instrumento de conquista do poder. O escândalo da contemporização de Lula e do PT com o governo Maduro e, anteriormente, com o governo Chávez, é um exemplo disso. Nosso presidente chegou a dizer que a Venezuela tinha “excesso de democracia”. Ora, vejam só, um regime que põe o Judiciário no cabresto, elimina a representação propriamente legislativa, suprime a liberdade de expressão é tomado como exemplar. E a esquerda silencia e apoia, fazendo, a contragosto, algumas pequenas críticas pontuais, voltadas para a opinião pública interna. Nicolás Maduro prometeu um banho de sangue e segue à risca a sua palavra, assassinando dezenas e prendendo milhares.

São essas ideias que Lula e o PT estão propondo para o Brasil?

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PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS. E-MAIL: DENISROSENFIELD@TERRA.COM.BR

Houve época em que o PT, em debates sobre sua identidade, perguntava-se se o seu caminho seria enveredar rumo à social-democracia ou permanecer um partido de esquerda bolchevique, com algum verniz de democracia. No caso da primeira alternativa, o caminho seria o de uma social-democracia tipo alemã, que abandonou o marxismo, elegeu a democracia e adotou uma economia de mercado. Grandes políticos como Willy Brandt ou pensadores como Eduard Bernstein poderiam ter sido guias de ação e reflexão. Na segunda alternativa, deveria enveredar pela via revolucionária, com o recurso à violência, embora, sem muita convicção, tenha optado pela via democrática, a de conquista do poder para, depois, abolir as condições mesmas de exercício da democracia. Hugo Chávez seria um exemplo perto de nós.

Acontece que, atualmente, Lula da Silva e o PT estão, cada vez mais, acolhendo uma outra linha, a do identitarismo, com certa coloração social. A ideologia não seria mais somente a da luta de classes, apesar de manter como eixo de sua ação o combate ao imperialismo norte-americano e ao capitalismo. Agrega, agora, a cor da pele e o gênero como critérios de conhecimento e de ocupação de posições universitárias, empresariais e outras, relegando o mérito como se fosse uma questão sem importância. Frise-se que se trata de uma importação do centro do capitalismo, a de universidades americanas, em movimento típico de uma mentalidade colonizada. Se antes o pensamento era calado pela disciplina partidária bolchevique, agora o é pelos critérios arbitrários da aparência.

Nada de concreto, de positivo, é, na verdade, proposto, mas suas determinações são basicamente negativas: antifascismo, anti-Ocidente, antissemitismo e antidemocracia. A extrema esquerda toma ideologicamente o lugar da esquerda.

Antifascismo. Na ausência de uma identidade própria, criou-se noção de uma luta contra o fascismo. Uma esquerda sem nenhuma aderência à democracia se erige em sua representante. Algo semelhante, como observei em artigo anterior, ocorreu na França, com a o partido “França Insubmissa”, assimilando a direita à extrema direita para legitimar-se. A ideologia de extrema direita vem a funcionar como uma espécie de espantalho, visando a justificar qualquer arbitrariedade. Em nosso caso, embora Jair Bolsonaro seja inelegível, Lula e o PT tudo fazem para que permaneça como uma alternativa eleitoral. Se Bolsonaro não existisse, Lula precisaria criá-lo.

Anti-Ocidente. Embora a esquerda seja eminentemente um produto da civilização ocidental, inicialmente apresentada como um anseio legítimo de justiça social, progressivamente adotou posições autoritárias, logo totalitárias. Abandonou os valores propriamente ocidentais, como os da justiça, usurpada por um partido cuja função seria a de impor pela violência suas ideias coletivistas, sufocando a iniciativa individual, a liberdade de escolha e a economia de mercado. A liberdade foi a maior vítima, desaparecendo com ela qualquer possibilidade de livre pensamento e de ação em seus mais distintos níveis, inclusive a de imprensa e comunicação.

