Opinião|Hidrogênio verde: da produção à estratégia


O setor de cloro-álcalis já produz dezenas de milhares de toneladas de hidrogênio verde há muito tempo, mesmo antes de ele ser a ‘bola da vez’ em todo o mundo

Por Milton Rego

O hidrogênio verde, produzido a partir da energia renovável, se tornou um dos assuntos mais abordados pelo mercado e pela opinião pública em diversos países, especialmente na Europa. Apesar de ser a tonalidade de hidrogênio mais conhecida, vale ressaltar que esse insumo tem também outras cores, que aos poucos vão ganhando destaque nas manchetes jornalísticas. Um destes casos é o do hidrogênio azul, produzido a partir do gás natural, mas com o carbono capturado.

O hidrogênio surge como a grande possibilidade de descarbonizar uma série de setores, especialmente quando utilizado como fonte energética, já que, quando queimado, não emite CO2, apenas vapor d’água. Além disso, uma vez utilizado como matéria-prima, reduziria a pegada de carbono dos produtos finais.

Um relatório divulgado pela consultoria McKinsey coloca o gás como potencialmente responsável pela redução de até 20% das emissões europeias até 2050, ano em que o continente espera ser neutro em carbono. Todo esse otimismo fez com que os governos europeus (especialmente o da Alemanha) destinassem muitos recursos para pesquisa, além de benefícios fiscais para a sua produção local.

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As pesquisas são realmente necessárias, uma vez que, para utilizar o hidrogênio, muitos desafios têm de ser superados. Apesar de ser simpático como proposta, este gás é muito difícil de ser armazenado e transportado.

Ele tem uma densidade energética volumétrica muito baixa. O mesmo volume do hidrogênio liquefeito produz 40% da energia, quando comparado com o querosene de aviação, por exemplo. Além disso, para liquefazê-lo é necessária a utilização de muita energia, pois ele se liquefaz a -250°C, o que traz grandes complexidades e custos mais altos.

Por isso outras formas de transporte são pesquisadas, como transportar o hidrogênio a partir dos seus derivados, a exemplo da amônia. Essa opção faria mais sentido, não como fonte de energia, mas sim como building blocks, para reduzir a pegada de carbono deste produto e daqueles que o utilizarão como matéria-prima.

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Em razão dessas complicações, uma alternativa para a utilização do hidrogênio em larga escala como fonte de energia seria por meio do uso de gasodutos, o que parece mais promissor.

E quanto ao Brasil?

O hidrogênio também virou moda no território brasileiro. Manchetes de jornais destacam que o País pode se tornar um dos principais produtores de hidrogênio verde do mundo. Vários países já se declararam interessados em investimentos, além de o hidrogênio ser visto como uma alternativa lógica a partir de uma disponibilidade de energia de fontes renováveis ou neutras. Porém isso tudo precisa ser acompanhado por uma política energética compatível com os marcos regulatórios, que ainda não existem pelo fato de ser um setor nascente.

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Se este segmento é uma novidade para a mídia, para o setor de cloro-álcalis ele não é. Cloro-álcalis é um setor vital da indústria química, que produz as matérias-primas para dezenas de outras indústrias, como, por exemplo, farmacêutica, fertilizantes, alimentícia, construção, alumínio, higiene e o tratamento de água e esgoto, para citar apenas alguns.

O cloro e o álcalis (soda ou potassa) são produzidos através da eletrólise, ou a quebra de molécula pela eletricidade, no caso de uma mistura de água e um sal (NaCl ou KCl). Nesse processo, o hidrogênio que estava contido na molécula de água é separado e é obtido como um subproduto. O setor produz cerca de 40 mil toneladas de hidrogênio por ano a partir da produção de 3,2 milhões de toneladas de álcalis e cloro. Uma vez que a fonte energética das plantas é limpa, pois a energia elétrica vem do grid e de outras formas de energia limpa (algumas empresas têm projetos de energia eólica e fotovoltaica), esse hidrogênio pode ser considerado verde. Ou seja, o setor já produz dezenas de milhares de toneladas de hidrogênio verde há muito tempo, mesmo antes de ele ser a bola da vez em todo o mundo.

