Opinião|Hamas, inimigos da paz e dos palestinos


Luta do Hamas não é por terras, mas por Alá, e os judeus são seus inimigos por serem judeus – quer dizer, infiéis, assim como cristãos, ateus e nações ocidentais

Por Marcos Knobel e André Lajst

Nas ruas de Hainur há mais lixo do que asfalto. Em pequenas casas, há pouco espaço e muita gente. Na de Mohamed Bouazizi, desde a morte do pai, eram nove. Isso até 17 de dezembro de 2010, quando passaram a ser oito – e essa pequena alteração do cotidiano de Sidi Bouzid, uma cidade perdida no meio da Tunísia que quase ninguém conhecia, fez muito barulho no mundo árabe.

Mohamed, que vendia fruta numa praça para levar comida para a mãe e os irmãos, foi roubado, insultado e espancado pela polícia mais uma vez. E decidiu que seria a última. Comprou gasolina e ateou fogo em si mesmo na frente da prefeitura. Morreu dias depois e milhares foram às ruas. O presidente Ben Ali renunciou e fugiu para a Arábia Saudita, depois de 23 anos no poder. A revolta atravessou fronteiras e o mundo árabe ficou de cabeça para baixo.

Quando o Ocidente ouviu falar pela primeira vez de Mohamed, achou que a “primavera árabe” tinha chegado e aquela revolução levaria liberdade e democracia às nações autoritárias do Oriente. E parecia: na sequência da Tunísia, o eterno Mubarak foi derrubado por protestos de rua no Egito, e, depois, Gaddafi foi morto a tiros na Líbia. Em toda a região, outros tiranos foram alvo de protestos. Alguns caíram, outros não, mas quase nenhum saiu ileso. A democracia e a liberdade, porém, nunca chegaram.

continua após a publicidade

Aquele movimento caótico que começou com a imolação de Mohamed, apesar de ter nascido de reivindicações legítimas, foi sequestrado por fundamentalistas, muitos deles ligados à Irmandade Muçulmana. Eis o lema do grupo, fundado em 1928: “Alá é o nosso objetivo, Maomé é o nosso líder, o Alcorão é a nossa lei, a jihad é o nosso caminho. Morrer no caminho de Alá é nossa maior esperança”.

Eles não queriam libertar povos, mas criar um califado. O sonho do grande Islã já levara outros como eles a tentar golpes para implantar teocracias em vários países. E, da mesma forma que com Khomeini no Irã, o progressismo ocidental não entendeu nada.

Foi a Irmandade que chegou ao poder no Egito quando caiu Mubarak, embora não por muito tempo. Na Síria, onde já tinham tentado uma revolução em 1982, as revoltas contra o ditador Assad em 2011 evoluíram para uma guerra civil com diversas facções terroristas, como o Estado Islâmico e a Frente Al-Nusra, braço da Al-Qaeda. Movimentos semelhantes aconteceram em outros países, alguns ainda em guerra civil.

continua após a publicidade

A história daquele equívoco talvez ajude a entender por que o Ocidente também não vê hoje o que realmente acontece em Gaza. Assim como aquele jovem da Tunísia foi a cara da “primavera árabe” para o mundo, hoje os progressistas veem imagens do massacre de 7 de outubro em Israel e imaginam um jovem palestino com um keffiyeh à volta do pescoço. Veem foguetes e imaginam pedras lançadas com estilingue. Veem túneis do Hamas e sonham com o Vietnã. Veem o carniceiro Yahya Sinwar e imaginam uma versão idealizada de Yasser Arafat.

Mas o Hamas – que governa Gaza desde o golpe de 2007 e instaurou uma ditadura militar – é outro braço da Irmandade desde os anos 80. E, assim como o Hezbollah no Líbano e outros na Síria e no Iêmen, responde às ordens do Irã, que financia o terror na região.

O objetivo deles não é um Estado palestino (esse já foi o objetivo da Organização para a Libertação da Palestina, a OLP, e do Fatah), porque nem acreditam em Estados. Como a Irmandade no Egito, querem fazer um grande califado, que não começa nem acaba na Palestina. A sua luta não é por terras, mas por Alá, e os judeus são seus inimigos por serem judeus – quer dizer, infiéis. Da mesma forma que cristãos, ateus e nações ocidentais.

continua após a publicidade

O Hamas não luta pelos direitos dos palestinos. Em Gaza, subjugam os palestinos pela força. Roubam ajuda humanitária, desviando milhões de dólares para comprar armas e fazer túneis e foguetes. Usam hospitais como quartéis e a população civil como escudos humanos. Em vez de proteger os palestinos, o objetivo deles é levá-los à morte como “mártires”, em nome de um projeto maluco de poder.