Antissemitismo. Sobrou agora como opção antiocidental o terror islâmico. Se a figura do judeu foi durante muito tempo o bode expiatório do Ocidente, nutrindo posições de direita e conservadoras, atualmente tornou-se o norte da esquerda e da extrema esquerda, unidas. Chama a atenção como a recrudescência do antissemitismo tem como orientação o apoio ao Hamas, ao Irã e, de uma forma geral, ao que se poderia denominar de eixo do mal, que insiste em se apresentar como um eixo da resistência. Aliás, “resistência” contra qualquer coisa tida por ocidental, em particular a igualdade de gênero e a liberdade sexual. Note-se como quaisquer fake news do Hamas são tidas por verdades incontestes. Em vez de Lula comportar-se como uma espécie de porta-voz do Hamas, alguém poderia perguntar-lhe quantos terroristas, “combatentes”, foram eliminados na atual guerra de Gaza. Nem entram na contabilidade.

Antidemocracia. Para a esquerda, a democracia cessou de ter qualquer valor universal, tendo se tornado um mero instrumento de conquista do poder. O escândalo da contemporização de Lula e do PT com o governo Maduro e, anteriormente, com o governo Chávez, é um exemplo disso. Nosso presidente chegou a dizer que a Venezuela tinha “excesso de democracia”. Ora, vejam só, um regime que põe o Judiciário no cabresto, elimina a representação propriamente legislativa, suprime a liberdade de expressão é tomado como exemplar. E a esquerda silencia e apoia, fazendo, a contragosto, algumas pequenas críticas pontuais, voltadas para a opinião pública interna. Nicolás Maduro prometeu um banho de sangue e segue à risca a sua palavra, assassinando dezenas e prendendo milhares.

São essas ideias que Lula e o PT estão propondo para o Brasil?

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Houve época em que o PT, em debates sobre sua identidade, perguntava-se se o seu caminho seria enveredar rumo à social-democracia ou permanecer um partido de esquerda bolchevique, com algum verniz de democracia. No caso da primeira alternativa, o caminho seria o de uma social-democracia tipo alemã, que abandonou o marxismo, elegeu a democracia e adotou uma economia de mercado. Grandes políticos como Willy Brandt ou pensadores como Eduard Bernstein poderiam ter sido guias de ação e reflexão. Na segunda alternativa, deveria enveredar pela via revolucionária, com o recurso à violência, embora, sem muita convicção, tenha optado pela via democrática, a de conquista do poder para, depois, abolir as condições mesmas de exercício da democracia. Hugo Chávez seria um exemplo perto de nós.

Acontece que, atualmente, Lula da Silva e o PT estão, cada vez mais, acolhendo uma outra linha, a do identitarismo, com certa coloração social. A ideologia não seria mais somente a da luta de classes, apesar de manter como eixo de sua ação o combate ao imperialismo norte-americano e ao capitalismo. Agrega, agora, a cor da pele e o gênero como critérios de conhecimento e de ocupação de posições universitárias, empresariais e outras, relegando o mérito como se fosse uma questão sem importância. Frise-se que se trata de uma importação do centro do capitalismo, a de universidades americanas, em movimento típico de uma mentalidade colonizada. Se antes o pensamento era calado pela disciplina partidária bolchevique, agora o é pelos critérios arbitrários da aparência.

Nada de concreto, de positivo, é, na verdade, proposto, mas suas determinações são basicamente negativas: antifascismo, anti-Ocidente, antissemitismo e antidemocracia. A extrema esquerda toma ideologicamente o lugar da esquerda.

Antifascismo. Na ausência de uma identidade própria, criou-se noção de uma luta contra o fascismo. Uma esquerda sem nenhuma aderência à democracia se erige em sua representante. Algo semelhante, como observei em artigo anterior, ocorreu na França, com a o partido “França Insubmissa”, assimilando a direita à extrema direita para legitimar-se. A ideologia de extrema direita vem a funcionar como uma espécie de espantalho, visando a justificar qualquer arbitrariedade. Em nosso caso, embora Jair Bolsonaro seja inelegível, Lula e o PT tudo fazem para que permaneça como uma alternativa eleitoral. Se Bolsonaro não existisse, Lula precisaria criá-lo.