Nas plantas de cloro-álcalis esse hidrogênio tem, historicamente, três maneiras de ser utilizado: em reações químicas, para a obtenção de outros produtos fabricados nas plantas, como, por exemplo, o ácido clorídrico; é vendido para outras plantas como matéria-prima; ou é utilizado como fonte energética, sendo queimado.

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E, para a surpresa ficar ainda maior, essas plantas são a de melhor performance energética. Isso porque a energia necessária para produzir hidrogênio nessas plantas é “dividida” com os outros produtos: cloro e álcalis. Dessa forma, a necessidade energética por quilograma de gás é menor do que uma planta de eletrólise dedicada apenas à produção de hidrogênio (aqui não estamos comparando com a produção de hidrogênio a partir de combustíveis fósseis). Dito de outra forma, temos disponibilidade imediata de hidrogênio verde no Brasil, com a possibilidade de ser produzido de maneira mais econômica do que qualquer outro método, desde que haja mercado e também uma solução para os altos custos de energia.

Como não tem mercado, as plantas simplesmente “queimam” hidrogênio verde. Isso é feito porque, além de diminuir a necessidade de outra fonte térmica – que iria aumentar a pegada de carbono, as alternativas de utilizar gás natural ou eletricidade –, as opções óbvias são mais caras.

Ou seja, o Brasil já é produtor de hidrogênio verde. As nossas plantas poderiam estar destinando o hidrogênio produzido para mercados nobres, desde que houvesse a demanda e os preços do gás fossem competitivos.

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Diante dessa realidade, temos de parar de olhar para fora e ver onde já podemos colher os resultados da nossa matriz energética. O hidrogênio verde já se faz presente em nossa indústria. Mas precisamos avançar para que todos os seus benefícios se tornem uma realidade para esse segmento.

*

ENGENHEIRO, ECONOMISTA, É PRESIDENTE-EXECUTIVO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE ÁLCALIS, CLORO E DERIVADOS (ABICLOR)

O hidrogênio verde, produzido a partir da energia renovável, se tornou um dos assuntos mais abordados pelo mercado e pela opinião pública em diversos países, especialmente na Europa. Apesar de ser a tonalidade de hidrogênio mais conhecida, vale ressaltar que esse insumo tem também outras cores, que aos poucos vão ganhando destaque nas manchetes jornalísticas. Um destes casos é o do hidrogênio azul, produzido a partir do gás natural, mas com o carbono capturado.

O hidrogênio surge como a grande possibilidade de descarbonizar uma série de setores, especialmente quando utilizado como fonte energética, já que, quando queimado, não emite CO2, apenas vapor d’água. Além disso, uma vez utilizado como matéria-prima, reduziria a pegada de carbono dos produtos finais.

Um relatório divulgado pela consultoria McKinsey coloca o gás como potencialmente responsável pela redução de até 20% das emissões europeias até 2050, ano em que o continente espera ser neutro em carbono. Todo esse otimismo fez com que os governos europeus (especialmente o da Alemanha) destinassem muitos recursos para pesquisa, além de benefícios fiscais para a sua produção local.

As pesquisas são realmente necessárias, uma vez que, para utilizar o hidrogênio, muitos desafios têm de ser superados. Apesar de ser simpático como proposta, este gás é muito difícil de ser armazenado e transportado.

Ele tem uma densidade energética volumétrica muito baixa. O mesmo volume do hidrogênio liquefeito produz 40% da energia, quando comparado com o querosene de aviação, por exemplo. Além disso, para liquefazê-lo é necessária a utilização de muita energia, pois ele se liquefaz a -250°C, o que traz grandes complexidades e custos mais altos.

Por isso outras formas de transporte são pesquisadas, como transportar o hidrogênio a partir dos seus derivados, a exemplo da amônia. Essa opção faria mais sentido, não como fonte de energia, mas sim como building blocks, para reduzir a pegada de carbono deste produto e daqueles que o utilizarão como matéria-prima.

Em razão dessas complicações, uma alternativa para a utilização do hidrogênio em larga escala como fonte de energia seria por meio do uso de gasodutos, o que parece mais promissor.

E quanto ao Brasil?