Mohamed Bouazizi foi, sim, um mártir, não por uma questão de fé, mas pelo desespero e desesperança. Ninguém sabe o que imaginou que conseguiria, mas a dor e a raiva dele eram legítimas. Não merecia a morte, mas uma vida melhor. Os palestinos também merecem.

E, hoje, o principal obstáculo para eles é o Hamas. Não são jovens lançando pedras com estilingues, mas assassinos sanguinários que sonham com uma teocracia. São inimigos da paz, dos palestinos e do mundo. E precisam ser derrotados.

continua após a publicidade

*

SÃO, RESPECTIVAMENTE, PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO ISRAELITA DO ESTADO DE SÃO PAULO; E CIENTISTA POLÍTICO, PRESIDENTE EXECUTIVO DA STANDWITHUS BRASIL E DOUTORANDO DA UNIVERSIDADE DE CÓRDOBA (ESPANHA), EM CIÊNCIAS POLÍTICAS E SOCIAIS, COM FOCO NO PROCESSO DE PAZ PALESTINO-ISRAELENSE

Nas ruas de Hainur há mais lixo do que asfalto. Em pequenas casas, há pouco espaço e muita gente. Na de Mohamed Bouazizi, desde a morte do pai, eram nove. Isso até 17 de dezembro de 2010, quando passaram a ser oito – e essa pequena alteração do cotidiano de Sidi Bouzid, uma cidade perdida no meio da Tunísia que quase ninguém conhecia, fez muito barulho no mundo árabe.

Mohamed, que vendia fruta numa praça para levar comida para a mãe e os irmãos, foi roubado, insultado e espancado pela polícia mais uma vez. E decidiu que seria a última. Comprou gasolina e ateou fogo em si mesmo na frente da prefeitura. Morreu dias depois e milhares foram às ruas. O presidente Ben Ali renunciou e fugiu para a Arábia Saudita, depois de 23 anos no poder. A revolta atravessou fronteiras e o mundo árabe ficou de cabeça para baixo.

Quando o Ocidente ouviu falar pela primeira vez de Mohamed, achou que a “primavera árabe” tinha chegado e aquela revolução levaria liberdade e democracia às nações autoritárias do Oriente. E parecia: na sequência da Tunísia, o eterno Mubarak foi derrubado por protestos de rua no Egito, e, depois, Gaddafi foi morto a tiros na Líbia. Em toda a região, outros tiranos foram alvo de protestos. Alguns caíram, outros não, mas quase nenhum saiu ileso. A democracia e a liberdade, porém, nunca chegaram.

Aquele movimento caótico que começou com a imolação de Mohamed, apesar de ter nascido de reivindicações legítimas, foi sequestrado por fundamentalistas, muitos deles ligados à Irmandade Muçulmana. Eis o lema do grupo, fundado em 1928: “Alá é o nosso objetivo, Maomé é o nosso líder, o Alcorão é a nossa lei, a jihad é o nosso caminho. Morrer no caminho de Alá é nossa maior esperança”.

Eles não queriam libertar povos, mas criar um califado. O sonho do grande Islã já levara outros como eles a tentar golpes para implantar teocracias em vários países. E, da mesma forma que com Khomeini no Irã, o progressismo ocidental não entendeu nada.

Foi a Irmandade que chegou ao poder no Egito quando caiu Mubarak, embora não por muito tempo. Na Síria, onde já tinham tentado uma revolução em 1982, as revoltas contra o ditador Assad em 2011 evoluíram para uma guerra civil com diversas facções terroristas, como o Estado Islâmico e a Frente Al-Nusra, braço da Al-Qaeda. Movimentos semelhantes aconteceram em outros países, alguns ainda em guerra civil.

A história daquele equívoco talvez ajude a entender por que o Ocidente também não vê hoje o que realmente acontece em Gaza. Assim como aquele jovem da Tunísia foi a cara da “primavera árabe” para o mundo, hoje os progressistas veem imagens do massacre de 7 de outubro em Israel e imaginam um jovem palestino com um keffiyeh à volta do pescoço. Veem foguetes e imaginam pedras lançadas com estilingue. Veem túneis do Hamas e sonham com o Vietnã. Veem o carniceiro Yahya Sinwar e imaginam uma versão idealizada de Yasser Arafat.