Anti-Ocidente. Embora a esquerda seja eminentemente um produto da civilização ocidental, inicialmente apresentada como um anseio legítimo de justiça social, progressivamente adotou posições autoritárias, logo totalitárias. Abandonou os valores propriamente ocidentais, como os da justiça, usurpada por um partido cuja função seria a de impor pela violência suas ideias coletivistas, sufocando a iniciativa individual, a liberdade de escolha e a economia de mercado. A liberdade foi a maior vítima, desaparecendo com ela qualquer possibilidade de livre pensamento e de ação em seus mais distintos níveis, inclusive a de imprensa e comunicação.

Antissemitismo. Sobrou agora como opção antiocidental o terror islâmico. Se a figura do judeu foi durante muito tempo o bode expiatório do Ocidente, nutrindo posições de direita e conservadoras, atualmente tornou-se o norte da esquerda e da extrema esquerda, unidas. Chama a atenção como a recrudescência do antissemitismo tem como orientação o apoio ao Hamas, ao Irã e, de uma forma geral, ao que se poderia denominar de eixo do mal, que insiste em se apresentar como um eixo da resistência. Aliás, “resistência” contra qualquer coisa tida por ocidental, em particular a igualdade de gênero e a liberdade sexual. Note-se como quaisquer fake news do Hamas são tidas por verdades incontestes. Em vez de Lula comportar-se como uma espécie de porta-voz do Hamas, alguém poderia perguntar-lhe quantos terroristas, “combatentes”, foram eliminados na atual guerra de Gaza. Nem entram na contabilidade.

Antidemocracia. Para a esquerda, a democracia cessou de ter qualquer valor universal, tendo se tornado um mero instrumento de conquista do poder. O escândalo da contemporização de Lula e do PT com o governo Maduro e, anteriormente, com o governo Chávez, é um exemplo disso. Nosso presidente chegou a dizer que a Venezuela tinha “excesso de democracia”. Ora, vejam só, um regime que põe o Judiciário no cabresto, elimina a representação propriamente legislativa, suprime a liberdade de expressão é tomado como exemplar. E a esquerda silencia e apoia, fazendo, a contragosto, algumas pequenas críticas pontuais, voltadas para a opinião pública interna. Nicolás Maduro prometeu um banho de sangue e segue à risca a sua palavra, assassinando dezenas e prendendo milhares.

São essas ideias que Lula e o PT estão propondo para o Brasil?

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PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS. E-MAIL: DENISROSENFIELD@TERRA.COM.BR

Houve época em que o PT, em debates sobre sua identidade, perguntava-se se o seu caminho seria enveredar rumo à social-democracia ou permanecer um partido de esquerda bolchevique, com algum verniz de democracia. No caso da primeira alternativa, o caminho seria o de uma social-democracia tipo alemã, que abandonou o marxismo, elegeu a democracia e adotou uma economia de mercado. Grandes políticos como Willy Brandt ou pensadores como Eduard Bernstein poderiam ter sido guias de ação e reflexão. Na segunda alternativa, deveria enveredar pela via revolucionária, com o recurso à violência, embora, sem muita convicção, tenha optado pela via democrática, a de conquista do poder para, depois, abolir as condições mesmas de exercício da democracia. Hugo Chávez seria um exemplo perto de nós.