O hidrogênio também virou moda no território brasileiro. Manchetes de jornais destacam que o País pode se tornar um dos principais produtores de hidrogênio verde do mundo. Vários países já se declararam interessados em investimentos, além de o hidrogênio ser visto como uma alternativa lógica a partir de uma disponibilidade de energia de fontes renováveis ou neutras. Porém isso tudo precisa ser acompanhado por uma política energética compatível com os marcos regulatórios, que ainda não existem pelo fato de ser um setor nascente.

Se este segmento é uma novidade para a mídia, para o setor de cloro-álcalis ele não é. Cloro-álcalis é um setor vital da indústria química, que produz as matérias-primas para dezenas de outras indústrias, como, por exemplo, farmacêutica, fertilizantes, alimentícia, construção, alumínio, higiene e o tratamento de água e esgoto, para citar apenas alguns.

O cloro e o álcalis (soda ou potassa) são produzidos através da eletrólise, ou a quebra de molécula pela eletricidade, no caso de uma mistura de água e um sal (NaCl ou KCl). Nesse processo, o hidrogênio que estava contido na molécula de água é separado e é obtido como um subproduto. O setor produz cerca de 40 mil toneladas de hidrogênio por ano a partir da produção de 3,2 milhões de toneladas de álcalis e cloro. Uma vez que a fonte energética das plantas é limpa, pois a energia elétrica vem do grid e de outras formas de energia limpa (algumas empresas têm projetos de energia eólica e fotovoltaica), esse hidrogênio pode ser considerado verde. Ou seja, o setor já produz dezenas de milhares de toneladas de hidrogênio verde há muito tempo, mesmo antes de ele ser a bola da vez em todo o mundo.

Nas plantas de cloro-álcalis esse hidrogênio tem, historicamente, três maneiras de ser utilizado: em reações químicas, para a obtenção de outros produtos fabricados nas plantas, como, por exemplo, o ácido clorídrico; é vendido para outras plantas como matéria-prima; ou é utilizado como fonte energética, sendo queimado.

E, para a surpresa ficar ainda maior, essas plantas são a de melhor performance energética. Isso porque a energia necessária para produzir hidrogênio nessas plantas é “dividida” com os outros produtos: cloro e álcalis. Dessa forma, a necessidade energética por quilograma de gás é menor do que uma planta de eletrólise dedicada apenas à produção de hidrogênio (aqui não estamos comparando com a produção de hidrogênio a partir de combustíveis fósseis). Dito de outra forma, temos disponibilidade imediata de hidrogênio verde no Brasil, com a possibilidade de ser produzido de maneira mais econômica do que qualquer outro método, desde que haja mercado e também uma solução para os altos custos de energia.

Como não tem mercado, as plantas simplesmente “queimam” hidrogênio verde. Isso é feito porque, além de diminuir a necessidade de outra fonte térmica – que iria aumentar a pegada de carbono, as alternativas de utilizar gás natural ou eletricidade –, as opções óbvias são mais caras.

Ou seja, o Brasil já é produtor de hidrogênio verde. As nossas plantas poderiam estar destinando o hidrogênio produzido para mercados nobres, desde que houvesse a demanda e os preços do gás fossem competitivos.

Diante dessa realidade, temos de parar de olhar para fora e ver onde já podemos colher os resultados da nossa matriz energética. O hidrogênio verde já se faz presente em nossa indústria. Mas precisamos avançar para que todos os seus benefícios se tornem uma realidade para esse segmento.

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ENGENHEIRO, ECONOMISTA, É PRESIDENTE-EXECUTIVO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE ÁLCALIS, CLORO E DERIVADOS (ABICLOR)

O hidrogênio verde, produzido a partir da energia renovável, se tornou um dos assuntos mais abordados pelo mercado e pela opinião pública em diversos países, especialmente na Europa. Apesar de ser a tonalidade de hidrogênio mais conhecida, vale ressaltar que esse insumo tem também outras cores, que aos poucos vão ganhando destaque nas manchetes jornalísticas. Um destes casos é o do hidrogênio azul, produzido a partir do gás natural, mas com o carbono capturado.

O hidrogênio surge como a grande possibilidade de descarbonizar uma série de setores, especialmente quando utilizado como fonte energética, já que, quando queimado, não emite CO2, apenas vapor d’água. Além disso, uma vez utilizado como matéria-prima, reduziria a pegada de carbono dos produtos finais.