Mas o Hamas – que governa Gaza desde o golpe de 2007 e instaurou uma ditadura militar – é outro braço da Irmandade desde os anos 80. E, assim como o Hezbollah no Líbano e outros na Síria e no Iêmen, responde às ordens do Irã, que financia o terror na região.

O objetivo deles não é um Estado palestino (esse já foi o objetivo da Organização para a Libertação da Palestina, a OLP, e do Fatah), porque nem acreditam em Estados. Como a Irmandade no Egito, querem fazer um grande califado, que não começa nem acaba na Palestina. A sua luta não é por terras, mas por Alá, e os judeus são seus inimigos por serem judeus – quer dizer, infiéis. Da mesma forma que cristãos, ateus e nações ocidentais.

O Hamas não luta pelos direitos dos palestinos. Em Gaza, subjugam os palestinos pela força. Roubam ajuda humanitária, desviando milhões de dólares para comprar armas e fazer túneis e foguetes. Usam hospitais como quartéis e a população civil como escudos humanos. Em vez de proteger os palestinos, o objetivo deles é levá-los à morte como “mártires”, em nome de um projeto maluco de poder.

Mohamed Bouazizi foi, sim, um mártir, não por uma questão de fé, mas pelo desespero e desesperança. Ninguém sabe o que imaginou que conseguiria, mas a dor e a raiva dele eram legítimas. Não merecia a morte, mas uma vida melhor. Os palestinos também merecem.

E, hoje, o principal obstáculo para eles é o Hamas. Não são jovens lançando pedras com estilingues, mas assassinos sanguinários que sonham com uma teocracia. São inimigos da paz, dos palestinos e do mundo. E precisam ser derrotados.

*

SÃO, RESPECTIVAMENTE, PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO ISRAELITA DO ESTADO DE SÃO PAULO; E CIENTISTA POLÍTICO, PRESIDENTE EXECUTIVO DA STANDWITHUS BRASIL E DOUTORANDO DA UNIVERSIDADE DE CÓRDOBA (ESPANHA), EM CIÊNCIAS POLÍTICAS E SOCIAIS, COM FOCO NO PROCESSO DE PAZ PALESTINO-ISRAELENSE

Nas ruas de Hainur há mais lixo do que asfalto. Em pequenas casas, há pouco espaço e muita gente. Na de Mohamed Bouazizi, desde a morte do pai, eram nove. Isso até 17 de dezembro de 2010, quando passaram a ser oito – e essa pequena alteração do cotidiano de Sidi Bouzid, uma cidade perdida no meio da Tunísia que quase ninguém conhecia, fez muito barulho no mundo árabe.

Mohamed, que vendia fruta numa praça para levar comida para a mãe e os irmãos, foi roubado, insultado e espancado pela polícia mais uma vez. E decidiu que seria a última. Comprou gasolina e ateou fogo em si mesmo na frente da prefeitura. Morreu dias depois e milhares foram às ruas. O presidente Ben Ali renunciou e fugiu para a Arábia Saudita, depois de 23 anos no poder. A revolta atravessou fronteiras e o mundo árabe ficou de cabeça para baixo.

Quando o Ocidente ouviu falar pela primeira vez de Mohamed, achou que a “primavera árabe” tinha chegado e aquela revolução levaria liberdade e democracia às nações autoritárias do Oriente. E parecia: na sequência da Tunísia, o eterno Mubarak foi derrubado por protestos de rua no Egito, e, depois, Gaddafi foi morto a tiros na Líbia. Em toda a região, outros tiranos foram alvo de protestos. Alguns caíram, outros não, mas quase nenhum saiu ileso. A democracia e a liberdade, porém, nunca chegaram.

Aquele movimento caótico que começou com a imolação de Mohamed, apesar de ter nascido de reivindicações legítimas, foi sequestrado por fundamentalistas, muitos deles ligados à Irmandade Muçulmana. Eis o lema do grupo, fundado em 1928: “Alá é o nosso objetivo, Maomé é o nosso líder, o Alcorão é a nossa lei, a jihad é o nosso caminho. Morrer no caminho de Alá é nossa maior esperança”.

Eles não queriam libertar povos, mas criar um califado. O sonho do grande Islã já levara outros como eles a tentar golpes para implantar teocracias em vários países. E, da mesma forma que com Khomeini no Irã, o progressismo ocidental não entendeu nada.