Acontece que, atualmente, Lula da Silva e o PT estão, cada vez mais, acolhendo uma outra linha, a do identitarismo, com certa coloração social. A ideologia não seria mais somente a da luta de classes, apesar de manter como eixo de sua ação o combate ao imperialismo norte-americano e ao capitalismo. Agrega, agora, a cor da pele e o gênero como critérios de conhecimento e de ocupação de posições universitárias, empresariais e outras, relegando o mérito como se fosse uma questão sem importância. Frise-se que se trata de uma importação do centro do capitalismo, a de universidades americanas, em movimento típico de uma mentalidade colonizada. Se antes o pensamento era calado pela disciplina partidária bolchevique, agora o é pelos critérios arbitrários da aparência.

Nada de concreto, de positivo, é, na verdade, proposto, mas suas determinações são basicamente negativas: antifascismo, anti-Ocidente, antissemitismo e antidemocracia. A extrema esquerda toma ideologicamente o lugar da esquerda.

Antifascismo. Na ausência de uma identidade própria, criou-se noção de uma luta contra o fascismo. Uma esquerda sem nenhuma aderência à democracia se erige em sua representante. Algo semelhante, como observei em artigo anterior, ocorreu na França, com a o partido “França Insubmissa”, assimilando a direita à extrema direita para legitimar-se. A ideologia de extrema direita vem a funcionar como uma espécie de espantalho, visando a justificar qualquer arbitrariedade. Em nosso caso, embora Jair Bolsonaro seja inelegível, Lula e o PT tudo fazem para que permaneça como uma alternativa eleitoral. Se Bolsonaro não existisse, Lula precisaria criá-lo.

Anti-Ocidente. Embora a esquerda seja eminentemente um produto da civilização ocidental, inicialmente apresentada como um anseio legítimo de justiça social, progressivamente adotou posições autoritárias, logo totalitárias. Abandonou os valores propriamente ocidentais, como os da justiça, usurpada por um partido cuja função seria a de impor pela violência suas ideias coletivistas, sufocando a iniciativa individual, a liberdade de escolha e a economia de mercado. A liberdade foi a maior vítima, desaparecendo com ela qualquer possibilidade de livre pensamento e de ação em seus mais distintos níveis, inclusive a de imprensa e comunicação.

Antissemitismo. Sobrou agora como opção antiocidental o terror islâmico. Se a figura do judeu foi durante muito tempo o bode expiatório do Ocidente, nutrindo posições de direita e conservadoras, atualmente tornou-se o norte da esquerda e da extrema esquerda, unidas. Chama a atenção como a recrudescência do antissemitismo tem como orientação o apoio ao Hamas, ao Irã e, de uma forma geral, ao que se poderia denominar de eixo do mal, que insiste em se apresentar como um eixo da resistência. Aliás, “resistência” contra qualquer coisa tida por ocidental, em particular a igualdade de gênero e a liberdade sexual. Note-se como quaisquer fake news do Hamas são tidas por verdades incontestes. Em vez de Lula comportar-se como uma espécie de porta-voz do Hamas, alguém poderia perguntar-lhe quantos terroristas, “combatentes”, foram eliminados na atual guerra de Gaza. Nem entram na contabilidade.

Antidemocracia. Para a esquerda, a democracia cessou de ter qualquer valor universal, tendo se tornado um mero instrumento de conquista do poder. O escândalo da contemporização de Lula e do PT com o governo Maduro e, anteriormente, com o governo Chávez, é um exemplo disso. Nosso presidente chegou a dizer que a Venezuela tinha “excesso de democracia”. Ora, vejam só, um regime que põe o Judiciário no cabresto, elimina a representação propriamente legislativa, suprime a liberdade de expressão é tomado como exemplar. E a esquerda silencia e apoia, fazendo, a contragosto, algumas pequenas críticas pontuais, voltadas para a opinião pública interna. Nicolás Maduro prometeu um banho de sangue e segue à risca a sua palavra, assassinando dezenas e prendendo milhares.

São essas ideias que Lula e o PT estão propondo para o Brasil?

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Opinião por Denis Lerrer Rosenfield

Professor de Filosofia na UFRGS, Denis Lerrer Rosenfield escreve quinzenalmente na seção Espaço Aberto

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