Um relatório divulgado pela consultoria McKinsey coloca o gás como potencialmente responsável pela redução de até 20% das emissões europeias até 2050, ano em que o continente espera ser neutro em carbono. Todo esse otimismo fez com que os governos europeus (especialmente o da Alemanha) destinassem muitos recursos para pesquisa, além de benefícios fiscais para a sua produção local.

As pesquisas são realmente necessárias, uma vez que, para utilizar o hidrogênio, muitos desafios têm de ser superados. Apesar de ser simpático como proposta, este gás é muito difícil de ser armazenado e transportado.

Ele tem uma densidade energética volumétrica muito baixa. O mesmo volume do hidrogênio liquefeito produz 40% da energia, quando comparado com o querosene de aviação, por exemplo. Além disso, para liquefazê-lo é necessária a utilização de muita energia, pois ele se liquefaz a -250°C, o que traz grandes complexidades e custos mais altos.

Por isso outras formas de transporte são pesquisadas, como transportar o hidrogênio a partir dos seus derivados, a exemplo da amônia. Essa opção faria mais sentido, não como fonte de energia, mas sim como building blocks, para reduzir a pegada de carbono deste produto e daqueles que o utilizarão como matéria-prima.

Em razão dessas complicações, uma alternativa para a utilização do hidrogênio em larga escala como fonte de energia seria por meio do uso de gasodutos, o que parece mais promissor.

E quanto ao Brasil?

O hidrogênio também virou moda no território brasileiro. Manchetes de jornais destacam que o País pode se tornar um dos principais produtores de hidrogênio verde do mundo. Vários países já se declararam interessados em investimentos, além de o hidrogênio ser visto como uma alternativa lógica a partir de uma disponibilidade de energia de fontes renováveis ou neutras. Porém isso tudo precisa ser acompanhado por uma política energética compatível com os marcos regulatórios, que ainda não existem pelo fato de ser um setor nascente.

Se este segmento é uma novidade para a mídia, para o setor de cloro-álcalis ele não é. Cloro-álcalis é um setor vital da indústria química, que produz as matérias-primas para dezenas de outras indústrias, como, por exemplo, farmacêutica, fertilizantes, alimentícia, construção, alumínio, higiene e o tratamento de água e esgoto, para citar apenas alguns.

O cloro e o álcalis (soda ou potassa) são produzidos através da eletrólise, ou a quebra de molécula pela eletricidade, no caso de uma mistura de água e um sal (NaCl ou KCl). Nesse processo, o hidrogênio que estava contido na molécula de água é separado e é obtido como um subproduto. O setor produz cerca de 40 mil toneladas de hidrogênio por ano a partir da produção de 3,2 milhões de toneladas de álcalis e cloro. Uma vez que a fonte energética das plantas é limpa, pois a energia elétrica vem do grid e de outras formas de energia limpa (algumas empresas têm projetos de energia eólica e fotovoltaica), esse hidrogênio pode ser considerado verde. Ou seja, o setor já produz dezenas de milhares de toneladas de hidrogênio verde há muito tempo, mesmo antes de ele ser a bola da vez em todo o mundo.

Nas plantas de cloro-álcalis esse hidrogênio tem, historicamente, três maneiras de ser utilizado: em reações químicas, para a obtenção de outros produtos fabricados nas plantas, como, por exemplo, o ácido clorídrico; é vendido para outras plantas como matéria-prima; ou é utilizado como fonte energética, sendo queimado.

E, para a surpresa ficar ainda maior, essas plantas são a de melhor performance energética. Isso porque a energia necessária para produzir hidrogênio nessas plantas é “dividida” com os outros produtos: cloro e álcalis. Dessa forma, a necessidade energética por quilograma de gás é menor do que uma planta de eletrólise dedicada apenas à produção de hidrogênio (aqui não estamos comparando com a produção de hidrogênio a partir de combustíveis fósseis). Dito de outra forma, temos disponibilidade imediata de hidrogênio verde no Brasil, com a possibilidade de ser produzido de maneira mais econômica do que qualquer outro método, desde que haja mercado e também uma solução para os altos custos de energia.