Foi a Irmandade que chegou ao poder no Egito quando caiu Mubarak, embora não por muito tempo. Na Síria, onde já tinham tentado uma revolução em 1982, as revoltas contra o ditador Assad em 2011 evoluíram para uma guerra civil com diversas facções terroristas, como o Estado Islâmico e a Frente Al-Nusra, braço da Al-Qaeda. Movimentos semelhantes aconteceram em outros países, alguns ainda em guerra civil.

A história daquele equívoco talvez ajude a entender por que o Ocidente também não vê hoje o que realmente acontece em Gaza. Assim como aquele jovem da Tunísia foi a cara da “primavera árabe” para o mundo, hoje os progressistas veem imagens do massacre de 7 de outubro em Israel e imaginam um jovem palestino com um keffiyeh à volta do pescoço. Veem foguetes e imaginam pedras lançadas com estilingue. Veem túneis do Hamas e sonham com o Vietnã. Veem o carniceiro Yahya Sinwar e imaginam uma versão idealizada de Yasser Arafat.

Mas o Hamas – que governa Gaza desde o golpe de 2007 e instaurou uma ditadura militar – é outro braço da Irmandade desde os anos 80. E, assim como o Hezbollah no Líbano e outros na Síria e no Iêmen, responde às ordens do Irã, que financia o terror na região.

O objetivo deles não é um Estado palestino (esse já foi o objetivo da Organização para a Libertação da Palestina, a OLP, e do Fatah), porque nem acreditam em Estados. Como a Irmandade no Egito, querem fazer um grande califado, que não começa nem acaba na Palestina. A sua luta não é por terras, mas por Alá, e os judeus são seus inimigos por serem judeus – quer dizer, infiéis. Da mesma forma que cristãos, ateus e nações ocidentais.

O Hamas não luta pelos direitos dos palestinos. Em Gaza, subjugam os palestinos pela força. Roubam ajuda humanitária, desviando milhões de dólares para comprar armas e fazer túneis e foguetes. Usam hospitais como quartéis e a população civil como escudos humanos. Em vez de proteger os palestinos, o objetivo deles é levá-los à morte como “mártires”, em nome de um projeto maluco de poder.

Mohamed Bouazizi foi, sim, um mártir, não por uma questão de fé, mas pelo desespero e desesperança. Ninguém sabe o que imaginou que conseguiria, mas a dor e a raiva dele eram legítimas. Não merecia a morte, mas uma vida melhor. Os palestinos também merecem.

E, hoje, o principal obstáculo para eles é o Hamas. Não são jovens lançando pedras com estilingues, mas assassinos sanguinários que sonham com uma teocracia. São inimigos da paz, dos palestinos e do mundo. E precisam ser derrotados.

*

SÃO, RESPECTIVAMENTE, PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO ISRAELITA DO ESTADO DE SÃO PAULO; E CIENTISTA POLÍTICO, PRESIDENTE EXECUTIVO DA STANDWITHUS BRASIL E DOUTORANDO DA UNIVERSIDADE DE CÓRDOBA (ESPANHA), EM CIÊNCIAS POLÍTICAS E SOCIAIS, COM FOCO NO PROCESSO DE PAZ PALESTINO-ISRAELENSE

Nas ruas de Hainur há mais lixo do que asfalto. Em pequenas casas, há pouco espaço e muita gente. Na de Mohamed Bouazizi, desde a morte do pai, eram nove. Isso até 17 de dezembro de 2010, quando passaram a ser oito – e essa pequena alteração do cotidiano de Sidi Bouzid, uma cidade perdida no meio da Tunísia que quase ninguém conhecia, fez muito barulho no mundo árabe.

Mohamed, que vendia fruta numa praça para levar comida para a mãe e os irmãos, foi roubado, insultado e espancado pela polícia mais uma vez. E decidiu que seria a última. Comprou gasolina e ateou fogo em si mesmo na frente da prefeitura. Morreu dias depois e milhares foram às ruas. O presidente Ben Ali renunciou e fugiu para a Arábia Saudita, depois de 23 anos no poder. A revolta atravessou fronteiras e o mundo árabe ficou de cabeça para baixo.

Quando o Ocidente ouviu falar pela primeira vez de Mohamed, achou que a “primavera árabe” tinha chegado e aquela revolução levaria liberdade e democracia às nações autoritárias do Oriente. E parecia: na sequência da Tunísia, o eterno Mubarak foi derrubado por protestos de rua no Egito, e, depois, Gaddafi foi morto a tiros na Líbia. Em toda a região, outros tiranos foram alvo de protestos. Alguns caíram, outros não, mas quase nenhum saiu ileso. A democracia e a liberdade, porém, nunca chegaram.

Aquele movimento caótico que começou com a imolação de Mohamed, apesar de ter nascido de reivindicações legítimas, foi sequestrado por fundamentalistas, muitos deles ligados à Irmandade Muçulmana. Eis o lema do grupo, fundado em 1928: “Alá é o nosso objetivo, Maomé é o nosso líder, o Alcorão é a nossa lei, a jihad é o nosso caminho. Morrer no caminho de Alá é nossa maior esperança”.

Eles não queriam libertar povos, mas criar um califado. O sonho do grande Islã já levara outros como eles a tentar golpes para implantar teocracias em vários países. E, da mesma forma que com Khomeini no Irã, o progressismo ocidental não entendeu nada.

Foi a Irmandade que chegou ao poder no Egito quando caiu Mubarak, embora não por muito tempo. Na Síria, onde já tinham tentado uma revolução em 1982, as revoltas contra o ditador Assad em 2011 evoluíram para uma guerra civil com diversas facções terroristas, como o Estado Islâmico e a Frente Al-Nusra, braço da Al-Qaeda. Movimentos semelhantes aconteceram em outros países, alguns ainda em guerra civil.

A história daquele equívoco talvez ajude a entender por que o Ocidente também não vê hoje o que realmente acontece em Gaza. Assim como aquele jovem da Tunísia foi a cara da “primavera árabe” para o mundo, hoje os progressistas veem imagens do massacre de 7 de outubro em Israel e imaginam um jovem palestino com um keffiyeh à volta do pescoço. Veem foguetes e imaginam pedras lançadas com estilingue. Veem túneis do Hamas e sonham com o Vietnã. Veem o carniceiro Yahya Sinwar e imaginam uma versão idealizada de Yasser Arafat.

Mas o Hamas – que governa Gaza desde o golpe de 2007 e instaurou uma ditadura militar – é outro braço da Irmandade desde os anos 80. E, assim como o Hezbollah no Líbano e outros na Síria e no Iêmen, responde às ordens do Irã, que financia o terror na região.

O objetivo deles não é um Estado palestino (esse já foi o objetivo da Organização para a Libertação da Palestina, a OLP, e do Fatah), porque nem acreditam em Estados. Como a Irmandade no Egito, querem fazer um grande califado, que não começa nem acaba na Palestina. A sua luta não é por terras, mas por Alá, e os judeus são seus inimigos por serem judeus – quer dizer, infiéis. Da mesma forma que cristãos, ateus e nações ocidentais.

O Hamas não luta pelos direitos dos palestinos. Em Gaza, subjugam os palestinos pela força. Roubam ajuda humanitária, desviando milhões de dólares para comprar armas e fazer túneis e foguetes. Usam hospitais como quartéis e a população civil como escudos humanos. Em vez de proteger os palestinos, o objetivo deles é levá-los à morte como “mártires”, em nome de um projeto maluco de poder.

Mohamed Bouazizi foi, sim, um mártir, não por uma questão de fé, mas pelo desespero e desesperança. Ninguém sabe o que imaginou que conseguiria, mas a dor e a raiva dele eram legítimas. Não merecia a morte, mas uma vida melhor. Os palestinos também merecem.

E, hoje, o principal obstáculo para eles é o Hamas. Não são jovens lançando pedras com estilingues, mas assassinos sanguinários que sonham com uma teocracia. São inimigos da paz, dos palestinos e do mundo. E precisam ser derrotados.

*

SÃO, RESPECTIVAMENTE, PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO ISRAELITA DO ESTADO DE SÃO PAULO; E CIENTISTA POLÍTICO, PRESIDENTE EXECUTIVO DA STANDWITHUS BRASIL E DOUTORANDO DA UNIVERSIDADE DE CÓRDOBA (ESPANHA), EM CIÊNCIAS POLÍTICAS E SOCIAIS, COM FOCO NO PROCESSO DE PAZ PALESTINO-ISRAELENSE

Opinião por Marcos Knobel

Presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo

André Lajst

Cientista político, presidente executivo da StandWithUs Brasil e doutorando da Universidade de Córdoba (Espanha), em Ciências Políticas e Sociais, com foco no processo de paz palestino-israelense

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.