Como não tem mercado, as plantas simplesmente “queimam” hidrogênio verde. Isso é feito porque, além de diminuir a necessidade de outra fonte térmica – que iria aumentar a pegada de carbono, as alternativas de utilizar gás natural ou eletricidade –, as opções óbvias são mais caras.

Ou seja, o Brasil já é produtor de hidrogênio verde. As nossas plantas poderiam estar destinando o hidrogênio produzido para mercados nobres, desde que houvesse a demanda e os preços do gás fossem competitivos.

Diante dessa realidade, temos de parar de olhar para fora e ver onde já podemos colher os resultados da nossa matriz energética. O hidrogênio verde já se faz presente em nossa indústria. Mas precisamos avançar para que todos os seus benefícios se tornem uma realidade para esse segmento.

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ENGENHEIRO, ECONOMISTA, É PRESIDENTE-EXECUTIVO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE ÁLCALIS, CLORO E DERIVADOS (ABICLOR)

O hidrogênio verde, produzido a partir da energia renovável, se tornou um dos assuntos mais abordados pelo mercado e pela opinião pública em diversos países, especialmente na Europa. Apesar de ser a tonalidade de hidrogênio mais conhecida, vale ressaltar que esse insumo tem também outras cores, que aos poucos vão ganhando destaque nas manchetes jornalísticas. Um destes casos é o do hidrogênio azul, produzido a partir do gás natural, mas com o carbono capturado.

O hidrogênio surge como a grande possibilidade de descarbonizar uma série de setores, especialmente quando utilizado como fonte energética, já que, quando queimado, não emite CO2, apenas vapor d’água. Além disso, uma vez utilizado como matéria-prima, reduziria a pegada de carbono dos produtos finais.

Um relatório divulgado pela consultoria McKinsey coloca o gás como potencialmente responsável pela redução de até 20% das emissões europeias até 2050, ano em que o continente espera ser neutro em carbono. Todo esse otimismo fez com que os governos europeus (especialmente o da Alemanha) destinassem muitos recursos para pesquisa, além de benefícios fiscais para a sua produção local.

As pesquisas são realmente necessárias, uma vez que, para utilizar o hidrogênio, muitos desafios têm de ser superados. Apesar de ser simpático como proposta, este gás é muito difícil de ser armazenado e transportado.

Ele tem uma densidade energética volumétrica muito baixa. O mesmo volume do hidrogênio liquefeito produz 40% da energia, quando comparado com o querosene de aviação, por exemplo. Além disso, para liquefazê-lo é necessária a utilização de muita energia, pois ele se liquefaz a -250°C, o que traz grandes complexidades e custos mais altos.

Por isso outras formas de transporte são pesquisadas, como transportar o hidrogênio a partir dos seus derivados, a exemplo da amônia. Essa opção faria mais sentido, não como fonte de energia, mas sim como building blocks, para reduzir a pegada de carbono deste produto e daqueles que o utilizarão como matéria-prima.

Em razão dessas complicações, uma alternativa para a utilização do hidrogênio em larga escala como fonte de energia seria por meio do uso de gasodutos, o que parece mais promissor.

E quanto ao Brasil?

O hidrogênio também virou moda no território brasileiro. Manchetes de jornais destacam que o País pode se tornar um dos principais produtores de hidrogênio verde do mundo. Vários países já se declararam interessados em investimentos, além de o hidrogênio ser visto como uma alternativa lógica a partir de uma disponibilidade de energia de fontes renováveis ou neutras. Porém isso tudo precisa ser acompanhado por uma política energética compatível com os marcos regulatórios, que ainda não existem pelo fato de ser um setor nascente.

Se este segmento é uma novidade para a mídia, para o setor de cloro-álcalis ele não é. Cloro-álcalis é um setor vital da indústria química, que produz as matérias-primas para dezenas de outras indústrias, como, por exemplo, farmacêutica, fertilizantes, alimentícia, construção, alumínio, higiene e o tratamento de água e esgoto, para citar apenas alguns.

O cloro e o álcalis (soda ou potassa) são produzidos através da eletrólise, ou a quebra de molécula pela eletricidade, no caso de uma mistura de água e um sal (NaCl ou KCl). Nesse processo, o hidrogênio que estava contido na molécula de água é separado e é obtido como um subproduto. O setor produz cerca de 40 mil toneladas de hidrogênio por ano a partir da produção de 3,2 milhões de toneladas de álcalis e cloro. Uma vez que a fonte energética das plantas é limpa, pois a energia elétrica vem do grid e de outras formas de energia limpa (algumas empresas têm projetos de energia eólica e fotovoltaica), esse hidrogênio pode ser considerado verde. Ou seja, o setor já produz dezenas de milhares de toneladas de hidrogênio verde há muito tempo, mesmo antes de ele ser a bola da vez em todo o mundo.

Nas plantas de cloro-álcalis esse hidrogênio tem, historicamente, três maneiras de ser utilizado: em reações químicas, para a obtenção de outros produtos fabricados nas plantas, como, por exemplo, o ácido clorídrico; é vendido para outras plantas como matéria-prima; ou é utilizado como fonte energética, sendo queimado.

E, para a surpresa ficar ainda maior, essas plantas são a de melhor performance energética. Isso porque a energia necessária para produzir hidrogênio nessas plantas é “dividida” com os outros produtos: cloro e álcalis. Dessa forma, a necessidade energética por quilograma de gás é menor do que uma planta de eletrólise dedicada apenas à produção de hidrogênio (aqui não estamos comparando com a produção de hidrogênio a partir de combustíveis fósseis). Dito de outra forma, temos disponibilidade imediata de hidrogênio verde no Brasil, com a possibilidade de ser produzido de maneira mais econômica do que qualquer outro método, desde que haja mercado e também uma solução para os altos custos de energia.

Como não tem mercado, as plantas simplesmente “queimam” hidrogênio verde. Isso é feito porque, além de diminuir a necessidade de outra fonte térmica – que iria aumentar a pegada de carbono, as alternativas de utilizar gás natural ou eletricidade –, as opções óbvias são mais caras.

Ou seja, o Brasil já é produtor de hidrogênio verde. As nossas plantas poderiam estar destinando o hidrogênio produzido para mercados nobres, desde que houvesse a demanda e os preços do gás fossem competitivos.

Diante dessa realidade, temos de parar de olhar para fora e ver onde já podemos colher os resultados da nossa matriz energética. O hidrogênio verde já se faz presente em nossa indústria. Mas precisamos avançar para que todos os seus benefícios se tornem uma realidade para esse segmento.

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ENGENHEIRO, ECONOMISTA, É PRESIDENTE-EXECUTIVO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE ÁLCALIS, CLORO E DERIVADOS (ABICLOR)

O hidrogênio verde, produzido a partir da energia renovável, se tornou um dos assuntos mais abordados pelo mercado e pela opinião pública em diversos países, especialmente na Europa. Apesar de ser a tonalidade de hidrogênio mais conhecida, vale ressaltar que esse insumo tem também outras cores, que aos poucos vão ganhando destaque nas manchetes jornalísticas. Um destes casos é o do hidrogênio azul, produzido a partir do gás natural, mas com o carbono capturado.

O hidrogênio surge como a grande possibilidade de descarbonizar uma série de setores, especialmente quando utilizado como fonte energética, já que, quando queimado, não emite CO2, apenas vapor d’água. Além disso, uma vez utilizado como matéria-prima, reduziria a pegada de carbono dos produtos finais.

Um relatório divulgado pela consultoria McKinsey coloca o gás como potencialmente responsável pela redução de até 20% das emissões europeias até 2050, ano em que o continente espera ser neutro em carbono. Todo esse otimismo fez com que os governos europeus (especialmente o da Alemanha) destinassem muitos recursos para pesquisa, além de benefícios fiscais para a sua produção local.

As pesquisas são realmente necessárias, uma vez que, para utilizar o hidrogênio, muitos desafios têm de ser superados. Apesar de ser simpático como proposta, este gás é muito difícil de ser armazenado e transportado.

Ele tem uma densidade energética volumétrica muito baixa. O mesmo volume do hidrogênio liquefeito produz 40% da energia, quando comparado com o querosene de aviação, por exemplo. Além disso, para liquefazê-lo é necessária a utilização de muita energia, pois ele se liquefaz a -250°C, o que traz grandes complexidades e custos mais altos.

Por isso outras formas de transporte são pesquisadas, como transportar o hidrogênio a partir dos seus derivados, a exemplo da amônia. Essa opção faria mais sentido, não como fonte de energia, mas sim como building blocks, para reduzir a pegada de carbono deste produto e daqueles que o utilizarão como matéria-prima.

Em razão dessas complicações, uma alternativa para a utilização do hidrogênio em larga escala como fonte de energia seria por meio do uso de gasodutos, o que parece mais promissor.

E quanto ao Brasil?

O hidrogênio também virou moda no território brasileiro. Manchetes de jornais destacam que o País pode se tornar um dos principais produtores de hidrogênio verde do mundo. Vários países já se declararam interessados em investimentos, além de o hidrogênio ser visto como uma alternativa lógica a partir de uma disponibilidade de energia de fontes renováveis ou neutras. Porém isso tudo precisa ser acompanhado por uma política energética compatível com os marcos regulatórios, que ainda não existem pelo fato de ser um setor nascente.

Se este segmento é uma novidade para a mídia, para o setor de cloro-álcalis ele não é. Cloro-álcalis é um setor vital da indústria química, que produz as matérias-primas para dezenas de outras indústrias, como, por exemplo, farmacêutica, fertilizantes, alimentícia, construção, alumínio, higiene e o tratamento de água e esgoto, para citar apenas alguns.

O cloro e o álcalis (soda ou potassa) são produzidos através da eletrólise, ou a quebra de molécula pela eletricidade, no caso de uma mistura de água e um sal (NaCl ou KCl). Nesse processo, o hidrogênio que estava contido na molécula de água é separado e é obtido como um subproduto. O setor produz cerca de 40 mil toneladas de hidrogênio por ano a partir da produção de 3,2 milhões de toneladas de álcalis e cloro. Uma vez que a fonte energética das plantas é limpa, pois a energia elétrica vem do grid e de outras formas de energia limpa (algumas empresas têm projetos de energia eólica e fotovoltaica), esse hidrogênio pode ser considerado verde. Ou seja, o setor já produz dezenas de milhares de toneladas de hidrogênio verde há muito tempo, mesmo antes de ele ser a bola da vez em todo o mundo.

Nas plantas de cloro-álcalis esse hidrogênio tem, historicamente, três maneiras de ser utilizado: em reações químicas, para a obtenção de outros produtos fabricados nas plantas, como, por exemplo, o ácido clorídrico; é vendido para outras plantas como matéria-prima; ou é utilizado como fonte energética, sendo queimado.

E, para a surpresa ficar ainda maior, essas plantas são a de melhor performance energética. Isso porque a energia necessária para produzir hidrogênio nessas plantas é “dividida” com os outros produtos: cloro e álcalis. Dessa forma, a necessidade energética por quilograma de gás é menor do que uma planta de eletrólise dedicada apenas à produção de hidrogênio (aqui não estamos comparando com a produção de hidrogênio a partir de combustíveis fósseis). Dito de outra forma, temos disponibilidade imediata de hidrogênio verde no Brasil, com a possibilidade de ser produzido de maneira mais econômica do que qualquer outro método, desde que haja mercado e também uma solução para os altos custos de energia.

Como não tem mercado, as plantas simplesmente “queimam” hidrogênio verde. Isso é feito porque, além de diminuir a necessidade de outra fonte térmica – que iria aumentar a pegada de carbono, as alternativas de utilizar gás natural ou eletricidade –, as opções óbvias são mais caras.

Ou seja, o Brasil já é produtor de hidrogênio verde. As nossas plantas poderiam estar destinando o hidrogênio produzido para mercados nobres, desde que houvesse a demanda e os preços do gás fossem competitivos.

Diante dessa realidade, temos de parar de olhar para fora e ver onde já podemos colher os resultados da nossa matriz energética. O hidrogênio verde já se faz presente em nossa indústria. Mas precisamos avançar para que todos os seus benefícios se tornem uma realidade para esse segmento.

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ENGENHEIRO, ECONOMISTA, É PRESIDENTE-EXECUTIVO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE ÁLCALIS, CLORO E DERIVADOS (ABICLOR)

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